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Uma parceria entre o Ministério Público do Trabalho (MPT), a Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul (Funtrab) e empresas privadas está gerando emprego para indígenas naquele Estado. O MPT é responsável pela formalização e fiscalização do processo de contratação, a Funtrab cuidará da seleção de mão de obra e elaboração dos contratos e as empresas fornecerão os postos de trabalho. A previsão é de que duas mil pessoas das tribos Terena e Guarani sejam contratadas para o trabalho em lavouras, especialmente na colheita de frutas.

O procurador do Trabalho Jeferson Pereira participou do processo de formalização da parceria e acredita que milhares de indígenas serão favorecidos pela iniciativa. “A participação da Funtrab é fundamental, uma vez que garante que os trabalhadores saiam do Estado protegidos pelos contratos e sabendo quanto irão receber pelo serviço”, disse o procurador, que também enfatiza que “a estratégia é fruto dos entendimentos realizados junto a empresas como a Rasip, Agrícola Fraiburgo e Fischer, que concordaram com essa forma de contratação e elevaram a quantidade de trabalhadores indígenas empregados anualmente”.

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Benefícios e remuneração

Além do pagamento de salários, a parceria também determina que as empresas forneçam alimentação, transporte e hospedagem aos trabalhadores indígenas. Nilson Bossardi, funcionário da empresa responsável pelo recrutamento, explica que cada funcionário tem um papel estabelecido na empresa e que a remuneração pode aumentar de acordo com a carga de trabalho “Cada um tem uma meta. Atingindo-a e com as horas extras, alguns chegaram a dobrar o salário”.

Crescimento da renda familiar

Ivanilson Machado Peixoto, da Aldeia Limão Verde, em Aquidauana, afirma que as famílias precisam muito de iniciativas de empregabilidade. “A gente precisa muito desse apoio para as nossas famílias”, conta ele, que é pai de três filhos e vai trabalhar na lavoura junto com outras 46 pessoas de sua aldeia. Ivanilson explica que durante o ano os moradores de Limão Verde se dedicam à própria lavoura e aproveitam o período de safra para obter uma renda extra, que é aplicada na compra de roupas para os filhos, melhorias na habitação, compra de animais e insumos para a lavoura.

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O Ministério do Trabalho resgatou quatro trabalhadores indígenas de uma fazenda em Criciúma, em Santa Catarina, onde eles eram mantidos em condições análogas à escravidão. Contratados para a colheita de frutas, os trabalhadores não recebiam o salário combinado, estavam em situação trabalhista irregular e eram mantidos em condições degradantes. 

De acordo com o ministério, os trabalhadores foram atraídos para a fazenda pela proposta de receber diárias de R$ 80, mas receberam apenas alimentação de baixa qualidade e em quantidade insuficiente. As instalações sanitárias do local eram inadequadas e foram encontradas fezes de rato próximo ao local de preparação da comida. 

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Os empregados não tinham as Carteiras de Trabalho assinadas pelo empregador e não foram submetidos aos exames médicos exigidos pela lei. O empregador também não forneceu os documentos relativos ao contrato de trabalho.

Os trabalhadores foram retirados do local e receberam guias de encaminhamento para receber o seguro desemprego especial para trabalhadores resgatados, que é de um salário mínimo durante três meses. O empregador foi notificado para regularizar a situação com o pagamento dos valores devidos pelos serviços prestados e pela rescisão dos contratos. Ele também foi multado e poderá responder criminalmente e pode pegar uma pena de dois a oito anos de prisão.

“Continuaremos empenhados em garantir a dignidade, a segurança e o salário justo para o trabalhador”, afirmou o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira. “Persistiremos em nossos esforços de combate a essa prática nefasta, que é um atentado contra a dignidade humana”, complementou.

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Uma investigação da história de centenas de indígenas mortos durante a ditadura militar no Brasil, de 1964 a 1985, foi transformada em livro pelo jornalista Rubens Valente, que durante um ano entrevistou 80 pessoas, entre índios, sertanistas, missionários e indigenistas para construir o relato.

Lançado na última semana na capital paulista, o livro Os Fuzis e as Flechas – A História de Sangue e Resistência Indígenas na Ditadura traz à tona registros inéditos de erros e omissões que levaram a tragédias sanitárias durante a construção de grandes obras do período militar, como a Rodovia Transamazônica.

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“Em 1991, 1992, eu estive em uma área de uma etnia que se chamava Ofaié-Xavante. E lá eles me contaram que tinham sido transferidos pelos militares em um caminhão e haviam sido despejados lá no Pantanal, a 600 quilômetros dali [de seu território original]. Lembro que essa história me marcou muito, porque mostrou que havia uma coisa a ser contada nessa relação de índios com a ditadura, como eles sofreram impactos nesse período”, contou o jornalista. Em viagens a outras aldeias desde os anos 80 do século passado, Valente conta ter ouvido relatos semelhantes.

“Em 1982, minha família mudou-se para Dourados, em Mato Grosso do Sul. Eu sou do Paraná. E lá em Dourados existe a maior aldeia indígena urbana, que vive naquela região. Então foi o primeiro contato que eu tive com os indígenas no país, quando eu tinha 12 anos, no final da ditadura. E a partir de então eu comecei a pesquisar o tema”, contou. O jornalista começou a colecionar notícias, histórias, livros e estudos sobre o assunto.

Indígenas isolados

Segundo Valente, houve vários métodos de controle e de enfrentamento dos militares em relação aos índios. Na Região Amazônica, estavam as comunidades mais isoladas, que não tinham sido contatadas e, na época, eram chamadas de hostis ou arredias.

“O regime militar desencadeia um processo de ocupação da Amazônia, um processo que envolvia obras, como estradas – principalmente a Transamazônica –, envolvia hidrelétricas e envolvia a criação de núcleos de colonos, de trabalhadores rurais. Esses colonos que vinham a reboque desses projetos de desenvolvimento”, disse. Tudo isso, segundo o autor, “da noite para o dia”, sem um plano organizado com grande estrutura sanitária e médica para os povos tradicionais da região.

“Foi um plano executado assim às pressas, conforme o relato dos próprios sobreviventes, e que encontravam essas populações desassistidas e despreparadas em relação aos vírus que os brancos vinham trazendo. Isso que causou inúmeras mortes, centenas de mortes. E, aliado a isso, começou a haver o que eu chamo de deportações dentro do próprio do país. Eram grupos inteiros tirados de um lugar e colocados em outro.”

Valente contou a história de um grupo Xavante retirado da fazenda Suiá-Missú e levado para outra área da mesma etnia, chamada São Marcos. “O cálculo é que morreram de 100 a 120 índios apenas nessa operação. A força aérea transportou esse índios de uma área para outra de avião e lá eles morreram porque não havia um plano de atendimento a essa população que havia chegado recentemente ali. Eu pude entrevistar sobreviventes que enterraram esses corpos e fizeram covas coletivas, corpos que foram enterrados com tratores, porque eram tantos corpos. É um típico caso de um erro de entendimento da questão indígena”, disse o autor do livro. Valente destacou que histórias de deslocamentos como essa se repetiram várias vezes.

Construção da BR-174

Um dos casos considerados mais graves por Valente está relacionado à construção da BR-174, conhecida como Rodovia Manaus–Boa Vista, que atravessou o território indígena da etnia Waimiri-Atroari e colocou os índios em contato com trabalhadores, na década de 1970.

“O cálculo mais modesto indica 240 mortos só nesse caso. A mortandade ocorreu de 1974 até por volta de 1977”, disse o jornalista. “Eu procurei amarrar esses episódios e mostrar para o leitor um panorama do que ocorreu e a ideia de que havia uma lógica por trás de tudo isso, uma lógica militar de ocupação da Amazônia.”

Reparação

Para o autor do livro, a principal conclusão da pesquisa é a dificuldade do Estado brasileiro de reconhecer essas mortes e pedir desculpas pelo que ocorreu. “Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade aprovou um capítulo destinado aos povos indígenas, e esse capítulo indicava a necessidade de um pedido de desculpas por parte do governo brasileiro. Um pedido de desculpas pelo que aconteceu com os índios. E, até o momento, já se vão três anos, não houve sequer o reconhecimento, sequer um pedido desculpas, quanto mais alguma forma de reparação desses danos.”

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Líder da oposição no Senado, Humberto Costa (PT-PE) afirmou que o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tem um “comportamento inaceitável” e precisa ser “ responsabilizado por seus atos e tantas falas de ódio”. O senador petista é um dos parlamentares que assinam uma representação contra Bolsonaro impetrada, nessa quinta-feira (6), na Procuradoria Geral da República (PGR) por racismo. 

O deputado carioca provocou indignação e revolta, mais uma vez, por dizer que as reservas indígenas e quilombolas atrapalham a economia. "Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais”, ironizou Bolsonaro durante palestra no clube Hebraica, no Rio de Janeiro, na última segunda-feira (3).

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Para Humberto, o Congresso Nacional “não pode mais dar abrigo” a alguém que tem esse tipo de “atitude odiosa”. “É impossível que esse tipo de prática, que o deputado Bolsonaro já exerceu em várias ocasiões nos últimos anos, continue a se repetir dentro e fora do Parlamento. Temos de dar um basta em tudo isso”, declarou Humberto. 

O senador disse também que as "indignidades" pronunciadas por Jair Bolsonaro são, costumeiramente, de “uma violência atroz” contra todas as mulheres, homossexuais, negros e contra a própria sociedade brasileira. “É um comportamento inaceitável. Esperamos, inclusive, que o Supremo puna o deputado, com rigor, naquele caso absurdo contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS)”, ressaltou. 

Bolsonaro responde a duas ações penais no STF por acusações de apologia ao crime e injúria, e já teve recursos negados, por unanimidade, pelos ministros da Primeira Turma da Corte. 

“Um homem que diz que uma mulher não merece ser estuprada porque é feia, que afrodescendentes de comunidades quilombolas não servem nem para procriar e que o seu filho não seria gay porque recebeu boa educação tem de ser responsabilizado por seus atos e tantas falas de ódio. As ofensas não podem sair impunes”, avalia o líder da oposição. 

A representação na PGR pede ainda que seja instaurado inquérito para apurar atos de improbidade administrativa por violação aos princípios da administração pública e que seja avaliada a possibilidade de ação devido à violação da dignidade de membros de todas as populações indígenas e comunidades quilombolas do país.

O Papa Francisco pediu nesta quarta-feira aos governos que respeitem, valorizem e consultem os povos indígenas, durante um encontro no Vaticano com os participantes no terceiro Fórum dos Povos Indígenas, realizado em Roma.

"Creio que o principal problema está em como conciliar o direito ao desenvolvimento, incluindo também o tipo social e cultural, com a proteção das características próprias, dos indígenas e seus territórios", assinalou o Papa no encontro promovido pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA).

"Sempre deve prevalecer o direito ao consentimento prévio e informado, segundo existe o artigo 32 da Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Somente assim se pode garantir uma cooperação pacífica entre as autoridades governamentais e os povos indígenas, que supere contradições e conflitos", acrescentou.

Francisco pediu perdão, em 2016, no México, aos indígenas pelos maus-tratos provocados e convidou os governantes a elaborar projetos que levem em conta a identidade indígena.

Um grande vazamento de óleo de origem ainda não identificada poluiu as águas do Rio Teles Pires, numa área próxima ao local onde é construída a hidrelétrica de São Manoel, na divisa de Mato Grosso com Pará. A mancha de óleo, identificada no domingo (13), avançou rio abaixo e comprometeu o abastecimento de diversas aldeias indígenas às margens do rio.

A causa do acidente está sendo investigada pelo Ibama, que deslocou especialistas para a região, de difícil acesso. O tamanho do estrago ambiental também está em fase levantamento. Não se sabe se o vazamento foi causado por problema na estrutura da barragem de São Manoel ou se está relacionado a outro fator, como o afundamento de balsas de garimpo ilegal, muito comuns no Teles Pires.

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A concessionária Empresa de Energia São Manoel, dona da hidrelétrica, enviou barcos com garrafões de água para os índios. Cerca de 80 famílias, aproximadamente 320 pessoas, moram em aldeias próximas à estrutura de São Manoel.

Segundo Taravy Caiabi, liderança indígena da região, essas aldeias receberam cerca de 2.200 litros de água da São Manoel Energia na terça-feira (15). Outros 2 mil garrafões foram enviados na quarta-feira. "Isso tudo é uma tristeza muito grande para o nosso povo. Essa região é sagrada para nós. Agora, além de inundarem toda a terra, sujam nossa água. O peixe também sumiu. As pessoas estão ficando doentes, com diarreia. Todos estão preocupados com a saúde", disse Caiabi.

Marcelo Amorim, coordenador substituto de Emergências Ambientais do Ibama, disse que o órgão sobrevoou a região e confirmou a presença do óleo. Ele não soube precisar, porém, a dimensão da mancha. "Tudo está sendo investigado para encontrar a causa do vazamento."

Juliana de Paula Batista, advogada do Instituto Socioambiental (ISA) que viveu na região, alerta para o risco de o problema se agravar. Pelo menos outros 900 indígenas vivem em aldeias a cerca de 60 quilômetros da usina. Mais abaixo ainda está a terra indígena mundurucu, onde vivem 8 mil pessoas. "Nenhuma dessas aldeias tem água tratada, os indígenas bebem água in natura do rio. Por isso, qualquer coisa que acontece nessa área é uma tragédia", disse.

A empresa de Energia São Manoel declarou, em nota, que detectou a mancha de óleo no dia 13 de novembro, mas que situação da bacia do Teles Pires "já está normalizada". A empresa informou que "está analisando as causas do ocorrido" e que segue com o monitoramento periódico da região.

São Manoel é uma das últimas grandes hidrelétricas que o governo conseguiu implantar na Amazônia, em meio a uma série de polêmicas envolvendo o impacto do projeto em terras indígenas e a inundação de regiões históricas e sagradas para os índios, como a chamada Sete Quedas do Teles Pires, que ficou debaixo d’água.

Processos

Além de São Manoel, o rio que dá origem ao Tapajós já foi barrado pela hidrelétrica de Teles Pires, Sinop e Colíder, em Mato Grosso. Esses empreendimentos acumulam pelo menos 24 processos movidos pelo Ministério Público Federal, a maior parte deles atrelados a desrespeito aos direitos indígenas e impactos ao meio ambiente, como ocorrências de grande mortandade de peixes.

A Empresa de Energia São Manoel pertence à EDP Brasil, Furnas e China Three Gorges, que preveem investimento de R$ 2,2 bilhões na hidrelétrica. As obras da usina de 700 megawatts foram iniciadas em setembro de 2014 e a previsão é que as operações comecem em janeiro de 2018. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, decidiu revogar nesta quarta-feira, 26, duas portarias que impactavam diretamente a autonomia administrativa e financeira da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e dos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) espalhados pelo País.

A decisão ocorreu após uma forte pressão dos indígenas, que realizaram protestos em diversas regiões. Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), as portarias 1.907 e 2.141, publicadas ontem e na semana passada, enfraqueciam os serviços de saúde, "negando total prestação de serviço de saúde aos povos indígenas".

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Protestos

Nesta terça, mais de 400 índios protestaram em frente ao Ministério da Saúde, em Brasília. Houve protestos em Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Santa Catarina, com bloqueios de rodovias e ocupações nas sedes dos DSEIs.

Em Bauru, cerca de 40 índios da etnias terena e guarani fizeram um protesto, nesta quarta-feira, 26, contra a portaria do governo federal que reduz a autonomia orçamentária da Sesai, em Bauru, interior de São Paulo.

Os indígenas se posicionaram em frente ao prédio do Polo Base da Saúde Indígena de Bauru com cartazes de protesto. Eles chegaram a interditar a Avenida Duque de Caxias durante a manifestação, que durou cerca de uma hora. A Polícia Militar acompanhou o protesto. Os indígenas eram provenientes da Terra Indígena Araribá, em Avaí, cidade da região.

A previsão é de que a revogação das duas portarias seja publicada no Diário Oficial nesta quinta-feira, 27.

Movimentos indígenas realizam uma manifestação, na manhã desta quarta-feira (26), contra a portaria 1907/2016 do governo federal. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o grupo interditou trechos da BR-101, no quilômetro 20, em Joaquim Gomes (AL), cidade que faz divisa com Pernambuco, e no quilômetro 248, em Porto Real do Colégio (AL).

Os índios atearam fogo em entulhos e galhos de árvores para chamar atenção das autoridades sobre a publicação da portaria e os prejuízos para a comunidade indígena. O grupo também protestou e interditou trechos da BR-423 no quilômetro 100, em Delmiro Gouveia, no Estado de Alagoas.

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Em nota pública, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) afirma que a portaria é um "golpe ao direito indígena". Para eles, a nova legislação retira competências atribuídas ao Secretário de Saúde Indígena, da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), órgão ligado ao próprio Ministério da Saúde, no que se refere à gestão orçamentária e financeira relativa à política pública de atenção à saúde dos povos indígenas. 

"A Portaria 1907/16, mais do que tirar os recursos financeiros dos distritos, rompe com a perspectiva de que a política de atenção à saúde seja efetivamente implementada a partir das necessidades, realidades e modo de ser de cada povo, tendo eles como sujeitos e protagonistas. Com a portaria em questão, haverá ainda mais dificuldade e lentidão na aplicação de recursos em ações de atenção à saúde dos indígenas em suas comunidades, o que poderá significar o aumento do número de mortes por falta de assistência e de medicamentos", conforme informações do Cimi. 

Recorrência de protestos

No último dia 19, os índios da tribo Wassu cocal interditam a BR-101, em Joaquim Gomes-AL, na divisa com Pernambuco e protestaram por questões relacionadas à duplicação da rodovia. Além do protesto contra a duplicação da BR-101, os índios também reivindicam a finalização do processo de ampliação de suas terras. 

No final de agosto, os Wassu Cocal se reuniram com o Ministério Público Federal de Alagoas (MPF-AL). Eles apontam estar havendo uma obtenção, ocupação e comercialização das terras indígenas em Joaquim Gomes. 

Em 20 de outubro, a tribo voltou a protestar na BR-101 em Joaquim Gomes (AL). Eles pediram novamente a finalização do processo de ampliação de suas terras, implantação de saneamento básico, transporte escolar no local além de questões relacionadas à duplicação da BR-101.

As terras que hoje são ocupadas pelos índios, também são ocupadas por associados da Fazenda Urucuzinho e foram desapropriadas da antiga Usina Agrisa, sendo doadas à Fundação Nacional do Índio (Funai) após atuação da Câmara de Conciliação da Advocacia Geral da União. 

A ONU afirmou, em relatório divulgado na quinta-feira (1º) que os grupos indígenas brasileiros estão mais ameaçados hoje que há 30 anos e a demarcação de terras no País está estagnada. A organização ainda disse que os governos do PT enfraqueceram a Fundação Nacional do Índio (Funai) - por meio de cortes orçamentários - e avaliou que a administração do novo presidente, Michel Temer, pode aprofundar ainda mais a crise indígena.

O informe foi produzido pela relatora da ONU para Direitos dos Povos Indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, que esteve no Brasil em março deste ano, ainda no governo Dilma Rousseff.

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Impacto

Ao citar a "discriminação estrutural" contra indígenas no País, a ONU disse acompanhar "com preocupação" a decisão de Temer de acabar com o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos, o que "pode ter um profundo impacto sobre povos indígenas".

Segundo Victoria, o Brasil chegou a ser um dos líderes mundiais em demarcações, mas, nos últimos oito anos, não avançou. A relatora disse estar "preocupada com o fato de que a crise política e econômica sirva para tornar os problemas e direitos desses povos mais invisíveis e menos significativos". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O II Fórum Nacional de Museus Indígenas e o III Encontro de Museus Indígenas em Pernambuco estão sendo realizados até este sábado (20), na terra indígena Kapinawá, em Buíque (PE), reunindo representantes indígenas de 13 estados, universidades, instituições indigenistas, de pesquisa e organizações não governamentais que atuam nas áreas indígenas. Os eventos tiveram início no dia 15. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) apoia o evento, por meio do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre Etnicidade (Nepe), ligado ao Departamento de Antropologia e Museologia da Universidade. Hoje, no encerramento, será promovido o Festival Multicultural da Rede Indígena de Memória Museologia Social.

As principais temáticas abordadas no congresso foram o diálogo colaborativo e os processos de apropriação dos museus pelos povos indígenas, a memória e o patrimônio cultural. Outras pautas amplamente debatidas entre os povos indígenas e os pesquisadores da área da museologia, da antropologia, da arqueologia e de outros campos do saber, foram os acervos etnográficos, a gestão de museus e a realização de inventários e diagnósticos participativos de processos museológicos, entre outros tópicos. A abertura contou com a participação da professora emérita da Universidade de São Paulo, Lux Vidal, pesquisadora do campo da estética indígena e dos sistemas de objetos da cultura material dos povos indígenas do Amapá, onde assessorou por muitos anos o Museu Kuahí dos Povos Indígenas do Oiapoque (AP).

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Além da juventude indígena presente no evento que discutiu as sobre as políticas culturais, reivindicando participação e apoio para registrar a memória atual e o modo de vida nas aldeias. Juntamente com os pajés e lideranças indígenas do povo Kapinawá (PE), anfitrião do encontro, estão presentes os povos Fulni-ô (PE); Truka (PE); Pankará (PE); Atikum (PE); Pankararu (PE); Xukuru (PE); Kambiwa (PE); Kaingang (PR e RS); Potiguara (CE); Tupinambá (BA); Huni Kuin (AC); Trumai (Xingu); Suruí Paiter (RO); Munduruku (PA); Canela-Ramkokamekcrá (MA); Potiguara (RN); Apodi (RN); Xucuru (PE); Tapeba (CE); Anacé (CE); Pitaguary (CE); Jenipapo-Kanindé (CE); Tremembé (CE); Kanindé (CE); Tabajara e Cariri (PI); Potiguara de Amarelão (RN); Paiacu do Apodi (RN); e Mundurucu (TO). Para mais informações sobre o evento, acesse a página da conferência no Facebook ou a Rede Memória Indígena.

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A Polícia Federal deflagrou na manhã desta quinta (5) a Operação Olhos de Diamante, para investigar uma organização criminosa especializada na extração mineral ilegal de pedras preciosas em terras indígenas, na região do Rio Pacaás Novos, no município de Guajará-Mirim. De acordo com as investigações, o garimpo ilegal era também financiado por traficantes de drogas. Policiais federais deram cumprimento a mandados de prisão preventiva e a mandados de busca e apreensão, em desfavor dos envolvidos.

Investigações identificaram a participação de garimpeiros e indígenas no esquema criminoso, os quais valiam-se da distância, dificuldade de acesso à região e influência destes em alguns órgãos públicos para continuidade das práticas ilícitas.

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Também são investigados crimes ambientais em áreas de preservação e integrantes de quadrilha de tráfico internacional de drogas – também investigados no âmbito da Operação Alpargatas, deflagrada hoje pela PF, em Rondônia. Foi apurado que o grupo utilizava lucros obtidos no comércio de cocaína para financiar o garimpo ilegal.

A Polícia Federal, em parceria com o IBAMA e Exército brasileiro, realizou duas incursões aéreas em 2015, ao longo do leito do Rio Pacaás Novos, objetivando interromper o garimpo ilegal de pedras preciosas no local e prevenir outros crimes ambientais.

Os presos responderão por crimes ambientais, de organização criminosa e de usurpação de patrimônio da União, perante a Justiça Federal. Após procedimentos de praxe, serão encaminhados à Casa de Detenção de Guajará-Mirim/RO. 

A presidente Dilma Rousseff fará nesta sexta-feira, 29, mais um aceno aos movimentos sociais. Em encontro com lideranças indígenas no Palácio do Planalto, Dilma deverá anunciar a demarcação de várias terras. A ordem explícita dada pela presidente é tirar da gaveta tudo o que for possível e liberar as demarcações.

À reportagem, o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), João Pedro Gonçalves da Costa, disse que corre para destravar até 14 áreas que já estão com seus processos em andamento.

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Desde o início do mês, o governo deu andamento a mais de 30 processos de liberação de terras, seja para demarcação de áreas requeridas por comunidades tradicionais ou desapropriações para reforma agrária, que há anos aguardavam aval do Planalto.

No discurso oficial, o governo afirma que decidiu "pagar uma dívida antiga com os povos tradicionais". Na prática, de um lado, índios, quilombolas e movimentos sociais são atendidos em suas demandas. De outro, o governo reforça sua resistência social a um eventual governo de Michel Temer.

Ordem direta

A ordem é filtrar tudo o que não esteja pendurado em processos judiciais e, a partir daí, acelerar os processos. A estratégia de obter apoio de todos os movimentos sociais possíveis foi ordenada diretamente por Dilma, admitiu o ministro da Justiça, Eugênio Aragão.

Coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara reconhece que as decisões recentes do governo têm, na realidade, claro interesse político, mas ela não lamenta. "Essa tempestade tem trazido frutos para nós. Então, temos que colhê-los", declarou. "Ainda que seja tarde, o governo reconheceu que fez aliança com o lado errado."

Para o ministro da Justiça, a reação do governo nesta fase atual de votação do processo de impeachment pelo Congresso, chega tarde, mas não pode ser desprezada: "Devíamos ter feito mais". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

No Dia do Índio, nesta terça-feira (19), a Universidade do Estado do Pará (Uepa) entregou os diplomas de 72 indígenas das etnias Tembé, Gavião e Surui Aikewara, recém-graduados na primeira turma em Licenciatura Intercultural Indígena. A cerimônia, marcada pela emoção, foi realizada no centro de convenções Hangar, em Belém.

O reitor da Uepa, Juarez Quaresma, anunciou que o curso será expandido e ganhará pós-graduação, com base em parcerias institucionais. Os novos licenciados vão atuar nas aldeias, educando seu próprio povo. A formação de professores indígenas, destacou Quaresma, é essencial para a ampliação dos direitos dessa população.

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No início da cerimônia, representantes de cada etnia cantaram e dançaram. O Hino Nacional foi cantado na língua dos povos Gavião e Surui Aikewara. "Eu me sinto muito honrado. Foi uma luta muito intensa para ele, que já trabalhava como professor. Agora vai trabalhar como formado", disse à Agência Pará o índio Tembé João Pedro Soares, de 71 anos, sobre o filho Raimundo, o primeiro da família com nível superior.

O governador do Estado, Simão Jatene, parabenizou os professores e estudantes pelo esforço. “Quem não tem história, não tem memória, não tem futuro. Imagino o esforço que cada um de vocês fez até chegar aqui. Entendo que isso deve ser efetivamente uma universidade, que deve buscar da universalidade ao saber específico e tornar específico o saber universal. Esse é um momento que sintetiza bem isso”, disse.

Aprendizado - Concita Guaxipiguara Sompre, representante da etnia Gavião, discursou sobre a importância do processo de aprendizado intercultural, onde professores e indígenas aprenderam juntos. "Trabalharemos o diferenciado do saber científico e do conhecimento tradicional. Seremos capazes de produzir nossos próprios materiais didáticos. Sairemos daqui professores conscientes das nossas responsabilidades", destacou.

O curso de Licenciatura Intercultural Indígena começou a ser ofertado pela Uepa em 2012. Atualmente são nove turmas ativas, com 257 alunos. As aulas aconteceram nos territórios étnico-educacionais Tapajós Arapiuns, Wai-Wai e Kaiapó, ligados aos campi dos municípios de São Miguel do Guamá, Santarém, Marabá, Oriximiná e São Félix do Xingu.

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"Estamos longe da cidade e aqui ninguém pega doença de ar-condicionado do escritório e do trem." Foi dessa forma que o cacique Fabio, chefe da Aldeia Krukutu, no bairro da Barragem, extremo sul de São Paulo (a cerca de 40 quilômetros da Praça da Sé), tratou o surto de H1N1, que ainda não chegou aos povos indígenas. Os índios estão no grupo de risco da doença, assim como gestantes e idosos, e vão começar a receber a vacina na rede pública já na próxima segunda-feira (11).

"Teve surto de dengue, zika e chikungunya e aqui também ninguém adoeceu. Tomamos todos os cuidados necessários na tribo para evitar qualquer tipo de doença. E outra: vivemos no meio da natureza e preservamos o local. Isso ajuda na longevidade", explicou o cacique. Segundo ele, nem o guarani mais velho da aldeia, com 99 anos, fica doente. "Ele vive sozinho em uma área mais afastada, no meio do mato. Planta e colhe todo o dia e nunca teve nada."

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O território tem 26 hectares, é ocupado por 40 famílias indígenas e atendido por uma Unidade Básica de Saúde (UBS). Na aldeia ao lado, a Tenondé-Porã, a situação é a mesma. Uma das lideranças da tribo, a índia Jerá, usou o termo "tranquilo" para definir o clima. "Aqui ninguém teve nada."

Situação semelhante é registrada no litoral paulista. As comunidades indígenas da Baixada Santista e do Vale do Ribeira, na região sul do Estado, devem ser incluídas na campanha pública de vacinação contra o vírus H1N1, mas a responsabilidade pelas ações de prevenção nessas aldeias é da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), ligada ao Ministério da Saúde.

Segundo as prefeituras de Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe, Bertioga, São Sebastião e Registro, ainda não foi detectado nenhum caso da gripe nas aldeias das duas regiões. A Casa de Atendimento do Índio, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), também informa não ter registrado nenhum caso de indígena atingido pelo vírus H1N1.

Preocupação

Já no interior paulista há um caso que inspira cuidados. Um índio adulto está com sintomas da doença e vem recebendo tratamento médico na aldeia onde vive em Avaí, na região de Bauru. "Ele tem febre alta, dores e tremores. Isso é preocupante porque o índio, principalmente o adulto, não toma vacinas regularmente, como as crianças", diz o antropólogo Otávio Barduzzi, de 39 anos, que trabalha com os integrantes das quatro aldeias terenas e guaranis de Avaí.

Na região vivem cerca de 2 mil indígenas. No ano passado, a dengue fez vítimas nas quatro aldeias, onde houve 261 casos. "Morreram dez", lembra o antropólogo.

A saúde indígena vem recebendo mais recursos do Ministério da Saúde. Em quatro anos, o orçamento da Secretaria Especial de Saúde Indígena, por exemplo, aumentou 221%, passando de R$ 431,5 milhões, em 2011, para R$ 1,39 bilhão em 2015.

A reportagem entrou em contato com a Sesai para saber especificamente quais ações estão em curso para evitar que o surto de gripe H1N1 chegue às aldeias paulistas, mas o órgão federal se limitou a destacar que mantém um calendário nacional de vacinação e todos os Distritos Sanitários Especiais Indígenas recebem atenção de equipes multidisciplinares próprias. (Colaboraram Luiz Alexandre Souza Ventura e Sandro Villar, especial para AE)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Organização das Nações Unidas (ONU) recebeu, do Ministério Público Federal (MPF), dossiês que informam sobre o impacto da construção de barragens nos rios Xingu e Tapajós, no Pará, para as populações indígenas da região. Procuradores da República que atuam em Altamira e Santarém, no oeste do Estado, entregaram os documentos para a relatora especial da ONU sobre os direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, durante reunião que tratou das irregularidades nas obras das usinas hidrelétricas das bacias de dois dos principais afluentes do rio Amazonas.

A reunião ocorreu no dia 15 de março, em Altamira, com a presença dos procuradores da República Thais Santi, que fiscaliza Belo Monte, e Camões Boaventura, que fiscaliza as usinas no Tapajós. Segundo o MPF, as irregularidades detectadas em Belo Monte, já em fase de pré-operação, dão um panorama do que pode ocorrer na usina São Luiz do Tapajós, começando pelo descumprimento sistemático da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas.

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Com suas obras quase concluídas no Xingu, o consórcio responsável pela usina de Belo Monte é alvo de 25 ações que apontam ilegalidades no projeto. Na bacia do Tapajós são até agora quatro usinas em construção no rio Teles Pires e cerca de 40 projetadas, com 19 processos judiciais mostrando problemas, informa o Ministério Público Federal.

A maior usina prevista para o Tapajós é a São Luiz do Tapajós. Se construída, indicam estudos apontados pelo MPF, a hidrelétrica vai provocar a remoção compulsória de três aldeias dos índios Munduruku, conduta vedada pela Constituição Federal.

A relatora da ONU disse aos procuradores da República que constatou, ao longo de sua missão no Brasil, que, embora um poder coloque a responsabilidade sobre o outro, há um padrão de articulação dos três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, para a violação sistemática dos direitos indígenas e para viabilizar um projeto político e econômico considerado ideal por esses poderes. “Não há espaço para qualquer diversidade de projetos”, disse.

A procuradora Thais Santi enumerou os inúmeros impactos, muitos irreversíveis, provocados pela desobediência recorrente das licenças ambientais pela Norte Energia, responsável pela obra de Belo Monte, com anuência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgão licenciador. “Os impactos não foram mitigados por irresponsabilidade do Estado, sendo que as medidas de mitigação eram condição para assegurar a integridade dos povos indígenas e a manutenção dos seus modos de vida”, disse Santi.

De acordo com Thais Santi, “no Xingu, vivem muitas etnias de contato recente e que já passavam por um violento processo de segregação social. As medidas de mitigação seriam a única forma de garantir que estes povos indígenas sobrevivessem aos impactos da usina, no entanto elas não foram adequadamente implementadas e agravaram o processo de desagregação”.

A procuradora da República destacou, ainda, que no coração do trecho de vazão reduzida, epicentro dos impactos da usina de Belo Monte, antes mesmo de estar demonstrado que a hidrelétrica permitirá a reprodução da vida no local está sendo licenciado um dos maiores projetos de mineração do Brasil, que recebeu licença prévia do Estado do Pará sem a realização de estudos sobre os povos indígenas da região e sem análise sinérgica de sobreposição de impactos com Belo Monte. Essa realidade demonstra que os impactos de Belo Monte são potencializados, na medida em está aberto o caminho para a exploração dos recursos naturais da região em escala industrial, sem o devido controle ambiental.

O procurador da República Camões Boaventura enfatizou elementos que o projeto da usina São Luiz do Tapajós têm em comum com a de Belo Monte. “Alguns impactos sociais já são identificados, como desgaste dos indígenas com a intensa participação em reuniões e a insegurança sobre o futuro, que causa grande angústia aos povos afetados”, disse.

A relatora Victoria Tauli-Corpuz disse que considera Belo Monte um caso emblemático, “pois tudo que poderia dar errado, deu errado”. Ela constatou na região de Altamira a situação de um etnocídio praticamente consumado pela usina. E se declarou temerosa de que, em São Luiz do Tapajós, ocorra um processo pior, de genocídio, diante da negativa dos índios Munduruku em assistirem passivos à destruição de seu modo de vida.

Para a relatora, a situação é perigosa, porque o governo brasileiro já se mostrou disposto a lançar mão de forças militares e instrumentos autoritários. “O governo brasileiro está empurrando os indígenas ao seu limite com este projeto hidrelétrico e querendo fazer com que eles desapareçam”, lamentou. (Veja, abaixo, vídeo produzido pelo MPF sobre Belo Monte).

Com informações da Assessoria do MPF.

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A Justiça Federal determinou que a União adote com urgência medidas básicas para o atendimento à saúde de 13 povos indígenas de Santarém, Belterra e Mojuí dos Campos, no oeste do Pará. O atendimento aos índios estava sendo negado sob as alegações de que as terras desses povos ainda não estão demarcadas ou porque há índios que não moram nas aldeias, mas o Ministério Público Federal (MPF) defendeu e a Justiça acatou a tese de que esses critérios são ilegais. As informações são do MPF.

A decisão foi anunciada no site da Justiça no último dia 25, e o MPF teve acesso à íntegra do documento na última quinta-feira, dia 28. O juiz federal Victor de Carvalho Saboya Albuquerque estabeleceu prazo de 90 dias para que a União cadastre os indígenas no banco de dados do sistema diferenciado de saúde, distribua os cartões para acesso aos serviços e organize e passe a manter equipes de atendimento às comunidades.

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As etnias com direitos garantidos pela decisão são: Borari, Munduruku, Munduruku Cara-Preta, Jaraqui, Arapiun, Tupinambá, Tupaiu, Tapajó, Tapuia, Arara Vermelha, Apiaká, Maitapu e Cumaruara. Desde 2001 quase 6 mil indígenas desses povos reivindicavam à União a atenção diferenciada à saúde, sem resposta.

A determinação liminar (urgente) também estabelece que, dentro de 48 horas, a Casa de Saúde Indígena (Casai) de Santarém deve passar a atender qualquer indígena que esteja morando na zona urbana do município, provisória ou definitivamente. O atendimento deve ser feito a indígenas das 13 etnias citadas na ação e a integrantes de quaisquer outras etnias.

Em caso de descumprimento da liminar, a multa é de R$ 10 mil por dia. Os prazos passaram a contar a partir do dia 25, quando a Advocacia-Geral da União (AGU) tomou oficialmente conhecimento da decisão.

Direitos ignorados – Na ação, o procurador da República Camões Boaventura defendeu que não se pode atrelar o acesso à saúde indígena à conclusão de procedimentos demarcatórios, sob pena de a omissão e morosidade do Estado na demarcação de terras gerar outra omissão, que é a falta de atendimento à saúde. “Também não é imprescindível, para ser indígena, que suas terras sejam demarcadas. O que define o indígena é seu autorreconhecimento como tal e sua ligação aos costumes, crenças e tradições”, registrou a ação com base na Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ratificada pelo Brasil em 2002.

Em relação aos índios que vivem fora das aldeias (chamados de não aldeados), o MPF destacou na ação que a portaria do Ministério da Saúde nº 1.163/99 é categórica: “A recusa de quaisquer instituições, públicas ou privadas, ligadas aos SUS [Sistema Único de Saúde], em prestar assistência aos índios configura ato ilícito, passível de punição pelos órgãos competentes”.

Sobre a vinculação do atendimento à saúde à finalização de processos de demarcação de terras, Albuquerque registra que a ausência de reconhecimento do direito fundiário não deve prejudicar o acesso a outros direitos já assegurados à população indígena. “Não se pode olvidar [esquecer] que a demarcação de terras é ato meramente declaratório, que reconhece situação fática já existente. Se não detém caráter constitutivo não influi na identificação do índio como tal e nem na obtenção de direitos outros já assegurados”, observa o juiz em entrevista ao site do MPF.

Sobre o não atendimento, pela Casai de Santarém, a índios não aldeados, Albuquerque enfatiza que a Convenção 169 da OIT deve ser respeitada. “Assim, a inscrição de indígenas no Siasi [Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena] deve se pautar pela aplicação do critério do autorreconhecimento.” 

Em relação ao não atendimento, também pela Casai de Santarém, a índios de áreas fora do município, a liminar registra que a divisão territorial do subsistema de atenção à saúde indígena serve apenas para orientar a organização e gestão administrativas do serviço público, e não à vinculação de atendimento de determinada Casai apenas à população indígena residente no município em que esteja localizada. “À Casai compete o apoio à população indígena, desimportando a localização geográfica da comunidade à qual pertence o usuário atendido.”

 

Um incêndio de grandes proporções avança por áreas de floresta da Amazônia Oriental, no Maranhão, e desde a quinta-feira (26) afeta a aldeia Juriti, onde residem índios da etnia Awá-Guajá. Suspeita-se que o fogo tenha sido causado por grupos de madeireiros que agem ilegalmente próximo à terra indígena (TI). Até o momento, nenhum órgão estadual ou instituição responsável pela proteção da TI chegou ao local para intervir na contenção das chamas, de acordo com informações da Agência Museu Goeldi.

Os Awá são um dos últimos povos nômades de caçadores-coletores no Brasil. Considerados pela organização International Survival como a “tribo mais ameaçada do mundo”, os Awá vivem “o mais próximo do que pode se chamar de genocídio, no Brasil”, de acordo com o chefe da Coordenação Geral de Índios Isolados da Funai, Carlos Travassos. Os indígenas têm sido assediados constantemente por posseiros e comerciantes extrativistas da região.

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O único auxílio que os Awá receberam foi de um representante da Funai, que passou a quinta-feira na aldeia, no trabalho de abafamento do fogo. Outro funcionário da fundação no Maranhão, Edésio de Sena Martins, informou que o incêndio foi iniciado há alguns dias por um grupo de posseiros em um foco próximo à aldeia Juriti. Como o tempo está muito seco, o fogo rapidamente se espalhou. Segundo ele, a queimada é intensa e está longe de ser controlada.

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Reserva - O incêndio também ameaça a Reserva Biológica (Rebio) do Gurupi, em uma terra vizinha à Juriti. Na teoria, a reserva está sob a proteção integral do Ministério do Meio Ambiente (MMA), mas nas últimas décadas tem sofrido invasões de madeireiros, pecuaristas e agricultores, um perigo comum às terras indígenas no Estado, como a dos Awá.

“Juntas, as terras indígenas e a Rebio Gurupi são as últimas remanescentes da floresta amazônica do Maranhão, hoje reduzido a menos 20% do seu tamanho original”, afirma Marlucia Martins, bióloga do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), uma das instituições que estuda a biodiversidade e luta pela preservação ambiental do Gurupi.

Com anos de trabalho na Amazônia Maranhense, a bióloga mantém contato direto com alguns grupos indígenas locais. Na manhã desta sexta-feira (27), ela recebeu um pedido de socorro pelo celular. Era uma mensagem da indígena Rosilene Guajajará, relatando que o fogo havia invadido a sua terra. “Esses grupos estão isolados, sem nenhum tipo de ajuda do Estado e suas instituições responsáveis”, diz Marlucia Martins, ao reforçar que o incêndio é mais um desdobramento da situação atual naquela região do Maranhão, marcada por assassinatos de encomenda e queimadas criminosas nas terras indígenas e na Rebio do Gurupi.

A concessão da licença de operação para a Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, é alvo de protestos de políticos, especialistas e de movimentos sociais em todo o País. Depois que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) autorizou o enchimento do reservatório, na quarta-feira (24), indígenas se manifestaram na sede do instituto. O deputado federal Edmilson Rodrigues (PSOL-PA) aproveitou espaço na CPI da Funai para criticar a decisão e alertou para impactos irreversíveis na região do rio Xingu. Além disso, pesquisadores afirmam que a empresa Norte Energia não cumpriu todas as condicionantes.  

“Ao liberar o enchimento do lago, haverá impactos irreversíveis. A usina não deveria nem ter sido construída. Foi concedida uma licença de forma ilegal colocando-se 40 condicionantes, mas 36 nem foram cumpridas”, disse Edmilson Rodrigues. O deputado paraense chamou a atenção do plenário ao destacar que a hidrelétrica não pode operar sem que os impactos sejam mitigados por completo: “Não é possível que a Funai (a Fundação Nacional do Índio), o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente permitam esse crime contra a nação brasileira”.

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Segundo o Ibama, a licença de operação obtida pela Norte Energia, válida por seis anos, está relacionada ao cumprimento de 41 condicionantes. O próprio instituto havia negado pedido anterior, apontando 12 pendências. A emissão da licença foi liberada porque a Funai comunicou assinatura de termo de cooperação com a Norte Energia para a execução das exigências não atendidas.  “Temos a garantia de que o componente indígena será integralmente cumprido”, disse a presidente do Ibama, Marilena Ramos.

Os líderes indígenas afirmam que não foram consultados previamente pela Funai sobre a emissão da licença. “Ficamos mais preocupados. A construção da usina já está secando o rio. É um dia triste para nós”, disse à Agência Brasil o cacique Tabata Kuikuro, do Alto Xingu, que esteve na sede do Ibama com outros 50 indígenas. As obras se estendem há mais de quatro anos e o processo de licenciamento tramita desde 2006.

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O diretor de Licenciamento Ambiental do Ibama, Thomaz Miazaki de Toledo, antecipou que a hidrelétrica deverá começar a gerar energia em março de 2016 na casa de força principal. O enchimento do primeiro reservatório ocorrerá nos próximos 50 dias. Em nota, a Norte Energia informou que a previsão é de que Belo Monte abasteça 60 milhões de pessoas. Cerca de R$ 4 bilhões, prosseguiu a empresa, foram aplicados em ações socioambientais nos municípios paraenses de Altamira, Anapu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu.

Crítica - Para a doutora em Ciência Política e pesquisadora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (UFPA) Nírvia Ravena, a autorização do Ibama é uma “cortina de fumaça” sobre as condicionantes não cumpridas. “Nós temos marcos legais bem delineados para as questões ambientais, mas pouco delineados para os danos sociais que esses empreendimentos provocam”, afirmou ao LeiaJá. “Mesmo ambiental ou socialmente, o que é uma regra é o não atendimento da regulação”. 

Em editorial divulgado na sexta-feira (20), o Instituto Socioambiental (ISA) denunciou que, além de condicionantes não cumpridas pela Norte Energia, existem ações de responsabilidade do governo federal que estão paralisadas, como a retirada de moradores não indígenas das terras Apyterewa, Arara da Volta Grande, Cachoeira Seca e Paquiçamba. “Não há condições para a Licença de Operação, assim como no parecer técnico da Diretoria de Licenciamento da Funai emitido em setembro”, apontou o instituto.

Com informações de Raiany Pinheiro e da Agência Brasil.

A tecnologia é parte essencial da vida contemporânea, até mesmo para os povos indígenas. Durante o período dos Jogos Mundias dos Povos Indígenas, em Palmas, no Tocantins, foi montada uma oca com computadores e wi-fi gratuito para os competidores, que ostentam smartphones levados a tiracolo em sua vestimentas típicas e abusam de redes sociais. A mais usada entre elas é o facebook, muito popular entre os jovens índios que aproveitam o evento para tirar selfies.

Graças às redes sociais, os jovens indígenas possuem também amigos virtuais que nunca viram; a maioria deles diz ter contato com jovens índios de outros Estados, em vez de ter contato com jovens de cidades e aldeias próximas. A popularidade da internet entre os índios não termina no uso das redes sociais convencionais, mas se expande também para uma grande variedade de aplicativos, entre eles o Tinder, usado para paquera.

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O maior drama dos indígenas é o sinal fraco de internet em suas aldeias. Muitos dependem do sinal de wi-fi das escolas públicas localizadas nos arredores de suas terras; o sinal é liberado geralmente à noite, por um curto período de tempo. Os que não sofrem por falta de internet ou da fraqueza no sinal, sofrem pela falta de energia elétrica para a utilização de computadores e celulares.

 

Etnias indígenas de várias partes do mundo estão reunidas na cidade de Palmas, Tocantins, para a primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI) que começaram na última sexta-feira (23) e seguem até o dia 1º de novembro. Além das disputas esportivas com jogos típicos, o evento oferece oportunidade de discutir temas que sejam de interesses da população e cultura indígena. Espaços como a “Oca da Sabedoria”,  e as comissões do Fórum Social e a Agenda de Convergência de Proteção dos Direitos Humanos do evento organizam debates e oficinas com o restante da comunidade indígena enquanto os atletas competem.

Na tarde do dia 23, algumas horas antes da abertura dos Jogos, manifestantes das etnias brasileiras Gavião Kyikatejê, do Pará; Guarani-Kaiowá, do Mato Grosso; e os Pataxó, da Bahia, protestaram contra a Proposta de Emenda Constitucional - PEC 215, que limita e modifica as decisões de demarcação de terras indígenas. Segundo os manifestantes, o protesto reuniu mais de 200 indígenas em frente à Arena Green, local da cerimônia de abertura. Porém, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) declarou que eram apenas 80 participantes. Mais tarde, durante a festa de abertura com a presença da presidente Dilma Rouseff, um representante da etnia Xavante dirigiu a palavra à presidente pedindo uma posição em relação à PEC 215 e às mortes dos Guaraní-Kaiowá no Mato Grosso do Sul, mas Dilma não se manifestou.

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No terceiro dia do evento, domingo (25), a Agenda de Convergência de Proteção dos Direitos Humanos dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas e diversos representantes do governo federal, estadual e municipal reuniram-se com representantes das comunidades indígenas presentes, para discutir criticas e sugestões na infraestrutura do evento. Dentre as melhorias solicitadas estão inspeções nos ônibus que transportam as delegações indígenas, trazer o artesanato das comunidades participantes até o local do evento, melhor distribuição de água nos alojamentos e transporte para levar os indígenas a supermercados e bancos.

Ainda no domingo, enquanto os atletas competiam na arena pela manhã, o Fórum Social Indígena apresentava na Oca da Sabedoria um painel internacional sobre agricultura familiar indígena. A saúde feminina e a mortalidade infantil também foram tema de debate durante a Oficina da Saúde da Mulher Indígena que aconteceu pela tarde. Mulheres de diversas etnias nacionais reivindicaram mais políticas públicas e condições de tratamento para doenças como câncer de colo de útero, diabetes e doenças sexualmente transmissíveis.

Já nesta segunda-feira (26), a Oca da Sabedoria sediou a Roda de Diálogos sobre Sustentabilidade e Mudanças Climáticas. Lideranças indígenas criticaram fortemente a eficácias das conferências ECO 92 e RIO+20, realizadas respectivamente nos anos de 1992 e 2012, no Rio de Janeiro. Os debates feitos serão transformados em uma Carta de Declaração dos Povos Indígenas que será apresentada em dezembro na Conferência do Clima (Cop21), em Paris.

Pão e circo

As etnias Apinajés e Krahô, de Tocantins, recusaram o convite para participar dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas e seus líderes publicaram notas de repúdio ao governo pela realização do evento. Segundo o líder Apinajé, os Jogos são um “circo para turista ver”, pois acredita que o dinheiro investido na realização do evento poderia ser aplicado em soluções de problemas urgentes como a demarcação de terras, saúde e os conflitos agrários com grandes fazendeiros e empresas latifundiárias.

“Quem vai sair ganhando com os Jogos é a cidade de Palmas, os restaurantes, hotelaria. E nós indígenas, que somos os protagonistas, vamos lá e depois voltamos do mesmo jeito que fomos”, declarou o líder Renato Krahô em estrevista à BBC Brasil.

Os jogos

Os Jogos dos Povos Indígenas já tiveram 12 edições nacionais e esta é sua primeira edição internacional, com a participação de povos indígenas de 24 países e de 23 etnias brasileiras. Com o tema “Em 2015, somos todos indígenas”, o evento é composto por 13 dias de programações que vão desde de competições esportivas a debates e oficinas de questões que envolvam a comunidade indígena.

As modalidades são divididas em jogos de integração, jogos de demonstração e jogos ocidentais. Na primeira modalidade, são disputados esportes tradicionais praticados na maioria das culturas indígenas, como arco e flecha, arremesso de lança e canoagem. Já os jogos de demonstração são modalidades particulares de etnias específicas praticados pelos seus respectivos integrantes, como o Akô, uma espécie de corrida de revezamento praticada pelos povos Gavião Kyikatêjê e Parketejê do Pará. Nos jogos ocidentais, os indígenas competem no esporte mais praticado do mundo, o futebol.

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