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Na manhã desta segunda-feira (17), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) esteve com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada. Ao ser questionado sobre o seu estado de saúde, o chefe do Executivo Nacional, que não usava máscara de proteção contra a Covid-19, se definiu como “imorrível”.

“Fica tranquilo, já falei que sou imorrível, imbrochável e também sou incomível”, afirmou Bolsonaro. O presidente também voltou a criticar o isolamento social adotado em alguns Estados.

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“O agro realmente não parou. Tem uns idiotas aí, fica em casa. Se o campo tivesse ficado em casa, esse cara, esse idiota, teria morrido de fome. E daí ficam reclamando de tudo. Quem tem salário fixo ou uma gorda aposentadoria, aí pode ficar em casa a vida toda”, disparou.

Em resposta a uma apoiadora que citou o Projeto de Lei N° 399, que autoriza o plantio de maconha no País para fins medicinais, Bolsonaro ainda afirmou que a esquerda “sempre pega uma oportunidade para querer liberar as drogas”. “Engraçado, a maconha pode, a cloroquina não pode. A esquerda sempre pega uma oportunidade para querer liberar as drogas, [ivermectina] faz mal, maconha e cocaína faz bem”, disse.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os remédios citados por Jair Bolsonaro não têm eficácia comprovada.

Depois de o Conselho Federal de Medicina estabelecer como "procedimento experimental" a administração de hidroxicloroquina e cloroquina por meio de inalação, médicos alertam para os perigos da prática. Pneumologistas ouvidos pelo Estadão dizem que a nebulização com comprimidos pode inflamar o pulmão e piorar a condição de pacientes com Covid-19.

"O comprimido foi desenvolvido para ser absorvido pelo trato intestinal e não para nebulização", fala André Nathan Costa, pneumologista do Hospital Sírio Libanês. Ele explica que a superfície do pulmão é muito delicada e pode ser inflamada pela inalação do medicamento.

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"Isso é o mesmo que jogar gasolina para tentar apagar a fogueira porque você vai inflamar ainda mais um pulmão que já está inflamado. Pode causar insuficiência respiratória", diz. Não há nenhum estudo apontando benefícios da nebulização com hidroxicloroquina.

Existem medicamentos que são inalatórios, como alguns tratamentos para bronquite, mas esses remédios foram desenhados para isso. "São remédios que foram testados pela indústria farmacêutica com essa finalidade, foram desenvolvidos para serem bem tolerados pelo pulmão", diz Costa. Não é o caso de comprimidos macerados.

O presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), Frederico Fernandes, reforça o alerta. "Isso é algo criminoso. É uma ideia de quem desconhece fisiopatologia e o método científico. Não recomendo a inalação de comprimidos a ninguém", diz.

Fernandes fala que os comprimidos possuem silicato, uma substância similar a um talco. O pulmão entende o silicato como um corpo estranho e se "fecha", aumentando a dificuldade de respirar. Essa reação, junto com a inflamação do órgão, tende a piorar o quadro do paciente.

O presidente da SPPT lembra que não há nenhuma comprovação científica de que a hidroxicloroquina e a cloroquina tragam benefícios na prevenção à covid ou em qualquer fase do tratamento da doença. "Existe toda uma narrativa em cima desses remédios para diminuir a percepção do impacto da pandemia", fala.

Pelo menos cinco pessoas morreram no Brasil depois de serem submetidas à nebulização com cloroquina. Quatro casos aconteceram no Rio Grande do Sul e um no Amazonas. O presidente Jair Bolsonaro apoiou publicamente o experimento.

Para Fernandes, as mortes têm ligação com a inalação do remédio. "Não tem como saber se essas pessoas não morreriam, mas com certeza o quadro clínico foi agravado pela nebulização", diz. Ele fala que tanto o paciente quanto a família têm direito de recusar a nebulização de cloroquina se ela for oferecida como terapia contra a covid.

"Causa uma ansiedade não ter o que oferecer ao paciente e alguns médicos inventam tratamentos achando que é melhor fazer alguma coisa do que não fazer nada. Mas isso é uma falácia porque pode prejudicar mais do que ajudar."

Fernandes diz ainda que, mesmo se o paciente ou seus familiares concordarem com a prática, o médico não estará isento de culpa caso o quadro piore em razão da inalação.

Segundo a Apsen, farmacêutica que é a principal fabricante da hidroxicloroquina no Brasil, a utilização do medicamento é recomendada apenas nas indicações previstas em bula, as quais são aprovadas pela Anvisa.

"Não há estudos dos efeitos do Reuquinol administrado por vias não recomendadas. Portanto, por segurança e para garantir a eficácia desse medicamento, a administração deve ser feita somente por via oral, conforme indicado em bula. Reforçando que não há aprovação de nenhum órgão regulador da saúde, nem da OMS, para sua utilização no tratamento da covid-19", diz.

Em depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira, o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, confirmou e deu mais detalhes sobre a realização de uma reunião no Palácio do Planalto em que se discutiu um decreto que incluiria na bula da cloroquina a recomendação para tratar Covid-19. Barra Torres relatou que, ao ouvir a proposta, sua reação foi até um "pouco deseducada" já que não haveria cabimento na sugestão de alteração da bula.

O presidente da Anvisa disse que não saberia dizer quem foi o autor original da proposta, mas que percebeu uma "mobilização" por parte da imunologista Nise Yamaguchi, presente no encontro. "Documento foi comentado pela Nise, o que provocou reação até pouco deseducada (da parte dela), de falar que aquilo não poderia ser, só quem pode modificar bula de medicamento é a agência, mas desde que solicitado pelo detentor do registro do medicamento", comentou Barra Torres.

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Ele destacou que, para se alterar uma bula de medicamento, é necessário um "pesado dossiê" por parte da fabricante de que a nova indicação tem comprovação científica. "Então, quando houve proposta de pessoa física de fazer isso causou reação mais brusca. Não pode, não tem cabimento", disse.

Barra Torres narrou que, depois dessa sugestão ser comentada durante a reunião, no 4º andar do Palácio do Planalto, o encontro não "durou muito". "Depois dessa proposta Mandetta (ex-ministro da Saúde) se retirou, e logo depois eu sai, não tenho informação de quem foi o autor. A doutora Nise perguntou da possibilidade e pareceu estar mobilizada com essa possibilidade", relatou o presidente da Anvisa.

Segundo Barra Torres, além de Nise Yamaguchi, estavam presentes da reunião Walter Braga Netto e Luiz Henrique Mandetta - que falou sobre o encontro em depoimento à CPI na semana passada. "E realmente não tenho na minha memória um registro da presença do ministro Jorge Oliveira e ministro Ramos", finalizou.

Nesta terça-feira (11), quem presta depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid é o Diretor-Presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres. Senadores vão questionar o gestor pela polêmica em torno da extensão do uso da cloroquina, e a negativa sobre a liberação dos imunizantes Covaxin e Sputnik V.

Em um primeiro movimento, o colegiado decidiu antecipar as próximas sessões da CPI para às 9h. Logo no início, o gestor apontou que não foi pressionado para liberar vacinas e confirmou que há problemas com a China que atrasaram o fornecimento de insumos para a produção local de imunizantes.

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Entretanto, não relacionou à dificuldade na negociação com a tensa relação diplomática mantida pelo presidente Jair Bolsonaro, que reiteradamente costuma atacar o país asiático, considerado um dos maiores produtores de IFA (insumos farmacêuticos ativos) no mundo.

Para tentar estimular o Plano Nacional de Imunização (PNI), o governo federal chegou a encomendar 20 milhões de doses da vacina Covaxin, mesmo sem a agência ter avaliado a entrada do imunizante no Brasil. Para Barra Torres, a recusa não foi por falta de qualidade do produto, e sim por falta de compromissos técnicos do laboratório Bharat Biotech, como a validação da inativação viral e dos resultados obtidos, bem como a garantia de esterilidade do produto.

"Uma vacina é tão potente quando consegue induzir no organismo do vacinado a geração de defesa imunitária. Não basta o atesto dessa potência. É necessário mostrar todo processo. Esse processo não foi mostrado", apontou o presidente da Anvisa, que prosseguiu, "não conformidades identificadas apresentavam um risco significativo a fabricação e a garantia de qualidade, implicando em risco sanitário aos usuários [...] A avaliação clínica não permitiu estabelecer um risco-benefício favorável à vacina".

Ele lembra que a mesma análise minuciosa foi feita com as outras vacinas aprovadas no Brasil, que foram aceitas em caráter emergencial após uma rigorosa observação. Mesmo assim, representante da agência acredita que não houve precipitação do Ministério da Saúde em adquirir o material, já que a Covaxin ainda pode ser aprovada. O médico confia na agilidade da Índia para resolver a questões em aberto sobre os processos de fabricação.

Nesta quarta (12), está agendada a oitiva do ex-secretário de comunicação do governo federal, Fábio Wajngarten. Em entrevista, ele alegou que o Ministério da Saúde não se movimentou para comprar as vacinas oferecidas pela Pfizer.

Na contramão das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, teria mobilizado o aparato do Itamaraty para a obtenção de doses de cloroquina. Em março do ano passado, após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ter comentado publicamente sobre a suposta eficácia do medicamento no combate à Covid-19, o ex-chanceler entrou em contato com a Índia, na intenção de otimizar o envio de mais doses da droga. As informações são da Folha de São Paulo.

Segundo os telegramas diplomáticos obtidos pela Folha, no dia 21 de março do ano passado, Araújo pediu que os diplomatas tentassem "sensibilizar o governo indiano para a urgência da liberação da exportação dos bens encomendados pelas empresas”. Na sequência, em 15 de abril, o ministério das Relações Exteriores pede que a embaixada da Índia faça gestões junto ao governo indiano para liberar uma carga de cloroquina comprada pela empresa Apsen, que seria enviada ao Brasil.

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No final do mesmo mês, em 24 de abril, Araújo articulou o ministério para solicitar apoio de uma farmacêutica brasileira para conseguir importar o sulfato de hidroxicloroquina, e relata que o medicamento seria fornecido para a FURP (Fundação para o Remédio Popular), Fiocruz, LAQFA (Laboratório Químico-Farmacêutico da Aeronáutica) e Laboratório do Exército. Embora a Sociedade Brasileira de Infectologia já tivesse desaconselhado o uso da cloroquina no combate ao novo coronavírus, foram encontradas trocas de mensagens desta natureza até maio de 2020.

Ernesto Araújo pediu demissão do ministério das Relações Exteriores em março deste ano, e é um dos convocados da CPI da Covid, com depoimento marcado para esta quinta-feira (13).

Objeto de obsessão do presidente Jair Bolsonaro e um dos temas que norteia a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid, "Cloroquina" foi a palavra mais repetida na primeira semana de depoimentos no Senado. Até o momento, os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, e o atual gestor da pasta, Marcelo Queiroga, foram ouvidos como testemunhas.

A substância antimalárica defendida pelo presidente como parte do "tratamento precoce" da Covid-19 é ineficaz contra o vírus. Embora já tenha sido descartada pela sociedade científica, médicos ainda são pressionados por sua prescrição e o tema continua dividindo os brasileiros.

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Na primeira semana da CPI, entre a terça (4) e a quinta (6), o remédio foi pronunciado 340 vezes pelos senadores e depoentes, segundo levantamento do G1 com base nos registros taquigráficos das reuniões.

O ministro Queiroga evitou responder sobre a droga durante seu depoimento, no qual a palavra foi repetida 135 vezes em 8h. Em sua oitiva, Teich disse que discordava da extensão do uso do medicamento e, por isso, pediu demissão do cargo. Durante 6h, o termo foi usado em 126 oportunidades. Já ao longo da fala de mais de 7h de Mandetta, a Cloroquina foi comentada 79 vezes.

Outras palavras-chave em torno das ações e omissões do governo federal investigadas na CPI também foram listadas. Além da Cloroquina, a palavra mais recorrente nas reuniões foi vacina (175), seguido por máscara (111), isolamento (101), distanciamento (80), insumos (57), ivermectina (57), tratamento precoce (44), oxigênio (35) e lockdown (31).

Em sua oitiva na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid no Senado, na manhã desta quinta-feira (6), o ministro da Saúde Marcelo Queiroga disse que jamais liberou a entrega de cloroquina para estados e municípios. Ele acrescentou que, diferente dos antecessores Mandetta e Teich, não sofreu pressão do presidente Jair Bolsonaro pelo 'tratamento precoce'.

Embora classifique o debate como uma "questão de natureza técnica", Queiroga preferiu não responder se partilha do mesmo entendimento do chefe do Executivo, que reiteradamente defende que pacientes tomem o medicamento sem eficácia comprovada. Em seu depoimento na terça (4), o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta disse que chegou a advertir Bolsonaro sobre os riscos cardíacos da cloroquina.

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"Não recebi nenhuma orientação do presidente da República nesse sentido", frisou o atual ministro, que continuou, "eu não autorizei distribuição de cloroquina na minha gestão”. Apesar de destacar a importância da percepção técnica em relação ao remédio, o cardiologista disse que as sociedades científicas não regem a posição do Ministério da Saúde.

"O que disciplina a política pública no SUS, são as políticas públicas do SUS, não são as orientações das sociedades cientificas", apontou o gestor, que declarou que não existe protocolo oficial do uso do medicamento.

Os trabalhos desta quinta (6) seguem no período da tarde com a oitiva do diretor da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres.

Sucessor de Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde durante a pandemia, o oncologista Nelson Teich começou a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid nesta quarta-feira (5). Com menos de um mês no cargo, ele afirmou que a divergência com o presidente Jair Bolsonaro sobre o uso da cloroquina foi a motivação para seu pedido de demissão.

Com 28 dias como ministro, Teich ficou à frente da luta contra o vírus do dia 17 de abril até 15 de maio do ano passado. Sem concluir praticamente nenhuma atividade programada, ele indica que chegou a iniciar uma proposta de controle de transmissão, prevista em programas de testagem em massa e distanciamento com protocolo nacional, em parceria com outros ministérios.

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O médico ainda ressaltou que até chegou a dar início às primeiras negociações com as fabricantes de imunizante Moderna e Janssen, mas não fechou negócio. "No meu período não tinha uma vacina sendo comercializada, era ainda o começo do processo. Foi quando eu trouxe a vacina da AstraZeneca para o estudo ser realizado no Brasil. Para o Brasil ser um dos braços desse estudo, na expectativa de que a gente tivesse uma facilidade na compra futura", esclareceu.

Após jurar relatar apenas a verdade, Teich revelou que não tinha autonomia, nem liderança, enquanto esteve na pasta. "Sem liberdade para conduzir o ministério conforme minhas convicções, optei por deixar o cargo", afirmou. Ele já alertava para os riscos cardíacos do uso indiscriminado do 'kit covid' apresentado pelo chefe do Executivo.

"Enquanto minha convicção pessoal, baseada em estudos, é que naquele momento não existia evidência da sua eficácia para liberar. Existia um entendimento diferente por parte do presidente, que era amparado na opinião de outros profissionais, até no Conselho Federal de Medicina, que naquele momento autorizou a extensão do uso", apontou.

Nelson expôs que não foi consultado, não participou e nem sabia da produção de Cloroquina pelo laboratório do Exército. A posição foi dividida por Mandetta, que também não sabe de quem partiu a ordem da fabricação. "Minha orientação era contrária", frisou ao reafirmar que também não autorizou que o medicamento fosse distribuído em comunidades indígenas.

"Era um momento muito difícil, faltavam respiradores, faltava EPI, as mortes aumentando, os casos aumentando. Foi um assunto que não chegou a mim, em relação à produção de Cloroquina", disse.

Com intuito de seguir a ordem cronológica de lideranças do Ministério, o próximo da fila a depor seria o ex-ministro Eduardo Pazuello, que foi flagrado passeando sem máscara em um shopping de Manaus, ironizou a situação, e alegou que não poderá dar explicações à Comissão porque está com suspeita de Covid-19. Sua participação foi reagendada para o dia 19.

*Conteúdo em atualização

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sugeriu alterar a bula da hidroxicloroquina — medicamento ineficaz contra o coronavírus — para que o medicamento fosse indicado ao tratamento da Covid-19. A solicitação teria sido feita à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas foi negada pelo presidente do órgão, Antonio Barra Torres. Essa informação já havia sido mencionada por Mandetta em maio de 2020, mas voltou à tona durante o seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, nesta terça-feira (4). O especialista comparece à CPI na condição de testemunha.

A sugestão ao órgão fiscalizador surgiu através de uma reunião ministerial no Planalto, e segundo o médico, ele havia sido informado apenas na hora do encontro que ministros se reuniriam para debater o uso da cloroquina. O ex-chefe da Saúde do Governo também diz que o presidente e aliados possuíam um “assessoramento paralelo” e que testemunhou várias vezes, “em reuniões de ministros, o filho do presidente [Carlos Bolsonaro], que era vereador no Rio de Janeiro, tomando as notas da reunião. Eles tinham constantemente reuniões com grupos dentro da presidência”.

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"Nesse dia (da reunião ministerial), havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não-timbrado de um decreto presidencial para que fosse sugerido daquela reunião que se mudasse a bula da cloroquina na Anvisa, colocando na bula a indicação da cloroquina para coronavírus. E foi inclusive o próprio presidente da Anvisa, [Antônio] Barra Torres que disse não", afirmou.

Em seu depoimento, o ex-ministro disse ainda que Bolsonaro questionava o uso da cloroquina para o tratamento precoce, mesmo sem evidência científica, e que as informações às quais o presidente tinha acesso certamente vieram do tal assessoramento, pois o uso do medicamento jamais foi uma sugestão do Ministério.

“Me lembro do presidente sempre questionar a questão ligada a cloroquina como a válvula de tratamento precoce, embora sem evidência científica. Eu me lembro do presidente algumas vezes falar que ele adotaria o chamado confinamento vertical, que era também algo que a gente não recomendava", pontua.

Mandetta disse que o Ministério da Saúde seguia a "cartilha da organização mundial de saúde" e que se ele tivesse adotado a teoria de que o vírus não chegaria no Brasil teria sido uma "carnificina".

"[...] do Ministério da Saúde nunca houve a recomendação de coisas que não fossem da cartilha da Organização Mundial de Saúde, dessas estruturas todas, era o que a gente tinha, não por sermos donos da verdade, não, pelo contrário, nós éramos donos da dúvida, eu torcia muito para aquelas teorias de que ‘ah, o vírus não vai chegar no Brasil’, agora, se eu adotasse aquela teoria e chegasse, teria sido uma carnificina”, afirmou.

Uma análise internacional de estudos divulgados pela revista científica Nature aponta que o tratamento com hidroxicloroquina aumenta a mortalidade de pacientes com Covid-19. Além disso, o medicamento é associado como causador da hospitalização por mais tempo e maior risco de progressão para a ventilação mecânica invasiva.

O remédio faz parte do "kit covid", que é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro como "tratamento precoce" da doença - algo que não tem comprovação científica. Os estudos apontam que o uso da Cloroquina, que também integra esse kit, não traz benefício no seu uso no tratamento do novo coronavírus. 

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Cerca de 10.319 pacientes, em 28 ensaios clínicos, foram analisados. Centenas de milhares de pacientes receberam hidroxicloroquina e cloroquina fora dos ensaios clínicos, sem evidências de seus efeitos benéficos. O interesse público é sem precedentes, com evidências fracas que apoiam os méritos da hidroxicloroquina sendo amplamente discutidas em mídias e redes sociais, apesar dos resultados desfavoráveis”, diz a pesquisa.

O Youtube atualizou suas diretrizes políticas para impedir vídeos recomendando o uso de hidroxicloroquina ou ivermectina para o tratamento ou prevenção da Covid-19. A partir de agora, canais que publicarem vídeos desrespeitando a regra terão o material removido e receberão notificação por e-mail.

Caso venha a se repetir, o envio de material para a plataforma fica suspenso por uma semana e com o excesso de punições, a conta pode vir a ser excluída.

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Segundo o G1, a companhia disse que já removeu 850 mil vídeos que violaram essa nova política de conteúdo, desde o início da pandemia e a atualização na plataforma está alinhada as orientações atuais das autoridades de saúde globais sobre a eficácia dos medicamentos.

Em março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma diretriz que pede para que a hidroxicloroquina não seja usada como tratamento para a Covid-19, pois pode causar sérias sequelas. A própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o fabricante do remédio já alertaram que não funciona contra a doença.

No Brasil, o próprio presidente, Jair Bolsonaro é um apoiador dos medicamentos, tendo recomendado para toda população e ainda quando contaminado por Covid-19, fez propaganda, tomando o comprimido em vídeo e dizendo já estar se sentindo melhor. O governo federal adquiriu a hidroxicloroquina e distribuiu por toda rede de saúde dos Estados e municípios.

O subprocurador-geral do Ministério Público, Lucas Furtado, pediu que o Tribunal de Contas da União (TCU) investigue o repasse de R$ 153 milhões feito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para uma fábrica de hidroxicloroquina, em 2020. Embora defendida pelo presidente Jair Bolsonaro como composto do 'kit Covid', as autoridades mundiais de saúde negam a eficácia do medicamento e alertam para seus efeitos letais.

O recurso federal foi enviado à Apsen Farmacêutica, com sede em São Paulo, para a produção do medicamento indicado pelo Ministério da Saúde como integrante do 'tratamento precoce', junto com ivermectina e azitromicina, na recuperação da Covid-19.

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De acordo com a denúncia, ao longo de 2020, a Apsen recebeu sete vezes mais do que todos os repasses feitos pelo BNDES em 2019.

No documento enviado para a presidente da Corte de Contas, Ana Arraes, o subprocurador-geral questiona o motivo da maior fabricante de hidroxicloroquina do país "receber tamanho empréstimo quando é do conhecimento que essa empresa é líder de produção de um remédio cuja eficácia no combate à pandemia da Covid-19 está sendo reiteradamente combatida".

Lucas Furtado ainda classifica que é "completamente imoral que o BNDES se utilize de recursos públicos em empréstimos com finalidades inúteis".  O pedido de investigação junto ao Ministério Público foi feito pelo ex-ministro da Saúde, o senador Humberto Costa (PT-PE).

A Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas demitiu e investiga a médica ginecologista Michelle Chechter, que trabalhava na maternidade Instituto da Mulher Dona Lindu, em Manaus, por aplicar nebulização de hidroxicloroquina como tratamento para covid-19. Pelo menos uma paciente morreu após o procedimento, conforme a secretaria.

A mulher morta depois da nebulização havia acabado de dar à luz. A pasta informou que o tratamento não faz parte dos protocolos terapêuticos do Instituto Dona Lindu "nem de outra unidade da rede estadual de saúde, ainda que com o consentimento de pacientes ou de seus familiares", diz nota da secretaria. O bebê passa bem.

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Conforme a pasta, "o procedimento tratou-se de um ato médico, de livre iniciativa da profissional, que não faz mais parte do quadro da maternidade, onde atuou por cinco dias". O comunicado diz também que "tão logo tomou conhecimento do ato, a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas determinou abertura de sindicância e o afastamento da profissional".

A morte da paciente ocorreu em fevereiro, mas somente agora foi tornada pública. A secretaria diz que a médica passou a fazer parte da equipe em 3 de fevereiro "após contratação em regime temporário pela secretaria junto com outros 2,3 mil profissionais de saúde, via banco de recursos humanos disponibilizados ao Estado pelo Ministério da Saúde".

A secretaria afirma que uma outra paciente sobreviveu à nebulização de hidroxicloroquina. "Conforme o instituto informou à secretaria, duas pacientes foram submetidas ao tratamento de nebulização de hidroxicloroquina. Ambas assinaram termo de consentimento, como relatado em prontuário. Uma das pacientes veio a óbito e a outra teve alta. Todas as informações sobre o atendimento estão registradas em prontuário", afirma a pasta.

O texto diz ainda que a secretaria e o instituto não compactuam com a prática de "qualquer terapêutica experimental de teor relatado e não reconhecida e entendem que tais práticas não podem ser atribuídas à unidade de saúde, que tem como premissa o cumprimento da lei e dos procedimentos regulares, conforme os órgãos de saúde pública e os conselhos profissionais".

A paciente de Manaus não é a primeira a morrer depois de passar por nebulização de hidroxicloroquina. Em março, três pacientes que passaram pelo procedimento morreram durante o tratamento em Camaquã, no Rio Grande do Sul. A nebulização foi aplicada no Hospital Nossa Senhora Aparecida, que, assim como a maternidade de Manaus, informou que o procedimento não faz parte de seus protocolos.

Selo de 'tratamento precoce'

A ginecologista Michelle Chechter respondeu da seguinte maneira a pedido de contato feito pela reportagem: "nesse momento não estou conseguindo dar entrevistas. Futuramente entro em contato". Em suas redes sociais a médica mantém um selo com os dizeres "covid-19. Eu apoio o tratamento precoce". O chamado "tratamento precoce" é o uso de medicamentos sem comprovação de eficácia contra covid-19, como cloroquina e ivermectina.

Pelo menos uma publicação sobre eficácia da cloroquina da médica na rede social Facebook foi marcada como "informação falsa". Michelle Chechter é ainda apoiadora do presidente da República, Jair Bolsonaro, que também defende o uso de medicamentos sem eficácia contra a doença. Em publicação recente a médica publicou fotos da visita de Bolsonaro a Chapecó, em Santa Catarina, município que teria supostamente conseguido reduzir internações por covid-19 com uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença.

A cidade, no entanto, à época da visita do presidente, no início do mês de abril, tinha 100% dos leitos de unidade de terapia intensiva ocupados, além de ter mais mortes por covid-19 por 100 mil habitantes que Santa Catarina e o Brasil. Segundo Bolsonaro, Chapecó tinha feito um "trabalho excepcional" na pandemia e deu liberdade a médicos para prescreverem o "tratamento precoce".

Uma mulher de 33 anos morreu de Covid-19 após receber nebulização de cloroquina no Instituto da Mulher e Maternidade Dona Lindu, em Manaus-AM. A "técnica experimental" foi aplicada pela ginecologista e obstetra Michelle Chechter e o marido Gustavo Maximiliano Dutra. O caso foi divugado pela Folha de S.Paulo.

Jucicleia de Sousa Lira estava com Covid-19 e havia dado à luz ao primeiro filho há menos de um mês. Após a nebulização, o quadro dela seguiu piorando. Ela faleceu em 2 de março de infecção generalizada em decorrência da Covid-19, segundo o hospital.

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O viúvo de Jucicleia, o auxiliar de produção Cleisson Oliveira da Silva, 30, diz que não foi consultado pela médica sobre a nebulização. Ele só soube que a esposa havia assinado uma autorização em 8 de abril. Ela concordou que fosse utilizada "a técnica experimental nebuhcq líquido, desenvolvida pelo dr. Zelenko", além de autorizar depoimento gravado na UTI e o relato do caso em revista científica. O documento não citava os possíveis efeitos adversos.

No vídeo gravado na UTI, Chechter induz Jucicleia a dizer que a nebulização está funcionando. A técnica foi criada pelo médico ucraniano-americano Vladimir Zelenko. Em abril de 2020, Zelenko passou a ser investigado por um procurador federal por ter mentido que seu estudo havia recebido respaldo da agência norte-americana que regula os medicamentos, a FDA.

Pelo menos outras três pacientes receberam a nebulização mesmo sem autorização, e todas morreram, segundo a Folha. Em um dos casos apurados, a médica teria entregado comprimidos de hidroxicloroquina a uma familiar de paciente em fevereiro e dito que o medicamento tinha o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas informou que o tratamento não faz parte dos protocolos terapêuticos da rede estadual e que "se tratou de um ato médico, de livre iniciativa da profissional, que não faz mais parte do quadro da maternidade, onde atuou por cinco dias." Segundo a secretaria, apenas duas pacientes receberam o experimento e ambas assinaram o termo de consentimento. A obstetra não se posicionou sobre o caso.

A família do aposentado Lourenço Pereira, 69 anos, questiona na Justiça o uso de nebulização com hidroxicloroquina para o tratamento de covid-19. O homem era morador da cidade de Alecrim, no interior do Rio Grande do Sul, e foi internado no dia 19 de março, no Hospital de Caridade de Alecrim, vindo a falecer no dia 22. Segundo o prontuário a que a família teve acesso, o médico Paulo Gilberto Dorneles prescreveu no dia 20 de março o procedimento de nebulização com o medicamento que, de acordo com diversas pesquisas, não tem eficácia no combate ao coronavírus.

Filha do aposentado, Eliziane Pereira, 32 anos, conta que a família não foi comunicada nem consultada sobre o tratamento. De acordo com ela, Lourenço foi internado sem a presença de nenhum familiar, já que a mãe de Eliziane estava na casa da filha, em Porto Alegre, para tratamento médico. As informações entre os familiares e o paciente eram trocadas através do celular, e foi assim que Eliziane recebeu a notícia de que o pai estava se sentindo pior, justamente após a nebulização com cloroquina. "Não tivemos nenhuma informação do quadro do meu pai quando ele internou, o que o médico falou, ele mesmo nos repassou no dia 19."

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Embora o prontuário aponte que o tratamento tenha começado apenas no dia 20, Eliziane diz acreditar que a nebulização com cloroquina tenha iniciado já no dia 19. "Tem algumas informações escritas a mão e para nós que não somos da área não conseguimos entender, mas acredito que a medicação tenha iniciado já no dia 19 porque no decorrer do dia 20 meu pai me passou uma mensagem dizendo que estava se sentindo estranho porque no dia seguinte já não conseguia respirar sem ajuda do oxigênio."

Lourenço era semianalfabeto - de acordo com a filha sabia apenas escrever o próprio nome e, mesmo assim, de forma incompleta. A família afirma que não foi consultada em nenhum momento sobre o tratamento que iria ser aplicado. "O fato de já no sábado o nosso pai não conseguir ficar sem oxigênio nos faz questionar essa conduta, que não nos foi repassada, questionada ou informada, por qual motivo ela foi usada, o que me leva a crer que ela tenha contribuído para a piora do meu pai."

Os familiares de Lourenço comunicaram o fato ao Ministério Público (MP) de Santo Cristo e o caso ficou sob a responsabilidade do promotor Manoel Figueiredo Antunes. Ele já requisitou os prontuários médicos e documentos de Lourenço para requisitar a abertura do inquérito policial.

A reportagem procurou a direção do Hospital de Caridade de Alecrim, que alegou que não iria se manifestar à imprensa, mas apenas aos órgãos competentes.

Em busca de justiça

Eliziane afirma que se a família fosse consultada, não autorizaria o tratamento com o remédio reconhecidamente ineficaz no combate ao coronavírus. Agora, ela espera que o médico que prescreveu a medicação esclareça os motivos que o levaram a adotar o tratamento. "Queremos que o profissional prove que aquela medicação não piorou o caso clínico do meu pai e que ela não levou ele a óbito. Além do uso desse medicamento a falta de assistência dentro do hospital enquanto meu pai ficou internado, vivenciando o descaso e negligência", afirma Eliziane ao citar que o pai não foi submetido a nenhum exame durante o período de internação. Ela diz temer algum tipo de retaliação, já que a mãe ainda vive na pequena cidade de Alecrim, e o médico que está sendo questionado tem mais de 20 anos de trabalho na comunidade. De acordo com ela, nas redes sociais já foi possível sentir animosidades. "Não queremos aparecer, tanto que relutamos em conversar com a imprensa, mas sim buscar a verdade."

Lourenço era um homem simples de uma cidade do interior, pai de sete filhos, entre eles Eliziane, que se formou em direito no início de março. A formatura, mesmo online, não pôde ter a presença dele, já que a filha estava com covid na época, e ele não pôde acompanhá-la em casa recebendo a graduação. Para Eliziane, uma marca ainda mais forte, já que o pai faleceu dois dias após seu aniversário.

Este não foi o primeiro caso no Rio Grande do Sul de pacientes que faleceram após receber nebulização de hidroxicloroquina. Entre os dias 22 e 23 de março, três pacientes internados no Hospital Nossa Senhora Aparecida, em Camaquã, cidade na região Sul do Estado, faleceram após receberem o tratamento. Diferente do caso de Lourenço, eles foram informados sobre o procedimento, chegando a buscar na Justiça a autorização para receber a nebulização por hidroxicloroquina. A médica que ministrou o tratamento foi afastada do hospital.

O Ministério Público do Rio Grande do Sul vai investigar a conduta da médica Eliane Scherer, que receitou nebulização com hidroxicloroquina para pacientes do Hospital Nossa Senhora Aparecida, da cidade de Camaquã, na região sul do Estado. Três pacientes da Covid-19 que tiveram este tratamento morreram entre segunda (22) e quarta-feira (24). Esse remédio tem ineficácia comprovada cientificamente contra o novo coronavírus.

A investigação foi informada pela promotora de Justiça de Camaquã, Fabiane Rios. O MP vai averiguar se o procedimento de nebulização com hidroxicloroquina está dentro dos protocolos corretos e da ética profissional. Em conjunto com a Polícia Civil, a promotoria fará oitiva com os envolvidos e vai cruzar com as orientações do Ministério da Saúde. "Em constatada eventual falta, esta será encaminhada na esfera cível e administrativa. Se for provada a imperícia da médica ao adotar tal procedimento, causando o óbito dos pacientes, sua conduta será apurada na esfera criminal".

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Onyx e Bolsonaro

Eliane ficou conhecida em todo Brasil após o ministro Onyx Lorenzoni divulgar em sua conta no Twitter vídeo no qual ela administra nebulização com hidroxicloroquina. No último dia 19, o presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) também entrou ao vivo em uma rádio de Camaquã para sair em defesa do tratamento por meio da nebulização de hidroxicloroquina.

Além de utilizar um medicamento amplamente rejeitado pela comunidade científica no tratamento da covid, a médica o fez de uma forma pouco usual. Segundo o diretor-clínico do Hospital Nossa Senhora Aparecida, Tiago Bonilha, a nebulização em pacientes covid é altamente contra indicada, pois aumenta a produção de aerossóis que podem transmitir o vírus. Especialistas consultados pelo Estadão apontam que a prática pode trazer ainda mais riscos de efeitos colaterais para os pacientes do que a administração oral do remédio. Nesta semana, o Estadão também mostrou que pacientes foram parar na fila do transplante de fígado após usar o kit covid, com remédios sem eficácia contra a doença.

Eliane era integrante da escala de plantão do hospital, contratada por uma empresa terceirizada. Conforme Bonilha, ela já tinha um histórico de "incidentes de conduta", mas nada que a levasse a ser demitida. "No dia que houve o primeiro episódio da terapêutica dela no pronto-socorro, foi solicitado o desligamento dela." Bonilha diz que todos os problemas anteriores não seriam passíveis de demissão. Ele descreve o perfil de uma médica que criava dificuldades de acesso, na liberação de ambulâncias e macas e até mesmo, para atender as exigências de paramentação no setor de emergência.

Toda essa dificuldade, porém, contrastava com um perfil bem visto na cidade. Tão logo foi feito o pedido de demissão, pacientes reclamaram."A partir de então, iniciou toda uma campanha para que ela fosse reintegrada a essa escala porque ela salvava vidas", conta Bonilha, mostrando que o discurso em defesa da cloroquina havia surtido efeito.

Pacientes entraram na Justiça para ter acesso à terapia

Os pacientes chegaram a entrar na na Justiça exigindo a continuidade da nebulização com hidroxicloroquina. O pedido foi acatado. Aproximadamente cinco pacientes tiveram o tratamento de nebulização com cloroquina. Destes, três morreram nesta semana.

A médica teria se baseado na experiência de um único médico, que não é pesquisador a respeito do tratamento. "Em entrevista, ela chegou a falar quem é o médico que aplicou esse método. Mas o que acontece é que nunca vi nenhuma instituição séria fazer uso dessa medicação. Na minha opinião, essa prescrição transcende o caráter off label da categoria médica, tem uma série de protocolos de segurança que, a meu ver, fazem com que não seja uma terapia a ser aplicada".

Bonilha conta que Eliane não seguiu sequer os protocolos para informar a adoção do tratamento pouco convencional. "Fato que gerou uma quebra de harmonia entre ela e a equipe assistencial foi que na primeira vez que ela quis usar essa terapia, ela não formalizou essa prescrição. Ela orientou que fosse feita e o enfermeiro e o técnico me ligaram. A primeira coisa foi mandar ela prescrever no sistema formalmente o que ela quer que faça."

"O jeito com que a terapia foi apresentada, pareceu que aquilo fosse a salvação da pátria, a chance de cura dos pacientes graves", conta Bonilha. Ao Estadão esta semana, o presidente do Conselho Federal de Medicina, Mauro Ribeiro, negou rever o parecer que libera médicos a prescreverem cloroquina, mas admitiu investigar médicos que tratarem kit covid como cura.

A proposta de Eliane era que estes pacientes seguissem internados no hospital, e ela então fosse até o local administrar o remédio por meio da nebulização. A direção do hospital então pediu que a transferência dos pacientes dos pacientes do tratamento convencional contra a covid para a experiência da médica fosse formalizada judicialmente, o que aconteceu e ela seguiu aplicando a terapia.

Em entrevista a uma rádio local, Eliane chegou a falar que se "emocionava" ao ver os pacientes recuperando o ar. "A impressão que tenho é que de repente essa sensação de alívio que os pacientes percebem tão logo fazem a terapia pode estar relacionada ao simples aumento da pressão na via aérea ou melhor fluxo de oxigênio causada pela nebulização. Se fosse feita com soro, poderia ter esse mesmo efeito", explica Bonilha ressaltando que esse procedimento não está prescrito para atender pacientes covid.

A reportagem do Estadão procurou a médica Eliane Scherer para explicar sua versão dos fatos, mas ela afirmou que não pretende mais falar com a imprensa.

Mesmo após a publicação, ao longo dos últimos meses, de estudos que demonstram a ineficácia de medicamentos como a cloroquina contra a covid-19 e a manifestação de entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS) desaconselhando o uso do remédio, o Conselho Federal de Medicina (CFM) defende que ainda não há consenso científico sobre o uso dessas drogas no tratamento precoce da doença.

Ao Estadão, o presidente do órgão, Mauro Ribeiro, diz que o conselho não pretende rever parecer que autoriza a prescrição do remédio aos médicos brasileiros. Ressalta, porém, que, como não há evidências da ação desses fármacos, os médicos que anunciarem o kit covid como cura da doença ou prescreverem coquetéis de remédios que possam provocar efeitos colaterais podem ser alvo de sindicância de conselhos regionais. Leia os principais trechos da entrevista de Ribeiro.

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O parecer que autoriza médicos a prescreverem cloroquina contra covid é de abril de 2020. Por que não houve revisão após essas novas evidências?

Temos uma doença altamente transmissível, que mata. Na fase inicial, não tem tratamento reconhecido de modo indubitável por parte da ciência. Agora, há estudos observacionais que mostram o benefício de algumas drogas. As drogas que são usadas têm poucos efeitos colaterais, embora agora existam relatos de duas universidades brasileiras de cinco pacientes que teriam evoluído para morte ou fila para transplante e que isso teria sido causado por uma dessas drogas. Mas não tem comprovação científica que foi uma dessas drogas que causou. Estamos em alerta. Essa ideia de que a ciência já concluiu que essas drogas não têm efeito não é 100% verdadeira. Na literatura, tem de tudo. Ambos os lados têm trabalhos com metodologias questionáveis. Já que não há consenso na literatura, é uma doença devastadora, e que, do aspecto observacional, há algumas drogas que podem ter efeito, delegamos ao médico, junto com o paciente, decidir o tratamento. Ele tem de sentar com o paciente e explicar que é um tratamento que não tem comprovação que faça diferença e que se o paciente quiser ser tratado e o médico se disponibilizar, que seja feito. A classe médica está dividida.

Um estudo observacional não tem o mesmo peso que um estudo randomizado duplo cego. Estudos com essa metodologia padrão ouro mostram a ineficácia da cloroquina e azitromicina. Em que estudos vocês se baseiam?

Não há uma instituição que seja guiada mais pela ciência do que o CFM. Temos profissionais contratados que fazem rastreamento de tudo na literatura, mas não temos verdades absolutas. Temos uma série de dúvidas. Também há estudos prospectivos e randomizados mostrando a ação do tratamento precoce. Todos são passíveis de crítica. Único ponto que o CFM coloca é que nem incentivamos nem proibimos. Nenhuma entidade é detentora do saber. Temos a responsabilidade legal de definir o que o médico pode ou não fazer.

Mas há muitos médicos propagandeando esse tratamento precoce como a cura da doença...

Existe resolução do CFM sobre propaganda enganosa. Para todos os excessos, estão sendo abertas sindicâncias nos conselhos regionais. Tem médicos que fazem filmes falando maravilhas do tratamento precoce. Esses excessos são condenáveis, sim. O médico não pode, baseado no parecer do CFM, dizer que o tratamento é milagroso.

Nesse momento, o CFM não pretende rever aquele parecer?

Não, nesse momento não vemos necessidade de modificar o parecer e temos dificuldade de entender por que tamanha resistência de se respeitar a autonomia do médico e a do paciente para o tratamento de uma doença que não tem tratamento conhecido nessa fase. O nível do médico brasileiro é muito bom, ele estuda, não precisa de ninguém para tutorar.

O CFM se preocupa com o uso indiscriminado do kit covid?

Preocupa muito porque existe uma norma da boa medicina em que você deve prescrever o menor número de medicações possíveis. Cada vez que agrega uma nova droga, corre sempre o risco de interação medicamentosa, podendo levar a efeitos catastróficos. Somos contra uma prefeitura ou quem quer que seja entregar o kit ao médico dizendo que tem de prescrever aquilo.

Se o médico prescreve esses remédios e o paciente tem efeito colateral, ele pode ser responsabilizado?

Claro que pode, porque quando damos autonomia ao médico, não é um uma carta de alforria para fazer aquilo que quer. Se ele prescrever cinco ou seis drogas e, por alguma razão, o paciente apresentar efeito e aquilo se transformar numa denúncia do conflito regional, ele vai responder por isso.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O 'Kit Covid', também chamado de tratamento precoce, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), contribui para aumentar o número de mortes de pacientes graves, afirmam diretores de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais de referência ouvidos pela BBC News Brasil. Mesmo sem estudos científicos comprovando eficácia, medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina continuam sendo indicados pelo presidente no combate à Covid-19.

Segundo o médico intensivista Ederlon Rezende, coordenador da UTI do Hospital do Servidor Público do Estado, em São Paulo, os pacientes que precisarem de internação, cerca de 15% a 20% do total, podem ter o tratamento prejudicado no hospital caso recebam esses medicamentos.

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"É nesses pacientes que os efeitos adversos dessas drogas ocorrem com mais frequência e esses efeitos podem, sim, ter impacto na sobrevida', disse Rezende, que também é ex-presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, à BBC. 

Médicos intensivistas também afirmam que o "Kit Covid" mata de forma indireta quando retarda a procura de atendimento, absorve dinheiro público que poderia ser usado na compra de medicamentos para intubação e domina a mensagem de combate à pandemia. 

"Alguns prefeitos distribuíram saquinho com o 'kit covid'. As pessoas mais crédulas achavam que tomando aquilo não iam pegar covid nunca e demoravam para procurar assistência quando ficavam doentes", comentou o diretor da Divisão de Pneumologia do instituto do Coração do Hospital das Clínicas, em São Paulo, Carlos Carvalho.

"A falta de organização central e as informações desconexas sobre medicação sem eficácia contribuíram para a letalidade maior na nossa população. Não vou dizer que representa 1% ou 99% [das mortes], mas contribuiu", completou o diretor.

A preocupação dos médicos intensivistas é com o efeito colateral em pacientes que ficam em estado grave e que estão com o funcionamento dos órgãos comprometidos. 

"Esses remédios não ajudam, não impedem o quadro de intubação, e trazem efeitos colaterais, como hepatite, problema renal, mais infecções bacterianas, diarreia, gastrite. E a interação entre esses medicamentos pode ser perigosa", contou à BBC a pneumologista Carmen Valente Barbas, do Hospital das Clínicas e do Hospital Albert Einstein.

Segundo Ederlon Rezende, a hidroxicloroquina pode causar arritmia cardíaca, o que pode ser um efeito crítico, porque a Covid-19 promove inflamação do músculo cardíaco e trombose nos vasos e tecidos. Ele relatou também casos de pacientes que precisam ser sedados e acordam com confusão mental acentuada devido ao uso abusivo de ivermectina antes de chegar ao hospital. "A ivermectina é uma droga que também penetra no cérebro quando ele está inflamado, e ela deprime mais ainda o cérebro e piora a qualidade do despertar de um paciente intubado. Essa tem sido uma intercorrência frequente nos pacientes que usaram esse remédio antes chegar à UTI", contou. A ivermectina também pode causar lesão renal, dificultando a cura da Covid-19, pois a doença em alguns casos provoca complicações nos rins com necessidade de hemodiálise.

Com a adição de corticoides no Kit Covid, que ajudam a reduzir a mortalidade entre pacientes graves, surgiu outro problema. É que no restante da população o uso pode provocar sérios problemas, como baixar a imunidade e propiciar outras doenças. “Se você dá corticoide a paciente de covid sem necessidade, ele vai ter um desempenho pior. Ele morrerá mais do que se tivesse sido adequadamente tratado”, destacou o supervisor da UTI do Hospital Emilio Ribas, Jaques Sztajnbok.

Uso da cloroquina, restrições sociais, aborto e armamento foram alguns dos temas abordados na reunião entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a cardiologista Ludhmila Hajjar, convidada para assumir o Ministério da Saúde em uma nova troca na pasta. Durante o encontro, Bolsonaro demonstrou preocupação com novas implementações de quarentena no Nordeste, alegando que as medidas restritivas podem afetar o seu eleitorado na região. “Você não vai fazer lockdown no Nordeste para me foder e eu depois perder a eleição, né?”, perguntou o chefe de Estado à convidada, segundo o site Poder 360.

As informações obtidas nos bastidores mencionam ainda uma participação do ex-ministro interino da Saúde Eduardo Pazuello na conversa. O antigo chefe de ministério havia contraargumentado a médica no assunto distanciamento social e restrições mais rígidas, ao dizer que possui dados divergentes dos apresentados pelos governadores e que os líderes estaduais estariam mentindo sobre a situação de colapso na região.

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Alegando “falta de convergência técnica”, Hajjar declarou ainda nesta segunda-feira (15) que rejeitou o convite. Desde que o seu nome foi cogitado para o cargo, a médica afirma também estar recebendo ameaças de morte.

A cardiologista também foi perguntada sobre o armamento da população, sobre o qual disse ser pessoalmente contra, mas direcionou a competência do assunto às polícias e Forças Armadas do país. Não se sabe qual foi o posicionamento da especialista quanto ao aborto.

Sobre o uso medicamentoso da Cloroquina contra a Covid-19, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, apesar da ausência de comprovação científica, Ludhmila Hajjar disse que é preciso “olhar para a frente”. Bolsonaro defendeu a liberdade dos profissionais da saúde em prescreverem o que quiserem, e nesse tópico também houve divergência entre os dois.

Por Diego Junqueira, do Repórter Brasil

A Apsen Farmacêutica, principal fabricante de hidroxicloroquina do Brasil, assinou dois contratos de empréstimo com o BNDES em 2020, no total de R$ 153 milhões, para investir em atividades de pesquisa e ampliar sua capacidade produtiva. O valor é sete vezes maior do que o crédito liberado para a empresa nos 16 anos anteriores somados.

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O primeiro acordo, assinado em fevereiro de 2020, prevê financiamento de até R$ 94,8 milhões para o “plano de investimentos em inovação” da companhia. Desse montante, o banco desembolsou R$ 20 milhões em março do ano passado.

Já o segundo financiamento, de R$ 58,9 milhões, foi assinado em junho para “ampliar a capacidade produtiva e de embalagem no complexo industrial da Apsen, em São Paulo”. Os recursos aprovados neste acordo ainda não foram liberados pelo BNDES. As informações constam no site da instituição, que usa recursos públicos para oferecer empréstimos com juros abaixo dos praticados pelo mercado.

O presidente da Apsen, Renato Spallicci, é antigo apoiador do presidente Jair Bolsonaro e, na pandemia, ganhou o ex-capitão como “garoto-propaganda”.

Bolsonaro, que defende o medicamento para tratar a covid-19, mesmo com a ineficácia comprovada, exibiu a caixinha de hidroxicloroquina da empresa em diversas ocasiões: na posse do general Eduardo Pazuello como ministro da Saúde, em aglomerações em Brasília, em um encontro virtual dos líderes do G-20 e até para a ema do Palácio do Alvorada.

As vendas de hidroxicloroquina – que é eficaz contra malária e doenças reumáticas, segundo a bula –, ajudaram a Apsen a alcançar faturamento recorde no ano passado, próximo de R$ 1 bilhão. Alta de 18% em relação ao ano anterior, dos quais 2,7% se devem ao remédio, como afirmou à Repórter Brasil. A farmacêutica produz outros medicamentos cujas vendas aumentaram em 2020 em função da pandemia, como vitamina D e antidepressivos.

A Apsen é a líder do mercado nacional de hidroxicloroquina – e maior beneficiada pela comercialização recorde do produto em 2020. Sua medicação está no mercado há 19 anos e respondeu por 78% das vendas no ano passado, segundo a farmacêutica.

A empresa afirmou que não usou o financiamento público na fabricação do remédio, mas que pediu os empréstimos para investir em projetos de “expansão da empresa e linhas de produtos”. A Apsen disse que os investimentos já estavam previstos antes da pandemia, informação confirmada pelo BNDES. Os pedidos foram feitos em 2019, mas os contratos assinados em 2020 – e a maior parte dos recursos ainda não foi desembolsada pelo banco.

A empresa admite, contudo, que a crise de saúde acelerou os investimentos. “O foco da Apsen em 2020 foi entender a conjuntura econômica e rever o tempo em que os investimentos seriam executados. Alguns projetos do nosso planejamento estratégico foram antecipados e outros, postergados”, disse a empresa à Repórter Brasil.

Segundo João Paulo Pieroni, chefe do Departamento do Complexo Industrial e de Serviços de Saúde do BNDES, os projetos apoiados não focaram em apenas um medicamento, mas na expansão geral da empresa no longo prazo. “O apoio do banco já estava previsto e não teve qualquer relação [com a produção de hidroxicloroquina]. A empresa pode até ter aproveitado esse momento comercialmente, mas, do ponto de vista do financiamento do banco, não teve efeito”.

Recorde de vendas

A hidroxicloroquina bateu recorde de vendas em 2020 após se tornar o carro-chefe do governo brasileiro para enfrentar a covid-19. Só em farmácias foram comercializadas 2 milhões de unidades (com pico em dezembro) – alta de 117% no ano em comparação a 2019, segundo o Conselho Federal de Farmácia.

Além de distribuir cloroquina no SUS, o Ministério da Saúde incentivou a automedicação, por meio de um aplicativo e em campanha publicitária, e adotou um protocolo clínico, batizado de “tratamento precoce”, que recomenda a droga no estágio inicial da doença.

Estudos científicos comprovaram que a cloroquina e a hidroxicloroquina são ineficazes contra o novo coronavírus e podem causar danos à saúde dos pacientes. Sociedades médicas recomendam seu uso apenas para os tratamentos indicados na bula – o que não inclui a covid-19.

Apesar disso, o governo federal lançou incentivos para respaldar a produção no país. Além de ampliar a fabricação pelo Laboratório do Exército e de usar os estoques da Fiocruz que seriam destinados ao programa de malária, o Executivo zerou o imposto de importação sobre a cloroquina, ainda em março de 2020. O Itamaraty também intermediou negociações entre a Apsen e o governo da Índia, em abril, para destravar a liberação de matéria-prima, conforme revelou a agência de dados Fiquem Sabendo.

Por e-mail, a empresa disse que Spallicci não tem relação pessoal com o presidente e que eles nunca se encontraram “presencialmente ou virtualmente”. A relação com o governo federal se dá via Ministério da Saúde, Itamaraty e Anvisa, diz a Apsen.

Questionada sobre a aprovação recorde de empréstimos em 2020, a farmacêutica disse que demandou financiamentos para investir em pesquisa de novos produtos e na área industrial, “com o objetivo de preparar as áreas produtivas para suportar o plano de lançamentos dos próximos anos”. A empresa quer dobrar o faturamento em cinco anos.

Apesar de estudos comprovarem a ineficácia da cloroquina para o tratamento da covid-19, a Apsen não se posicionou contra o uso do medicamento, como fez recentemente a americana Merck em relação à ivermectina. O único comunicado oficial no site da farmacêutica brasileira, publicado em abril passado, trata a hidroxicloroquina como possível “cura” para a doença.

Questionada pela Repórter Brasil, a empresa disse que seu trabalho é pautado em ciência. “Atualmente, com base nas últimas evidências científicas, a Apsen recomenda a utilização da hidroxicloroquina apenas nas indicações previstas em bulas, as quais são aprovadas pela Anvisa.”

R$ 925 milhões a farmacêuticas

Outra fabricante de hidroxicloroquina que recebeu empréstimos do BNDES em 2020 foi a EMS. A companhia recebeu R$ 23 milhões do banco público em maio para investir em duas frentes: na implantação de uma fábrica de medicamentos oncológicos (R$ 7 milhões) e na ampliação de sua linha industrial (R$ 16 milhões). O apoio total pode chegar a R$ 123 milhões.

A farmacêutica é a que mais vende remédios no Brasil e tem no portfólio outras medicações cujas vendas cresceram em 2020, como o vermífugo ivermectina, além de antibióticos e antidepressivos. A ivermectina foi o medicamento sem eficácia para covid-19 que mais cresceu em vendas no ano passado: foram comercializados 53,8 milhões de comprimidos, contra 8,1 milhões em 2019, alta de 557%, segundo o conselho de Farmácia.

Procurada, a EMS não quis se manifestar.

Na avaliação de Nelson Mussolini, presidente-executivo do Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo), os investimentos apoiados pelo BNDES não têm relação com a pandemia porque miram um horizonte de 10 a 15 anos. “Esses planos de investimento certamente foram desenvolvidos em 2018 e 2019, porque o setor já esperava um crescimento em 2020 e 2021”, diz ele, que calcula alta de 10,5% no faturamento do setor em 2020.

O BNDES é um dos principais financiadores da indústria farmacêutica no Brasil. Nos últimos 15 anos (2006 a 2020) o banco financiou o setor com R$ 6 bilhões. Entre os apoios está a construção do Centro Henrique Penna, na Fiocruz, que está produzindo a vacina de Oxford para covid-19. O banco avalia atualmente o possível apoio ao desenvolvimento de uma vacina brasileira.

No total, o BNDES liberou R$ 550 milhões para o setor em 2020, maior valor desde 2010. Em 2019, antes da pandemia e no primeiro ano do governo Bolsonaro, as farmacêuticas receberam o menor investimento desde 2001: foram aplicados R$ 87,5 milhões em 2019, ante R$ 370 milhões em 2018.

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