Na última semana, a Folha de São Paulo divulgou que suicídios em série entre servidores do Ministério Público de São Paulo (MPSP) estariam gerando preocupação entre os colaboradores e a diretoria do órgão. Os principais motivos por trás dos episódios seriam a ocorrência de assédio moral e cobrança excessiva por resultados. Nesta sexta-feira (23), o portal Metrópoles divulgou, com exclusividade, relatos de servidores sobre a rotina de assédio no MPSP.
Entre junho de 2022 e maio deste ano, três funcionários do órgão se suicidaram e um foi socorrido após uma tentativa de suicídio. A Comissão de Saúde chegou a fazer um levantamento para entender o que estava acontecendo na rotina dos servidores. Na nova denúncia, os colegas de trabalho das pessoas falecidas contam, também, que presenciaram as ocorrências e o impacto do luto por suicídio nos que ficaram.
##RECOMENDA##O Metrópoles ouviu 12 servidores e três ex-funcionários do Ministério Público que relataram ter sofrido assédio moral ou sexual de membros do MPSP, a maioria promotores e procuradores de Justiça. Os relatos apontam para uma rotina de intimidação, xingamentos, ameaças, sobrecarga de trabalho, desvio de função, falta de acolhimento a quem procura ajuda, omissão dos superiores e punição aos denunciantes. Algumas vítimas não foram identificadas.
“A pessoa que escolhe se matar no local de trabalho, durante o expediente, quer passar uma mensagem sobre esse lugar”, diz um dos denunciantes. “Em uma reunião com uma promotora e um superior, me disseram que eu precisava me adaptar ao MP, e não o contrário”, conta uma outra servidora, promotora. Ela deixou a sala aos prantos e se abrigou no banheiro para desabafar com uma amiga por telefone: “Aqui eles tratam a gente feito bandido, parece que eu fiz alguma coisa muito grave”, disse na ocasião.
A sequência de episódios motivou a criação de um movimento batizado “Nenhum Servidor a Menos”, um protesto de funcionários em frente ao prédio-sede do Ministério Público paulista e uma audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
“Em 17 anos de Ministério Público, nunca recebi ameaça de criminoso, mas recebi ameaça de promotor”, desabafa o oficial de promotoria Bruno Bertolo, de 41 anos, outro servidor que afirma ser vítima de assédio moral dentro da instituição.
“Isso ficou para trás, superei com muita ajuda dos meus familiares e amigos. Mas eu ia deixar uma carta explicando toda essa situação do MP que desgasta a gente e nada é feito”, afirma.
Na carta, que seria endereçada à cúpula do MPSP, ele questionava: “Quando farão algo a respeito? Quando tivermos um suicídio por mês? Ou somente se algum cadáver atingir o automóvel de algum membro ministerial na queda? Até quando adotarão essa alienação deliberada? Como dormem tranquilos à noite? Em janeiro, eu tinha planejado me matar, ia cometer suicídio dentro do Ministério".
Mortes por suicídio no MPSP
Em menos de um ano, três servidores do Ministério se suicidaram. Um quarto funcionário tentou se matar, mas foi impedido. Os últimos três casos ocorreram em menos de 24 horas. Segundo apontado anteriormente, os servidores afirmam que colegas adoeceram por causa da deterioração na rotina de trabalho, sobrecarga e pressão psicológica.
A primeira morte aconteceu em 29 de junho de 2022 e a vítima foi um analista jurídico; a segunda morte foi com um diretor de engenharia, em 10 de maio de 2023; e a última de um auxiliar de promotoria, em 11 de maio de 2023. O comando do órgão afirmou que os casos foram pontuais, de pessoas com problemas pessoais.
Diante das perdas, a Comissão de Saúde do MPSP encomendou, no ano passado, uma pesquisa de riscos psicossociais na instituição e levantou que 77,2% dos participantes afirmaram ter sofrido algum tipo de constrangimento emocional; 50,1% se declararam vítimas de assédio moral; e 6,7% afirmaram já terem pensado em se matar.