Nos postes, paradas de ônibus e muros do Recife e Região Metropolitana, o que mais se vê são papéis contendo anúncio de vários tipos de serviços e produtos. “Trago o seu marido de volta”, xerox por 5 centavos e: “troque seu limite do cartão de crédito por dinheiro” são uns dos que mais se encontram espalhados por aí. No entanto, o que vem despertando a curiosidade de diversas pessoas é como se consegue trocar o limite do cartão por dinheiro, e a licitude desse tipo de serviço. "Se você precisa de dinheiro vivo e tem limite no cartão de crédito, pode trocar o saldo disponível por dinheiro. Eu vou até você com a maquineta, passo o cartão e o valor conseguido liberado é pago em prestações que vão até 12 vezes. Mas quanto maior o número de parcelas, maior os juros que você vai pagar", disse o consultor financeiro, como faz questão de se identificar.
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Quem precisar de mil reais, por exemplo, tem que ter disponível no cartão de crédito pelo menos mil e quatrocentos reais, porque R$ 400 são dos juros. “O trâmite é como se você estivesse comprando numa loja normal, só que com a gente você vai pegar o dinheiro. Passa mil e quatrocentos e pega, em dinheiro vivo, mil reais; pode confiar, não é furada”, diz um dos comerciantes. Os juros não seguem nenhuma regra ou base mínima para serem cobrados, é de acordo com o que cada um queira.
A titular da Delegacia de Polícia de Crimes Contra o Consumidor, Beatriz Gibson Cunha de Santana, informa que “esses empréstimos clandestinos cobram juros altíssimos, já que não seguem a base de juros do Banco Central. Dois dias depois o consumidor se arrepende, quer voltar atrás e não conseguem mais”. A delegada corrobora ainda que “não tem como responsabilizar o 'vendedor', já que não houve pressão nem ameaças - as pessoas viram aquele anúncio e foram até esses agiotas por vontade própria”.
O Gerente de Fiscalização do Procon, Roberto Campos, pontua que "esse é um ato de desvirtuação da finalidade dos cartões de crédito, já que ele serve como método de pagamento para a aquisição de bens ou serviços; por isso a caracterização de agiotagem". Roberto confirma ainda que "é simulado uma operação, como se fosse a contratação de um serviço que não existe". Beatriz complementa dizendo: “é muito comum constar na fatura (depois do empréstimo) que a operação foi realizada por restaurantes”.
As pessoas que oferecem essa agiotagem se consideram consultores financeiros. Ao ligar para alguns dos números que encontramos nas ruas da cidade, o LeiaJá constatou que eles detém vários pontos no Recife, Paulista, Olinda e Jardim Atlântico; e com o “diferencial” de levar o dinheiro até o local em que o contratante quiser. “A gente trabalha de forma correta, com nota fiscal e tudo mais. Até declarar imposto à Receita Federal a gente faz”, informou um dos "consultores". De todos os contactados, esse é o melhor estruturado, pelo visto. Contando com meninas divulgando a empresa na rua, ponto fixo na Dantas barreto (centro do Recife), além de outras cidades do Estado, e ainda mais dois sócios do negócio.
O gerente de fiscalização do Procon, Roberto Campos, diz que esse é o exemplo do desespero do brasileiro que se encontra endividado cada vez mais. "Boa parte da população está super endividada e procura esse serviço por desespero, fazendo dívidas por cima de dívidas". O gerente é enfático quando diz que "de qualquer forma, a gente não tem muito o que fazer porque quem procura esse tipo de serviço é o consumidor e não há uma regulamentação do Estado para isso".
Se a pessoa usar o limite do cartão de crédito para pegar dinheiro e não receber, esse serviço pode ser cancelado pelo próprio consumidor, ligando diretamente para a administradora do cartão. “Se acaso não conseguirem solucionar esse problema, elas podem procurar a Delegacia do Consumidor para que possamos tentar solucionar”, finaliza Beatriz.