Quando o então governador Eduardo Campos (PSB), no início de 2014, anunciou o nome do seu secretário estadual da Fazenda, Paulo Câmara (PSB), como candidato à sua sucessão, os comentários foram muitos. A especulação é de que houve ciumeira entre aliados de Eduardo, que sonhavam em disputar a vaga, além de muitas indagações sobre a escolha de Câmara para concorrer ao cargo na eleição que aconteceria no final daquele ano, já que ele não era conhecido entre o eleitorado pernambucano. O fato é que estava decidido e o resultado foi o esperado: Paulo Câmara venceu a eleição com 68,08% dos votos válidos contra o senador Armando Monteiro (PTB), que obteve 31,07%.
Poucos meses depois, já com as articulações mais consolidadas, a morte inesperada de Eduardo Campos em um acidente aéreo, em agosto, deixou muitas indagações no ar sendo a principal: como seria a campanha de Paulo Câmara sem o padrinho político? Mesmo sem Eduardo, Paulo seguiu unindo forças com correligionários e, por vezes, com o apoio da família Campos. E seguiu como pôde. Na época da campanha, em muitos momentos, Paulo chegou a afirmar ter sido o secretário que aumentou a capacidade de investimento do governo “transformando gasto ruim em receita boa”. Logo após a vitória, ele ressaltou que a responsabilidade era muito grande para comandar os destinos de Pernambuco, mas garantiu: “estamos preparados e confiantes para continuar um trabalho que foi iniciado por Eduardo Campos”.
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Passado quatro anos da entusiasta declaração, queiram ou não queiram os opositores e descontentes com o governo de Câmara, o pessebista voltou a comemorar mais uma conquista: a reeleição, embora em um cenário bem mais adverso. Em outubro de 2018, ele venceu com 50,70% dos votos, um percentual bem abaixo da primeira disputa, derrotando novamente Armando Monteiro, que acreditava na possibilidade de sair bem-sucedido por não haver mais a presença de Eduardo.
O governo Paulo Câmara, que foi reprovado por 74% dos pernambucanos, segundo um levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisas UNINASSAU, continua a dividir opiniões. Uma das áreas mais cobradas e criticadas é referente a segurança pública no Estado, no entanto o governador garante que os índices de violência vem diminuindo e ressaltou, por inúmeras vezes, que destinou a maior verba da história de Pernambuco para o enfrentamento da violência: R$ 290,9 milhões.
Outro questionamento que vem sendo feito é sobre a sua capacidade de “liderança”. Paulo também se defende. Ele já afirmou, durante a campanha, que liderança não se faz aos gritos e até mesmo disse que “Pernambuco mostra ao Brasil como se faz gestão”. Em muitas ocasiões, culpou a crise no sentido de não poder ter feito mais.
A área da educação continua sendo uma das “vitrines” do governo Paulo Câmara. No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2017, Pernambuco alcançou nota 4,0 enquanto a média do ensino no Brasil ficou em 3,5. Mas, uma alerta merece atenção: o Estado ocupava o primeiro lugar do ranking e, neste último levantamento, apareceu em terceiro lugar atrás de Goiás e Espírito Santo.
Mais outro ponto a favor do governador foi comemorado no final de 2018: Pernambuco foi considerado o Estado mais transparente do Brasil, de acordo com o levantamento realizado pelo Ministério da Transparência e Controladoria Geral da União (CGU). O estudo avaliou 691 entes, entre eles os estados, capitais e municípios com mais de 50 mil habitantes. Dados recentes do IBGE também apontam que Pernambuco tem a menor mortalidade infantil do Nordeste e a nona do Brasil.
Entre os compromissos firmados na campanha eleitoral do primeiro mandato, Paulo Câmara prometeu dobrar o salário dos professores da rede estadual dentro de quatro anos, construir novos hospitais como o Geral de Cirurgias, no Grande Recife, além de universalizar as oportunidades nas escolas em tempo integral, entre outras. Se parte da promessa não foi cumprida, o governador parece estar disposto a começar o segundo mandato mais bem quisto nesse sentido: na última quinta-feira (27), ele anunciou a contratação de novos mil professores para compor o corpo docente da rede estadual de ensino. Os profissionais atuarão nas áreas de educação básica, especial e profissional nas escolas de todas as regiões do Estado.
Polêmicas
Pouco mais de um mês depois da vitória em busca da reeleição, o pessebista foi alvo de mais uma polêmica ao enviar para a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) um pacote de ajuste fiscal. No final de novembro, em votação polêmica, os deputados estaduais aprovaram o pacotão que, entre outras medidas, prevê a redução de 18% para 16% no ICMS do óleo diesel e o aumento de 2% no ICMS de vários produtos, entre eles, bebidas alcoólicas, refrigerantes, veículos novos com preço acima de R$ 50 mil e etanol.
Também foi aprovado o projeto que cria o programa Nota Fiscal Solidária, que viabilizará o pagamento de um 13° de até R$ 150 para as famílias do Estado cadastradas no Bolsa Família. Essa proposta foi uma das que gerou discussões. Opositores do governo chegaram a acusar Paulo de fazer “estelionato eleitoral” ao prometer, durante a campanha, o pagamento a mais sem explicar, contudo, como ele seria feito.
Apesar das críticas somadas, o governador continua tendo um ponto a favor: não é considerado um “político de carteirinha”. Ele é formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Pernambuco, é pós-graduado em Contabilidade e Controladoria Governamental, e fez mestrado em gestão pública. Além de comandar a pasta da Fazenda entre 2011 e 2014, foi secretário de Administração [2007-2010] e de Turismo [2010]. Paulo é auditor do Tribunal de Contas de Pernambuco.
Na última sexta-feira de 2018, Paulo Câmara fez um discurso otimista no qual garantiu que vai trabalhar muito em 2019. “Trabalho não vai faltar, mas é sempre bom agradecer e também focar no futuro, pedir muita fé e determinação para a gente continuar a trabalhar para um futuro melhor”, declarou durante Missa de Ação de Graças, na Paróquia de Casa Forte.
Ele ainda afirmou que, em 2018, fez “o dever de casa”. “Fizemos um dever de casa importante para que pudéssemos ter uma expectativa mais positiva nos próximos quatro anos, onde nós vamos focar muito na qualidade dos serviços”, salientou.
A posse dos governadores e vice-governadores dos Estados para o mandato de 4 anos acontece sempre em 1° de janeiro do ano subsequente ao da eleição. A cerimônia de posse de Paulo Câmara acontecerá, a partir das 15h, desta terça-feira, na Alepe. O governador será recebido, juntamente com sua esposa Ana Luiz e as filhas Clara e Helena, pela guarda de honra formada por tropas da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros de Pernambuco. Também tomará posse a vice-governadora eleita Luciana Santos (PCdoB).
A expectativa é que Paulo Câmara faça um discurso, como já vem afirmando, de que o governo fez muito pelo Estado, mas que ainda fará mais. Ele também deve demonstrar confiança no sentido de garantir que está pronto para governar o estado por mais quatro anos como o fez na convenção estadual da legenda, que aconteceu dois meses antes da eleição.