A universitária pernambucana Daniela Martins, 21, vem sendo alvo de uma enxurrada de ofensas racistas, godofóbicas e machistas após publicar nas redes sociais uma foto enaltecendo o seu corpo. Os ataques virtuais tiveram início no fim de dezembro de 2016, quando ela decidiu rebater um comentário preconceituoso em sua publicação. Atualmente, a postagem com a fotografia de Daniela já conta com mais de 64 mil curtidas no Facebook e mais de 16 mil compartilhamentos.
Em entrevista ao Portal LeiaJá, a universitária explicou que um usuário da rede social e membro de um grupo virutal chamado "Vai Chorar Mesmo" começou a publicar xingamentos e ameaças em sua foto. "Ele ficava me agredindo falando do meu corpo, do meu cabelo e da minha cor. Quando eu comecei a perceber as ofensas, outras meninas vieram me ajudar e me defenderam", disse.
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Ela explica que o problema tomou uma proporção maior quando recebeu ajuda de outras internautas e conseguiu excluir do Facebook o grupo virtual à frente das ofensas. "Eu pedi aos meus amigos para denunciar a página, mas os xingamentos e ameaças se multiplicaram depois disso", lamentou. Daniela diz ter ficado muito assustada com a situação porque o grupo dizia saber onde ela estudava e os horários de saída da faculdade.
"Eles diziam que iam me bater porque eu era gorda, negra e feminista". Além das ofensas, a estudante recebeu uma série de denúncias por parte dos agressores e sua conta no Facebook foi bloqueada por um dia.
Decidida a lutar e combater as ofensas que vêm recebendo, a estudante foi prestar queixa na Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos. Ao chegar lá, mais uma surpresa desagradável. Ela foi informada de que não poderia realizar o boletim de ocorrência sem ter todas as provas impressas em mãos. "Eu expliquei ao delegado que eram mais de 10 mil comentários e eu não teria dinheiro para imprimir tudo isso", informou Daniela.
Mesmo com a justificativa de que eram muitas provas para realizar a impressão, a estudante não conseguiu prestar queixa sobre o caso. "O delegado chegou a dizer que o processo era demorado e tinham queixas de 2015 ainda estavam arquivadas", contou. Procurado pela reportagem do Portal LeiaJá, o delegado de Repressão aos Crimes Cibernéticos, Derivaldo Falcão, confirmou a informação do impedimento da jovem de realizar o boletim de ocorrência sem as provas.
"Todas as infrações têm que ser entregues a políca impressas porque a gente analisa o link da página de onde vieram as ofensas. É preciso que na impressão a gente consiga identificar a URL do perfil de quem está ameaçando ou importunando a vítima", disse Falcão. O delegado alertou ainda que o "print" não deve ser feito de um celular, mas sim de um computador. Com todas as imagens em mãos, a Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos entra em contato com a equipe do Facebook e solicita a identificação do dono da página.
Sem saber como continuar o procedimento de formalização da denúncia, Daniela conta que recebeu a ajuda de uma advogada e deve ir à sede do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) na tarde desta quarta-feira (4).
"Vou continuar me amando e ajudando as pessoas a se aceitarem"
Apesar do medo e de todo transtorno causado pelas ofensas recebidas, Daniela garante que isso não vai fazer ela parar de postar fotos do seu corpo nas redes sociais. "Eu me amo e sempre vou me amar do jeito que sou. Tenho recebido tanto apoio de pessoas desconhecidas e isso me fortalece ainda mais".
Em novembro de 2016, o Portal LeiaJá publicou a reportagem 'Gordas e felizes, mulheres protagonizam o amor ao corpo'. Na publicação, foi abordada a ideia de um corpo gordo não ser sinônimo de tristeza, já que mulheres têm se tornado protagonistas em romper preconceitos e transformam a pressão social em incentivo para a autoaceitação.
Daniela foi uma das entrevistadas e já se definia como "Gorda e feliz". Atuante na causa contra a gordofobia, a estudante luta diariamente pra ser aceita pelo que é. "As pessoas sempre repetem a mesma coisa. Me mandam fazer uma dieta poque dizem que tenho um rosto lindo, mas um corpo feio. Eu sempre questiono, feio pra quem? Porque eu me sinto bem assim, pra mim ele é lindo e isso basta", contou.
Denuncie
A Polícia Federal tem um canal online criado para receber denúncias de internautas para quatro tipos de crimes cibernéticos: pornografia infantil, crimes de ódio e genocídio, tráfico de pessoas. Os interessados em denunciar casos desse tipo devem acessar o site oficial e preencher um pequeno formulário, com o link da página onde está sendo cometido o crime e um comentário, explicando a denúncial.
Uma outra forma de realizar a denúncia é através do site SaferNet Brasil. Há dez anos, a organização civil sem fins lucrativos também recebe denúncias de crimes cibernéticos e as encaminha para órgãos públicos competentes da área, como o próprio Ministério Público Federal. O internauta deve acessar o site do órgão e escolher a denúncia baseada no crime: pornografia infantil, racismo, apologia e incitação a crimes contra a vida, xenofobia, neo nazismo, maus tratos contra animais, intolerância religiosa, homofobia e tráfico de pessoas.