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O mosquito Aedes aegypti, transmissor de todas as arboviroses que atualmente circulam no país, inclusive a dengue, chegou a ser erradicado do território brasileiro por volta de 1950, como resultado de uma série de medidas para o controle da febre amarela. Entretanto, dadas as atuais proporções de infestação, é impossível sonhar com esse cenário novamente. “O Aedes veio para ficar”, alertou o infectologista Antonio Carlos Bandeira.

Formado pela Universidade Federal da Bahia e especialista em saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Bandeira descobriu, em 2015, a chegada do vírus Zika ao Brasil. A doença também é transmitida pelo Aedes aegypti. Em entrevista à Agência Brasil, o médico citou alterações climáticas, sobretudo o aumento das temperaturas, como fatores que colaboram para a explosão de casos de dengue este ano.

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O infectologista manifestou preocupação com o ressurgimento do sorotipo 3 da dengue no país – que não circulava de forma epidêmica há mais de 15 anos. “Mas, independentemente do sorotipo, preocupa a grande quantidade de casos que a gente tem. Porque uma grande quantidade de casos implica uma grande quantidade de complicações e uma grande quantidade de possíveis óbitos”.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

Agência Brasil: Nas primeiras semanas de 2024, o número de casos de dengue mais que dobrou em relação ao mesmo período de 2023, que já havia sido classificado como ano epidêmico. O que tem causado essa explosão de casos no Brasil?
Antonio Carlos Bandeira: Vários fatores têm causado essa explosão. O primeiro e mais importante têm sido as alterações climáticas. Houve agora, com o El Niño, nos últimos dois anos, uma combinação de muito calor no corredor que segue da Região Centro-Oeste e desce pela porção oeste das regiões Sudeste e Sul. Esse corredor climático acabou facilitando muito a disseminação do mosquito tanto para locais da Região Sudeste e, mais importante ainda, da Região Sul. Isso facilitou que o Aedes aegypti pudesse ser disseminado. Não só o Brasil, mas países circunvizinhos como Paraguai e Argentina viveram a mesma situação: uma chegada muito forte do Aedes aegypti. É um passo para começar a ter epidemias de dengue, chikungunya e zika.

Outro fator é o desmantelamento que houve, de certa maneira, nos últimos anos, de uma vigilância mais proativa no sentido de instituir medidas como larvicida ou o famoso fumacê. Temos períodos que ficaram sem larvicidas. E o terceiro fator é pegar a população que é exatamente dessas regiões que citei e que eram virgens de dengue. Diferentemente da Região Nordeste, em que as pessoas frequentemente tiveram episódios pregressos de dengue. Nesses casos, a pessoa fica um pouco mais resistente, apesar de ainda poder pegar a doença por outros sorotipos. No caso da Região Sul, está todo mundo ali sem nenhum tipo de proteção anterior. E a vacina só agora está sendo pensada.

Agência Brasil: O recente aumento das temperaturas em praticamente todo o país associado à grande quantidade de chuvas contribui de alguma forma para esse agravamento do cenário da dengue?
Bandeira: É, isso que faz com que a coisa complique. Você tem esse corredor de calor e ele fica oscilando com muita precipitação pluviométrica de forma intensiva. Isso facilitou demais. Calor e muita chuva intermitente são a combinação principal para a dengue. Por culpa, de certa maneira, do El Niño. O Aedes aegypti se reproduz mais rápido e vive mais quanto mais elevada é a temperatura. A situação é essa. Ele vive mais e se multiplica mais.

Agência Brasil: A dengue tem comportamento sazonal e sempre retorna de forma epidêmica de tempos em tempos. É comum termos dois anos consecutivos de epidemia se já considerarmos 2023 e 2024?
Bandeira: Estamos diante de populações virgens. A maioria dos casos de dengue que estamos tendo no ano passado e este ano é na Região Sudeste e Sul. Essa população que nunca teve dengue antes está muito suscetível.

Agência Brasil: O pico da dengue no Brasil geralmente acontece entre março e maio. Em função do início precoce de casos, já em outubro do ano passado, há chance de esse pico chegar mais cedo em 2024?
Bandeira: No ano passado, a gente teve uma situação completamente diferente porque tivemos, como de praxe, a dengue no início do ano. Em fevereiro, já tínhamos muitos casos. Mas, normalmente, as taxas começam a subir em fevereiro, março, abril e, em maio, começam a cair. No ano passado, essas taxas foram altas o primeiro semestre praticamente inteiro, até julho. E só foram começar a cair em agosto, já mostrando um comportamento diferente.

Talvez algumas regiões atinjam o pico de dengue antes, mas isso não é garantido. Nesses processos epidêmicos, cada estado, na verdade, tem um comportamento. Depende da precocidade com que se começa a detectar, usar larvicida em grande quantidade, fumacê, alertar a população. Cada estado tem uma intervenção diferente. Um está em calamidade pública e, em outro, a coisa é intensa, mas não é trágica. Cada local acaba tendo uma dinâmica diferente. Se você não fizer nada, o pico pode chegar antes sim.

Agência Brasil: O sorotipo 3 da dengue não circulava de forma epidêmica no Brasil há mais de 15 anos, mas voltou a registrar casos em 2023 e em 2024. Como esse ressurgimento pode agravar ainda mais as perspectivas para este ano?
Bandeira: Sem dúvida, o tipo 3 voltou a circular. A gente só não sabe se ele vai ser o responsável pela maioria dos casos. A gente não tem como saber isso neste momento. Já tivemos a introdução de sorotipos que começam a circular, mas não vão muito adiante. No passado, o sorotipo 4, por exemplo, começou, mas não dominou o espectro da doença. O sorotipo 3 realmente preocupa porque é mais um sorotipo para causar a doença. Por outro lado, pode ser que ele não seja dominante na maior parte dos estados do Brasil. O que a gente está vendo hoje é que os sorotipos 1 e 2 estão fazendo uma grande quantidade de notificação no Brasil como um todo.

Neste momento, independentemente do sorotipo, preocupa a grande quantidade de casos que a gente tem. Porque uma grande quantidade de casos implica uma grande quantidade de complicações e uma grande quantidade de possíveis óbitos.

Agência Brasil: O Aedes aegypti chegou a ser erradicado do território brasileiro por volta de 1950 como resultado de medidas para controle da febre amarela. É possível sonhar com esse cenário novamente, dadas as proporções atuais de infestação?
Bandeira: Jamais. Nunca mais. Não tem como. O Aedes veio para ficar e só faz aumentar. Começou em 1980 no Rio de Janeiro e, hoje, já está presente em praticamente todos os municípios do Brasil. É um mosquito altamente domiciliável. Nessas temperaturas elevadas, não tem como. E a tentativa de trazer aqueles mosquitinhos transgênicos, que realmente poderiam ajudar num determinado momento, hoje em dia, não tem como. Você teria que soltar mosquitos transgênicos aos bilhões no Brasil inteiro. A gente realmente perdeu o timing da coisa porque ficou parado. Ficou-se, todos os anos, esperando que a epidemia fosse embora. Mas o vírus não entende os apelos e os clamores humanos. Ele quer continuar. Veio pra ficar mesmo. A saída nossa agora é a vacina. Não tem outra.

Agência Brasil: O controle dos criadouros do mosquito, em tese, não é algo tão difícil de se fazer. O que falta? Mais campanha? Maior conscientização?
Bandeira: Cuba, que é uma ilhazinha minúscula quando comparada ao Brasil, não conseguiu erradicar os criadouros com um sistema político altamente centralizado. Para a gente, não tem como. É absolutamente impossível, não tem como. A única possibilidade seriam tecnologias novas, inovadoras mesmo. Mas até isso bate em uma situação de custo que pode ser muito elevado para o país todo. Serve para algumas regiões de epidemia, mas é impossível acabar com o Aedes aegypti. Não é factível, não é viável. Só em filme de Hollywood.

Agência Brasil: O Brasil ainda registra lixões e esgoto a céu aberto, além de uma grande quantidade de terrenos baldios sem fiscalização adequada. Como o senhor avalia as ações para controle do mosquito no país ao longo dos últimos anos? É preciso mudar de estratégia?
Bandeira: Acho que a gente tem que investir em pesquisa. Os governos, sejam eles federal, estadual ou municipal, precisam entender, de uma vez por todas, que o que resolve os nossos problemas é a pesquisa feita aqui dentro, para as nossas necessidades. É investimento massivo em pesquisa, pra gente poder descobrir novas drogas pra dengue, novas vacinas e assim por diante.

Em segundo lugar, a gente tem que ter coragem mesmo para pensar em atuar nas favelas. Você olha, por exemplo, o que acontece com a dengue. Geralmente, nas áreas urbanizadas, você tem uma taxa de dengue muito menor. Não deixa de ter, mas é menor. Quando você olha as favelas, essas aglomerações no Rio de Janeiro, em São Paulo ou em qualquer lugar do Brasil, esses locais concentram uma quantidade gigantesca de pessoas num espaço minúsculo. Isso vai facilitar muito a transmissão. Um mosquito vai picar 20, 30 pessoas e passar a dengue porque estão muito pertinho umas das outras. Não há recolhimento de lixo adequado, isso facilita água parada. A questão do saneamento básico é horroroso. Mesmo em águas sujas, o Aedes consegue se multiplicar. São áreas críticas para transmissão da doença.

Também são críticas para a criminalidade, para o tráfico de drogas, para doenças diarreicas, para tudo. A gente precisaria fazer um investimento. São 11 milhões de pessoas no Brasil que vivem nas favelas. Quero ver um PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] das favelas. Algum governante que tenha coragem de fazer isso. Para que você possa urbanizar. Não precisa deslocar a população para fora. Você vai urbanizar aquilo ali. Talvez tenha que desapropriar uma pequena quantidade de pessoas, mas passar ruas, saneamento básico, coleta de lixo, organizar o espaço urbano de forma que você possa fazer ações de saúde, larvicida, passar fumacê. Hoje em dia, se você tem um surto em qualquer favela do Brasil, você não consegue subir com o fumacê, passar larvicida. Não consegue fazer nada. Isso sim é atuar nas causas raízes dos problemas.

O verão tropical brasileiro representa, para muitas pessoas, dias de praia e de festas, sendo comum que aconteçam viagens para outras cidades e estados. No entanto, uma consequência do calor elevado, juntamente com aglomerações em ambientes fechados, é a proliferação de vírus e bactérias, e a contaminação das pessoas. 

Para entender mais sobre as doenças comuns do verão, o LeiaJá conversou com Claudilson Bastos, médico infectologista e professor universitário, que explicou os principais quadros de saúde que podem acometer às pessoas durante o verão. 

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Diarreias e gastroenterites infecciosas são alguns dos exemplos dados pelo médico, assim como algumas bactérias comuns nos períodos mais quentes do ano. Os problemas no trato gástrico e intestinal podem ocorrer devido à má conservação dos alimentos, principalmente em lugares onde as temperaturas aumentam vertiginosamente no verão. “O fato de você conservar a comida num lugar não apropriado, como por exemplo, fora da geladeira, exposto”, explicou. 

Outra doença comum nesse período do ano, e até bastante conhecida pela população, é a dengue, ainda uma das arboviroses que mais contamina as pessoas no Brasil. Segundo dados do boletim epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, do Ministério da Saúde, 2022 registrou um total de 1.450.270 contaminados com a doença em todo o país. Em comparação, foram 174.517 casos de Chikungunya e 9.204 de Zika. 

Para além das arboviroses, Bastos pontuou que as aglomerações durante o verão também podem ser vetor de contaminação de outras doenças, muitas delas possíveis de ser prevenidas por meio da vacinação. “As pessoas que não estão se vacinando, infelizmente, e aí o vírus tem uma vantagem, que é a capacidade de sofrer mutações e variantes. Então, com isso, se você não é vacinado, e se você tem uma aglomeração e por maior tempo, o vírus tem maior oportunidade para ele sofrer mutações, porque passa de uma pessoa para outra”, comentou o médico. 

O especialista em doenças infectocontagiosas ressalta ainda os riscos de problemas na pele, como as micoses. Ele explica que no verão, as academias aumentam o número de pessoas matriculadas, e o uso de máquinas com pouca higienização pode ser porta de entrada para algumas bactérias ou fungos na pele. “Se perdeu um pouco [o costume de] limpar com álcool. Antigamente, até um tempo atrás, as pessoas limpavam. Não sei se em todas as academias, dependendo da academia, [existe material para] limpar, com papel e álcool”, aconselhou. 

Por fim, ele ainda aponta os riscos de doenças de pele na praia ou em banheiros públicos. “É bom relatar que as mulheres têm mais risco de infecção urinária, por exemplo, ao usar banheiros públicos. Elas podem ter contato nos assentos, e isso pode transmitir infecções. As mulheres já são mais propensas a contrair infecções urinárias, pela própria anatomia”, concluiu. 

Para evitar transmissões e infecções, no geral, em especial no verão, o médico indica alguns cuidados básicos, como a manutenção da higiene pessoal, como o hábito de lavar as mãos, evitar aglomerações, e sobre alimentos conservados, observar o que estiver à disposição para comer, além do uso de equipamentos de proteção individual, como a máscara, se for necessário. 

 

Nos últimos dias muito tem se falado sobre a confirmação de casos, e até mortes, pela febre maculosa, doença transmitida por um carrapato-estrela, comum em algumas regiões do Brasil. Além da preocupação de muitas pessoas, como os casos que foram confirmados em uma fazenda onde o cantor Gusttavo Lima ia se apresentar, até as tentativas trágicas de se formular uma vacina contra a doença, é preciso também ficar atento para não obter informações falsas ou incorretas sobre a situação.

Para conhecer um pouco mais sobre a febre maculosa, o LeiaJá conversou com o médico infectologista, Eduardo Faria, diretor executivo da clínica médica de um hospital particular no Recife. Confira aqui alguns mitos e verdades sobre a febre maculosa.

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A febre maculosa é uma doença nova - MITO

Segundo o  médico Faria, há registros desde 1929 no Brasil desta doença.

A transmissão acontece pelo carrapato adulto - MITO

O carrapato na forma de larva é pouco visualizado, e mais provável de contaminar pessoas após picar. A ocorrência é mais significativa nos períodos de seca onde as larvas dos carrapatos têm maior facilidade de infectar o ser humano. Vale ressaltar que o carrapato estrela é o agente transmissor único da doença no Brasil.

A febre maculosa pode matar - VERDADE

O especialista explica que a febre maculosa tem índice de mortalidade considerável, caso não diagnosticada e tratada adequadamente. O risco de uma pessoa vir a óbito gira em torno de 20%.

Os sintomas não são facilmente percebidos - MITO

Existem diversos sinais no corpo que podem indicar que a pessoa esteja contaminada com a doença. É possível ter:

- Dores locais, nas articulações, no abdômen ou nos músculos; 

- No corpo: febre, calafrios ou perda de apetite;

- No aparelho gastrointestinal: náusea ou vômito;

- Na pele: erupções ou manchas vermelhas; e

- Também é comum: dor de cabeça, erupção nos pés e nas mãos, sensibilidade à luz ou vermelhidão nos olhos.

Não existe tratamento nem cura - MITO

Se diagnosticado precocemente, há antibióticos que atuam na infecção (Rickettsia rickettsii).

Não há ainda vacinas para a febre maculosa - VERDADE

O doutor Eduardo explica que não existe uma vacina que possa imunizar a população que tenha contato com o carrapato estrela. No entanto, ele esclarece que pesquisadores brasileiros testam uma estratégia diferente contra a febre maculosa: estão desenvolvendo um imunizante para animais, capaz de eliminar os carrapatos transmissores dessa doença.

Dicas para evitar o contágio

Evite esmagar os carrapatos para não se contaminar;

Use roupas e botas cobrindo o corpo em áreas de ocorrência de carrapato estrela;

O carrapato  estrela é um parasita frequente de animais como cavalos e capivaras. Fique atento para não se expor demais.

Caso tenha sido picado por carrapatos e apresente sintomas da doença (febre alta, dor de cabeça, dor no corpo), procure imediatamente o serviço de saúde e relate este contato ao médico, para que ele possa avaliar a possibilidade de ser um caso de febre maculosa.

O serviço de mototáxi ficou ainda mais popular com a chegada dos aplicativos de transporte no mercado. Com apenas um capacete e dezenas de passageiros ao dia, uma viagem de poucos minutos pode causar um problema grave à saúde. 

Os usuários são unânimes quanto à praticidade do serviço, mas alguns começaram a se queixar do uso compartilhado do equipamento obrigatório de segurança. Umidade, mau cheiro e suor são as principais queixas de quem utiliza as plataformas.

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O biomédico especialista em Medicina Tropical Jailton Lobo explicou que o calor e a umidade dentro do capacete favorecem a disseminação de diversos tipos de microrganismos. Esse ambiente deixa os passageiros expostos à transmissão de piolhos ou até mesmo a doenças respiratórias graves, como a tuberculose.

"O usuário que tá com Covid, gripe ou qualquer vírus que cause infecção respiratória, e não tá fazendo uso de máscara, pode tá eliminando vírus que pode tá ali na viseira", apontou.

A lei diz que a viseira deve permanecer fechada ao longo do percurso, e essa condição também acaba facilitando a proliferação de fungos que podem causar micoses superficiais na pele e no couro cabeludo.

Boas práticas para controlar o risco de doenças

Para diminuir a transmissibilidade de parasitas, vírus e bactérias, o médico explica que é importante que o condutor mantenha uma higienização periódica. A limpeza vai depender do modelo de capacete. "O importante é se conscientizar que, pelo menos uma vez por semana, deve ser realizada a higienização desses capacetes, e sempre focar em evitar o acúmulo de umidade", observou.

Os modelos com forro removível podem ser lavados - até mesmo na máquina - e deixados para secar de forma completa para evitar a umidade. Nos modelos sem opção de remover o forro, a higienização também pode ser feita com água e sabão - em um pano úmido - e até mesmo álcool 70%.

Aos passageiros, o biomédico recomenda utilizar touca na cabeça e máscara como forma de prevenção. "O ideal é que cada indivíduo tivesse seu capacete para evitar o risco de contaminação, mas na prática isso não funciona. Então, o correto mesmo seria que as empresas de aplicativo forneçam toucas para proteger a cabeça dos usuários, como também, e de forma muito mais importante, máscaras para evitar o risco de alguma propagação de um microrganismo por via respiratória", orientou Lobo.

Um médico que atua no Distrito Federal e supostamente faz sexo com paciente e até colegas de profissão nas dependências de uma clínica em que atendia está sendo investigado pelo Conselho Regional de Medicina (CRM-DF). As cenas explícitas de sexo são publicadas pelo profissional de saúde em uma conta no Twitter. 

Autodenominado “PeludoAN” (abreviação para um bairro de classe média alta de Brasília, Asa Norte), o infectologista Lino Neves após de registrar as relações sexuais, seja por foto ou vídeo, compartilha o conteúdo pornográfico no Twitter com legendas provocativas. 

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Além disso, ele faz uso de objetos conhecidos na área de saúde, como jaleco e estetoscópio, tudo utilizado para garantir que as cenas foram feitas no local de trabalho e durante o plantão. 

 

Durante a pandemia do Covid-19, tornou-se muito importante discutir sobre o valor dos infectologistas e profissionais da área da saúde. Graças à atuação dos infectologistas, pudemos entender e atuar contra o virus do Sars-CoV, além de orientar a população sobre as medidas necessárias para desacelerar o avanço e proliferação da doença. Hoje (11) é Dia Do Infectologista.

Trata-se de um profissional que está envolvido em grande parte do ciclo dos profissionais da saúde, desde a vigilância epidemiológica das doenças quanto na população geral (focando nos aspectos de saúde pública). Seja dentro ou fora dos hospitais, esses profissionais atuam e assistem diretamente aos pacientes, além de atuarem na prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças.

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Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), só em 2015 estima-se que cerca de um bilhão de pessoas foram alvos ou receberam tratamento para algum tipo de DTN (Doenças Tropicais Negligenciadas). Para combater este tipo de doenças, é necessária uma atuação em conjunto de médicos, profissionais da saúde, biólogos, infectologistas e um corpo científico. Desde 2007 a OMS realiza ações para conter o avanço de DTN’s nos países emergentes, obtendo um alto nível de sucesso nas regiões dos trópicos.

Todas as doenças que possuem um agente infectológico são tratadas e pesquisadas por infectologistas, algumas delas são: gripes, meningite, abscessos cerebrais, sinusite, bronquite, pneumonia, hepatite, DST’s, tuberculose, infecções de pele e dos ossos e outras doenças tropicais. Além de realizar o acompanhamento, o infectologista também trabalha quando há um surto de alguma doença, como foi o caso do Covid-19, H1N1, Febre Amarela etc.

A desinformação sobre a área de atuação de um infectologista faz com que as pessoas geralmente busquem outro profissional da saúde para tratarem seus problemas. Quando são afetados por uma pneumonia, buscam um pneumologista, por cistite, um urologista, e assim segue. Isto acontece pois, quando a infecção atinge um órgão em específico, é comum que busquem o médico especialista naquela região. O infectologista, por ser um médico mais habituado a lidar com enfermidades situadas em múltiplos órgãos do corpo, também possui uma visão mais geral sobre o estado de saúde do paciente.

Neste 11 de abril é importante celebrar e reafirmar a importância desta área tão nobre e vital na qualidade de vida e saúde da população como um todo.

Por Matheus de Maio

Contrário a possível decisão do governo, de mudar o status da “pandemia” da Covid-19 para “endemia” - tornando a Covid-19 como doenças típicas, que se manifestam com frequência em determinada região, mas que a população e os serviços de saúde já estão preparados, como acontece anualmente com o surto de gripe, por exemplo - o chefe da Triagem de Doenças Infecciosas do Hospital Oswaldo Cruz (HUOC) e médico infectologista do grupo Oncoclínicas, Filipe Prohaska, ressaltou que é "difícil falar de endemia ainda com esses números", e pontuou a questão da vacinação infantil.

"É difícil falar em endemia se você ainda tem grupos populacionais não vacinados. Nós temos números ainda elevados. Temos, sim, uma queda no número de mortes, que foi devido ao avanço da vacinação, mas acredito que a gente precisa avançar muito na vacinação das crianças para poder, aí sim, entrar no status de endemia", declarou. 

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"O que a gente ainda precisa melhorar é essa questão do status vacinal pediátrico para poder ter uma segurança maior com relação a essa ideia de endemia nos próximos meses, e com números melhores", afirmou. 

Questionado sobre a fase da pandemia que estamos vivendo, Prohaska disse acreditar que essa é uma "fase final", mas que ainda há a possibilidade de novas variantes. "Acredito que estamos numa fase final da pandemia, que o pior já passou. Acho que ainda há a possibilidade de novas variantes surgirem, mas que não teriam o mesmo impacto que a gente sofreu nos anos anteriores. No meio do ano devemos estar numa fase bem melhor, mas que só devemos sair mesmo da pandemia quando alcançar níveis vacinais superiores a 85/90% da população com doses completas de vacina", explicou. 

De acordo com o Painel de Acompanhamento Vacinal do Governo de Pernambuco, atualizado no fim da tarde desta segunda-feira (14), o Estado tem 17.470.738 doses aplicadas e soma 76,98% de pessoas com a cobertura vacinal completa. 

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O infectologista disse, ainda, que toda pandemia que já existiu trouxe grandes mudanças para a humanidade, inclusive positivas, mas que desta vez talvez não seja da mesma forma. "Algumas mudanças foram boas, como a pandemia da Peste Negra, que trouxe o conceito de saneamento básico, o que mudou radicalmente a qualidade de vida das pessoas e aumentou a expectativa de vida. Na Gripe Espanhola muitos conceitos foram modificados, muitos contextos de socialização e de mundo foram criados, inclusive a Copa do Mundo, a reformulação do modelo das Olímpiadas, tudo isso numa ideia de tentar viver num mundo melhor. O problema é que no fim da pandemia da Covid-19 a gente começa a ver guerra, o que faz pensar que a humanidade neste momento não parece ter evoluído muito com o fim da pandemia", detalhou.

Acho que as sequelas maiores que vamos ter são as doenças mentais, por todo o processo que vem acontecendo no mundo e como isso vem acontecendo na nossa cabeça, na desinformação e até mesmo as guerras", finalizou.

Estados que liberaram o uso

Dos Estados que já liberaram o uso de máscaras, São Paulo, o pioneiro na vacinação no Brasil, está com 84% da população com o esquema vacinal completo. Já o Distrito Federal, 80,50% da população com a segunda dose ou dose única, e apenas 35,25% com a dose de reforço ou adicional. Minas Gerais tem 46,10% com a dose de reforço. 

No Estado do Rio de Janeiro 5.108.224 pessoas com a dose de reforço, já na capital, de acordo com o vacinômetro - que mostra o percentual por cidade -, 93,98% da população tem as duas doses aplicadas. Por sua vez, o Amazonas registra 893.313 das pessoas com a primeira dose de reforço. 76,99% é a população com o primeiro ciclo vacinal completo, sem a dose de reforço em Santa Catarina, já 35,39% é a população com o ciclo vacinal completo no Estado. 

No Mato Grosso, o total de pessoas com o ciclo vacinal completo é de 61,94%. Por sua vez, o Maranhão tem 85,81% da população total com todas as doses da Covid-19. No Espírito Santo, o total de pessoas com a segunda dose é 73,1%. 

Uma pergunta que ressurge entre os brasileiros a cada nova notícia e novo dado divulgado é: quando a pandemia vai acabar? O que antes era uma questão muito distante, hoje já é uma possibilidade mais próxima, de acordo com especialistas no assunto. Apesar da pandemia ser um problema global, cada país conta com suas particularidades e, no caso do Brasil, problemas de comunicação e atraso na vacinação fizeram com que o cenário se agravasse e persistisse por mais tempo. 

No entanto, a tendência mundial também deve ser seguida por aqui: a força do coronavírus está prestes a trocar de nomenclatura, é o que explica a doutora Sandra Gomes de Barros, infectologista e professora do curso de medicina da Universidade Santo Amaro (Unisa), entrevistada pelo LeiaJá para tratar do assunto. De acordo com a especialista, o Brasil deixará a pandemia e entrará em um quadro endêmico, mas isso não significa que o vírus sairá de circulação. 

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“Acreditamos que estamos caminhando para o fim da pandemia. Vamos entrar numa fase endêmica e com certeza vamos ter aí períodos sazonais epidêmicos. Igualmente como já acontece com a gripe e com a dengue. Nós vamos passar de pandemia para uma endemia. Isso não vai significar que a gente está numa situação de fim totalmente da doença. Vamos ter situações em que o vírus vai acontecer, causar doença, fazer novas internações e poderemos ter óbitos. Não é um impacto em termos de hospitalização e óbito; ainda vai acontecer, mas será muito menor e acreditamos que não deverá ter, a curto prazo, necessidade de medidas tão radicais como a gente passou nesses últimos dois anos”, afirma Barros, que enxerga também uma flexibilização gradual das medidas protetivas individuais. 

Neste sábado, 26 de fevereiro, a pandemia completa exatos dois anos no Brasil. O primeiro caso foi identificado em São Paulo, em um homem de 61 anos, em 26 de fevereiro de 2020. De lá para cá, 648.160 brasileiros perderam suas vidas para Covid-19, enquanto 28.670.024 casos foram confirmados, entre recuperados e em observação. Por outro lado, os recuperados foram maioria: 25.994.566, de acordo com o Ministério da Saúde. A vacinação foi crucial para que esse número de casos revertidos crescesse com os meses e refletisse na queda do número de mortos. 

“Já está se estudando essa cobertura vacinal [periódica] mas também irá depender muito de cada região, da letalidade do vírus em cada região e da dinâmica da transmissão que está ocorrendo em vários estados”, complementa a infectologista.  

Hoje, o Brasil tem 86,09% (172.315.519) da população vacinável (cinco anos de idade ou mais) parcialmente vacinada. Ou seja, pessoas que receberam, ao menos, uma dose de imunobiológico. Até o momento, três doses estão disponíveis à toda a população, ou duas, no caso de quem toma a dose única da Janssen somada à dose de reforço 

“A gente sabe que as vacinas perdem efetividade e proteção ao longo do tempo, principalmente quando vão surgindo aí novas variantes. As vacinas continuam protegendo contra a hospitalização e óbitos, mas acreditamos que a gente vá ter aí uma periodicidade definida. O auto-teste pode ser uma ferramenta eficaz e de muito auxílio, porque vivemos uma época em que faltaram testes para realização do diagnóstico. É uma ferramenta que pode ajudar no diagnóstico, sim”, continua a médica. 

- - > LeiaJá também: Recapitulando os dois anos de pandemia no Brasil 

Novas variantes 

Para lidar com os impactos da variante Ômicron, a mais recente e predominante entre os casos de Covid-19 no Brasil, o país deve-se guiar por sua situação epidemiológica individual, recursos disponíveis, status de vacinação e contexto socioeconômico. Nas últimas semanas, países em todo o mundo, especialmente na Europa, sentiram a força da onda Ômicron. No Brasil, a variante se tornou a mais presente em território nacional ainda em janeiro, menos de dois meses após a sua primeira infecção registrada. 

Embora a Organização Mundial da Saúde tenha sugerido que um grande número de infecções pela Ômicron poderia sinalizar o fim da pandemia, por causa do aumento de imunidade de curto prazo que se seguirá, os pesquisadores alertam que a situação permanece volátil e difícil de modelar. Uma pandemia geralmente é considerada “superada” quando um vírus se torna endêmico, mas o perigo de encerrar a pandemia antes que ela realmente acabe permanece. 

“A gente precisa observar a dinâmica e os indicadores do nosso país para, posteriormente, podermos planejar as medidas que vamos adotar. Acredito que ainda temos que fazer bastante discussão a esse respeito, mas março promete bastante, e a partir de 15 a 20 de março, a gente vai ter uma situação real dos nossos indicadores e, tendo uma situação favorável, a gente já pode implementar medidas com uma flexibilização maior. Isso deve acontecer à medida que nossos indicadores vão caindo e a nossa curva de novos casos começa a declinar”, pontua Sandra Barros. 

Embora a Covid-19 possa nunca desaparecer completamente, não se espera que as variantes futuras sejam tão severas quanto as anteriores. “Estamos vivendo um momento agora de mais tranquilidade. Teremos o Carnaval, e a depender da cidade do estado, a gente pode ver uma queda ou um aumento no número de casos, mas eu não acredito em um novo período de pandemia”, complementa. 

E continua, no mesmo tópico: “Houve uma subida do número de casos depois do Natal, mas acredito que agora a gente tem uma cobertura vacinal importante. É quase 80% [de vacinados] e isso daí muda bastante a magnitude desse impacto e a dinâmica da pandemia. Mesmo tendo aglomeração em um evento de massa, a gente não acredita que haverá pessoas suscetíveis o suficiente para a gente ter um novo pico e uma nova onda ou novas variantes trazendo doença e trazendo hospitalização. A não ser que surja aí uma variante mega transmissível”. 

Erros e acertos 

No caso do Brasil, alguns erros de gestão da pandemia ficaram escancarados e se tornaram tópico mundial, entre aliados e opositores. O país, que presenciou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de investigação da gestão da pandemia pelo Governo Federal, teve que lidar com um atraso vacinal enquanto o pico de óbitos subia, ao mesmo tempo em que muitas informações circulavam, sem que nem todas fossem relevantes ou verdadeiras.

Com a vacinação e o Plano Nacional de Imunização priorizando o reforço dos imunizantes, o cenário ganhou uma chance de mudança. “O grande acerto nesses dois anos de pandemia foi o avanço que tivemos na vacinação”, pontua a especialista.

Por outro lado, os erros aconteceram em momentos iniciais e essenciais para a condução do restante da pandemia, que já persiste por dois anos. “Em termos de gerenciamento, foi uma pandemia conturbada, porque cada município, cada cidade, cada estado determinava suas próprias normativas. Não teve uma padronização de conduta”, afirma Sandra Gomes de Barros. 

Algumas alternativas, de acordo com a infectologista, se dariam através de uma plataforma fixa e contínua de informação, com alcance nacional, com momento pré-determinado, como ocorre com o horário de propaganda política durante o período eleitoral.

“O governo errou em não distribuir máscaras, assim como distribui preservativos em metrô. Não houve uma distribuição de álcool gel, não houve uma informação adequada, diária para população a nível nacional, como existe o horário político. Deveria ter sido usado um horário através da mídia, através do jornalismo exclusivo, para a população para todas as orientações necessárias, porque houve muito conflito de informação e isso confundiu a população”, completa Sandra, ao mencionar os erros da gestão da Saúde federal.

A indicação de uma dose de reforço das vacinas contra Covid-19 para toda a população ainda requer mais evidências, avaliou neste sábado (11) o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e diretor clínico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, Alberto Chebabo, que afirma não ter dúvidas dessa necessidade no caso dos idosos. O infectologista participou da Jornada Nacional de Imunizações e apresentou estudos sobre o que se sabe até agora sobre a duração da imunidade conferida pelas vacinas contra o SARS-CoV-2.

"Ainda não estou convencido de que uma terceira dose vai ser necessária para toda a população. Neste momento, não tenho dúvida de que vai ser importante para a população com mais de 60 anos e imunossuprimidos. Para os demais, precisa de evidências, precisa de dados, para a gente poder tomar uma decisão melhor", disse Chebabo, que acrescentou que essa dose poderia ser estendida aos profissionais de saúde para reduzir as infecções hospitalares e afastamentos do trabalho. 

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O infectologista explica que as vacinas usadas atualmente têm cumprido o papel de reduzir a mortalidade e as internações por Covid-19, mas ainda não conseguiram interromper a circulação do vírus, principalmente diante do surgimento de novas variantes. 

Outros países

Chebabo apresentou estudos realizados no Reino Unido e em Israel que indicam que a proteção das vacinas contra casos leves na população em geral tende a diminuir seis meses após a segunda dose, enquanto a proteção contra casos graves e hospitalizações é aparentemente mais duradoura.

Diante disso, o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia argumenta que há dúvidas se uma terceira dose conseguirá produzir imunidade duradoura contra casos leves ou se a queda da proteção contra a Covid-19 leve irá se repetir meses depois da aplicação e manter um cenário propício à circulação do vírus. 

"Países importantes para a gente avaliar seriam Israel e Reino Unido, que têm estratégias diferentes", apontou Chebabo, que também destacou o Chile, onde a CoronaVac foi a principal vacina utilizada.

Israel aplicou somente a vacina da Pfizer, com um intervalo de três semanas entre as doses. Quando detectou uma alta nos testes positivos para Covid-19, o país decidiu reforçar a imunização de toda a população com mais uma dose de Pfizer - seis meses após a segunda dose.

Já o Reino Unido usou Pfizer e AstraZeneca, ambas com 12 semanas de intervalo entre as doses. Especialistas investigam se a diferença no intervalo entre a primeira e a segunda dose pode explicar disparidades na efetividade das vacinas contra casos leves da variante Delta, já que um dos estudos apontou proteção menor entre os vacinados de Israel, em uma comparação que considera somente quem tomou Pfizer no Reino Unido e no Canadá.  

"A gente vê que, provavelmente, quando a gente estica esse intervalo de avaliação, com 12 semanas a gente consegue uma melhor proteção", comentou o infectologista, que ponderou que o estudo analisado foi publicado em preprint e ainda precisa ser avaliado por outros cientistas. 

Imunidade de rebanho

O infectologista participou de uma mesa de discussão com o professor de infectologia da Escola Paulista de Medicina e diretor clínico do Grupo Fleury Celso Granato, que destacou que o vírus SARS-CoV-2 exigirá um percentual alto de população imunizada para parar de circular.

"Estabelecer imunidade de rebanho para um vírus que sofre mutação em transmissão respiratória é muito complexo", avaliou. "Existe, para qualquer doença infecciosa, uma imunidade de rebanho, mas o nível é muito mais alto do que aquele que a gente imaginava, muito provavelmente 80%,  90%, algo muito mais próximo do sarampo do que de outras doenças menos infecciosas".

Para ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, Francieli Fantinato, o trabalho de planejar a campanha de imunização contra a Covid-19 deixa lições, como a importância de um grupo assessor forte e disponível para discutir novas evidências e atualizações do Plano Nacional de Operacionalização de Vacinação contra a Covid-19, que já está em sua nona versão devido às constantes descobertas sobre a doença e as vacinas.

O infectologista Francisco Cardoso, indicado pelo Governo à CPI na última semana, é investigado pelo INSS e pelo Ministério da Economia por suspeita de irregularidades no recebimento de auxílio-doença entre 2019 e 2021. Através das redes sociais nessa segunda-feira (21), o médico se manifestou publicamente sobre a acusação e diz que jamais cometeu qualquer comportamento fraudulento, além de estar decidido a processar veículos da imprensa e o presidente da autarquia, Leonardo Rolim.

“Sempre recolhi regularmente as minhas contribuições previdenciárias em todos esses vínculos, públicos e privados. Fui acometido no passado por grave enfermidade, a qual me exigiu o afastamento das funções de Médico Infectologista no Hospital Emílio Ribas e no consultório privado”, escreveu o governista em publicação no Twitter.

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No mesmo fio, ele acrescentou que a informação não passa de um “factoide” para tentar desmerecê-lo: “Nessa linha, por cumprir os requisitos impostos pela legislação, fiz jus à licença por motivo de saúde no serviço público e ao auxílio-doença no vínculo privado como autônomo. Nada ilegal. Nada a esconder. Mais um factoide para tentar desmerecer a boa e justa batalha”.

Cardoso passou todo o ano de 2020 supostamente afastado do trabalho por sequelas de um problema de saúde neurológico. Apesar de ter assegurado o salário como perito, no final de 2019, deu entrada no auxílio no INSS na condição de médico autônomo. Com intervalos, o especialista recebeu o benefício desde abril de 2019 a fevereiro de 2021, quando solicitou renovação, mas teve o pedido negado.

Durante o período que se dizia incapaz de exercer a profissão, porém, Cardoso teria atendido pacientes, segundo ele próprio relatou, o que configura fraude no recebimento do benefício. Em audiência online da Câmara neste ano, ele disse ter atendido cerca de mil pacientes com Covid.

Apesar da contradição ter acontecido por parte do médico, ele seguiu manifestando interesse em processar jornais que noticiaram a investigação. “A minha luta pela valorização da Medicina não se abala por esse tipo de ataque baixo e infundado. Os veículos de imprensa que estão divulgando essa falsidade serão processados, bem como o Presidente do INSS pelo vazamento de dados sigilosos meus e blogueiros do Twitter haters”, concluiu.

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Pós-graduada na Universidade John Hopkins, a infectologista Luana Araújo já embalou clubes de jazz, antes de ganhar destaque ao se posicionar contra senadores negacionistas na CPI da Covid-19, na quarta (3). Pianista desde os dois anos, a epidemiologista assume os vocais da banda The Lioness e tem um EP com músicas autorais gravado.

Fora dos laboratórios de pesquisa e das unidades de saúde, Luana assume o sobrenome Mariano e já integrou o circuito de shows do Rio de Janeiro. Orientada desde cedo por professores do Instituto Villa-Lobos, em São Paulo, aos 11 anos ela tocou no Festival de Inverno de Campos do Jordão e ganhou uma bolsa de estudos em Viena, na Áustria, onde se formou musicista, segundo o Extra.

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Com diversas apresentações em clubes de jazz da Europa e dos Estados Unidos, a médica gravou cinco faixas em Belo Horizonte e lançou seu primeiro EP com a banda em 2016.

Em seu depoimento na CPI, Luana reprovou o tratamento precoce oferecido aos pacientes da Covid-19 e criticou a "politização" que, na sua visão, enfraquece o enfrentamento à pandemia no Brasil.

Confira o trabalho autoral de Luana com a banda Lioness

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De acordo com o último boletim de arboviroses divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), foram registrados 8.723 casos suspeitos de dengue em Pernambuco em 2021, número que representa um decrescimento de 28% com relação ao mesmo período do ano passado. No entanto, os números de chikungunya e zika vírus, também transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti, seguem a tendência contrária, com casos crescentes.

Durante a época mais chuvosa do ano, quando as larvas do mosquito da dengue costumam se proliferar em locais de água parada, foram notificados 3.417 casos de chikungunya em 89 municípios do estado, o que corresponde a um aumento de 135,8% em relação ao mesmo período de 2020. Para zika, o número também preocupa: são 1.176 notificações da doença, totalizando um acréscimo de 61,8% comparado ao ano anterior.

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De acordo com o médico infectologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, José Neto, dentre as três doenças transmitidas pelo mosquito, a dengue é a que apresenta maior probabilidade de evolução para um quadro de alta complexidade. “O maior risco da dengue é a evolução para a forma grave, que pode trazer hemorragia, instabilidade e disfunções orgânicas múltiplas. Já a chikungunya se caracteriza pela cronicidade das dores articulares. Quanto à zika, há o risco, para mulheres em idade fértil, de microcefalia fetal”, diferencia o médico.

“Existe bastante semelhança entre as três doenças, por serem síndromes febris virais, mas podemos pontuar características importantes de cada uma delas: a dengue costuma ter uma sintomatologia mais rica, com predomínio de sintomas mais sistêmicos, a exemplo de febre alta, moleza e dores pelo corpo, diarreia e vômitos; as dores da chikungunya costumam ser mais articulares e a febre é menos intensa que a da dengue; a zika tem um quadro mais leve de febre e dores, e o mais marcante são as manchas vermelhas na pele”, complementa.

Casos graves e tratamento

O boletim da Secretaria de Saúde indica que os 8.723 casos suspeitos de dengue foram registrados em 153 municípios do estado. Destes, 75 confirmaram os casos. O sorotipo 2 da dengue, responsável pela forma mais agressiva da doença, foi detectado nas cidades de Água Preta, Amaraji, Camaragibe, Chã Grande, Custódia, Goiana, Jaboatão dos Guararapes, Lagoa dos Gatos, Paulista, Recife, São Lourenço da Mata e Vitória de Santo Antão. 

Também em Pernambuco, nove óbitos foram notificados como suspeitos de arboviroses, outros oito estão em investigação e um foi descartado. Em relação às formas mais graves das doenças, a Secretaria informou que 14 casos de dengue com sinais de alarme foram localizados, e mais dois de dengue grave. 

Em relação a gestantes com manchas vermelhas na pele (um dos indicativos sugestivos de arboviroses), há 130 registros este ano. Entre elas, 62 realizaram exame para dengue (14 positivaram), 46 para chikungunya (18 positivaram) e 39 para zika. Todas tiveram diagnóstico descartado, segundo a Secretaria de Saúde. 

O tratamento das doenças, como destaca José Neto, varia de acordo com a complexidade da infecção. Os casos leves, segundo o infectologista, podem ser tratados em unidades de atenção básica, buscando evitar as urgências e emergências que encontram-se lotadas em decorrência da Covid-19. “Os casos graves - de dengue, principalmente - devem ser manejados em serviço de saúde devido ao risco de uma má evolução. Os sinais de alerta para dengue grave: dores abdominais intensas e contínuas; vômitos persistentes; pele fria e úmida, palidez; sangramento pelo nariz, boca e gengiva; manchas vermelhas na pele; sonolência, agitação ou confusão mental; boca seca; pulso fraco e rápido”, explica.

Diagnóstico durante a pandemia

A análise do 2º Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa), também disponibilizado pela Secretaria de Saúde (SES-PE), expõe 118 (64,1%) municípios em situação de risco para transmissão elevada das arboviroses, sendo 36 (19,6%) em situação de risco de surto (3,9%) e 82 (44,6%) em situação de alerta. Outros 49 (26,6%) municípios estão em situação satisfatória e 17 (9,2%) não encaminharam resultados. Os números, portanto, alertam para a importância do diagnóstico e tratamento adequados.

Os sintomas febris das arboviroses podem ser facilmente confundidos com a Covid-19, aumentando a procura pelos serviços de saúde que já se encontram em sobrecarga. Assim como o uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento social são primordiais para a prevenção do novo coronavírus, existem medidas que ajudam a manter o mosquito transmissor da dengue, chikungunya e zika longe.

“Para evitar a contaminação é primordial o controle do vetor de transmissão, que é o Aedes aegypti. Eliminar focos de água parada e uso de repelentes são pontos importantes dos cuidados individuais. Quanto às autoridades públicas, as campanhas informativas, vigilância epidemiológica de focos de reprodução do mosquito e investimento em saneamento básico são medidas efetivas para este controle”, destaca José Neto.

O especialista orienta que, em casos de qualquer sintoma, o recomendado é que o paciente recorra a um atendimento médico. A avaliação do profissional de saúde dirá se a pessoa está com Covid-19 ou dengue. Esse diagnóstico é muito importante para o paciente saber o que fazer, principalmente porque os infectados com o coronavírus precisam ficar de quarentena em isolamento social.

O antigo debate sobre a qualidade de vacinas foi renovado após imunizados com a primeira dose da Covid-19 apresentarem leves reações adversas. Apesar das opiniões divididas, as entidades sanitárias reforçam a importância de completar o ciclo vacinal com a segunda aplicação. Em entrevista ao LeiaJá, a infectologista Sylvia Lemos garantiu que os efeitos são breves, ocorrem independente do fabricante e não necessitam de automedicação.

Há cerca de 20 dias, o aposentado Rivaldo Reis, de 59 anos, foi vacinado com a AstraZeneca. Diabético e com oito stents no coração, sua aplicação foi antecipada no grupo com comorbidades. "Não sabia que dava essas reações [...] tive muitas dores no corpo e febre durante um dia. As dores perduraram por mais quatro dias, o braço principalmente", relatou Rivaldo, que tomou um analgésico sem orientação médica após ter atividades diárias comprometidas.

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Já Vespúcio Alencar, de 62, foi vacinado há um mês com a dose da mesma fabricante. O aposentado sentiu as mesmas reações, que chegaram a incomodar, mas logo passaram. "Nas primeiras 24h tive dor de cabeça, febril e moleza no corpo. Depois disso foi passando e com 48h não sentia mais qualquer reação", comenta.

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Ele até pensou em se medicar com o mesmo remédio tomado por Rivaldo, mas preferiu aguardar a evolução dos sintomas, que não desenvolveram. "Apenas me alimentei normal, bebendo cerca de dois litros de água por dia e a maior parte do tempo deitado, principalmente nas primeiras 24h", lembra.

Mesmo com as adversidades após a primeira etapa de proteção contra a Covid-19, ambos se mostram preparados para segunda dose. Após relatos de amigos que tomaram as duas vacinas, Rivaldo acredita que sofrerá as mesmas reações com efeitos mais leves. Vespúcio conta que também espera sofrer reações, mas o importante é restringir a circulação do vírus que já matou 435.751 brasileiros. "Não tenho medo disso e vou completar com a segunda dose se Deus quiser", incentiva.

Para a infectologista e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, Sylvia Lemos, os efeitos que surgem em alguns pacientes são muito pequenos em relação ao total de vacinados. Além disso, destaca que os benefícios dos imunizantes são fundamentais para uma vida com menos riscos diante do alto índice de contágio do vírus.

Ela reforça que as reações mais recorrentes são dores de cabeça e no corpo, um pouco de moleza, dores no local da aplicação e uma sensação de peso no braço que desaparece em aproximadamente 48h. Tais efeitos surgem independente do fabricante da vacina aplicada.

"Os efeitos não necessariamente precisam de medicações. Tanto a moleza, quanto as dores, basta um repouso. Isso passa [...] e quanto a dor no braço pode ser colocada uma compressa de gelo ou mesmo uma massagem com analgésicos musculares tópicos, mas também não há maiores necessidades", avalia a médica, que orienta aos pacientes que sofram sintomas mais fortes a procurar orientação médica. "Quem já tomou [algum remédio] não tem problema, nem interfere", complementou.

A especialista acrescenta que o risco de contrair a Covid-19 é muito maior do que uma possível reação. "Isso é comum, principalmente porque essas vacinas têm alguns ‘aditivantes’ que pode, em determinadas pessoas, ter mais ou menos alergias. Mas isso não impede que as pessoas tomem. O risco de se ter a doença é muito maior do que as possíveis reações, que podem ocorrem não necessariamente em todas as pessoas", concluiu.

A satisfação de vencer a Covid-19 muitas vezes precede um quadro de sequelas que acompanha o paciente por toda a vida. Em entrevista ao LeiaJá, a infectologista Fabiana Gonzaga, do Hospital do Câncer de Pernambuco (HCP), conta que já atendeu pessoas que desenvolveram problemas renais e até mesmo cardíacos, e comentou sofre o tratamento dos recuperados.

“Um paciente que supera uma infecção grave e, muitas vezes aguda, a gente acreditava que aquilo era suficiente. Hoje a gente percebe que o ‘pós-Covid’ também traz sequelas, limitações e pode até ter uma evolução grave”, alerta a médica do HCP.

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Em sua rotina de atendimento na pandemia, ela diz que já recebeu pacientes que venceram o vírus - tanto em casos leves, quanto nos mais complicados - e hoje se queixam de fadiga, falta de disposição, muitas dores musculares e articulares, e uma dor de cabeça persistente.

Pacientes tornaram-se diabéticos ou dialíticos após a contaminação

Contudo, sequelas mais graves, e até mesmo crônicas, foram identificadas pela classe, que ainda convive com a incerteza sobre as consequências do vírus.

“O que a gente tem visto em literatura e com alguns especialistas é que já existem outras complicações até mais graves. Por exemplo, pacientes que permaneceram com distúrbio renal e que precisaram ficar dialíticos. Pessoas que não eram diabéticas e ficaram por conta da infecção, alguns pacientes desenvolveram problemas cardíacos, e pulmonares, com falta de ar persistente”, relata.

Além da boa alimentação e do exercício físico

Para o tratamento, a infectologista lembra que cada caso deve ser individualizado por um especialista, que atenda à condição clínica do paciente e prescreva exames específicos. “A gente não pode colocar isso apenas numa reposição de suplemento vitamínico porque talvez não seja necessariamente apenas isso. É uma coisa muito mais complexa do que apenas recomendar uma boa alimentação e atividade física, porque as vezes o paciente não tem nem condição disso”, indicou.

No caso das sequelas pulmonares, Fabiana sugere exames de imagem e sopro para que uma medicação específica possa ser indicada -como bombinhas bronco dilatadoras, por exemplo-, junto com fisioterapia respiratória ao longo do processo de recuperação.

Desse modo, dores musculares devem ser aliviadas com terapia motora, acompanhada por um profissional clínico e de Educação Física. Já dores articulares devem ser avaliadas por um reumatologista ou ortopedista.

O chefe do Departamento de Infectologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) e referência no enfrentamento à Covid-19 em Pernambuco, Dr. Demetrius Montenegro, foi um dos especialistas a compor a coletiva de Saúde realizada nesta quinta-feira (25) no Recife. Com falas fortes, o médico deu voz à categoria da saúde e admitiu exaustão, fazendo apelo à população, com o pedido de que a sociedade acredite na seriedade da doença e que colabore com a proteção à vida. “Se você está cansado de ficar em casa, a gente está cansado de ver gente morrendo”, disse o infectologista, em tom de desabafo.

Trabalhando na linha de frente, o especialista compareceu à coletiva após semanas sem disponibilidade de participação, por causa da demanda causada pelo setor. Assim que iniciou a sua fala, disse que não falaria por si mesmo, mas em nome de todos os profissionais de saúde, que após um ano “de luta”, estão vivendo novamente uma grande onda de números de casos, dessa vez mais preocupante que a de 2020.

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“Não são só números. Números às vezes perdem o sentido, como a gente vem observando, as pessoas deixaram de enxergar esses números, eles pararam de fazer sentido para as pessoas; está todo mundo aí, sem máscara, como se nada estivesse acontecendo. Como se dentro de hospitais centenas de pessoas não estivessem morrendo, outras centenas em casa sem seus parentes, sofrendo por quem está sozinho isolado num leito de UTI”, disse, a priori.

Montenegro comentou a mudança de perfil das vítimas da Covid-19, agora cada vez mais latente entre pessoas mais jovens. Segundo o doutor, ele não havia presenciado um número tão alto de pessoas jovens, sobretudo entre os 30 e 40 anos, compondo os óbitos por Covid no primeiro momento da pandemia. Explica ainda que, naquele primeiro contato, a categoria seguia o que a epidemiologia apontava, sobre os mais velhos representarem casos mais graves, mas que essa não é mais a realidade.

“Nós sofremos muito com a situação do mais velho, mas é que as pessoas mais jovens estão se expondo muito, e com isso a consequência é justamente o que está acontecendo dentro das emergências e dentro das UTIs. Há uma possibilidade de piorar. Sem contar que nós todos já estamos muito cansados. Se você está cansado de ficar em casa, a gente está cansado de ver gente morrendo. A gente está cansado de ver números de espera por leito de UTI aumentando a cada dia. Isso além de deixar todo profissional de saúde muito cansado, isso magoa muito, é muito doloroso”, desabafou.

Antes de devolver a fala para o secretário estadual de Saúde, André Longo, o infectologista pediu, mais uma vez, que os pernambucanos parem de ignorar a gravidade da Covid-19. “É muito melhor vocês abrirem os olhos agora do que sofrerem na pele a dor de estar numa UTI. E (pode ser) pior, estar na UTI é uma possibilidade de se salvar. Falo da dor de estar esperando um leito de UTI e morrer sem ter essa chance”, concluiu.

Ocupação dos leitos em Pernamabuco chega a 97%

Mesmo após 11 dias de quarentena decretados pelo governo estadual, os hospitais de Pernambuco ainda mantêm a taxa de ocupação dos leitos de UTI acima dos 90%, sendo cerca de 97% na rede pública e 91% na rede privada. Nesta quinta-feira (25), o governador Paulo Câmara anunciou prorrogação de três dias das medidas restritivas, que iriam até o domingo (28), mas agora irão até o dia 30 de março. A partir de 1º de abril, um novo Plano de Convivência entrará em vigência, mas houve flexibilização nas medidas.

A decisão veio após o estado registrar o segundo recorde consecutivo de casos confirmados, sendo 2.786 nas últimas 24h. É a pior semana de 2021 em Pernambuco, acumulando 1.594 casos da SRAG, um aumento 19% em uma semana e de 40% em 15 dias. Até esta quinta (25), eram mais 1.800 pessoas internadas em UTIs locais.

 

Em um ano de contágio completo nesta sexta-feira (26), a pandemia da Covid-19 persiste no Brasil em um legado de angústia que modificou toda a realidade mundial. Com impactos contundentes em todos os âmbitos sociais, seus reflexos discorrem na crise econômica e na crise psicológica, provocada pelo sentimento de incapacidade. Entes queridos se foram, só no Brasil 251.661 histórias foram abreviadas. À frente da incerteza quanto ao fim da pandemia, o chefe de Infectologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, Demétrius Montenegro, avaliou os fatores em torno do vírus no país.

Nas últimas 24h, o Brasil bateu o recorde de mortes diárias com 1.582 ocorrências. Mais 67.878 casos foram confirmados e 10.393.886 infecções no total, segundo levantamento do consórcio de veículos de imprensa. “Talvez o pior momento esteja por vir. Pode acontecer uma mutação que modifique o comportamento do vírus e essa é a grande preocupação [...] é muito incerto dizer que em 2022 a gente vai tá em uma situação tranquila”, projetou ao comentar sobre a ameaça da variante P1 identificada em Manaus, e outras duas cepas do Reino Unido e da África do Sul.

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Ele revela que teve as expectativas superadas pelo alto potencial de contágio que fez a doença sair rapidamente da China. “Primeiramente é uma questão emocional, devido a gente tá diante de um desconhecido até então, em que não sabíamos a real proporção do seu comprometimento”, pontuou Demétrius.

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que já foram notificados 111.999.954 casos e 2.486.679 vítimas fatais da infecção. Mesmo após um ano de convívio, o Brasil ainda bate mais de 1.000 mortes diárias e acumula 10.393.886 casos. “É um estresse contínuo desde o início, mas a gente ainda tá em um momento muito difícil, que é a questão da obscuridade. Muita gente fazendo propagandas milagrosas e jogando, de certa forma, alguns pacientes contra os médicos que querem fazer medicina baseada em evidência”, critica.

João de Lima/LeiaJáImagens

Envolta por um clima de tensão, os contrastes da Covid-19 no Brasil fizeram os profissionais da saúde serem aplaudidos e em seguida de ataques. Fez o lançamento de hospitais de campanha serem comemorados e depois condenados por casos de superfaturamento e corrupção. O desrespeito à vida por parte dos gestores interferiu desde a compra de materiais hospitalares à aquisição de respiradores de uso veterinário.

O infectologista descreveu a rotina desgastante, que vai além da própria luta pela recuperação dos pacientes. “Às vezes os pacientes se internam já querendo fazer esse tratamento precoce. Para mim, uma situação bem mais confortável é quando eles se internam depois de ter feito o tratamento precoce. Até porque ele já fez, viu que não adiantou nada e não vai ter mais nenhum tipo de pressão para fazer algo sem evidência científica”, comentou.

Para Demétrius, a disparada dos índices poderia ter sido evitada caso os brasileiros tivessem se comprometido com as medidas comprovadas de enfrentamento, como o distanciamento social, o uso de máscara de proteção e reforço à higiene das mãos. “A gente viu muito as pessoas se lamentando porque não teve carnaval, mas o mundo tá vivendo um momento muito crítico que, infelizmente, o número de mortos não está mais causando impacto na população. Parece que houve uma acomodação. Não faz diferença se morreram 100 ou 250 mil. Isso é muito triste”, lamenta.

Em um cenário sufocante, as vítimas graves se enfileiram por uma vaga. Antes desconhecidas, elas passaram a ser pessoas próximas. A irresponsabilidade das recorrentes aglomerações, mesmo com medidas restritivas imposta pelos governadores e prefeitos, fez com que parte da rede de saúde pública entrasse em colapso. “O que a gente tinha de leito no serviço de saúde não era compatível para a assistência e você fica angustiado com essa falta de leitos e pessoas morrendo”, pontuou. Sem direito a enterrar o próprio parente, a crise sanitária estabeleceu uma sequela permanente: a saudade.

 A busca pelo benefício que garantiu a sobrevivência de muitas famílias foi caracterizada por longas filas e a lentidão no atendimento da Caixa. Júlio Gomes/LeiaJáImagens/Arquivo

Neste momento, os estabelecimentos considerados não-essenciais já haviam suspendido as atividades e a economia praticamente foi travada. Após movimentação na Câmara dos Deputados, o benefício do auxílio emergencial foi instituído através de pagamentos mensais, inicialmente de R$ 600 e R$ 1.200, pela Caixa Econômica Federal. Para implementar a iniciativa que chegou a atender mais de 65 milhões de brasileiros, cerca de R$ 293 bilhões foram investidos.

Escolas acompanharam a recomendação de isolamento e se desdobraram para concluir o ano letivo de forma remota. As limitações também fizeram com que 2020 fosse o ano do primeiro Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) digital, com 101.100 inscrições. Ao todo, 6,1 milhões de estudantes se cadastraram, mas a edição contabilizou a maior abstenção da história, com a ausência de 5.523.029 inscritos na versão impressa.

Apesar do planejamento contra o vírus ser indispensável para a queda de taxas, o infectologista ressaltou a responsabilidade do Ministério da Saúde, em nome do Governo Federal, que deveria estar mais engajada no andamento do plano de imunização, já atrasado por falta de doses e demora para aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Tá cada vez mais claro que, se você não tiver vacina, a gente não vai ter tranquilidade”, afirma o infectologista.

“Hoje a gente não tem uma política de vacina clara. Não tem cronograma claro de quantas pessoas a gente vai vacinar. A vacina está chegando aos poucos e os estados e municípios não têm como fazer uma programação efetiva de vacinar uma população em pouco tempo, que venha fazer um impacto a ponto da gente ter um prazo mais assertivo”, concluiu.

O primeiro imunizante autorizado foi da farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo. A dose inicial foi aplicada em uma enfermeira do estado, no dia 17 de janeiro deste ano. Até o momento, cerca de 8 milhões de doses foram aplicadas no país. Contudo, apenas 1.750.781 pessoas receberam a segunda aplicação, equivalente a 0,83% da população.

O contrassenso entre a Ciência e a gestão federal fez com que o Governo fosse acusado de genocídio. Reprodução/Wikimedia Commons

No mesmo dia em que o recorde de óbitos foi atualizado, o ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, afirmou que o vírus está três vezes mais ativo no Brasil. "Estamos enfrentando uma nova etapa da pandemia. Hoje, o vírus mutado, ele nos dá três vezes mais a contaminação, e a velocidade com que isso acontece em pontos focais pode surpreender o gestor em termos de estrutura de apoio. Essa é a realidade que vivemos hoje no Brasil", disse em pronunciamento em Brasília.

Foi confirmado nesta terça-feira (23), que a enfermeira Maria Angélica de Carvalho Sobrinho, 53 anos, primeira pessoa vacinada contra a Covid-19 na Bahia, contraiu a doença antes de receber a segunda dose do imunizante. 

Ela está internada no Instituto Couto Maia, em Salvador, onde trabalha combatendo o vírus. Ela tomou a primeira dose da CoronaVac no dia 19 de janeiro - a enfermeira deveria tomar a segunda dose do imunizante no dia 16 de fevereiro. 

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No entanto, segundo aponta a infectologista Ceuci Nunes, diretora geral do Couto Maia, Maria Angélica começou a sentir- se mal entre os dias 12 e 13 de fevereiro. Atualmente, o seu quadro clínico é considerado estável e está usando pouco oxigênio no hospital. 

No entanto, por conta da perda de ar quando se movimenta, foi definido que ela deveria ser mantida em observação no Couto Maia. 

Ao G1, Ceuci Nunes explica que para a vacinação atingir a eficácia máxima, é necessário que a pessoa tome as duas doses do imunizante e respeite a "janela imunológica", período que o organismo leva para produzir os anticorpos.

"Todas as vacinas, até o momento, a exigência é de duas doses. Exatamente porque na segunda dose se faz um reforço, aumenta a proteção. Claro que algumas pessoas já vão ter a proteção após a primeira dose, mas essa proteção pode não ser suficiente e a segunda dose é necessária", pontua a infectologista.

Os casos de Covid-19 entre jogadores do futebol brasileiro seguem sendo registrados após cerca de dois meses da volta oficial do futebol no país. O caso mais recente de infecções foi registrado no Flamengo, que apresentou sete atletas de seu elenco contaminados pelo novo coronavírus. Segundo Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), nenhum protocolo sanitário no futebol terá 100% de eficácia.

"Mesmo em isolamento, não é possível ter controle total da contaminação. Os jogadores voltam para suas casas, estão em contato com seus familiares e outras pessoas, assim como os funcionários dos clubes. Nenhum protocolo será 100% eficaz e conseguirá controlar a doença com total eficácia", alertou o infectologista.

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Os casos no Flamengo foram divulgados na noite do último domingo. A equipe estava concentrada na cidade de Guayaquil, no Equador, para a disputa do jogo contra o Barcelona, ocorrido nesta terça-feira, no estádio Monumental.

Além do Flamengo, outros clubes do Rio de Janeiro tiveram casos recentes de atletas contaminados. Foi o caso do Vasco, onde o técnico Ramon Menezes testou positivo, e do Fluminense, onde o atacante Fred também contraiu a doença. Otsuka explica que isso pode estar relacionado à taxa de contaminação do Rio de Janeiro.

"As regiões que possuem uma maior transmissão da doença acabam tendo maior risco deste tipo de situação. Quando falamos de infecção por região, não podemos analisar a partir no número absoluto de casos, mas pelo total de habitantes. No Rio está concentrada a maior taxa de mortalidade. Por que? Porque não estão fazendo a maioria dos diagnósticos. Esperamos encontrar uma mortalidade real que varia entre 0,5% e 1%. O Rio apresenta 7%. Isso também pode indicar uma taxa de disseminação considerável", avaliou o especialista.

O Estadão procurou o Flamengo para saber se o clube possuía alguma objeção em relação aos protocolos que tem seguido nas competições em que disputa, mas não obteve resposta. A equipe rubro-negra compete no Campeonato Brasileiro e na Copa Libertadores e, portanto, segue dois protocolos sanitários diferentes - um elaborado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e outro pela Conmebol.

Esses protocolos, apesar de terem o mesmo objetivo, que é o de evitar a contaminação e disseminação da Covid-19, não são padronizados. Segundo o infectologista, isso poderia causar certa confusão aos clubes que disputam competições organizadas por entidades diferentes. No entanto, Otsuka enfatiza que o que deve ser levado em conta são os "cuidados pessoais dos jogadores" e da "taxa de infecção local".

O infectologista Anthony Fauci, conselheiro de saúde americano, mostrou preocupação com a segurança das vacinas contra a Covid-19 que estão em desenvolvimento pela China e Rússia.

Uma série de empresas chinesas participam da corrida pela criação e aprovação de uma vacina, enquanto a Rússia informou esperar ser o primeiro país a produzir uma vacina para o público, com expectativa de disponibilizá-la em setembro.

Mas estas vacinas provavelmente enfrentarão um padrão para a aprovação mais elevado, já que os sistemas regulatórios para a validação da vacina são muito mais simples nos dois países do que no Ocidente.

Fauci, questionado durante audiência no Congresso se os EUA poderiam usar vacinas chinesas ou russas caso elas fossem desenvolvidas primeiro, indicou que esta possibilidade é improvável. "Espero que os chineses e os russos estejam realmente testando a vacina antes de aplicá-la de fato em alguém", ressaltou o infectologista.

"As alegações sobre ter uma vacina pronta para ser distribuída antes de que os testes sejam feitos é algo que, na melhor das hipóteses, é problemático. Estamos trabalhando muito rapidamente. Não acredito que existirão vacinas tão à nossa frente a ponto de termos que depender de outros países para conseguir vacinas", assinalou.

No último mês, a imprensa chinesa anunciou que uma vacina contra o novo coronavírus desenvolvida pela CanSino Biologics estava sendo usada para imunizar as Forças Armadas chinesas - tornando-se a primeira aprovada em uso em pessoas, embora numa população limitada. Muitos cientistas, no entanto, levantaram preocupações éticas, já que a vacina ainda não entrou nas etapas finais de teste.

- 'Momento Sputnik'? -

Duas outras empresas chinesas, a Sinovac e Sinopharm, lançaram a fase final dos três testes no Brasil e nos Emirados Árabes, respectivamente. A China, onde o vírus se originou, controlou a pandemia e teve que recorrer a outros países para testar suas vacinas.

Os testes no Brasil e nos Emirados serão analisados de perto, dada a história da China envolvendo vacinas e outros escândalos de saúde. Em 2018, mais de 200.000 crianças receberam uma vacina defeituosa para difteria, tétano e tosse convulsa (DPT), que causou paralisia em alguns casos.

A Rússia, que já foi líder global de vacinas no período soviético, pretende trazer duas para o mercado nos meses de setembro e outubro, respectivamente. A primeira está sendo desenvolvida pelo instituto Gamaleya, com sede em Moscou, e pelo Ministério da Defesa, e a segunda pelo laboratório estatal Vektor.

A Rússia não divulgou dados científicos que comprovem a segurança ou eficácia dessas vacinas. No entanto, Kirill Dmitriev, chefe do fundo soberano da Rússia que financia os testes realizados pelo Gamaleya, disse à CNN: "É o momento Sputnik."

Três vacinas contra o novo coronavírus ocidental estão na fase final dos três testes. Uma é produzida pela empresa americana de biotecnologia Moderna em parceria com o National Institutes for Health; outra está em desenvolvimento pela Universidade de Oxford e a britânica AstraZeneca; e a última é da alemã BioNTech com a farmacêutica americana Pfizer.

China e Rússia são acusadas de tentar roubar pesquisas ocidentais sobre o novo coronavírus, acusação negada pelos dois países.

Pessoas que tiveram contato com o presidente Jair Bolsonaro a partir de sexta-feira (3), dois dias antes de ele manifestar sintomas da Covid-19, devem se isolar por, pelo menos, uma semana, recomenda o infectologista Julio Croda, ex-diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde e pesquisador da Fiocruz.

Para Croda, não é correto descumprir as medidas restritivas, como fez Bolsonaro nesta terça-feira (7), ao anunciar em entrevista à imprensa que contraiu a doença, exceto em emergências. "Se pode evitar esse tipo de proximidade, é o ideal. Não tem nenhum tipo de necessidade (expor-se)."

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O Palácio do Planalto, no entanto, não recomenda quarentena de pessoas que tiveram "simples contato" com o presidente. Em nota, o governo distorce orientações de autoridades de saúde e afirma que não há protocolo sobre isolar pessoa que estiveram com doentes. "A orientação que damos aos servidores é procurar assistência médica quando apresentarem sintomas relacionados à Covid-19, para avaliar necessidade de testagem. Nos casos considerados suspeitos, os servidores são orientados a ficar em casa até o resultado do exame", afirma o Planalto.

Na mesma nota, o governo informou que 108 dos 3.400 servidores do Palácio do Planalto testaram positivo para Covid-19 até 3 de julho. "Não houve mortes e mais de 90% desses casos foram assintomáticos ou apresentaram apenas sintomas leves."

A Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, afirma que é recomendável "ficar em casa" caso more com alguém infectado ou esteve a menos de um metro de um paciente com a doença. Imagens da agenda oficial de Bolsonaro mostram o presidente sem máscara em almoço na casa do embaixador dos Estados Unidos, no domingo (5), e durante encontro com representantes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na sexta-feira (3).

A recomendação do Ministério da Saúde é menos rígida. Em documento de abril, a pasta recomenda isolamento de 14 dias de casos suspeitos ou confirmados. Os casos suspeitos, para o governo brasileiro, no entanto, são aqueles que tiveram contato próximo de um confirmado e, além disso, apresentam febre ou pelo menos um sintoma respiratório, como tosse ou dificuldade para respirar. No começo da pandemia, o ministério chegou a recomendar o isolamento para todas as pessoas que voltavam do exterior. A orientação foi derrubada, segundo fontes da pasta, por pressão do Palácio do Planalto para reduzir impactos sobre a economia e no funcionamento da máquina pública.

Bolsonaro sentiu os primeiros sintomas da Covid-19 no domingo, 5. "Não se sabe quem vai desenvolver sintoma. É melhor que se fique isolado", afirma o infectologista Croda. Se necessário, o teste do tipo RT-PCR, que detecta a presença do vírus, deve ser feito por volta de cinco dias após o contato com Bolsonaro. "Tem gente que já está fazendo exame. Mas, se der negativo, pode ser um resultado falso. Tem de refazer lá na frente", afirmou o infectologista.

Teste inadequado

Como mostrou o Estadão, 13 ministros fizeram exames após Bolsonaro confirmar a infecção pela Covid-19. Destes, realizaram teste rápido (sorológico) Paulo Guedes (Economia), Luiz Eduardo Ramos (Secretária de Governo), Braga Netto (Casa Civil), Levi Mello (AGU), Marcelo Alvaro Antonio (Turismo), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Roberto Campos Neto (Banco Central).

Os resultados foram todos negativos para a Covid-19. Mas especialistas afirmam que nada adianta realizar este tipo de exame, pois ele serve para detectar anticorpos da doença e só deve ser aplicado após o sétimo dia de sintomas do novo coronavírus. Antes disso, a chance de acerto é mínima.

A OMS também é cautelosa sobre este tipo de exame. "Teste rápido para fazer diagnóstico é absolutamente contraindicado. É sim (recomendado) para, depois, procurar na população quem já tem anticorpo contra o vírus. Para fazer estudo, sim, é válido", disse ao Estadão o médico e vice-diretor da Organização Pan Americana da Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, em abril.

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