Entre as muitas discussões que permeiam a vida dos amantes de jogos eletrônicos, uma delas gira em torno dos emuladores de videogames, visto por muitos como uma prática de pirataria que pode, de alguma maneira, prejudicar a indústria dos games. Embora pareça simples, muitas são as variáveis que envolvem este debate e, para compreendê-lo, o primeiro passo é entender o que de fato são os emuladores.
Emuladores são softwares que buscam reproduzir com precisão (ou pelo menos o mais próximo possível), as funções de um determinado hardware. Por meio desses aplicativos, os desenvolvedores conseguem entender o comportamento de determinados softwares e aplicar aquela lógica de programação em outras criações.
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Uma das funções dos emuladores é garantir que softwares antigos sejam executados em computadores modernos, por exemplo: muitas escolas de computação utilizam máquinas virtuais, que emulam sistemas operacionais (SOs) antigos, como Windows 95, 98, 2000 e XP, com o propósito de explicar a evolução dos SOs para novos alunos.
Nos anos 1990, começaram a surgir os primeiros emuladores de videogames, que possibilitam jogar games de determinadas plataformas em computadores. Para isso, o usuário teria que dispor tanto do emulador da plataforma, como do arquivo de Memória Somente de Leitura (ROM) do game escolhido.
As ROMs são arquivos extraídos a partir da mídia original de um game, que podem ser executados a partir desses emuladores. Não demorou muito para a internet se tornar um grande acervo de ROMs, onde diversos usuários tinham acessos a inúmeros jogos de plataformas como Atari, NES, Super Nintendo e Mega Drive.
A princípio, essas emulações eram precárias, mas com o passar do tempo, os softwares receberam diversas otimizações, que na maioria dos casos, proporcionam experiências idênticas e até mesmo superiores às originais.
O fácil acesso das ROMs faz com que os direitos autorais das desenvolvedoras de jogos sejam feridos, principalmente ao se tratar de jogos que ainda são comercializados. A emulação por si só não é vista como uma prática ilegal, mas a pirataria ocorre a partir do momento que um usuário faz o download de um jogo, ao qual ele não pagou pelo uso.
Muitas empresas lutam contra essa prática, como por exemplo, a Nintendo, que já derrubou e processou diversos sites que disponibilizavam ROMs de jogos de NES, Super Nintendo, Nintendo 64 e outros de seus sistemas.
A emulação pode ser encarada como uma prática legal, a partir do momento que o usuário possui a mídia original do jogo, mas não quer reproduzi-lo em uma plataforma antiga e sim, em um PC moderno.
Outro ponto que mostra que a emulação por si só não pode ser considerada uma prática ilegal é que muitas empresas fazem relançamentos de jogos antigos, em formato de emulação.
A própria Nintendo disponibiliza para os assinantes do Switch Online, games antigos por meio de emuladores oficiais; a Capcom relançou diversas coletâneas de “Mega Man” que também se aproveitam da emulação; e a SEGA possui um emulador oficial, que permite que muitos jogadores acessem clássicos do Mega Drive em plataformas modernas.
Emulação e Jogos Retrô
Atualmente, as emulações são consideradas alternativas para acessar jogos antigos, também conhecidos como retrô, seja para resgatar uma experiência nostálgica, ou para conhecer um título que por algum motivo, o jogador não teve a oportunidade de jogá-lo na plataforma original.
O youtuber Alessandro Velberan é um dos maiores canais brasileiros a tratar do tema retrogaming e, segundo ele, para não infringir as regras de direitos autorais em uma emulação, é necessário ter em mãos a mídia original de um título. “Entretanto, eu defendo e apoio a emulação de jogos considerados ‘abandonware’, que não se encontram à venda em nenhuma loja, seja física ou digital”, aponta.
De acordo com Velberan, os emuladores e suas ROMs preservam a memória dos videogames. “Sabemos que mídias físicas e hardwares de videogames não serão preservados para sempre e estão cada vez mais inacessíveis para os jogadores casuais”, lembra.
Até mesmo os jogos digitais não estão livres de se tornarem inacessíveis, pois Velberam ressalta que eles podem sofrer com perdas de contratos, falência de estúdios ou desinteresse por parte dos detentores dos direitos autorais. “A distribuição de emuladores e ROMs permite que esses jogos sobrevivam enquanto alguém se importar em guardá-los e compartilha-los”, afirma.
Velberan lembra que a emulação facilitou o relançamento oficial de diversos títulos, já que por meio dela a adaptação de jogos em plataformas modernas se tornou mais simples. “Curiosamente, vários desses estúdios usam versões modificadas dos mesmos emuladores que encontramos na internet. Portanto, a emulação hoje pode ser considerada uma ferramenta para se jogar. Sua legalidade é outra discussão”, destaca o youtuber.