O ano de 2022 reserva grandes mudanças na política brasileira e já deu as caras carregando toda a tensão criada em 2021. A pandemia, a crise econômica, os escândalos envolvendo a vacinação e as pautas polêmicas no Congresso Nacional inflaram ainda mais o senso de polarização existente no cenário atual. Em todas essas manifestações, existiram mulheres, do Legislativo e do Executivo, fazendo algumas das principais jogadas políticas, ainda que em menor número.
Na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, no Senado, na Câmara dos Deputados ou mesmo a nível regional, a atuação feminina tem feito parte das decisões mais relevantes no Brasil. Conheça abaixo 22 mulheres da política para ficar de olho em 2022:
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Simone Tebet (MDB-MS)
A senadora é a aposta do MDB para a presidência e já teve pré-candidatura oficializada pela sigla em dezembro do ano passado. Até o momento, Simone Tebet é a primeira mulher a anunciar que vai disputar o Palácio do Planalto este ano. Ela foi aposta do presidente nacional da sigla, o deputado federal Baleia Rossi, que considera Tebet um nome de peso da “terceira via”, como é chamado o grupo que se opõe à polarização Lula vs. Bolsonaro.
Na CPI da Covid, a parlamentar foi uma das mais ativas a defender a vacinação e o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (PL). Foi bastante elogiada por sua atuação na Comissão e protagonizou o episódio da “deputada descontrolada”, que repercutiu bastante nas mídias, o que motivou denúncias por sexismo no ambiente do Senado, predominantemente masculino. Em setembro de 2021, durante sessão da CPI, Tebet foi chamada de “descontrolada” pelo ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, durante discussão sobre o escândalo da Covaxin.
Eliziane Gama (Cidadania-MA)
Jornalista e senadora, Gama foi um dos destaques da CPI da Covid em 2021. Vencedora do prêmio Congresso em Foco 2020 como “Melhor Parlamentar”, foi também a primeira mulher a relatar uma indicação de ministro ao Supremo Tribunal Federal, na sabatina de André Mendonça. Seu protagonismo político e a agenda pela sustentabilidade são alguns dos aspectos que irão manter a senadora nos holofotes também no ano de 2022.
Outra forte bandeira de Eliziane é a desigualdade de gênero: ela é uma das 11 mulheres no Senado - contra 70 homens - e também a única mulher da Casa a liderar uma bancada partidária.
Marília Arraes (PT-PE)
A petista pernambucana foi um dos nomes com maior destaque na Câmara dos Deputados em 2021, não apenas pela sua participação política e coautoria de projetos ativos, mas, sobretudo, pelo Projeto de Lei 4968/2019, que ficou conhecido como “PL dos Absorventes” e rendeu discussões por todo o país. Marília já era um nome quente em Pernambuco, sendo parte do clã Arraes-Campos e tendo entrado para a política no ano em que seu avô, o ex-governador do Estado, Miguel Arraes, faleceu, em 2005.
Iniciou sua trajetória no PSB, partido para o qual estabelece oposição, a nível local. Nas últimas eleições municipais, disputou o pleito com o primo, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), tendo sido derrotada. É fortemente cotada para o Governo de Pernambuco nas eleições deste ano, mas a tese vai ficando cada vez mais distante, desde que o Partido dos Trabalhadores anunciou o senador Humberto Costa como pré-candidato.
Como é comum em Pernambuco, a prefeita também faz parte de outro clã político influente no estado, a família Lyra. A advogada e ex-delegada da Polícia Federal é filha de João Lyra Neto, ex-prefeito de Caruaru e ex-governador de Pernambuco, e Mércia Lyra, neta do ex-prefeito de Caruaru, João Lyra Filho, e sobrinha do ex-ministro da Justiça Fernando Lyra.
Luana Rolim (PP-RS)
Rolim, de 27 anos, já era conhecida por ser a primeira fisioterapeuta com Síndrome de Down do Brasil. Em março de 2021, ela tornou-se também a primeira suplente a vereadora de Santo Ângelo, com a conquista de 633 votos na eleição de 2020. Apesar da cidade gaúcha não estar no centro das discussões políticas de maior peso no Brasil, por sua posição única e histórica, a parlamentar pode representar avanços lentos e união de forças a outras frentes que já lutam pelos direitos de pessoas com deficiência física e/ou intelectual.
Joenia Wapichana (Rede-RO)
Ativista ambiental e primeira indígena a ocupar um assento no Parlamento em mais de 190 anos de histórica, Wapichana se destacou em 2021 pela presença durante as audiências envolvendo o Marco Temporal, a demarcação de terras indígenas e a mineração ilegal. Conforme essas pautas ganham mais visibilidade a níveis nacional e internacional, é esperado que em 2022, a deputada federal tenha mais espaço para debater os temas.
Em 2018, Joênia Wapichana (Rede) recebeu 8.491 votos e foi eleita deputada federal pelo estado de Roraima. A decisão de concorrer ao pleito eleitoral, segundo Joenia, ocorreu durante a 47ª Assembleia Geral dos Povos Indígenas de Roraima, após análise política sobre a situação dos povos indígenas no Brasil. Ela foi indicada pelo movimento indígena de Roraima e hoje une-se ao feito histórico de Mario Juruna, primeiro indígena a conquistar uma vaga na Câmara dos Deputados (1983-1987). Desde a saída do Xavante do Congresso, em 1986, nenhum indígena havia ocupado vaga no legislativo.
Erika Hilton (Psol-SP)
A paulista nascida em Franco da Rocha fez história ao ser eleita a primeira vereadora trans e negra em São Paulo, nas eleições municipais de novembro de 2020; e a mulher mais votada no Brasil naquelas eleições, com 50.508 votos. Em 24 de março, foi nomeada presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Vereadores de São Paulo, a maior cidade do Brasil. Erika também criou um curso pré-vestibular na Universidade Federal de São Carlos para pessoas trans. Expoente da luta trans no Brasil, Hilton também chama atenção pela atuação parlamentar, com mais de 130 projetos protocolados e promoção de audiências públicas do interesse de minorias sociais.
Tabata Amaral (PDT-SP)
Recém-filiada ao PSB, Tabata tem trajetória política recente e iniciada no PDT, de Ciro Gomes. A paulista de 28 anos foi eleita em 2020, ou seja, está em seu primeiro mandato, mas se destaca pelo currículo excelente, bem como por ser vocal diante da agenda feminista. No entanto, a parlamentar é também conhecida por desagradar tanto os núcleos de esquerda quanto os de direita, apesar de se colocar como progressista. O perfil da deputada federal se assemelha ao de muitos políticos do Centrão, sobretudo no campo econômico, com o diferencial de que ela sempre fez uso da plataforma de esquerda para se estabilizar.
Em 2019, no mês de maio, Tabata se envolveu em uma situação que foi definitiva para a sua saída do PDT, ao contrariar o próprio partido e votar a favor da reforma da Previdência. A sigla suspendeu as atividades da parlamentar, retirou dela a vice-liderança na Câmara, a proibindo, inclusive, de ocupar assentos em comissões ou votar nas assembleias. A divergência virou uma batalha judicial e somente em 2021 Amaral pôde sair do PDT sem perder o mandato. Hoje, é um dos nomes mais em alta na política brasileira e divide a sigla socialista com o namorado, o prefeito do Recife, João Campos.
Raquel Lyra e Eliziane Gama. Fotos: Arthur Souza/LeiaJá Imagens e Geraldo Magela/Agência Senado
Raquel Lyra (PSDB-PE)
Em Pernambuco, Lyra é vista como uma das opções mais fortes para o governo estadual. Atualmente, a tucana é prefeita da cidade de Caruaru, a mais populosa do Agreste pernambucano. Apesar de ainda precisar de viabilidade nas regiões vizinhas, como o Sertão e o Grande Recife, Raquel já possui diálogo político com diversas frentes e é bem avaliada pela população que a garantiu o seu segundo mandato à frente da gestão caruaruense.
Mônica Calazans (MDB)
A enfermeira Mônica Calazans, de 55 anos, primeira pessoa no Brasil a ser vacinada contra a Covid-19, filiou-se ao MDB em São Paulo na última quarta-feira (6). Segundo Rossi, a filiação de Mônica ocorreu em São Paulo e foi indicação de Baleia Rossi ao partido. Ela é pré-candidata a deputada federal.
A profissional do Hospital das Clínicas foi imunizada com a primeira dose de CoronaVac no dia 17 de janeiro, minutos após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar o uso emergencial da vacina no país.
Erika Kokay (PT-DF)
A cearense esteve ao lado de Wapichana e Fernanda Melchionna representando contra o Marco Temporal, no Congresso. Apesar de ter atuação mais tímida, tem uma carreira política de certa data e deve se firmar como destaque da oposição do governo Bolsonaro este ano, o que já vem fazendo desde 2018. Filiada ao PT desde 1989, elegeu-se deputada federal, em 2010, com a quinta maior votação (de oito vagas disponíveis), quando obteve 72.651 votos. Em 2014, foi reeleita para seu segundo mandato. Em 2018, foi reeleita para o terceiro mandato, sendo a segunda candidata mais votada no Distrito Federal.
Renata Abreu (Podemos)
A presidente nacional do Podemos será responsável por movimentos importantes na política este ano, sobretudo diante das eleições presidenciais. Tem o ex-juiz Sérgio Moro como opção de presidenciável pela “terceira via” e está fazendo mudanças na legenda, se antecipando ao período de janela partidária. Atualmente, é a única mulher no Colégio de Líderes da Câmara Federal.
Carla Zambelli (PSL-SP)
Tendo ascendido junto à carreira política de Jair Bolsonaro - como parte do Executivo -, a deputada federal é uma forte aliada do presidente da República e atuou, durante a pandemia, como uma negacionista em tempo integral. Zambelli é protagonista de muitas das declarações falsas relacionadas à vacinação contra a Covid-19, mas também de teorias da conspiração e picuinhas com pautas de esquerda versus direita. Já mentiu ter contraído o coronavírus e se tratado com hidroxicloroquina, mas o hospital onde se internou, à época, desmentiu a informação, afirmando que ela foi tratar endometriose. Outra pauta, tipicamente bolsonarista, abraçada por Carla, é a contrariedade ao poder exercido pelo STF.
Segundo o levantamento do Aos Fatos de maio de 2020, Carla Zambeli e um grupo de sete deputados investigados no inquérito das fake news publicaram em média duas postagens por dia em rede social em um período de três meses, com desinformação ou mencionando o STF de forma crítica.
Fernanda Melchionna (Psol-RS)
Melchionna se destacou, ao lado de companheiras da política, pela luta antissexista e contra o Marco Temporal no Congresso Nacional, em 2021. A psolista, que também já foi vereadora, foi eleita deputada federal pelo Rio Grande do Sul em 2018, com 114.302 votos, a maior votação entre as mulheres eleitas. Em abril de 2019, tomou posse no Parlamento do Mercosul. Melchionna foi confirmada pré-candidata pelo Psol em novembro de 2019 em reunião ampliada da executiva municipal e também foi a líder da bancada do PSOL na Câmara dos Deputados em 2020.
Natália Bonavides (PT-RN)
Bonavides foi a vereadora petista mais votada da história do PT no Rio Grande do Norte e a primeira mulher petista a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de Natal. Em 2018 foi eleita a segunda deputada federal mais votada com 112.998 votos.
Desde 2009 participa de projetos de educação popular, através dos quais atuou em assentamentos rurais e em comunidades como Leningrado e Mãe Luiza. Tem como destaque a assessoria a lutas em favelas e vilas sob vulnerabilidade social e deverá advogar pelo lulismo com força em 2022, na eventual candidatura do patrono da legenda.
Paula Belmonte (Cidadania-SP)
Atualmente, a empresária exerce seu primeiro mandato de deputada federal pelo Distrito Federal, tendo já ocupado a vice-liderança da bancada. Ela é membro das Frentes Parlamentares Evangélica (FPE), Agropecuarista (FPA), Ambientalista e Contra a Legalização do Aborto. Apesar de conservadora, costuma se manter "em cima do muro" ao opinar sobre o governo Bolsonaro.
Em abril de 2020, Paula criou um projeto de lei para autorizar o uso da ozonioterapia como tratamento complementar para Covid-19, mesmo sem comprovações científicas de eficácia. Em junho de 2020, Luís Felipe Belmonte (PSDB), marido de Paula, foi alvo de investigações da Polícia Federal no inquérito das fake news. Ele e Jair Bolsonaro são coordenadores do Aliança pelo Brasil, partido político ainda não legalizado. O casal também é alvo de um inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga o uso de caixa 2.
Talíria Petrone (Psol-RJ)
A professora psolista é também uma ativista dos direitos humanos, da mulher, LGBT e do movimento negro. Além da militância a nível local, no Rio de Janeiro, se destaca pela oposição constante ao governo Bolsonaro e pelos projetos que propõe à frente da bancada do Psol na Câmara dos Vereadores fluminense. Desde 2018, quando foi eleita para exercer mandato como deputada federal com 107.317 votos, a nona mais votada no estado, recebe ameaças de morte associadas à sua área de atuação. Talíria é bem vocal diante das suas pautas e é acompanhada pela Polícia Civil do Estado, sob proteção.
Dilma Rousseff (PT-MG)
A ex-presidente do Brasil e primeira mulher a chegar ao Planalto passa por um período mais ofuscado de sua vida política, estando afastada dos holofotes e passando mais tempo em família. No entanto, ainda é sondada pelo Partido dos Trabalhadores para participar da frente contra Bolsonaro este ano. Recentemente se encontrou com Lula para falar das eleições e possíveis caminhos até outubro.
Manuela D'Ávila (PT-RS)
A comunista foi deputada federal pelo Rio Grande do Sul entre 2007 a 2015, deputada estadual de 2015 a 2019 e candidata a vice-presidente da República na chapa do petista Fernando Haddad, na eleição de 2018. Tem como principais bandeiras o feminismo e as causas trabalhistas, diante da proposta do próprio partido, no qual já atua há 15 anos. Oposição ao governo Bolsonaro, também deve fazer parte da Frente Ampla este ano.
Concorreu à prefeitura da capital gaúcha três vezes. Na primeira vez, em 2008, ficou na terceira colocação. Na segunda tentativa, em 2012, ficou na segunda colocação, sendo derrotada ainda no primeiro turno por José Fortunati. Na terceira, em 2020, foi derrotada no segundo turno por Sebastião Melo, que foi vice de Fortunati. Em 2014, foi eleita deputada estadual com a maior votação para o cargo naquele ano.
Bia Kicis (PSL-DF)
Bolsonarista convicta, a deputada Bia Kicis foi indicada por Arthur Lira (Progressistas-AL), presidente da Câmara, para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Casa. Como boa parte da cúpula bolsonarista, na pandemia, adotou o negacionismo científico como discurso. Kicis é um dos nomes investigados no chamado inquérito das fake news, investigação iniciada em 2019 para apurar ataques contra o STF (Supremo Tribunal Federal) e seus ministros por meio de notícias falsas, calúnias e ameaças. Recentemente, tornou-se alvo de representação da bancada do PT no Conselho de Ética da Câmara por causa da divulgação dos dados de médicos favoráveis à vacinação infantil.
Janja (PT)
A paulista Rosângela da Silva, a 'Janja', de 55 anos, é formada em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e filiada ao Partido dos Trabalhadores desde 1983. "Petista de carteirinha", assumiu namoro com Lula em 2019. Ela começou a ganhar destaque quando foi à carceragem da Polícia Federal em Curitiba para receber Lula, que saía da prisão. Acompanhou o presidenciável do PT em eventos este ano, inclusive na viagem que ele fez à Europa.
Janaína Paschoal (PSL-SP)
A polêmica deputada estadual já busca se alinhar com nomes de peso da política este ano, para garantir sua pré-candidatura ao Senado, informação já confirmada pela própria parlamentar. Atualmente no PSL, Paschoal pode estar migrando para o PRTB em breve. Nos próximos dias, ela deve se reunir com integrantes da sigla para arranjar a filiação e os caminhos da sua candidatura. Apesar de ter negado que irá formar chapa com o ministro bolsonarista Tarcísio Freitas, da Infraestrutura, a possibilidade é defendida por muitos membros do Centrão.
Atualmente, não defende a gestão Bolsonaro com tanta força, mas dá passos de aproximação consideráveis. Voltou a adotar a agenda antipetista e antivacina como tom para a próxima campanha.
Erica Malunguinho (Psol-SP)
Apesar de recifense, a ativista antirracista e ferrenhamente anti-Bolsonaro atua pela Assembleia Legislativa de São Paulo e deve marcar presença como oposição na maior Casa Legislativa do país. Elegeu-se deputada estadual em 2018, sendo a primeira mulher transexual da Alesp, hoje na segunda metade do primeiro mandato. Erica é mestra em estética e história da arte pela Universidade de São Paulo (USP) e criadora da Aparelha Luzia, um espaço para fomentar produções artísticas e intelectuais na capital paulista. O sobrenome “Malunguinho” refere-se ao culto a Jurema Sagrada, uma entidade das florestas de Pernambuco em Catucá. O termo “Malungo” é usado por descendentes de africanos da família Bantu para significar “camarada” ou “companheiro”.