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Entrevista com Andrea Ramal, educadora e consultora em educação.

 

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1) O apoio sobre questões como bullying na internet é um papel do professor?

Com certeza. A internet é um espaço de convivência cidadã. Dizemos que o professor precisa preparar o aluno para a vida - e a internet faz parte. É onde adolescentes e jovens mantêm interações, se apresentam, com diversos perfis, atitudes e posicionamentos, e onde infelizmente se sofre muito porque o bullying, que antes ficava restrito à sala de aula, agora dura quase 24 horas por dia.

2.Há dificuldade dos professores de compreender o que ocorre na internet?

É um desafio. Infelizmente, temas assim quase não fazem parte do currículo na formação dos professores. Eles chegam defasados. Em reuniões de professores e conselhos de classe, o tema deveria entrar.

3.Quais as dicas para professores, pais e alunos lidarem melhor com os problemas da internet?

Os professores devem frequentar as redes sociais, se conectar, ser antenados. Devem ficar atentos, assim como ficam se existem situação de violência dentro das escolas, se há algum aluno que pode estar sofrendo nas redes. Outro ponto importante é que as escolas façam reuniões com os pais para capacitações. E, para os estudantes, se sofrerem bullying na vida virtual, devem denunciar, mostrar aos pais, não esconder.

4.A agressão na internet é mais difícil de descobrir?

Sim. E algo que melhoraria é ter mais escolas em tempo integral, onde o professor não só dá aula, mas tem tempo de conviver. Muitas vezes a internet é usada de modo nocivo porque o aluno vai para a casa e não fica com ninguém, não tem o que fazer.

5.Atividades com tecnologia na escola devem ser transversais ou extras?

Acredito que precisam entrar na aula mesmo. Cada vez mais estamos buscando aulas que tenham ligação com a prática. Os próprios fenômenos que acontecem na internet são ótimos ganchos para puxar as discussões em sala de aula. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um caso de preconceito, bullying e intolerância teve fim no Distrito Federal por conta da solidariedade de pessoas dispostas a ajudar Carol Venâncio Duarte e sua filha, que era aluna do sexto ano do Colégio Notre Dame Brasília. A menina foi vítima de bullying pelo fato de sua mãe estar em tratamento contra o câncer. Após a história ganhar visibilidade, a família foi ajudada por outras mães e outra escola, que deu uma bolsa parcial para que a criança pudesse sair do colégio onde estudava.

Quando a filha se queixou que alguns colegas afirmavam ter nojo dela por causa da aparência da mãe, que perdeu os cabelos por conta do tratamento quimioterápico, Carol procurou a direção da escola e recebeu da diretora, Irmã Loiva, a “sugestão” de que cobrisse a cabeça porque a sua imagem era “agressiva à sociedade”. 

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No Facebook, a irmã de Carol e tia da menina que sofreu bullying, Camila Venancio Duarte, fez uma postagem de apoio à sua irmã, expondo o modo como ela foi tratada pela direção da instituição de ensino.

“[A Irmã Loiva] Essa senhora cruel, sugeriu que minha irmã usasse peruca ou chapéu, pois a imagem dela era agressiva à sociedade. Eu fui até a escola a pouco conversar com essa senhora, e ela me disse que sugeriu sim, que Carol usasse, pois a imagem dela assustava, perguntei a quem assustava, ela disse que a todos. Irmã Loiva, assustador é seu ódio e preconceito, a senhora sim é uma agressão a sociedade”, escreveu ela em um post que alcançou, até às 12h21 desta sexta-feira (3), 329 comentários, 894 compartilhamentos e quase 3 mil reações.

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Com a repercussão, a Irmã Loiva foi afastada da direção do Colégio Notre Dame e a criança recebeu uma bolsa parcial para estudar no colégio Sigma, também no Distrito Federal, mas os custos ainda eram altos para a família. A solidariedade de outros membros da comunidade escolar foi o que fez a diferença no desfecho desse caso: um grupo de mães se juntou para doar o uniforme e os livros de que a criança que foi vítima de bullying precisaria na nova escola. 

Por sua vez, o colégio Sigma se pronunciou afirmando por meio de uma nota que tem compromisso com a educação e que “a direção da escola fez o que foi possível para que a família e a aluna fossem acolhidos no ambiente escolar. A nossa primeira intenção foi garantir que a estudante, diante do seu contexto e sua história, tivesse a possibilidade de dar continuidade aos seus estudos de forma plena, segura e tranquila”. 

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Uma jovem de São Paulo foi condenada a pagar multa de R$ 3 mil por não ter coibido uma série de ofensas praticada contra um dos integrantes de um grupo no WhatsApp que ela criou. O caso aconteceu em 2014, mas a decisão só foi emitida recentemente pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

Segundo informações da Revista Fórum, a mulher havia criado o grupo para convidar amigos a participar de uma reunião para assistir a um jogo de futebol. No entanto, uma discussão resultou numa série de ofensas a um dos integrantes do chat.

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Na ocasião, o usuário foi ofendido com uma série de comentários homofóbicos. A criadora do grupo não ofendeu a vítima diretamente, mas, como era a única administradora, o TJ-SP entendeu que era responsabilidade dela coibir esse tipo de ofensa contra outros participantes.

De acordo com a petição inicial da ação, impetrada em 2016 pelo pai do menino vítima de bullying virtual, o rapaz estava sendo ofendido há mais de dois anos pelos integrantes do grupo.

Em primeira instância, a administradora do grupo saiu inocentada, mas, em segunda, foi condenada a pagar uma multa de R$ 3 mil para a família do garoto ofendido. Ela e outros participantes tinham 15 anos na época do ocorrido.

"[A administradora do grupo] é corresponsável pelo acontecido, com ou sem lei de bullying, pois são injúrias às quais anuiu e colaborou, na pior das hipóteses por omissão, ao criar o grupo e deixar que as ofensas se desenvolvessem livremente", disse o desembargador e relator do caso, Soares Levada.

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O presidente Michel Temer (MDB) sancionou na segunda-feira (14) uma lei de combate ao bullying nas escolas. O texto altera um trecho da Lei 9.394, de 1996 e inclui a responsabilidade das escolas em promover medidas de combate ao bullying, além de pensar em ações de promoção da cultura de paz.

A lei original, instituída no governo Fernando Henrique Cardoso, estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. O artigo 12 trata da incumbência dos estabelecimentos de ensino.

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“Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:

IX - promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas;

X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas escolas”, diz a lei atualizada.

Além das atitudes típicas de bullying, a matéria busca combater outros tipos de violência como agressão verbal, discriminação, práticas de furto e roubo, ameaças e agressão física. O projeto de alteração da lei saiu do Senado dia 17 de abril para sanção presidencial.

Lei Antibullying

A lei sancionada na última segunda-feira (14) amplia as obrigações das escolas previstas na lei que criou o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), sancionada em 2015 pela então presidente Dilma Rousseff.

Esta lei, que entrou em vigor em 2015, prevê que, além de clubes e agremiações recreativas, as escolas desenvolvam medidas de conscientização, prevenção e combate ao bullying.

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O Instagram agora bloqueia automaticamente os comentários agressivos postados nas suas fotos. O presidente-executivo e cofundador do aplicativo, Kevin Systrom, disse que a mudança é parte de um compromisso contínuo em manter o Instagram um lugar inclusivo e solidário para todas as pessoas.

O Instagram disse que o recurso será ativado por padrão, então os usuários terão que entrar em suas configurações para desativá-lo caso prefiram. "Este novo filtro esconde comentários que contêm ataques à aparência ou ao caráter de uma pessoa", explicou o chefe do Instagram.

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O filtro também vai esconder comentários que representem uma ameaça ao bem-estar ou a saúde de uma pessoa, informou o Instagram. A empresa afirmou que receberá alertas sobre usuários que insistem na má conduta e poderá tomar medidas contra eles.

"Desde que Mike e eu fundamos o Instagram, nosso objetivo é torná-lo um lugar seguro para a autoexpressão e promover a gentileza dentro da comunidade. Esta atualização é apenas o próximo passo em nossa missão para cumprir essa promessa", informou o criador do Instagram.

Esta não é a primeira vez que o Instagram censura automaticamente os comentários no aplicativo. Em junho de 2017, a empresa introduziu um filtro amplo contra interações ofensivas e spam em nove idiomas diferentes.

Alegando ser vítima de bullying na escola, um estudante de 16 anos, identificado como Lucas Lourenço Lima, quebrou os dois cotovelos após levar uma rasteira de um colega, da mesma idade, na Escola Estadual Maria de Lourdes, situada em Goiatuba, Goiás. Por conta disso, ele precisou ser operado, colocando um pino no braço direito e engessando o outro membro.

O caso foi tão grave que o adolescente foi encaminhado para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). Lucas pedia para não ir à escola, mas a mãe, identificada como Celma Maria Lourenço, de 39 anos, achava que era preguiça do filho. Depois do ocorrido, o garoto contou para a mãe que sofria bullying por ser muito calado; Celma disse à TV Ahanguera que ficou muito surpresa, já que nunca havia percebido nada.

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O caso aconteceu no dia 6 de março, no pátio, durante o recreio. O adolescente ainda não retornou para a escola e diz nem querer voltar; afirma que quer mudar de local de ensino. O adolescente apontado de ter dado a rasteira em Lucas (não teve o nome divulgado) assumiu o ato aos pais e disse nunca ter cometido bullying contra a vítima.

O caso, investigado pela Polícia Civil da região, é tratado pelo delegado como um ato infracional análogo ao crime de lesão corporal, mas sem ligação ao bullying - pelo menos inicialmente, afirmou o delegado à TV. 

A Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco (SEE) não considera que um jovem estudante foi vítima de bullying, apesar da revolta entre as pessoas que viram o caso; nos últimos dias, um vídeo circulou nas redes sociais e mostrou um aluno entre dezenas de estudantes que zombavam e sorriam dele, fazendo a vítima encostar-se na parede de maneira acuada. O episódio aconteceu no dia 1º de março na EREM Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, unidade estadual localizada em Capoeiras, interior de Pernambuco.

Em nota enviada ao LeiaJá, a Secretaria de Educação classificou a atitude dos estudantes contra o jovem como “constrangedora”. A assessoria de imprensa preferiu não justificar por que a SEE não considera um caso de bullying, mas garantiu que esse foi o primeiro episódio contra a vítima cuja identidade não foi revelada.

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O órgão também não confirmou o que desencadeou o constrangimento, porém detalhou como o caso aconteceu: “O episódio ocorreu no momento do almoço, em que os professores já estavam fora da sala de aula e os demais funcionários estavam organizando a entrada de alunos no refeitório, visto que no turno a escola acompanha mais de 700 alunos”, explicou a Secretaria.

O caso despertou revolta entre os moradores do município de Capoeiras, bem como de internautas que viram o vídeo nas redes sociais. “Um dia eles vão casar e ter filhos e vão lembrar desse garoto. Deus vê tudo, adolescentes que sabem muito bem as consequências da vida”, desabafou um internauta. “A culpa é desse governo que tem regras frouxas para com a discriminação racial ou qualquer que seja a discriminação, todas essas crianças estão na escola para ter disciplina, mas estão aprendendo a ser um bando de covardes”, criticou outra internauta.

A EREM Nossa Senhora do Perpétuo Socorro afirma que está tomando todas as medidas necessárias junto à família do aluno, órgãos competentes de proteção ao menor, Gerência Regional de Educação, Secretaria de Educação do Estado e alunos envolvidos. Confira, a seguir, o posicionamento da SEE de maneira íntegra:

A direção, coordenação, professores e demais funcionários da EREM Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, localizada em Capoeiras, vêm a público esclarecer o episódio ocorrido na escola, em que um de nossos alunos foi vítima de atitude constrangedora praticada por colegas e cujo vídeo esta circulando nas redes sociais.

Já faz parte do cotidiano escolar a prevenção e esclarecimento das consequências da prática de quaisquer situações constrangedoras. A proposta pedagógica da escola é pautada em uma filosofia de valores, tais quais solidariedade, respeito às diferenças, bom convívio e diálogo.

Esclarecemos ainda que o episódio ocorreu no momento do almoço, em que os professores já estavam fora da sala de aula e os demais funcionários estavam organizando a entrada de alunos no refeitório, visto que no turno a escola acompanha mais de 700 alunos.

Reafirmamos o compromisso da instituição com a formação integral dos estudantes e que nenhum funcionário da escola, nunca foi e nem está sendo omisso, tão pouco conivente com qualquer atitude discriminatória contra alunos. Em relação ao ocorrido, a escola já está tomando todas as medidas necessárias junto à família do aluno, órgãos competentes de proteção ao menor, Gerência Regional de Educação, Secretaria de Educação do Estado e alunos envolvidos.

O bullying, o ato de cometer abusos psicológicos e/ou físicos de forma sistemática, é comum no ambiente escolar e não raro dificulta o bom convívio de crianças e adolescentes na escola, seus estudos e a visão que elas têm de si mesmas, podendo causar danos persistentes na vida das vítimas.

Conseguir quebrar o ciclo de violência e superar os traumas que ficaram depois de uma experiência dolorosa é tão importante quanto complicado e, muitas vezes, a mudança de escola é uma opção encontrada por estudantes e suas famílias para resolver o problema. No entanto, a simples mudança de ambiente e de companhias nem sempre basta para que a criança ou adolescente volte a se sentir bem na escola e consigo mesmo, sendo necessário continuar acompanhando de perto o processo de adaptação do estudante que sofreu bullying para ajudar a vítima a se fortalecer novamente.

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O LeiaJá ouviu uma psicóloga estudantil, uma aluna que já foi vítima de bullying e uma mãe que já precisou auxiliar o filho que sofreu violência em sua primeira creche, para entender como se dá esse processo de superação e adaptação a um novo ambiente, além de compreender como é possível ajudar estudantes que passaram por problemas semelhantes. 

“Minha mãe foi me ajudando a trabalhar a situação”

A estudante Maria Vitória Bernardo vive em Espírito Santo do Pinhal, município localizado no interior do Estado de São Paulo e sofreu bullying quando era criança, em sua primeira escola. A situação já fazia com que a mãe de Maria Vitória fosse frequentemente à escola pedir que fossem tomadas providências sem que, no entanto, nada mudasse. O ponto máximo de tensão ocorreu quando as provocações e abusos psicológicos se transformaram em agressão física. 

“Eu estava sentada na hora do intervalo com meus dois amigos e eu estava comendo um salgado e na época  eu não gostava muito de tomate, era um salgado de pizza, tirei o tomate e coloquei ele em cima de um guardanapo, só  que acabou voando e caiu na perna de uma menina. Na hora eu pedi desculpas e, na hora que eu abaixei para pegar o tomate no chão, senti um tapa nas minhas costas, começou a arder na mesma hora, a menina era mais velha, eu sempre fui pequena e ela era bem maior. Sentei e comecei a chorar, fui atrás de uma inspetora mas ela disse que se a menina me bateu foi porque eu dei motivo. Minha perna tremia, minhas costas ardiam, eu estava até branca porque eu não tinha feito nada, apanhei de uma menina e quando fui pedir ajuda colocaram a culpa em mim, eu não conseguia compreender”, contou ela. 

Nos dias que se seguiram, Maria Vitória e sua mãe tiveram vários problemas com a escola, com a inspetora, a diretora e com a aluna que praticou a agressão, pois mesmo decidida a mudar a filha de escola, a mãe de Maria não conseguiu vaga para ela em nenhuma outra instituição pois o ano letivo estava perto do final. Assim, mesmo em meio a muitos conflitos entre a direção da escola e sua mãe, Maria Vitória precisou continuar onde estava até o ano acabar. Ela conta que depois de uma conversa entre as duas meninas, suas respectivas mães, a inspetora e a diretora da escola, não houve mais nenhum episódio violento até que o ano terminasse. 

A mudança de instituição, no entanto, foi algo que afetou muito a saúde emocional de Maria Vitória, que na época tinha, entre oito e nove anos de idade e nunca tinha estudado em outra escola antes. Para ela, foi “um turbilhão de sentimentos” pois seus amigos continuavam na antiga escola e apesar de ser acolhida e bem tratada por professores e alunos na nova instituição de ensino, de acordo com ela, “todos já tinham suas panelinhas, rodinhas, então foi difícil”, explicou a estudante. 

“No começo foi horrível, fiquei umas duas semanas chorando sempre que chegava em casa, me sentia insegura com medo de acontecer a mesma coisa. Minha mãe sempre conversou comigo, sempre foi muito clara e sincera em relação à situação, me incentivou a estudar e fazer novas amizades, sempre me ouvia desabafar e me aconselhava”, contou Maria Vitória, que também destaca que o apoio de sua mãe, da equipe da escola e dos alunos foi essencial. 

Hoje, olhando para o que passou, a estudante que atualmente está cursando o segundo ano do Ensino Médio avalia que a mudança foi positiva e ajudou sua vida a ser melhor, trazendo aprendizado. O problema que enfrentou na primeira escola, de acordo com Maria Vitória, “deixou marcas, foi ruim na época, mas hoje eu levo numa boa”. 

“Passamos a confiar mais no que ele comunica”

Letícia Magalhães* é pesquisadora e professora, vivendo atualmente em Bilbao, na Espanha, onde faz doutorado. Antes de se mudar, ela decidiu tirar seu filho, então com três anos de idade, da creche em que ele estudava ao perceber mudanças em seu comportamento ao mesmo tempo em que a equipe da escola nunca explicava o que estava acontecendo de errado. 

O filho de Letícia tem Síndrome de Down e ainda não consegue falar, comunicando-se por meio de gestos e sons. Somente depois de tirá-lo da creche ela soube o motivo de o menino “gritar, espernear, se agarrar à gente e se comportar como se estivesse sendo levado para uma tortura” sempre que ia para a creche: o garoto estava sofrendo bullying por parte dos colegas e também de alguns professores.

“Soubemos de algumas coisas que aconteciam, de baterem nele ou o deixarem sozinho chorando do lado de fora, e ‘brincadeiras’ violentas como os alunos grandes sentarem na cabeça dele”, contou a mãe. O problema fez com que o menino tivesse medo de outras crianças e, para Letícia, o maior desafio ao buscar outro lugar para que seu filho estudasse era achar um lugar “onde ele fosse visto como uma pessoa normal e onde os princípios pedagógicos não incluam entender a violência como uma coisa natural nas crianças”, explicou ela. 

Já depois da mudança para a Espanha, Letícia encontrou uma instituição que atendia a seus critérios e conta que desde então seu filho deixou de sentir medo dos colegas. Apesar do apoio encontrado na nova escola, a mãe explica que a readaptação ainda está acontecendo mesmo depois de dois anos que a criança sofreu violência. “A escola, colegas e as famílias dos colegas têm sido importantes nesse processo. Ele vai superando, mas creio que algumas coisas ficarão gravadas”, explicou Letícia. 

Em casa, a forma encontrada de ajudar o filho a se readaptar ao ambiente escolar após o bullying foi, de acordo com ela, foi prestar mais atenção aos sinais que ele dava e confiar no que o menino expressa. “Ele fala pouco mas se faz entender e passamos a confiar mais no que ele comunica, se ele está desconfortável, triste, é porque algo aconteceu. Tem dias que ele não quer ir para a escola, e fomos percebendo quando é um motivo pelo qual realmente não deve ir como sentir alguma dor, ou quando é só vontade de ficar em casa, então é preciso realmente conhecer o filho”, contou a mãe.

Ela também explica que quando percebe que o menino não quer ir para a escola, relembra as coisas boas que tem lá e, diante de uma nova negativa, busca entender o que houve. “Estamos bastante presentes na escola e juntamos os pais e mães com alguma frequência, esse contato ajuda a construir amizade entre as crianças e superar comportamentos danosos”, explica Letícia, que também conta que, para ela, é muito importante entender que ter muito medo da escola é um sinal de alerta e que “se alguma vez ele fizer como fazia na escola antiga, de gritar, espernear, se agarrar à gente, se comportar como se estivesse sendo levado para a tortura, não é normal. Me diziam que todas as crianças fazem isso. Não é verdade, meu filho fazia isso quando ia a um lugar onde era maltratado”, reforçou ela.

Ajuda profissional

Raquel Lacerda é psicóloga educacional e explica que é muito importante acompanhar e verificar sempre como a criança ou adolescente se comporta, caso não relate o que está havendo, para poder detectar a ocorrência do bullying. Ela explica que mesmo quando a vítima não conta, em geral se mostra tensa, preocupada com aspectos que podem ser alvos do bullying, tentar mudar esses aspectos, apresentar isolamento ou um comportamento mais deprimido são indícios de que alguma coisa está errada.

“Às vezes, por exemplo, uma adolescente se tranca no quarto dizendo que vai dormir e na verdade usa a auto flagelação como uma tentativa de escape. Qualquer mudança de comportamento significativa como estar mais calado, mais triste, chorar escondido e responder que não é nada, todos são sinais de que é necessário buscar ajuda profissional”, explica Raquel.

O papel da escola, nesse caso, é acompanhar tudo para estar atenta aos limites entre brincadeira e violência. Raquel explica que a equipe de psicologia precisa estar em contato frequente com os professores e, em caso de algo passar do limite, a intervenção deve ser feita com a vítima, com o agressor e também com o restante da turma. “É preciso chamar as famílias, analisar se a vítima se coloca nessa posição e se o estudante sofre bullying na família, são muitas questões. O trabalho preventivo e a intervenção têm que ser constantes e a família tem que procurar um psicólogo”, pontuou ela.

Para decidir se é melhor ou não trocar de escola, não há uma resposta única. “Depende da relação e das providências tomadas. Os pais têm que estar junto, acompanhando, buscar um processo psicoterapêutico para que a vítima possa de fortalecer, mas se houver negligência da escola, não adianta insistir em permanecer”, explica a psicóloga. 

Após a mudança de escola, muitas vezes mudar de ambiente, se afastar dos agressores e conhecer pessoas novas parece algo positivo e, segundo Raquel, de fato é, mas muitas vezes não é suficiente pois é comum que a vítima sinta muito medo de que, mesmo na escola nova, o antigo problema se repita. Segundo Raquel, a formação da identidade da criança é prejudicada por assimilar as “causas” do bullying como características de fato suas, comprometendo a auto-estima em outras relações, causando medo de sair de casa, fechamento para outras relações devido à falta de aceitação, passando a assumir o lugar de vítima, o que é um processo sofrido e doloroso. 

No que diz respeito ao agressor, a psicóloga explica que é possível que seja uma criança ou jovem que também sofre com insegurança, inveja e outras questões que precisam de cuidados. Raquel frisa a importância de não banalizar tudo como bullying, mas também não desconsiderar o sofrimento, apurar o olhar para o que acontece com os estudantes e garantir que o suporte necessário esteja presente tanto por parte da escola quanto com a família, além de garantir o apoio de um profissional.

*Nome fictício

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Uma criança de nove anos matou outra de 12 após ser chamada de "caolho", na noite da segunda-feira (9), em Várzea Paulista, interior de São Paulo, segundo o jornal O Estado de São Paulo. Testemunhas contaram que a vítima provocava o outro garoto, que era estrábico, chamando-o de apelidos como "caolho" e "galo cego".

A criança teria pegado um pedaço de pau e acertado o outro. Mesmo no chão, o garoto de 12 anos continuou sendo agredido. Ele foi socorrido ao Hospital Universitário de Jundiaí, mas faleceu após dar entrada na unidade, informou o Estadão.

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O delegado chefe da Polícia Civil de Várzea Paulista, Marcelo Fehr, informou ao jornal que o caso foi encaminhado à Vara da Infância e da Juventude. Apesar da gravidade, o delegado conta que não há previsão legal para enquadrar uma criança, nem mesmo por ato infracional. As medidas socioeducativas são aplicadas para adolescentes com idade entre 12 e 18 anos.  

 

Quando entrou em um colégio novo, na zona oeste do Rio, os problemas começaram para Laura, de 13 anos. "Ela é popular. Faz amizade fácil e é bonita. Aquilo provocou a ira de um grupo de colegas", lembra Rita, de 46 anos, mãe da jovem. Para conter as brigas na escola particular, a menina foi trocada de turno, mas a família jamais imaginaria que, mesmo distante dos antigos colegas, as agressões continuariam em outro espaço: o virtual.

"Achei que haveria um basta. Mas foi pior. Pegaram a foto dela e botaram nas redes sociais. Fizeram o horror", conta a mãe. "Se ela abria o live [vídeo ao vivo na internet], sempre entrava um e xingava." Laura foi ofendida com palavras como "rata" e "demônio" nas redes sociais.

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A situação ficou insustentável até que a mãe trocou a menina de escola no meio do ano. "A foto da minha filha deve andar na internet. Agora, ela está com trauma, no psicólogo. Amava publicar nas redes e não posta mais." Os nomes de vítimas e familiares foram trocados na reportagem para preservá-los.

Casos como o de Laura não são isolados. Pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), de outubro, mediu o comportamento online de jovens. Os dados revelam que, de cada quatro crianças e adolescentes, um foi tratado de forma ofensiva na internet, o que corresponde a 5,6 milhões de meninos e meninas entre 9 e 17 anos. O porcentual cresce ano a ano: passou de 15% em 2014 para 20% em 2015 até chegar a 23% no ano passado.

"Nesse dado [sobre ofensas online], a criança ou adolescente foi exposto a um risco, mas não necessariamente teve alguma sequela", pondera Maria Eugenia Sozio, coordenadora da pesquisa TIC Kids Online Brasil.

A taxa, portanto, nem sempre corresponde a cyberbullying - quando a agressão virtual é repetida -, mas faz soar o alerta para perigos que crianças e adolescentes correm na web e a importância da atenção dos pais.

Efeitos

Segundo especialistas, as ofensas na internet podem ter impacto ainda maior na vida das crianças. "Uma postagem atinge número incontável de pessoas e isso aumenta o sofrimento da vítima. Ela não sabe quem viu ou não", afirma a psicóloga e pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Luciana Lapa.

Em casos de agressão na escola, o jovem encontra refúgio em casa. "No cyberbullying, não. Onde quer que ele vá, a agressão vai junto", diz Luciana. Outro problema é a gravidade das ofensas, encorajadas pela distância física da vítima. Também é comum que as agressões partam de pessoas da mesma faixa etária e que fazem parte do convívio.

Para a pedagoga e psicopedagoga clínica e institucional Denise Aragão, as ofensas podem afetar até o desempenho na escola. "As crianças ficam preocupadas em se defender e perdem o desejo de aprender." O uso crescente dos smartphones pelos jovens, com acesso cada vez mais particular, desafia a mediação dos pais.

A gerente de operações Ana, de 53 anos, conhecia os riscos da internet, mas se assustou quando passou por uma situação constrangedora na família. Quando a filha tinha 14 anos (hoje ela tem 18), uma foto íntima da garota vazou entre alunos de uma escola particular na zona sul paulistana após uma brincadeira entre amigas. Os celulares facilitaram a propagação.

"Ela ficou envergonhada. Foi uma semana de constrangimentos", conta. "Em casa, fizemos questão de explicar o quão sério aquilo era. Mostramos que isso pode ficar no currículo dela para o resto da vida."

Mediação

A mãe de Helena, de 10 anos, só percebeu o problema depois que notou que a filha estava cabisbaixa e chorava pelos cantos. "Fizeram um grupo no WhatsApp (entre os colegas da escola) para xingá-la por causa da cor. Chamavam de macaca e ‘nega’ do cabelo duro", conta a assistente administrativa Adriana, de 39 anos.

Ela procurou os pais dos agressores. "Fazia uma semana que um deles tinha dado um celular para uma das meninas. Foi aí que ele descobriu. Acho que os pais deveriam prestar mais atenção ao que o filho faz na internet", desabafa.

Apesar de 23% das crianças e adolescentes terem relatado à pesquisa que foram vítimas de ofensas na internet, só 11% dos pais disseram que os filhos passaram por incômodos.

A falta de intimidade de adultos com a tecnologia - enquanto as crianças são nativas digitais - ajuda a explicar a dificuldade das famílias em identificar riscos. "O gap existe, mas é preciso revertê-lo. Uma sugestão é estar disponível, querer saber o que a criança faz na internet", diz Heloisa Ribeiro, da Childhood Brasil, entidade de proteção a crianças e adolescentes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Vítima de abusos e bullying em sua escola na Califórnia, a adolescente Rosalie Ávila, 13 anos, tirou a própria vida: "sou feia e perdedora", escreveu, em um bilhete encontrado por seus pais depois da tragédia.

Rosalie tentou se matar na terça-feira passada e, na sexta, teve sua morte cerebral declarada. Foi mantida conectada até ontem para que seus órgãos fossem doados, informou a imprensa local.

"Minha filha foi vítima de bullying", escreveu sua mãe em um site para arrecadar fundos para pagar o funeral e os gastos médicos.

"Era uma pessoa bonita por dentro e fora, era uma grande artista, muito adorável e amada", continuou.

Estudante do oitavo ano em uma escola pública em Calimesa (114 km ao leste de Los Angeles), Rosalie se enforcou em seu quarto depois de deixar uma bilhete de despedida para os pais: "me desculpem, pai e mãe. Eu amo vocês".

"Desculpe mãe, que você vá me encontrar assim", leu seu pai, Freddie Ávila, citado pelo site CBS.

Os pais contaram que a jovem, que sonhava com ser advogada, era agredida em redes sociais, além da escola: nesse dia, antes de tentar se matar, já havia sido alvo de piadas por causa do aparelho nos dentes.

"Guardou isso para si", desabafou o pai, na entrevista à NBC, acrescentando que "por dentro, ela ficava aos pedaços por sempre implicarem com ela".

Ao todo, 5.900 menores, entre 10 e 24 anos, tiraram a própria vida nos Estados Unidos em 2015, segundo números oficiais.

Em nota, o distrito educacional de Yucaipa-Calimesa, ao qual pertencia a escola de Ensino Médio de Ávila, lamentou a morte de sua estudante. Vigílias também foram realizadas.

"Estamos comprometidos com manter uma cultura positiva e inclusiva que permita aos nossos estudantes crescer acadêmica e socialmente", acrescentou o texto.

Uma investigação está aberta para determinar se houve "bullying" na escola.

O site governamental "Stop Bullying" indica que 28% dos estudantes nos Estados Unidos sofrem esse tipo de abuso entre o sexto e 11º ano, e 9%, agressão pelas redes sociais.

Em setembro, um adolescente matou um colega e feriu outros três em sua escola no estado de Washington, em mais um caso de "bullying".

Uma pesquisa realizada no último domingo (5) mostrou que 82% dos estudantes do ensino médio matriculados em instituições privadas e públicas do Recife conhecem alguém próximo que já sofreu bullying. Todos os participantes estavam inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cuja primeira prova foi realizada no próprio domingo. Segundo o levantamento do Instituto de Pesquisas UNINASSAU, apenas 46% dos entrevistados admitiram já ter sido vítimas da violência, o que pode demonstrar a omissão de algumas pessoas em admitir que já foram alvo de agressões físicas ou verbais.

De acordo com o Instituto de Pesquisas UNINASSAU, a pesquisa foi realizada com estudantes que estavam a caminho do Enem nos principais pontos de fluxo da cidade. Um outro ponto importante do levantamento é que do total dos entrevistados, 32% revelaram que já praticaram bullying contra alguém. Por outro lado, 68% negaram.

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"O bullying tem sérias consequências tanto para o agressor quanto para a vítima. Tanto aqueles que praticam o bullying quanto as vítimas são mais propensos a faltar às aulas, abandonar os estudos e ter piores desempenhos acadêmicos que aqueles que não têm relações conflituosas com os colegas", diz um estudo do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2015, dedicado ao bem-estar dos estudantes.

Quando questionados se a violência verbal e não verbal é constante nas escolas da capital pernambucana, 62% dos estudantes disseram que é "muito frequente"; 31% disseram que é "frequente" e 5% "pouco frequente". A pesquisa ouviu 624 estudantes que iriam participar do Enem no Recife. Em torno de 70% dos entrevistados tinham renda de até um salário mínimo.

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--> Um em cada 10 alunos no Brasil é vítima de bullying 

Os alunos do Colégio Goyases, localizado em Goiânia, voltam às aulas hoje (30). A escola ficou conhecida recentemente por conta do garoto que atirou contra os colegas, pouco mais de uma semana atrás, deixando dois mortos e quatro feridos. A direção do colégio fez reuniões com psicólogos, pais e professores de todos os alunos que frequentam o local, a fim de prepará-los para o retorno.

Duas meninas continuam internadas no Hospital de Urgências de Goiânia. A adolescente Marcela Rocha Macedo, de 14 anos, que foi atingida na mão, pescoço e tórax, passou por procedimento cirúrgico e respira sem a ajuda de aparelhos. Isadora Morais, também com 14 anos, teve os dois pulmões atingidos e sofreu uma lesão na medula, o que fez com que perdesse o movimento das pernas. As duas estão conscientes mas, sem previsão de alta.

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Durante coletiva concedida no dia 20 de outubro, o delegado Luís Gonzaga, responsável pelo caso, declarou que o adolescente disse em depoimento que se inspirou nos casos do atirador do colégio Columbine, ocorrido em 1999 nos EUA, e de Realengo, em 2011 no Rio de Janeiro. Ainda de acordo com o menino, sua intenção era matar o autor de bullying contra ele, e não a de ferir os demais colegas.

 

Um estudo realizado pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP), da Universidade de São Paulo (USP), identificou uma ligação estreita entre o bullying na escola e relações familiares conflituosas. Segundo a pesquisa, relações ruins dentro de casa são alguns dos fatores que afetam o comportamento de jovens e crianças no ambiente escolar.

“Essas relações são marcadas pela falta de diálogo saudável e de envolvimento emocional. Também está presente nessas famílias a má relação conjugal entre os pais/cuidadores e, ainda, as punições físicas exercidas pelos pais/cuidadores”, explica o pesquisador responsável pelo estudo, Wanderlei Abadio de Oliveira, conforme informações da assessoria de imprensa. Tanto vítimas quanto crianças e jovens que cometem bullying integram a pesquisa. 

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A análise identificou que as famílias dos estudantes envolvidos com bullying são consideradas “menos funcionais”. Na prática, de acordo com o estudo, esses familiares não fomentam sentimentos positivos, impedem boa comunicação no próprio lar, utilizam imposição e não debatem opiniões para tomadas de decisões. 

Por outro lado, o estudo encontrou caraterísticas nas famílias dos estudantes que não se envolveram com bullying. Nesses casos, há boa comunicação entre pais e filhos, existe cuidado, além de afeto. Os pais também procuram supervisionar os filhos sobre o que fazem nos tempos livres. 

Ao todo, 2.354 estudantes, entre 10 e 19 anos de idade, participaram da pesquisa. Eles pertencem a escolas públicas de Uberaba, em Minas Gerais. 

Há 18 meses em vigor no País, a lei antibullying, que prevê uma série de ações para identificar e combater esse tipo de violência nas escolas, ainda não virou realidade por problemas de fiscalização ou monitoramento dos casos e de práticas preventivas. Para especialistas, sem diagnóstico da situação, na prática, a obrigação recai apenas sobre os colégios, que podem ser até processados pelos casos.

O debate sobre o tema veio novamente à tona após o bullying ter sido apontado pela polícia como um dos fatores que levaram um adolescente de 14 anos a atirar contra colegas em uma escola de Goiânia na última sexta. Dois alunos foram mortos e outros quatro ficaram feridos. A investigação ainda está em curso e não há conclusão sobre o peso do bullying como motivo do crime.

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Desde fevereiro de 2016, está em vigor uma lei federal que determina ser dever de todas as escolas promover medidas de conscientização, prevenção, diagnóstico e combate ao bullying. As escolas devem capacitar todos os professores, fazer campanhas de educação, oferecer assistência psicológica e jurídica e instituir práticas de orientação também aos pais.

Um dos artigos da lei prevê que devem ser "produzidos e publicados relatórios bimestrais das ocorrências de intimidação sistemática (bullying) nos Estados e municípios para planejamento das ações". Questionado sobre quantos Estados e municípios haviam produzido esses relatórios, o Ministério da Educação (MEC) disse que eles não precisam ser encaminhados à pasta por causa da autonomia das redes de ensino.

Alessio Costa Lima, da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, diz que os projetos antibullying nas escolas ainda são "pontuais", já que não há ação sistematizada para todo o País. "O fato de a lei ser aprovada não significa que vai ser imediatamente cumprida. Muitas escolas ainda desconhecem." Ele diz não ter informação sobre quantos municípios produziram os relatórios.

Idilvan Alencar, do Conselho Nacional de Secretários de Educação, também diz não saber se algum Estado produziu os relatórios. "O bullying está fortemente presente nas escolas e, com crescimento de grupos que tentam impedir discussões sobre gênero, discriminação e intolerância em sala de aula, a tendência é de aumentar."

Diagnóstico

"Não há acompanhamento nacional, um programa que oriente escolas. O que há são boas ações pontuais, que nasceram do olhar de diretores e professores", diz Luciene Tognetta, especialista em psicologia escolar pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Em nota, o MEC diz que a lei é "basicamente para Estados e municípios" e informou estar desenvolvendo plataforma para ações de educação em direitos humanos, em que haverá categoria específica para o tema.

Particulares

Em escolas privadas, as estratégias vão desde o estímulo ao diálogo entre os alunos até a formação de grupos para treinamento sobre como identificar e lidar com as situações. No Colégio Bandeirantes, na zona sul de São Paulo, por exemplo, a direção fez parceria com uma universidade para treinar professores e alunos.

Uma das iniciativas foi criar equipes formadas por alunos de todos os anos do ensino fundamental, que passam a observar os colegas e oferecer ajuda. "Fizemos treinamento de dois dias, com várias situações hipotéticas e como deveríamos agir em cada uma", diz a aluna Carolina Ferrer, de 14 anos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump, defendeu nesta segunda-feira (23) a luta contra o bullying nas escolas, durante um ato em um instituto de Detroit, em uma campanha que gera indesejados paralelismos com a propensão do presidente Donald Trump de vociferar ataques e insultos.

"Acredito que é importante escolhermos a bondade e a compaixão", disse a estudantes da Orchard Lake Middle School, localizada em um subúrbio de Detroit, em uma visita como parte da campanha nacional para a prevenção contra o bullying e o abuso, que acontece em todo o mês de outubro.

A ex-modelo eslovena, mãe do filho caçula do presidente, Barron, de 11 anos, prometeu durante a campanha eleitoral de Trump que faria da luta contra o bullying nas escolas sua prioridade. Em setembro deste ano, ela mencionou o tema durante um discurso nas Nações Unidas.

No entanto, a escolha da causa tem gerado polêmica, já que Donald Trump tem como hábito lançar ataques pessoais contra seus rivais e críticos, referindo-se a características pessoais, como estatura, origem étnica e deficiências físicas.

A ação violenta do adolescente que atirou contra colegas de sala no Colégio Goyases, em Goiânia, na manhã de sexta-feira (20), põe em debate, segundo especialistas, a fragilidade do combate ao bullying nas escolas. Analistas ainda destacam que ações extremadas, como a registrada na escola, podem ter como origem uma série de fatores - e não apenas as agressões sofridas pelo adolescente.

"A maioria das escolas, tanto públicas como privadas, ainda tem um ambiente hostil e violento. Em geral, elas acreditam que os casos podem ser resolvidos apenas com conversas pontuais ou continuam na negação do problema", diz Ana Paula Lazzareschi, advogada especialista no tema. Para ela, colégios têm o dever de implementar programas efetivos de combate ao bullying e podem até ser processadas caso não comprovem as ações.

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O bullying é caracterizado como ato de violência física ou psicológica que acontece de forma intencional e repetitiva. A intimidação normalmente se dá de forma velada. Desde fevereiro do ano passado, uma lei federal estabelece como responsabilidade das escolas a promoção de medidas de conscientização, prevenção, diagnóstico e combate ao bullying.

"Ele (bullying) ocorre no parque, nas imediações da escola, no recreio. Em sala de aula, vai acontecer quando o professor está de costas ou dando atendimento individual a algum aluno. Por isso, é preciso um olhar atento às pistas que os alunos dão", diz a psicóloga Luciana Lapa, orientadora da Escola Stance Dual, em São Paulo, e pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem) das Universidades Estaduais de Campinas (Unicamp) e Paulista (Unesp).

Para Luciana, atitudes violentas podem ser resultado de vários fatores. "A experiência do bullying, o sofrimento prolongado, a falta de ajuda podem resultar em uma ação violenta. Nunca se sabe qual é a personalidade da vítima, sua situação familiar e se há problemas psiquiátricos."

Palco de um dos episódios que teriam inspirado o adolescente de 14 anos a atirar contra os colegas em Goiânia, a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, localizada na zona oeste do Rio, teve uma programação especial ontem: atividades sobre a importância da paz e o combate ao bullying. Mas foi mera coincidência.

A abordagem desse tema já estava prevista havia dias, contaram os alunos, e não se deveu ao ocorrido em Goiânia. O ataque de ontem não foi mencionado durante as atividades, e boa parte dos alunos soube do episódio apenas depois da aula.

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Em 7 de abril de 2011, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, entrou no local e, com dois revólveres, matou 12 adolescentes e feriu outros 13. Depois do caso, a Tasso da Silveira foi reformada e a entrada mudou de lado, passando para outra rua. Ganhou um moderno sistema de câmeras de segurança e hoje tem um guarda municipal permanentemente na portaria, que fica fechada.

A maioria dos alunos e professores que estuda hoje na unidade não estava lá no dia do episódio. A única referência que têm dele é um memorial criado em uma esquina da escola - uma praça ornamentada com estátuas dos adolescentes mortos. "Não consigo falar daquele dia sem começar a chorar", conta o carteiro Hercilei Antunes, de 51 anos, que mora em frente à antiga entrada da escola.

Um tiroteio ocorreu no início da tarde desta sexta-feira (20) no Colégio Goyases, em Goiânia. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) informou que duas pessoas morreram e outras cinco ficaram feridas. O colégio fica localizado no Conjunto Riviera, bairro de classe média, e é particular de ensino infantil e fundamental, segundo o G1.

As informações preliminares da Polícia Militar (PM) dão conta que o suspeito de realizar os disparos é um adolescente, estudante do 8º ano da mesma escola. Ele já foi apreendido. Ao G1, o coronel Anésio Barbosa da Cruz contou que o suspeito estaria sofrendo bullying e por isso se revoltou.

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Um estudante também contou ao G1 que o adolescente era alvo de bullying por não usar desodorante. "No intervalo da aula, ele sacou a arma da mochila e começou a atirar. Ele não escolheu alvo. Aí todo mundo saiu correndo", contou.

Os feridos foram socorridos pelo Corpo de Bombeiros. A TV Serra Dourada informou que todas as vítimas são alunas da escola. A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia afirmou que os feridos estão sendo levados para dois hospitais municipais: o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) e o Hospital Estadual de Urgências da Região Noroeste de Goiânia  Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol). 

Os dados assustam e fazem uma alerta para os pais, responsáveis e as instituições de ensino. De acordo com os índices divulgados pela BBC Brasil, entre 1980 a 2014 a taxa de suicídio aumentou 28%. Além disso, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o País é o campeão mundial do transtorno de ansiedade e o quinto colocado em pessoas com depressão.

Com esses dados, estima-se que 11,5 milhões de brasileiros sofram de depressão. Tendo em vista esse cenário e a divulgação de casos de jovens que passaram a atentar contra a própria vida; participando de desafios e jogos, como o da ‘Baleia Azul’, chegando inclusive a se mutilar; o alerta ficou ainda mais agudo entre as instituições de ensino e os pais desses adolescentes.

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Diante do problema, inúmeros questionamentos vieram à tona e a preocupação em relação à responsabilidade em prol da formação dos valores, do caráter e do fator emocional desses adolescentes tem aumentado. De acordo com doutora em Educação, especialista em conflitos na escola e professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Catarina Gonçalves, o problema deve ser trabalhado a partir de dois eixos: a prevenção e a intervenção, tando no ambiente escolar quanto no familiar.

"É muito importante a escola provocar o debate, porque os adolescentes têm muito acesso ao desconhecido, principalmente na internet. Além disso, a instituição de ensino é o local de convívio social, que proporciona situações e relações humanas que podem ser observadas, através do comportamento dos jovens, diariamente", diz a doutora.

A especialista ainda explica que as relações humanas sempre foram muito complexas e precisam ser observadas com mais atenção na fase da adolescência, uma vez que, nessa etapa da vida, se está no processo de formação de identidade, reconhecendo os valores e, na maioria das vezes, sente-se a necessidade de ser aceito e de se 'testar'.

Os jovens podem acabar sendo desrespeitosos e não se dão conta das consequências dessas ações. Por isso é imprescindível observar o comportamento social desses adolescentes, evitando inclusive conflitos na escola, como o bullying, que, se não identificado, pode resultar na depressão. "Por isso a importância das escolas ficarem atentas", alerta a especialista. Conforme as orientações de Catarina, a prática do Bullying permeia aspectos da moral, da identidade e da convivência que na maioria desses abusos são velados, E o Bullying só acontece quando quem recebe aceita, devido, inclusive, à fragilidade da formação da personalidade.

Para a doutora Catarina Gonçalves, esse cenário deve ser percebido através da intervenção, que é pontual, e da prevenção, que deve ser contínua, tanto na escola e quanto no ciclo familiar. "A escola e as famílias precisam ficar atentas ao comportamnto desses jovens e acompanhar o que eles estão assistindo e discutindo nas redes e fora delas, para poder avaliar os valores do conteúdo que eles têm acesso e das consequências", explica a doutora.

A escola particular Apoio, localizada na Zona Norte da Região do Recife, está atuando na prevenção e intervenção de problemas relacionados ao convívio social dos estudantes, bem como a formação de valores. De acordo com a psicóloga Alethêa Ferreira, a instituição de ensino propõe o protagonismo dos estudantes através de projetos que trabalham aspectos sociais e a formação pessoal

"Entendemos que a formação deve ser construída desde a Educação Infantil até o Ensino Fundamental II. A partir desse entendimento, disponibilizamos projetos que provocam várias questões ligadas à atitude, emoção e respeito, tornando os jovens mais atuantes e protagonistas", explica. 

Para realizar isso, a psicóloga elenca os trabalhos que são realizados na escola. "Normalmente visitamos asilos e os meninos levam o seu conhecimento, preparam apresentações culturais e fazem diversas atividades. Além dele, há também o projeto de leitura nas escolas públicas em que os adolescentes contam histórias e ajudam outras pessoas", diz.

Segundo Alethêa, essas iniciativas proporcionam reflexão e principalmente respeito ao próximo a partir da solidariedade. A psicóloga ainda ressalta que a escola também trabalha com o protagonismo dos estudantes através dos próprios conflitos. "A proposta é que os alunos levem para o debate os seus problemas e aflições para o próprio grupo de colegas, com isso, eles conseguem resolver e acabam, de certa forma, sendo os 'vigilantes' dos impasses, acompanhados da equipe e dos familiares", conta.

Em relação ao bullying, ao cyberbullying e às questões relacionadas à depressão e aos jogos de automutilação, a psicóloga reforça que é indispensável a atuação da família e dos professores no processo de observação. "É importante ficar atento ao comportamento dos jovens. Quando o aluno está mais instável, agressivo e distante, é necessário avaliar cada aspecto, conversar com o adolescente, a família e se for o caso realizar a intervenção e acompanhamento do problema, que pode desencadear a depressão."

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