Mal foi eleito o novo presidente do Brasil a partir do dia 1º de janeiro de 2019, Jair Bolsonaro (PSL) já acumula mais uma série de polêmicas como a possível ideia de fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, como também o convite feito ao juiz Sérgio Moro para comandar o superministério da Justiça. Em meio a tantas dúvidas sobre o que está por vir, em entrevista ao LeiaJá, parlamentares pernambucanos opinaram como o Congresso Nacional deve se “comportar” no governo do militar.
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No ponto de vista do deputado federal Daniel Coelho (PSDB), é cedo para avaliar como será o relacionamento de Bolsonaro com o Congresso. “Há de se esperar. Ele tem uma grande responsabilidade, pois tem a esperança depositada de milhares de brasileiros. O mínimo que espero é que cumpra com a promessa de ministério de pessoas com capacidade técnica, distante do modelo antigo de indicações partidárias”, disse. O tucano também falou que a vitória do militar foi fruto da decisão soberana do povo e que, por esse motivo, tem que ser respeitada.
A deputada federal eleita Marília Arraes (PSB) também falou sobre a importância de respeitar o resultado das urnas, no entanto, ressaltou que não se pode calar diante de tudo o que foi feito por Jair Bolsonaro e seus aliados afirmando que a campanha foi marcada pelo ódio, fake news e pelo fascismo. A petista salientou que teve quase 200 mil votos para representar e defender os direitos de nossa população. “Estarei, junto ao outras dezenas de parlamentares, na bancada de oposição, fiscalizando e lutando contra a retirada de direitos e em defesa de nossa democracia, que vem sofrendo sucessivos ataques”, avisou.
A neta do ex-governador Miguel Arraes criticou o convite de Bolsonaro a Moro. “O projeto desse golpe está ficando cada vez mais escancarado, basta acompanhar. A indicação do juiz Sérgio Moro para assumir um superministério da Justiça é a tradução literal do escárnio com que este governo trata todos nós. Quantas denúncias foram feitas, dentro do fora do Brasil, sobre o real objetivo da perseguição comandada por Moro contra Lula e o PT? A resposta, que nós já conhecíamos muito bem, está estampada em todas as manchetes agora”.
Por sua vez, o deputado Fernando Monteiro (PP) falou sobre fiscalizar o Executivo e propor novas soluções para os “velhos problemas” de sempre. “Esse trabalho passa por ouvir as pessoas, estudar e analisar cada situação. Esse é o caminho do desenvolvimento que vai gerar oportunidades e melhorar a vida das pessoas. O presidente foi eleito pela maioria dos brasileiros e respeitaremos a soberania de sua vontade, esta é a nossa função”.
Ele reiterou a importância da democracia. “Que é um exercício contínuo, precisamos trabalhar todos os dias para fortalecê-la. Eleitores e eleitoras foram às urnas e expressaram suas opiniões. Agora é papel dos representantes eleitos discutirem as dificuldades de suas regiões e do Brasil como um todo”.
De forma mais direta, no Senado Federal, Humberto Costa (PT) antecipou que da parte da oposição a proposta é construir uma ampla frente democrática que se oponha “vivamente” a toda a pauta de retrocesso defendida por esse governo de Bolsonaro. “Vamos oferecer toda a resistência a projetos que queiram lançar o Brasil no obscurantismo, vender o patrimônio nacional, retirar direitos e conquistas da população e, especialmente, dos trabalhadores”.
O petista e ferrenho crítico de Bolsonaro acrescentou que a relação do governo com o Congresso terá de ser pautada pelo respeito e pelo diálogo. “Bolsonaro não tem maioria em nenhuma das duas Casas e terá que abrir ampla negociação para temas sensíveis, ouvir a oposição, considerar o que falamos. Não vai poder tratorar o Legislativo”.
Humberto ainda fez questão, mais uma vez, de detonar o presidente eleito. “Bolsonaro é o que podia haver de pior para o Brasil. Sua eleição é uma ameaça à democracia, uma promessa de retrocesso. Nós respeitamos o resultado das urnas, mas registramos que ele é um presidente eleito por somente 39% do eleitorado. Outros 61% não o sufragaram. Então, ele terá toda a minha oposição como senador, especialmente porque sou representante de um Estado que deu 66% dos seus votos válidos a Fernando Haddad no segundo turno. Sou contra a sua pauta retrógrada e lutarei contra ela no Congresso Nacional”, avisou.
Nesta semana, parlamentares que compõe a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados avaliaram as propostas de Bolsonaro para a área. De acordo com o presidente da comissão, Danilo Cabral (PSB), disse que ao parlamentares especialistas em educação avaliaram como positivo o foco do programa de governo do militar na melhoria do ensino básico, mas teriam mostrado preocupação com a avaliação de que um dos maiores problemas do sistema seria a "forte doutrinação".
O coordenador da Frente Parlamentar da Educação, deputado Alex Canziani (PTB), também pede atenção para o projeto Escola sem Partido, que está em tramitação na Câmara. Para ele, a proposta pode causar interferência na atuação dos professores. "Acredito que não seja o melhor caminho você cercear a liberdade do professor. É óbvio que nós não queremos que haja ideologia, nós não queremos que professores fiquem criando nos seus alunos uma ideologia, mas você não permitir que haja discussão, que haja a possibilidade de se trocar ideias a respeito disso, seria cercear muito a atividade do professor”, argumentou.
Apesar de os políticos preferirem em sua maioria, neste primeiro momento, não apostar como será o governo devido às indefinições, em entrevista anterior ao LeiaJá, o cientista político Pedro Soares deixou claro que Bolsonaro poderá comandar o país com mais “facilidades” do que seria o caso de Fernando Haddad (PT), candidato derrotado no pleito. Um dos principais motivos seria pelo capitão da reserva ter o apoio da maioria das bancadas destacando a ruralista, a da ‘bala’ e a evangélica. Outro fato é que o Congresso Nacional terá uma composição mais conservadora do que a observada até o momento.
Outro ponto que não pode ser descartado é que Bolsonaro vai chegar ao Palácio do Planalto respaldado por três dos seus filhos, que também são políticos. O mais novo, Eduardo Bolsonaro, aos 34 anos, conseguiu ser reeleito na Câmara com a maior votação da história do país com mais de 1,8 milhões de votos. Já Flávio Bolsonaro (PSL), 37 anos, também deu um grande salto: de deputado estadual vai estrear no Senado Federal. Ele recebeu mais de 4 milhões de votos. Ainda tem Carlos Bolsonaro, 35 anos, que é vereador e está no seu quinto mandato no Rio.
Enquanto não se sabe ao certo o novo rumo do Brasil, Bolsonaro continua definindo a sua equipe. Ele tem direito a indicar um grupo de até 50 profissionais para trabalharem em Brasília no time de transição, que podem ter acesso a todas as informações do governo Temer. Os ministros do atual presidente também precisam entregar relatórios sobre as atividades de suas respectivas pastas para a equipe do presidente eleito.