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O Programa Mãe Coruja Recife está recebendo, até o fim do mês de agosto, obras de histórias infantis para doar a 650 famílias que fazem parte do programa realizado pela Secretaria de Saúde (Sesau) do Recife. As doações farão parte de kits que também terão álcool a 70% e são uma maneira de instigar o hábito da leitura entre os pequenos, além de reforçar os cuidados com a higiene pessoal no atual cenário de pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

Quem tiver interesse em colaborar, pode entrar em contato por meio do e-mail maecorujarecife@gmail.com ou pelo telefone: (81) 3355-9331, e marcar horário para uma equipe da Sesau Recife ir buscar os livros doados. Vale ressaltar que os livros precisam ser lúdicos, contar histórias infantis e precisam estar em bom estado de conservação.

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A ideia de produzir os kits surgiu com a doação de 650 exemplares do livro “Carta às meninas e aos meninos em tempos de covid-19” realizada, no início deste mês, pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, que realiza ações para beneficiar a Primeira Infância. A empresa 'O Boticário' também doou o mesmo número de frascos de álcool a 70%.

No ponto de vista da coordenadora do Programa Mãe Coruja, Cláudia Soares, esta ação é uma forma de conscientizar as famílias que fazem parte do programa sobre o momento da pandemia. “Levar informação para essas pessoas é a principal forma de ajudar a frear a proliferação do novo coronavírus. E tanto o livro que fala da covid-19 de uma forma simples como o álcool são, neste momento, as nossas ferramentas para isso”, afirmou ela, segundo informações da assessoria de imprensa da Prefeitura do Recife.

A ação, que já arrecadou 230 livros na última semana, destaca que um dos mecanismos para o bom desenvolvimento infantil é o hábito de ler. “Por isso, estamos pedindo a doação de livros mais lúdicos, com histórias que prendam a atenção das crianças. Queremos que essas famílias possam fazer, em casa, um cantinho especial da leitura, por exemplo, e saibam a importância de ter um momento para contar histórias para as crianças”, ressaltou Cláudia Soares, segundo informações da assessoria.

A internet chegou ao Brasil no ano de 1988 e sua exploração comercial teve início a partir de 1994, com um projeto piloto da empresa Embratel, fato transformador na vida das gerações que vivenciaram tal transformação ou nasceram depois dela.

As mudanças que ocorreram com a conectividade abrangem todas as áreas da vida cotidiana e a educação não ficaria de fora: hoje é quase impensável, para a geração de nativos digitais, fazer um trabalho manualmente ou pesquisar sem abrir sites de busca on-line, bem como educação a distância se intensificou devido à Covid-19.

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No entanto, muito antes da internet ser sequer criada, as pessoas estudavam e ensinavam com o que tinham  disposição: recursos offline. O LeiaJá ouviu estudantes e professores para falar do processo de ensino e aprendizado antes da internet surgir e explicar como se desenvolveram as tecnologias aplicadas à educação. 

Em vez de Google, Barsa

Livros, enciclopédias, jornais, revistas, radiolas, toca-fitas, computadores sem monitor e até mesmo equipamentos cujo nome deve ser desconhecido e soar estranho para os mais jovens, como por exemplo “mimeógrafo”, faziam parte do cotidiano de algumas pessoas que foram estudantes em tempos offline.

O ex-bancário e administrador Edmar Bezerra Torres tem 59 anos e foi aluno da Escola Estadual Cristo Rei, na cidade de Pesqueira, Agreste de Pernambuco, a 214,3 km do Recife, e relata estudar pelo caderno com anotações feitas nas aulas. “Naquela época, os livros serviam para vários anos, quando a gente ia passando de ano, ficava para os mais novos. O professor escrevia no quadro negro com giz branco e a gente estudava pelos cadernos”, relembra.

Filho de um operário da antiga fábrica 'Peixe' e de uma dona de casa, Edmar conta que a falta de recursos financeiros dificultava a compra de materiais de leitura e pesquisa. “Na biblioteca eu sempre lia literatura brasileira: Machado, Érico Veríssimo, Aluízio de Azevedo, Casimiro de Abreu. A pesquisa era através de enciclopédia, revistas. A Barsa era a mais famosa. Existia também uma chamada Tesouro da Juventude, era bem diversificada. Existia uma revista chamada Seleções, que era bem completa, a gente lia muito. Normalmente o trabalho era em equipe, a gente sempre ia na casa dos colegas fazer o trabalho. Eram manuais, na munheca”, acrescenta Edmar. 

Um cenário bem distinto foi percebido na chegada ao ensino superior, em uma época que, segundo o ex-bancário, a internet já existia, mas ainda não era difundida como está atualmente. “Era parecido com hoje, pois não faz tanto tempo que cursei, mas não tinha esses recursos da internet não. Em 1980, quando entrei no banco [para trabalhar], cada conta-corrente era uma ficha gráfica, a gente lançava os débitos e créditos, os lançamentos contábeis eram feitos na máquina de datilografia e contratos feitos à mão. E agora com a pandemia, as aulas são virtuais, videoconferência, live, tudo mudou muito”, conta.

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Zilma Barros de Almeida e Silva tem 60 anos, estudou o “científico” (uma das modalidades do antigo colegial, equivalente ao ensino médio) no Ginásio Pernambucano, é bancária aposentada, foi engenheira química formada pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), onde ingressou em 1977 aos 17 anos. Em sua época de colégio, ela conta que as aulas eram tradicionais e os recursos extras disponíveis eram, no máximo, bibliotecas, laboratórios e raras vezes um projetor. 

“Basicamente eram o professor e quadro negro. Professor ensinava sem grandes tecnologias porque não tinha. Tinha uma biblioteca para quem não tivesse livros, e pessoas da parte de biologia trabalhavam em uma biblioteca de pesquisa, coisas que a gente aprendia no laboratório. Os trabalhos eram apresentados em cartolinas", descreve.

Os estudos para provas costumavam se basear tanto nos cadernos quanto em livros indicados pelos professores. O custo deles era muito alto e, impossibilitada de comprar, Zilma recorria tanto à biblioteca do colégio quanto a outras que ficavam perto dele, como o Gabinete Português de Leitura da Rua do Imperador e a Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, próxima ao Parque 13 de Maio, ambas na região central do Recife, onde ela estudava e também buscava material para pesquisar e fazer seus trabalhos.

“Era enciclopédia a fonte de pesquisa mais apurada, a Barsa era bem famosa na época, a gente sempre buscava estudar e pesquisar na Barsa. Também jornais, pesquisas, artigos, teses. Todo trabalho que a gente fazia o professor queria saber a fonte, tinha que ter um embasamento, o Ginásio sempre foi um colégio de referência”, diz Zilma. 

A chegada de novas formas de tecnologia, com o passar do tempo, trouxe a necessidade de se adaptar ao novos modelos de ensino e ferramentas, quando Zilma chegou ao ensino superior. As dificuldades, adversidades e necessidade de se adaptar ao desconhecido, no entanto, não a impediram de seguir estudando e realizar sonhos. 

“A tecnologia foi entrando e eu tendo que aprender as coisas. Na UPE teve prova no computador e eu não sabia nem mexer. Teve cadeira no computador e eu tive que aprender. Foram muitos desafios. Uma coisa importante é ter a mente aberta, não ter medo, meter a cara e ir. Sempre gostei de desafio, dá um frio na minha barriga, mas eu sempre gostei de desafio, conhecer o novo. Na universidade foram muitas coisas que eu não sabia e tive que aprender. Até hoje é assim. Quando a pessoa se propõe a uma coisa e tem sonhos, tem que ir atrás. Eu acordei de 4 horas da manhã, dei conta de uma filha, não foi fácil. Tive que abrir mão de muitas coisas, não foi fácil. Você não pode ter tudo, tem que ter paciência. Você vai conseguindo, mas com esforço”, conta Zilma. 

Foto: Edivane Maria Tôrres/Cortesia

O que a tecnologia muda no ensino? 

A professora de língua portuguesa Maria de Fátima de Oliveira tem 54 anos, dos quais 27 foram dedicados à docência de alunos da educação básica no ensino público, e atualmente leciona na Escola Estadual Pintor Lauro Villares, localizada na Comunidade de Roda de Fogo, no bairro de Torrões, Zona Oeste do Recife. No início de sua carreira, em 1993, os recursos disponíveis eram limitados, em termos de tecnologia, e Fátima lançava mão de outras estratégias para dar aulas mais diversificadas às suas turmas. 

“No início, eram os livros impressos, quadro verde com giz branco. Dicionários, gibis que eu levava de casa e recortes de jornais com notícias, reportagens, anúncios publicitários, tirinhas, charges e cartuns dos jornais que eu tinha assinatura. Boa parte destes recursos era providenciada por mim. Também eu costumava levar CDs para as escolas, quando havia onde tocar. Acho que a partir de 2007, eu fui fazendo projetos iniciados com canções e filmes, para sensibilizar os estudantes sobre os projetos que íamos trabalhar no bimestre”, recorda a professora. 

A elaboração das provas também era mais difícil pela falta de recursos tecnológicos, e principalmente financeiros das escolas, uma vez que não adianta que a tecnologia exista se ela não estiver ao alcance dos alunos e professores. Por exemplo, em um dos relatos para esta reportagem, Fátima conta que até o ano de 2007 uma das escolas onde trabalhava utilizava equipamentos de cópia e impressão que eram considerados arcaicos para a época e dificultavam o trabalho.

“Minhas provas eram feitas no mimeógrafo [uma espécie de ‘avô da impressora’], colocava o álcool e muitas vezes manchava as provas, ficavam ou muito claras ou borradas. Só a partir de 2007 a escola onde eu trabalhava comprou uma copiadora e passamos a fazer cópias de provas e outros gêneros textuais, com a verba da escola”, relembra ela. 

Fátima costumava ir a editoras em busca de dicionários, livros do professor e paradidáticos para auxiliar na preparação de suas aulas em uma época que ainda não existia a política de distribuição gratuita de livros didáticos do Ministério da Educação e o custo deles, assim como hoje, era muito alto, principalmente para alunos e professores de escolas da rede pública de ensino. “A saída era escrever no quadro ou eu fazia apostilas resumidas com os assuntos mais importantes e exercícios e fazia cópia com um dinheiro arrecadado dos estudantes, quando havia esta solicitação da parte deles”, descreve a educadora.

Avaliar o conteúdo produzido pelos estudantes nos trabalhos de pesquisa escolar era, também, uma dificuldade em um cenário em que não existia o apoio de tecnologias como computadores e internet e o acesso a livros e enciclopédias também era dificultado pelo custo. Além disso, problemas comuns no ensino público brasileiro, como a defasagem de aprendizado e letramento, segundo Fátima, também dificultavam esse processo. 

“Eu mesmo não tendo feito o antigo magistério, e não ter aprendido a alfabetizar pessoas, tive que me virar para a fazer o letramento de estudantes no ensino médio! Eu perguntava às amigas e colegas de trabalho que trabalhavam no ensino fundamental, turmas iniciais, antigo primário, o que elas faziam e foi quando comecei a usar os meus gibis da Turma da Mônica. Boa parte das pesquisas e trabalhos que me eram entregues, era de meras cópias mal feitas de enciclopédias ou de livros que eles e elas conseguiam com muita dificuldade. Livro em casa de estudante de escola pública é um artigo de luxo! Os que eles têm são os livros didáticos, que depois da publicação da nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em 1996, foi aprovado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), uma verba que garantia esta distribuição de livros didáticos gratuitos, mas que deveriam ser usados por três anos. Ou seja, no final do ano eles devem ser devolvidos às escolas”, relatou ela. 

Questionada sobre as mudanças trazidas pela tecnologia e conectividade que a internet proporciona, Fátima elogiou as facilidades que as ferramentas on-line trazem para professores e estudantes, mas apontou, outra vez, a questão da falta de acesso de grande parte da população a tais bens tecnológicos. “Estas novas ferramentas tecnológicas abrem muitas possibilidades. O Google Classroom é fantástico! Teremos a possibilidade de usar o Google meet, mas até agora, poucos estudantes conseguiram se cadastrar no e-mail educacional que a Secretaria de Educação criou o para eles. Eu também ainda estou aprendendo a usar. Começamos a usar, a partir de abril de 2020, um grupo de zap por turma para interagir com os estudantes e eles enviavam as respostas das atividades por um e-mail criado também pela escola para cada turma, mas poucos acessam o WhatsApp, na hora em que estamos dando a aula”, pontua a professora.

Luciano Meira tem 28 anos de experiência como docente, carreira que iniciou com formação em pedagogia e seguiu com mestrado em psicologia cognitiva e doutorado em educação matemática.Ele, atualmente, é professor adjunto do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), nas áreas de ciências da aprendizagem e psicologia cognitiva.

Ao longo de sua carreira como docente e pesquisador, Luciano não apenas presenciou o surgimento e desenvolvimento da aplicação da tecnologia em salas de aula, como também participou desse processo. “Os primeiros projetos de tecnologia educacional datam do começo da década de 80. Naquele momento, projetos como o Educom que rodavam em várias universidades, eram projetos de instaurar na universidade pesquisas e reflexão sobre os usos de computação e computadores no ensino universitário e ensino básico. Eu fazia mestrado e fui bolsista de Educom, em cerca de 1985. Foi um dos primeiros projetos sistemáticos organizados nacionalmente para implementar pesquisas direcionadas à tecnologia educacional no país. Não era o único, mas um dos mais relevantes”, conta o professor.

O início da inserção de computadores e redes educacionais no ensino básico, segundo Luciano, foi nos anos 90, em uma época que as secretarias de educação começavam a prestar atenção a essa tecnologia que no período era nova e ganhava projeção internacional. “Mas se hoje ainda temos muitas dificuldades de conectividade com a banda larga nas escolas de ensino público, imagine anos 90. Eram computadores, não era internet. Passamos num projeto para organizar os chamados laboratórios de informática. Era tudo muito nascente, a maioria das escolas usava os computadores para texto, em vez do papel, usavam o Word. No final dos anos 90, já tinha os cds multimídia com jogos para instalar, era o acesso para o mundo imagético para além dos editores de texto, mas sempre em torno às visitas ao laboratório de informática”, comenta ele, lembrando também que na época era comum a figura do professor de informática orientando os alunos, sem interação direta entre os professores da sala de aula e os laboratórios de informática, cenário que só mudou quando as escolas passaram a ter internet.

Falando sobre um passado mais distante, vale lembrar que computadores e internet não foram as únicas formas de tecnologia que se aliaram aos professores e alunos no processo de ensino e aprendizagem. “A TV e o videocassete eram a sensação dos anos 70 e ainda no começo dos anos 80, o telecurso. Descobriu-se que a TV, filmes, vídeos explicativos, poderiam apoiar as aulas dos professores porque podiam ilustrar situações difíceis de representar com imagens estáticas dos livros ou apenas a oralidade. TVs e videocassetes estavam presentes em salas de aula que podiam, porque eram equipamentos caros. Era isso que era tecnologicamente mais avançado antes mesmo dos computadores surgirem”, lembra o professor. 

Além disso, existiram outros equipamentos que eram utilizados para visualizar imagens na parede das salas de aula coletivamente, através de filmes e feixes de luz que projetavam o que estivesse no filme: os retroprojetores, que ganharam versões high tech com a chegada dos computadores. O professor Luciano fez questão de lembrar, no entanto, que os equipamentos mais antigos não eram ruins quando bem utilizados. 

“No final dos anos 90, surgiu a impressora de slides, a gente podia pegar um cd-rom, imprimir no slide e levar para sala de aula. Essas coisas não eram ruins nem boas, elas dependiam de como eram usadas. Pegar instrumentos e criar uma abordagem inovadora, prática didática que promova uma prática didática. Precisa criar experiências, os equipamentos não criam por eles mesmos”, opina o docente.

Questionado sobre a maneira como o surgimento e aperfeiçoamento da tecnologia e das conexões entre equipamentos eletrônicos impactaram e seguem modificando a educação no que diz respeito ao trabalho e formação profissional dos professores brasileiros, Luciano afirmou que “os processos de adaptação dos sistemas de ensino, em geral, são mais lentos que a sociedade tomada mais largamente” e isso tem diversas razões para acontecer".

“Uma [das razões] é que as escolas estão comprometidas com currículos e você não os muda do dia para a noite, eles têm que ser repensados. A Base Nacional Curricular Comum (BNCC) é uma forma de rever os currículos, levou quatro anos para ser aprovada e foi abandonada por esse governo imbecil. Não é que o professor é resistente, é que a nação não se organizou suficientemente para organizar o sistema de ensino. A segunda é que os artefatos digitais não são pensados para a escola. E o terceiro [motivo] é que sistemas de ensino são complexos, de incertezas e atores demais envolvidos. Tem os estudantes, professores, suas famílias, os gestores, ordenadores de despesa, é extremamente complexo”, argumenta.

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Na madrugada da última sexta (7), criminosos invadiram a Escola Estadual Indígena Marechal Rondon, localizada no aldeamento do povo fulni-ô, em Águas Belas, no agreste de Pernambuco. Além de atear fogo na escola e em seu patrimônio, incluindo materiais didáticos, eles deixaram mensagens ofensivas nas paredes, a exemplo dos dizeres: “vão ‘tudo’ tomar no c*”.

Por meio de nota, a Polícia Civil de Pernambuco informou que um boletim de ocorrência foi registrado no sábado (8), na Delegacia de Águas Belas. A instituição instaurou um inquérito e investiga o caso.

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Em um vídeo que circula na internet, é possível observar mesas e armários revirados, bem como uma fogueira formada pelo patrimônio da escola. Os fulni-ô destacam-se por ser o único povo indígena do nordeste brasileiro que conservou seu idioma próprio vivo, o Yaathe. Na unidade educacional vandalizada, as crianças da comunidade tinham o aprendizado da língua como rotina.

Uma série de fatores cerca a rotina dos estudantes na medida em que dedicam tempo em preparações para processos seletivos. Culturalmente, por exemplo, existe uma pressão social para que tenham sucesso em suas carreiras, da mesma forma que eles próprios se cobram no percurso até a tão sonhada aprovação. Bom rendimento, para os alunos, é um dos principais objetivos durante os estudos.

Esse conjunto de fatores, aliado à autocobrança, também traz uma perigosa análise no ambiente estudantil. Existem estudantes que compararam as suas estratégias de estudos aos métodos que outros alunos utilizam para absorver os conteúdos, em especial nas fases que antecedem vestibulares e a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

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Porque você não consegue produzir um resumo esteticamente bonito, colorido e cheio de letras cuidadosamente traçadas, não quer diz que você está para trás na corrida pela aprovação. Outro exemplo é quando um candidato identifica que o seu concorrente estuda mais horas líquidas que ele. O resultado é um desânimo, causado justamente por essa e outras comparações que levam um estudante a achar que o seu método de preparação é inferior aos demais.

Em sua trajetória de estudos, a recifense Amanda Tavares, de 18 anos, sofreu ao comparar a forma como estudava com os modelos de preparação dos concorrentes. Sonhando em ingressar na graduação de medicina, a jovem sentia os efeitos da ansiedade ao pensar, erroneamente, que a maneira com que os outros estudavam era superior à sua. Atualmente, Amanda é caloura de medicina da Universidade de Pernambuco (UPE).

Dino Rangel coleciona experiências na área docente como professor de geografia. Também é psicólogo e acompanha de perto a dura rotina dos estudantes que, sob a pressão da aprovação, dedicam energia aos estudos. Antes de descrever os efeitos negativos da comparação, Rangel propõe uma reflexão que nos leva a identificar por que comparamos os nossos métodos de preparação.

“Como é que você está? Porque, quando nós paramos para pensar, para refletir sobre a questão do que o outro faz, se faz bem, melhor, pior do que eu... Quando me coloco na comparação desse outro, é importante parar e pensar: como eu estou? Por que devo me comparar com esse outro? Essa comparação me fez crescer, me faz ser melhor?”, reflete o psicólogo.

De acordo com o especialista, o ser humano é singular e subjetivo. Nesse sentido, a humanidade possui formas diferentes de desempenhar os processos. “Nós temos, em cada um de nós, um potencial diferenciado e uma forma diferente de fazer as coisas. É necessário compreender que, para uma prova de concurso ou Enem, é necessário que possa dar o meu melhor de acordo com aquilo que eu compreendo, com o que eu penso que é importante e positivo para mim. Então, nada melhor do que fazer aquilo da minha forma”, explica o psicólogo e professor.

Rangel orienta que o estudante não deve ficar preocupado se o colega faz um resumo muito melhor, se escreve melhor ou se faz um planejamento superior. “Pelo contrário, tenho que parar para pensar o que estou fazendo comigo. Será que me valorizo? Será que compreendo a minha importância? E se eu compreendo a minha importância, por que não me aceito? Por que eu não faço do jeito que eu compreendo que é a minha forma de fazer?”, questiona.

Com essa reflexão, de acordo com o professor, o aluno poderá desempenhar as suas atividades da melhor maneira, adaptada às próprias características, e não da forma como os outros acham que é o melhor.

“Não será como o outro quer, mas sim como eu quero. Então, assim, eu poderei atingir o meu objetivo”, exclama o especialista. “Aceite a sua forma de estudar, claro, procurando cada vez mais melhorar, mas não tendo o outro como meio de comparação. Assim, você vai atingir de forma satisfatória e plena as suas metas”, acrescenta o psicólogo.

Segundo Dino Rangel, é indicado que os estudantes busquem o apoio de profissionais especializados que possam ajudá-los a preparar um cronograma de estudos, além de revelarem dicas que possam aprimorar as metodologias de aprendizado. Psicólogos, pedagogos, psicopedagogos e professores podem contribuir nesse processo.

Na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), há questões acerca de literatura, que são cobradas na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Diversos são os autores e as obras que fazem parte do cronograma de conteúdos recomendados para estudo dos candidatos. Pensando em auxiliar quem planeja fazer o Enem, o LeiaJá entrevistou quatro professores que indicaram possíveis livros a serem pedidos.

Vidas Secas

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Segundo o professor Felipe Rodrigues, a obra Vidas Secas, do autor Graciliano Ramos, da Segunda Geração do Modernismo, deve cair na prova de Linguagens do Enem. “Então, questões que denotam o modernismo brasileiro são muito batidas dentro da proposta de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Por esse motivo, tal qual outros autores, Graciliano traz um retrato bem árido sobre a realidade da seca, inclusive essa aridez é retratada pela desnecessidade de adjetivos, de um livro mais seco, de um livro mais objetivo, que é uma característica dessa obra, inclusive que traz a essência da região, a essência desse clima, dessa sociedade que vive à mercê das condições edafoclimáticas", explica Rodrigues.

"Então, ele tem 13 capítulos e aí seus primeiros e últimos capítulos eles têm títulos bem emblemáticos, mas que narram realidades da seca. O primeiro tem a questão da mudança e fala um pouco sobre essa questão da adaptação à seca. Já a fuga fala sobre o êxodo rural, que é outra readaptação quando não se tem mais o que fazer. Tem-se personagens bem célebres, como, por exemplo, o Fabiano, um homem tipicamente nordestino, tipo vaqueiro; tem a esposa de Fabiano, sinhá Vitória, que é uma mulher religiosa, trabalhadora, cuida dos filhos, ajuda também o marido nesse trabalho e aí eles falam um pouco sobre sonhos, sobre realidades”, conta, ainda, o docente.

De acordo com o professor, alguns escarnecimentos são colocados em foco na obra. “Por exemplo, enquanto um filho quer aprender a ler alguma coisa e não se sabe, é aquele dilema da falta de oportunidade, falta de crescimento que é dada a algumas pessoas, a alguns grupos populacionais, é colocado em xeque o descaso que essas pessoas têm e os próprios rumos que elas têm que tomar sem auxílio de outrens. A cachorra Baleia, eu vou já entregar algo, que é sacrificada por conta desse decorrer anterior à fuga do andamento do livro, é colocada em xeque como uma figura, assim, como membro da família, que pensa, que sonha, como se fosse gente mesmo, fosse pessoa, como se fosse a ideia de muitas vezes de personificação dessa cachorra, mas que no final ela também é colocada em xeque à sorte e morre por conta dos problemas inerentes à vida desses seus donos, que, no final, tentam fazer de novo seu futuro, deixando tudo para trás”, finaliza o professor.

A Hora da Estrela

A professora de literatura e redação Josicleide Gulhermino selecionou o livro A Hora da Estrela, da escritora ucraniana naturalizada brasileira Clarice Lispector. “Considerada uma das maiores escritoras da literatura nacional, Clarice escreveu romances, crônicas, contos e afins. Oficialmente está vinculada à terceira fase do Movimento Modernista e sua literatura concentra-se nas profundezas do "ser", explicou a docente.

O ano de 2020 é do centenário de nascimento da autora de A Hora da Estrela, seu último romance e talvez o mais significativo, por ser o único em que se identifica a temática social mais evidente. Na obra, Clarice presenteia os leitores com Macabea, uma jovem alagoana que, como muitos nordestinos (durante muito tempo), fugindo à miserabilidade, vai tentar a sorte na cidade grande. No caso da personagem, o Rio de Janeiro.

"Macabéa tem pouca instrução, aparência ruim, cheiro desagradável e em um dado momento da narrativa precisa mastigar pedacinhos de papel para enganar a fome; teve pouco ou nenhum momento de felicidade e, como se não bastasse, seu namorado a troca por sua amiga. Todavia, a esperança renasce quando ela visita uma cartomante que faz excelentes previsões. O fim da narrativa, contudo, contraria o que foi dito”, explica Josicleide.

A professora conta que pelo fato de o Enem focar em questões da atualidade e o livro permitir a reflexão sobre muitas mazelas sociais atuais, a leitura da obra é importante para o exame deste ano. “Pelo fato de o Enem ser uma prova que atua na perspectiva da atualidade e a obra citada possibilita a reflexão sobre vários problemas sociais vigentes, como desigualdade, fome e afins; além do centenário de um dos grandes nomes da literatura brasileira, A Hora da Estrela’ se converte em uma leitura necessária para o exame deste ano”, diz Josicleide Guilhermino.

Memórias Póstumas de Brás Cubas

O professor de redação Diogo Xavier optou pelo livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, do autor Machado de Assis. “Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma obra icônica de Machado de Assis, frequentemente abordada na prova do Enem, por ser fonte infindável de análises, tanto nos aspectos literários e composicionais quanto para a interpretação. Diante disso, é importante que o fera leia o livro ou, pelo menos, conheça bem o enredo e os detalhes do romance”, aconselha.

Xavier discorre, ainda, sobre a história da obra citada, a qual ele julga importante para o exame. “Publicada em 1881, é a obra inaugural da fase realista de Machado de Assis e do próprio Realismo no Brasil. Representa uma revolução tanto de ideias e de formas. De ideias, porque aprofunda o desprezo pelas idealizações românticas, fazendo emergir a consciência nua do indivíduo, fraco e incoerente; de formas, pela ruptura com a linearidade da narrativa e do estilo "enxuto". Importante ressaltar que a mulher, de idealizada no Romantismo, passa a ser, nas mãos de Machado e de outros autores realistas, a causa dos pecados dos homens, a serpente, a causadora da discórdia, da loucura.

"Machado apresenta uma história lenta, cheia de digressões e narrada de maneira irônica por um “defunto autor”, conceito explicado pelo protagonista logo no início da obra. Livre e descompromissado com a sociedade, Brás Cubas, à medida que narra sua vida, revela e analisa não só os motivos sórdidos de seu próprio comportamento, como também desnuda todas as hipocrisias e vaidades das pessoas com quem conviveu. As reflexões do narrador intruso pontuam todo o texto, impregnando-o de um pessimismo radical, que vê os homens como seres corruptos, hipócritas e egoístas, como ele mesmo o era", diz o Diogo Xavier.

"Nada resiste a essa análise impiedosa do comportamento humano, e suas últimas palavras resumem bem essa visão amarga da existência: 'Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria'. O aspecto fantástico do romance (afinal, um defunto conta suas memórias) e o tom irônico e zombeteiro do narrador fazem de Memórias Póstumas de Brás Cubas uma obra ímpar na literatura brasileira, e explorada não só na prova do Enem, mas em inúmeros outros concursos e vestibulares”, conta o professor.

O Quinze

Talles Ribeiro, professor de literatura, escolheu o livro O Quinze, da escritora Rachel de Queiroz, como um livro que deve cair no Enem. “Uma leitura que não pode faltar para quem se prepara para o Enem deste ano é O Quinze, de Rachel de Queiroz", garante o docente.

"É notório que o Enem tem sua abordagem influenciada por temáticas políticas. Durante os governos progressistas era comum que o exame abordasse temáticas mais sociais como por exemplo: questões ligadas a Negritude, Desigualdade Social, Preconceito às Minorias.... Pois essas eram bandeiras levantadas por aquele campo político. Hoje, o Governo Federal levanta outras bandeiras, estas como: Patriotismo, Família, Valores Cristãos...", explica Talles.

"Desta maneira, dentro do caderno de Linguagens, as escolas literárias que abordam esta temática, tais como o Romantismo que inicia um processo de valorização nacionalista na literatura e o Modernismo que edifica esse projeto, não podem passar desapercebidas pelos feras", completa o professor.

""Nesse contexto trago uma obra importante da Segunda Geração do Modernismo, geração essa conhecida como regionalista, justamente por abordar as temáticas acerca do Brasil in loco (regionalmente), que devido ao contexto histórico focou sua análise nas mazelas sociais que caiam sobre o povo brasileiro principalmente a população do Nordeste”, diz o professor.

“O Quinze foi o primeiro romance escrito por Raquel de Queiroz. Publicado originalmente em 1930, este romance trata dos eventos de uma seca terrível que abateu o sertão nordestino em 1915. O Romance é contado focando-se em dois núcleos. A priori, os enredos dos núcleos aparentam não se relacionar, mas a uma altura da narrativa é possível perceber encruzilhadas nos caminhos deles", conta Talles.

O primeiro núcleo é composto por Conceição, uma professora solteira de 22 anos de férias na fazenda da família e Vicente, um vaqueiro filho de um proprietário de terras. O casal flerta durante a narrativa. Enquanto a seca castiga é bonito perceber que o amor floresce nos corações sertanejos, mesmo em meio a tanta miséria e desespero.

O outro núcleo é composto por Chico Bento, Cordulina e seus três filhos. Eles moravam em uma fazenda em Quixadá de propriedade da dona Maroca. Com o agravamento da seca a proprietária decide soltar o gado a sua própria sorte encerrando assim os serviços da família de Chico Bento na Fazenda. Desolado e desempregado, Chico Bento inicia uma dolorosa retirada com a sua família para Fortaleza a pé, já que não tinham o dinheiro da passagem. 

"A narrativa é de uma crueza espetacular, emocionando o leitor a cada desdobramento do enredo. A dor de Chico Bento e família é sentido na pele e a reflexão sobre a vida dura e sofrida do sertanejo é uma constante durante todo o romance”, finaliza Talles.

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A apresentadora Xuxa Meneghel resolveu investir seu tempo em novo projetos, entre eles livros infantis. Durante o programa ‘Otalab’, no canal do ator Otaviano Costa, a rainha dos baixinhos revelou que um dos livros infantis incluirá a temática LGBTQIA+.

"Tem um (dos livros), que é o meu xodó, que é a história da Maia. Uma menina arco-íris, que tem duas mães, que é minha afilhada. Fiz esse livro pensando em tudo o que a gente está passando, tanto preconceito, tanta discriminação, tanta gente julgando as pessoas pelas suas escolhas, condições ou vontades. Aí eu tentei colocar de uma maneira lúdica, bonita. Para que as crianças possam entender que o amor é mais importante do que qualquer coisa", explicou Xuxa.

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Além desse tema, a apresentadora também irá abordar o veganismo, de forma lúdica para as crianças. Xuxa também está escrevendo um livro autobiográfico, com as memórias de sua carreira. A rainha ainda não divulgou quando os projetos serão lançados.

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) fez com que as pessoas precisassem se adaptar a este novo momento, uma vez que é preciso seguir orientações para evitar a contaminação pelo vírus, e uma delas foi o isolamento social. Essa fase, porém, pode se tornar um período propício a qualificações, como o aprendizado de um idioma.

O LeiaJá convidou os professores de língua estrangeira Felipe Meira e Flávia Albuquerque, de inglês e espanhol, respectivamente, para dar dicas de como você pode aproveitar o isolamento social para aprender um novo idioma. Sobre a importância de aprender uma língua, Felipe Meira conta que, em sua opinião, o mais importante disso é o desenvolvimento do cérebro, bem como destaca que os cargos com os salários mais bem pagos atualmente exigem a língua inglesa.

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“Para mim, o mais importante de se aprender outro idioma é o desenvolvimento do cérebro. A gente passa a usar mais o lado direito do cérebro, para os destros. Aquele lado que pouco se usa do cérebro, porque a língua estrangeira fica armazenada na mesma região da matemática e da música, o que explica pessoas que possuem dificuldade com Exatas, língua estrangeira e tocar um instrumento. Segundo uma pesquisa da Universidade de Montreal realizada em 2017, aprender um idioma novo pode fortalecer o cérebro e melhorar a memória reduzindo assim as chances de demência e Alzheimer", destaca o professor.

"O falante da língua inglesa também adquire muito da cultura estrangeira. E isso é fantástico, você abre os horizontes, a mente e conhece uma sociedade diferente da sua. Gosto muito de falar da educação do povo canadense, por exemplo. Sempre que debatemos sobre isso, os alunos tendem a querer isso para o nosso país e passam a ser mais atentos aos momentos que precisam dizer um bom dia, com licença, desculpa e obrigado", acrescenta Felipe Meira.

A professora de espanhol Flávia Albuquerque também aborda, assim como Felipe, a importância para o cérebro de se aprender um novo idioma. “Desde o processo de globalização, se faz necessária a aquisição de novos idiomas tanto para o mercado de trabalho, enriquecimento do currículo, quanto para seu crescimento cultural e intelectual, pois é comprovado pela neurociência que aprender um novo idioma faz com que o seu cérebro processe informações com mais eficiência”, explica.

Felipe Meira dá, ainda, dicas para que as pessoas possam aproveitar o isolamento social para aprender um idioma. “Hoje temos muitas opções de dicas gratuitas. No Instagram, Facebook e YouTube há vários professores ensinando. Além de vários aplicativos de celular que fazem isso sem custo. Indico muito seguirem perfis de professores de inglês e cursos de inglês no Instagram e acompanhar as lives. Tem muita informação boa sendo distribuída gratuitamente. Existem grupos no Facebook, por exemplo, em que as pessoas marcam no Meets e no Zoom para conversarem em inglês com brasileiros e nativos. Também há grupos de trocas de informações e dicas", indica o professor.

"O YouTube tem aulas e módulos de cursos completos, além de ter dicas de profissionais da área com situações reais que não são ensinadas nos cursos tradicionais. O WhatsApp é outra ferramenta bastante utilizada; participo de vários grupos que ensino e pratico o idioma com várias pessoas de níveis diferentes. Mas o aplicativo mais indicado para aprender é o Telegram. O limite de participante é 30 vezes maior que no WhatsApp e ele permite uso de enquetes, brincadeiras e exercícios diversos", acrescenta o docente de inglês. 

O educador também indica como alternativa para o aprendizado do inlgês a realização de aulas a distância. De acordo com ele, seus alunos aprovaram o método durante esta fase da pandemia. "Tenho alguns alunos a distância e nenhum deles tem reclamado da modalidade. Muitos eram arredios e diziam preferir aulas presenciais, mas a maioria dos que estão estudando comigo diz que não voltará mais para aulas presenciais. É muito mais cômodo para o aluno ter aula em casa: evita-se o stress trânsito, reduz-se o gasto com passagem ou combustível e manutenção do veículo, lanches e material para estudo como xerox, canetas e às vezes até o livro porque o e-book é mais barato", argumenta.

Para o professor, o uso de aplicativos pode ajudar a complementar as aulas. Ele não recomenda, porém, que o estudante se limite a essas ferramentas. "Muitos aplicativos, como o Duolingo, podem complementar o seu aprendizado. Eu gosto muito de uma ferramenta da Netflix que você tem a transcrição da fala no idioma nativo e a versão em português. Você pode ‘pausar’ o vídeo e encontrar ali mesmo dicas de sinônimos, gramática e uso do termo escolhido. Dou muitas dicas para os meus alunos praticarem sozinhos em casa também", complementa.

A professora de espanhol Flávia Albuquerque também dá dicas para que as pessoas possam aproveitar o isolamento social para aprender uma língua. “Vale lembrar que o auxílio de livros didáticos é muito importante para o processo de aprendizagem da estruturação gramatical", destaca. A seguir, confira uma série de atividades, elencadas pela professora, que contribuem no aprendizado:

--> Procure assistir filme em espanhol (pelo menos umas duas vezes a mesma obra) e alterne a legenda. Primeiro coloque em português, depois em espanhol e por último tire-a.

--> Escute músicas: tente ouvir a canção acompanhada da letra. Diversifique cantores e bandas.

--> Crie seu próprio vocabulário prático: produza tarjetas com palavras em espanhol e fixe-as nos móveis e/ou objetos pela casa, criando contextos e simulando pequenos diálogos.

--> Faça leituras de textos diversos voltados para a área cultural, principalmente. Aprender uma língua é também conhecer seus aspectos socioculturais. Tente ler os textos sem querer traduzi-los. Use o dicionário para palavras que você não consiga compreender”, finaliza a docente.

A Empresa Brasileira de Correios divulgou, nesta segunda-feira (29), que utilizará navios para distribuir 17,2 mil toneladas de livros didáticos para as escolas do país no próximo ano letivo. A abertura do pregão eletrônico para contratação dos serviços de transporte de cargas por navio está prevista para o dia 20 de julho.

Os Correios informa que os livros serão levados diretamente das editoras para o Porto de Santos, localizado em São Paulo. De lá, a carga seguirá de navio para os portos de Salvador (BA), Recife (PE), Fortaleza (CE), Belém (PA) e Manaus (AM) até chegar nos centros de distribuição da instituição e, em seguida, nas escolas públicas desses Estados.

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A estatal apresentou, por meio de videoconferência, os detalhes do projeto aos representantes do Ministério da Infraestrutura, da Secretaria de Portos e Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (ABAC). A reunião também contou com a presença das principais empresas de navios armadores do país.

De acordo com os Correios, o uso do modal marítimo possui diversas vantagens e é algo novo para administração pública. Por isso, a partir dessa primeira experiência, os Correios pretende expandir a utilização do modal marítimo para outros produtos e contratos da empresa.

Ainda que seja apenas uma criança compartilhando dicas de leitura, Adriel Bispo, 12 anos, foi vítima de comentários racistas na noite desta quinta-feira (27) no Instagram. O agressor mandou uma mensagem direta dizendo que “preto está para estar cavando e não lendo”.

Há pouco mais de um ano o menino, que reside em Salvador, na Bahia, compartilha na rede social resenhas de série, filmes ou livros que costuma ler, com o objetivo de incentivar os 259 mil seguidores no perfil. Mesmo em meio a tantos elogios, pela iniciativa, ainda assim a criança foi alvo de racismo na rede.

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Os ataques com teor racista foram direcionadas a Adriel através de mensagem privada. No direct, ele recebeu as seguintes palavras de internauta: “Porco gordo. Eu achava que Preto era para estar cavando mina não lendo. Para de ser trouxa e volta para a sua realidade seu merda. Você foi criado para ser preto e pobre”.

A visualizar a mensagem do leitor, Adriel mostrou a mãe, Deise Bispo, que monitora a rede do filho. Ela o orientou a “deixar passar, pois ele era muito mais do que aquele homem”. O print das mensagens, a seguir, foi postado nos stories de Adriel, com a seguida resposta ao agressor:

“Em pleno século 21 pessoas ainda são racistas? Atualizem-se. Insultos acabam com psicológico de pessoas fracas. Esse tipo de coisa não me abala em nenhum ponto. ALIÁS, tenho orgulho de ser negro”.

Desde a noite passada o caso tem repercutido nas redes sociais. Dentre os comentários a vencedora do Big Brother Brasil 2020, Thelma de Assis, incentiva que o garoto continue seu projeto.

“Meu querido! Que página linda você tem e que orgulho de te ver transmitindo tanta educação e conhecimento para as pessoas. Esse é o caminho, tá? Não permita que nenhum tipo de ofensa racista possa te magoar ou atrapalhar os seus objetivos. Somos muito mais fortes do que eles pensam, conte comigo”, disse Thelma, em comentário.

A pandemia do novo coronavírus trouxe, nos últimos dias, uma nova forma de ver a vida. Isoladas em casa e visando combater a proliferação acelerada da doença, diversas pessoas estão colocando em prática hábitos que não eram considerados como prioridade. Entre inúmeras atividades domésticas exploradas está a leitura.

Os livros que estavam no canto da estante passaram recentemente a fazer parte do cotidiano de quem se viu confinado do dia para a noite. Em tempos de quarentena, o LeiaJá reuniu artistas pernambucanos que sugeriram obras de renomados escritores para os internautas se aventurarem em seus lares.

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Confira:

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O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia ligada ao Ministério da Educação (MEC), fará uma audiência pública on-line para discutir as especificações técnicas do edital do Programa Nacional do Livro e do Material Didático – PNLD 2022. O encontro está agendado para 23 de abril, às 14h30. 

Para cumprir o isolamento, todas as audiências serão realizadas apenas via internet, em plataforma digital que será divulgada no dia 15 de abril. O edital irá delimitar as regras do processo de inscrição e avaliação dos livros didáticos e literários que serão utilizados por estudantes e professores da educação infantil a partir do ano letivo 2022. 

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Nesta semana também será disponibilizado, no portal do FNDE, a minuta do edital e orientações para a participação a audiência programada. Gestores e técnicos da autarquia e do MEC vão apresentar as principais diretrizes do documento e debater com representantes do setor produtivo e da sociedade em geral a construção do edital.

A jornalista, roteirista e escritora Goimar Dantas, autora do livro 'A Arte de Criar Leitores: reflexões e dicas para uma mediação eficaz', produzido pela Editora Senac São Paulo (2019), fez uma lista com algumas dicas de como os pais podem desfrutar da quarentena ocasionada pela pandemia do novo coronavírus para virarem mediadores de leitura, bem como ampliar o interesse das crianças. O livro possui, além das reflexões teóricas acerca do mundo dos livros e da leitura, dicas primordiais a todos os que desejam estimular o prazer e simpatia pela prática.

Goimar ressalta a relevância dos mediadores e alega que “para ser um bom mediador, basta falar de histórias com paixão, entusiasmo e amor, e aproveitar esse momento que estamos passando mais tempo juntos para fixar a atividade na rotina”. A intenção do mediador é, acima de tudo, alegrar filhos, sobrinhos, alunos ou qualquer pessoa com quem ele possa vir a conviver, ainda que por um curto período de tempo.

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O mediador será o responsável por guiar os ouvintes e leitores no caminho ao descobrimento de personagens, contextos históricos, entre outros. Exemplificando, orientará para o mundo da obra ao nível de causar paixão e auxiliar a proporcionar uma relação com o livro que poderá ser decisiva.

A autora dá dicas para os pais transformarem-se em bons mediadores de leitura:

1. Escolha um livro ou texto de que você goste.

2. Demonstre entusiasmo ao apresentá-lo.

3. Comece mostrando a capa, contracapa, dizendo o nome do autor.

4. Pratique para ter uma boa entonação durante a leitura; aliás, você pode alterar seu tom de voz dependendo dos personagens do livro e da situação que ele apresenta.

5. Abra o livro e apresente as ilustrações, caso a obra possua.

6. Leia o texto em voz alta e, vez ou outra, faça algumas pausas para olhar nos olhos da criança.

7. Ajude seu filho a entrar de cabeça no universo da obra; não precisa parar para explicar as palavras difíceis do texto, mas se ele perguntar, você pode responder.

8. Pergunte o que a criança mais gostou da história, o que sentiu durante a leitura, se já passou por alguma situação parecida ou se gostaria de viver em sua vida algo que o livro apresentou. Deixe que ela se expresse, troquem ideias, faça com que se sinta à vontade para falar ao final.

9. Guarde essa dica: é preciso ler “com” a criança e não “para” ela. Mediar a leitura é um tipo de entrega, de dança, de ritual. Contar com a participação, a alegria e a integração do outro torna tudo mais mágico e bonito. 

Após três campanhas literárias de sucesso, a Pará.grafo Editora, de Bragança-PA, iniciou mais um financiamento coletivo no último dia 29, para a reedição de dois livros raros amazônicos que estão sem edição há décadas: "Ribanceira" (1978), romance de Dalcídio Jurandir, e "Panela de Barro" (1947), livro de crônicas de Jaques Flores. A iniciativa é dos editores Dênis Girotto de Brito e André Fellipe Fernandes. A meta é de R$ 28.000. O projeto pode ser apoiado pelo link https://www.catarse.me/jaquesedalcidio.

Desde 2017, a Pará.grafo Editora realiza campanhas pela internet para arrecadar fundos com o objetivo de reeditar as obras do romancista marajoara Dalcídio Jurandir, que tinha a maioria de seus livros esgotada. A editora já realizou três campanhas e conseguiu reeditar cinco livros dos 11 que o autor escreveu: "Ponte do Galo", "Três Casas e um Rio", "Os Habitantes", "Chove nos Campos de Cachoeira" e "Chão dos Lobos".

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Segundo a editora, as edições reeditadas têm sido elogiadas pelo apurado acabamento gráfico, ilustrações e fotografias de capa de novos artistas da cena local, e versão em e-book, que tem o intuito de deixar os títulos sempre disponíveis ainda que as versões físicas se esgotem.

Como nas campanhas anteriores, todos os exemplares de "Ribanceira" e "Panela de Barro" adquiridos nesta campanha serão numerados e receberão um selo de exclusividade. Assim, além de contribuir para recolocar em circulação duas importantes obras da literatura brasileira, o leitor terá um exemplar exclusivo, de acordo com a editora.

Dalcídio Jurandir (1909-1979), considerado por muitos o maior romancista da Amazônia e um dos principais autores brasileiros do século XX, publicou "Ribanceira" em 1978 pela Editora Record. É o décimo e último livro do Ciclo do Extremo-Norte, série de romances de Dalcídio. Nesse romance, o escritor apresenta como ambiente a cidade de Gurupá-PA, após o fim do período de ouro da borracha na Amazônia.

Jaques Flores (1898-1962) foi também um dos principais escritores da literatura paraense no século XX. Em "Panela de Barro", quarto livro do escritor, publicado em 1947 pela Andersen Editores, Jaques mostra aos leitores 34 crônicas carregadas de humor e ironia, traçando um retrato da sociedade paraense das primeiras décadas do século XX.

Por Ana Luiza Imbelloni.

Nesta quinta-feira (6), a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) de Rondônia emitiu um memorando e uma lista ordenando o recolhimento de 43 livros de escolas de ensino médio. No memorando, a Seduc falava que as obras que deveriam ser recolhidas possuem "conteúdos inadequados às crianças e adolescentes".

Os livros são usados na rede estadual de educação. A lista, contendo 43 livros, inclui obras de autores famosos, como Machado de Assis, Caio Fernando Abreu, Ferreira Gullar, Mário de Andrade, Nelson Rodrigues, entre outros.

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Em entrevista à Folha de São Paulo, o Secretário de Estado da Educação de Rondônia, Suamy Vivecananda, disse, a princípio, que era fake news. Porém, depois de imagens do processo no sistema da secretaria serem mostradas a ele, Vivecananda falou que não estava na pasta no decorrer da semana e que não sabia da medida. Suamy falou que os livros não serão recolhidos.

Ainda segundo o jornal, governador de Rondônia, coronel Marcos Rocha, é filiado ao PSL, partido que o presidente Jair Bolsonaro fazia parte. O presidente e seus parceiros afirmam que existe doutrinação em escolas e nos livros didáticos e paradiáticos.

Os documentos foram enviados para coordenadores regionais de Educação do estado, e o recurso ainda está no sistema de processos da SEDUC.

As imagens da lista citada começaram a ser propagadas na internet, e a pasta tornou o processo secreto às 14h11 desta quinta-feira (6). Ainda na tarde desta quinta (6), a Coordenação Regional de Educação da secretaria enviou outra mensagem a coordenadores cancelando o recolhimento dos livros.

Procurada pela reportagem do LeiaJá, a Secretaria de Estado da Educação não retornou aos contatos.

Antônio, 53 anos: “O luxo do crime é envelhecer, porque a maioria morre jovem. Então eu tenho esse luxo.”

Ele ainda não se encontra livre e longe das grades do cárcere. Entretanto, possui novas perspectivas e planos para quando deixar a cadeia. Seu maior desejo é que esse dia chegue o quanto antes. Sua vida foi transformada pela educação e pela paixão pela leitura.

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É na pequena e simples biblioteca do Centro de Recuperação Penitenciário do Pará (CRPP 1), no Complexo Penitenciário de Americano, em meio aos livros e carteiras, que ele encontrou um refúgio. A leitura lhe proporcionou oportunidades de, mesmo no cárcere, conhecer um novo universo e o fez aprender a pensar além dos muros que o cercavam. “Não há mudança sem educação. O homem sem educação não é socializado, não é um bom cidadão, não tem como. É por isso que o crime por si só tem carta branca pra destruir, porque 99% dos criminosos são analfabetos, semianalfabetos ou mal têm a 8° série.”

Antônio Carlos Almeida, 53 anos, natural de Ananindeua, município da Região Metropolitana de Belém, possui uma trajetória de vida como a de muitos meninos de periferias que, pela falta de oportunidades, vislumbram um modo de ganhar dinheiro se envolvendo com a criminalidade. Sem incentivos, odiava e sentia-se obrigado a estudar. Parou os estudos na sexta série do ensino fundamental, com 16 anos de idade. “Eu concluí a sexta série daquele jeito, família pobre, todos vocês sabem como funciona essa pobreza. O mundo do crime sempre foi bem presente na minha vida”, disse.

Foi preso pela primeira vez em 1995, aos 29 anos de idade. Voltou a ser preso em 2006, por assaltos, principalmente a bancos. Passou seis meses preso em Americano. Em seguida foi transferido para a recém-inaugurada penitenciária federal de segurança máxima em Catanduvas, localizada a 476 quilômetros de Curitiba, no Paraná, destinada exclusivamente a presos de alta periculosidade e líderes de organizações criminosas.

Como estava em estado de Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), em que ficava recolhido em uma cela individual por cerca de 22 horas, com saída apenas em casos de emergência para atendimento médico e com banho de sol de forma isolada, sua única companhia eram os livros.

Antônio começou escrevendo como uma forma de se ocupar, passar o tempo e amenizar a dor. Porém, pouco a pouco foi descobrindo o seu talento para a escrita. “Quando eu fui para o presídio federal do Paraná, a única coisa que tinha lá eram os livros e mais nada. Então aquela cadeia me ajudou porque eu comecei a ler e li mais de 200 livros. Só a bíblia eu li 7 vezes. Eu li muito, eu lia das 6 da manhã até às 10 da noite. Dentro do isolamento também comecei a escrever. Então pra eu passar 15, 20, 30 dias confinado, eu pedia papel e caneta e passava o dia escrevendo. Pensei em me matar duas vezes. Só não achei coragem, porque o sofrimento é muito grande”, revelou.

De aprendiz a escritor

O hábito da leitura constante, de diversas obras, não somente lhe trouxe reflexão e conhecimento como o fez aprender como funciona a estrutura de narrativas. Enriqueceu seu vocabulário e lhe estimulou a criar seus próprios textos em seus livros. “Por eu ler muito, eu entendi como era que escrevia, porque a gente vai lendo e eu fui entender como é que todo aquele texto e contexto funcionam. O diálogo, as personalidades que têm que ser encaixadas, a história que tem que ser estruturada. Eu fiquei pensando e comecei a escrever ainda mais”, contou Antônio.

Os livros são todos escritos à mão, com letras de fôrma, uns a caneta e outros a lápis. Antônio escreve primeiro em folhas separadas e depois passa a limpo nos cadernos de capa dura, mostrando toda sua dedicação e capricho. Ao folhear e ler alguns trechos, percebe-se a organização perfeita. Todos possuem prefácio, sumário e numeração em todas as páginas, idêntico a qualquer exemplar de livrarias. A letra perfeitamente legível e a excelente ortografia e gramática impressionam. Sem falar na linguagem saborosa e na forma de escrever que envolvem o leitor. Alguns possuem ilustrações, feitas também à mão, com lápis de cor, por um colega de cela.

Antônio conta que os amigos do presídio leem seus livros e ficam fascinados com as histórias. “Tem até briga pra ler primeiro. Eles dizem: se melhorar estraga”, contou sorrindo. Ele digita no computador da unidade, passa os arquivos para um pen-drive e entrega aos filhos nos dias de visita. Em sua casa os livros estão impressos, encadernados e devidamente guardados.

O que mais chama a atenção são as temáticas abordadas. Diferentemente do que se imagina, que os temas seriam relacionados ao mundo prisional, a vida no crime, ou algo do tipo, Antônio explica que preferiu se distanciar da questão do crime e abordar algo diferente da realidade vivida por ele. Um de seus livros, por exemplo, é direcionado ao público infantil.

“Eu tenho mais de 40 livros escritos, só que eu não escrevi nada sobre o crime, pela questão de ser pessoal, algo meu. Os irmãos que estão no cárcere querem escrever sobre a vida deles. Algo relacionado a isso. Mas eu não, eu não quis mexer com isso. É difícil ver um preso, privado de liberdade, passando por um sofrimento pessoal que é um inferno próprio, escrever algo que fuja do que acontece aqui dentro. Fiz variados livros para crianças, livros de terror, livros de comédia, ficção. Então no decorrer desses anos todos, é o que eu tô fazendo no cárcere”, informa.

A história de Antônio exemplifica o quanto a educação tem um poder de mudar vidas. Antônio se sente privilegiado por ter tido a oportunidade de concluir seus estudos na cadeia. Atualmente cursa faculdade de Teologia a distância, por meio da sala informática presente na unidade. Está feliz e muito esperançoso, porém lamenta que estes projetos não consigam abranger todos os presídios.

“Nessas cadeias todas que eu passei e até por outras, existem pessoas inteligentes. Existem diamantes a serem lapidados. Concluí a 8ª série, fiz o primeiro, segundo e terceiro anos do ensino médio. Fiz o Enem, passei duas vezes e veio a faculdade. Eu me formo ano que vem em Teologia. Tive a honra de conhecer os professores e coordenadores de educação, eu digo que eles foram como os meus pais no cárcere”, relatou.

Antônio relembra um dos momentos mais emocionantes de sua vida, estando ainda preso. O dia em que foi expor algumas de suas obras na 20ª Feira Pan-Amazônica do Livro, em 2016. “Eu apresentei alguns livros que já estavam digitados, como ‘O menino que voava’, que é um conto infantil, e ‘Pequenos defensores da escola’, que eu fiz relacionado com os meus filhos”, contou. “Um dia, eu acredito que vou conseguir lançar um desses livros. Eu só preciso que alguém pegue, analise, pra dizer se dá, se não dá, se precisa de melhorias. Eu tenho um vasto material, e eu preciso de um incentivo, e de poder dizer pra mim mesmo: ‘Agora vou terminar minhas histórias porque vai ter alguém que vai acreditar e vai lançar’.”

Antônio sonha em se voluntariar para orientar e contar sobre sua experiência de vida para outras pessoas, no caso aqueles que são tidos como “o futuro”. “Uma das minhas metas é ir nas escolas, com datashow e juntar um auditório de jovens e adolescentes. E poder falar pra eles o que é o crime, como começa e como termina. Isso me queima por dentro. Então se eu puder, eu vou fazer isso”, diz.

Expectativa de volta

Pai de oito filhos e avô de seis netos, Antônio não vê a hora de voltar a viver com a família. “O meu pai morreu em novembro de 2009. Em agosto foi me visitar no CRA III e eu me abracei com ele e prometi: ‘Meu pai, o dia que eu sair, nunca mais alguém me põe uma algema na minha vida’. Essa foi uma promessa que eu fiz pra mim mesmo, pra minha família. Eles podem me ter como um problema, mas eu não sou mais um problema pro cárcere, eu sou a solução do problema.”

Ivanilsa Aguiar, 44 anos, é técnica pedagoga e chefe de reinserção social no CRPP I. Ela acompanha a transformação de Antônio há quatro anos e não esconde a felicidade ao falar do aluno. “O seu Antônio é um grande exemplo para a gente, porque ele fez o fundamental, terminou o médio e agora tá na faculdade. Ele é um exemplo de mudança, de transformação, e isso tudo se deu através da educação. Eu acredito naquilo que eu faço, e vejo um pouco do meu profissionalismo espelhado nisso. Quando a gente vê uma pessoa dessa transformada, percebe que tudo valeu a pena”, afirmou, orgulhosa.

Por Caroline Monteiro.

Uma cena fora do comum chamou a atenção dos vizinhos do Colégio Estadual Monteiro de Carvalho, localizado no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, na última terça-feira (14). Livros clássicos da literatura nacional e enciclopédias, por exemplo, estavam sendo arremessados pela janela até o chão da quadra da instituição de ensino, de uma altura de cerca de 16 metros. 

Os livros estavam em prateleiras da antiga biblioteca do colégio, em um prédio anexo interditado pela Defesa Civil desde o ano de 2016. Segundo a direção, a intenção foi aproveitar o período de férias para limpar a unidade. A ação foi filmada e publicada pelo jornal O Globo, que fez uma reportagem no local. 

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A diretora do colégio, Rosângela Cistaro, afirmou em entrevista gravada que o material foi doado e precisava ser descartado por estar estragado, sem condições de uso. “Os livros que estavam lá foram doados pelo Rotary Club. Eram livros velhos, mofados, com ácaros e fungos. Tiveram que ser descartados. Por que os livros foram jogados lá de cima? Porque é a forma mais rápida, fácil e barata. Do pátio colocamos na caçamba da camionete. A verba que nos chega é direcionada. Carimbada para comprar mobiliário para salas e cozinha, como geladeira e bebedouro. Eu tinha que limpar e não recebi para isso. A minha única opção foi chamar o pessoal da comunidade para ajudar”, afirmou ela. 

A diretora afirmou ainda que o material foi descartado em uma cooperativa de reciclagem no bairro de Santo Cristo. Em seguida, segundo o jornal O Globo, entrou em contradição ao colocar a culpa pela situação nos funcionários, dizendo que não autorizou que os livros fossem jogados pela janela, como havia dito antes, e que ficou surpresa com o barulho das caixas caindo enquanto estava atendendo pais de alunos. Mesmo após o flagra, os livros continuavam sendo arremessados. 

“ Talvez tenha ocorrido um erro. É um pessoal (os operários) desavisado que atirou os livros pela janela. Só isso. Quando eu vi, eu fui lá. Estes livros não foram comprados por dinheiro público. Eles nem chegaram a ser catalogados”, afirmou a diretora Rosângela Cistaro. Após o caso, ela afirmou não receber mais doações. “Não quero mais. Doam para gente livros velhos, cheios de ácaro. Alguns até cheiram mal, repletos de traças. Faz até mal à saúde. As pessoas acham que, por ser escola pública, tem que dar livro de pobre”, afirmou.  

O Secretário Estadual de Educação, Pedro Fernandes, chamou o caso de “lamentável” e abriu uma sindicância para apurar a conduta da diretora. Ele explicou que há um protocolo para o descarte de livros, que envolve a elaboração de relatórios contendo os títulos que já não servem antes de abrir um procedimento de descarte.

“É uma imagem chocante. Mesmo se for caracterizado se tratar de livros inservíveis. Se a investigação constatar falhas no procedimento de descarte, a diretora será afastada. Num primeiro momento, será feita uma gestão compartilhada e, caso a decisão seja por um afastamento definitivo da direção, a comunidade escolar escolherá uma nova diretora”, afirmou o secretário. 

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Apesar do desejo do presidente Jair Bolsonaro de "suavizar" livros didáticos a partir de 2021, o conteúdo dos materiais distribuídos nas escolas públicas não deverá sofrer mudanças drásticas, segundo o secretário executivo do Ministério da Educação, Antonio Paulo Vogel.

"O livro didático é um livro de ensino, e acabou. As matérias estavam todas lá. Não há nenhuma grande novidade nessa história. Vamos deixar acontecer. Os senhores vão vendo à medida em que for acontecendo", frisou Vogel ao ser questionado sobre as novas características dos conteúdos.

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Diante da insistência de jornalistas sobre quais serão os reflexos práticos da "suavização" nos livros, o secretário executivo disse que não tinha mais nada a falar sobre isso. Também não disse se algum problema de "doutrinação" foi identificado nos livros didáticos atualmente em circulação.

"Não tenho mais o que comentar. Os editais vão sair no momento correto. Os livros serão entregues no momento correto. Não vai ter nada, enfim, de muito diferente. Não tenho mais o que falar", encerrou.

As declarações foram feitas durante café da manhã oferecido a jornalistas pelo ministro Abraham Weintraub. O chefe do MEC usou a ocasião para fazer um balanço da gestão e para apresentar resultados de 2019. Na apresentação, o ministro também defendeu o "fim da doutrinação" via livros.

"O livro didático, a função é ensinar. A função não é doutrinar. É como foi o Enem. Em qual questão tentamos doutrinar? Zero. O que a gente quer fazer não é doutrinar, é simplesmente que elas vão para a escola e voltem melhores do que foram", disse.

O comentário de Bolsonaro sobre livros foi feito em fala direcionada a apoiadores que o aguardavam em frente ao Palácio da Alvorada, na última sexta-feira, dia 3. "Os livros hoje em dia, como regra, é um montão, um amontoado... Muita coisa escrita, tem que suavizar aquilo", afirmou o presidente.

Em uma transmissão ao vivo ao lado do presidente na última terça-feira, 7, Weintraub garantiu que a pasta deu uma "boa limpada" no material didático. "Já saiu muita porcaria, mas ainda vai (sair) alguns (livros) que a gente não gosta", disse Weintraub.

Novo Fundeb

O MEC trabalha para encaminhar ao Congresso nacional uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para um novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). O texto propõe aumento de 10% para 15% no volume de recursos repassados pelo governo federal a Estados e municípios.

"É um aumento expressivo. Os Estados, para receber recursos, têm que adotar critérios de desempenho, têm que mostrar resultados. É importante também dizer que há uma proposta de redistribuir recursos baseada nos municípios que mais precisam. Hoje, tem município pobre em Estado rico que é pouco atendido. E municípios ricos em Estados pobres que recebem os recursos. Então, isso a gente corrige também", disse.

A criação de um novo Fundeb já vinha sendo debatida pelo Executivo e Legislativo. Mais detalhes do texto não foram apresentados pela cúpula do MEC porque a proposta ainda está em discussão. "O governo é composto por MEC e diversos outros ministérios e áreas. Acho prudente a gente só comentar quando formos encaminhar ao Congresso. Obviamente, sempre uma coisa ou outra pode ser ajustada ao longo do processo", disse Antonio Vogel.

FNDE

Há uma expectativa sobre a relação do Congresso com o MEC por causa da exoneração de Rodrigo Dias do cargo de presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) no dia 23 de dezembro, seis meses após ele assumir a função.

Desde a demissão, são esperados atritos na relação de Weintraub com a Câmara dos Deputados porque Dias é ligado ao presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Autarquia vinculada ao MEC com orçamento que se aproxima dos R$ 60 bilhões, o FNDE tem o papel de garantir alguns dos principais programas de financiamento da educação. Entre eles, programas que vão de alimentação e transporte escolar ao Financiamento Estudantil (Fies).

Para substituir Rodrigo Dias, a escolhida foi Karine Silva dos Santos. Segundo o ministério, a definição levou em conta o perfil técnico da servidora que atua no FNDE desde 2009.

Ela comentou nesta quinta-feira, 9, a suspensão do processo licitatório, no valor de R$ 3 bilhões, para compra de notebooks relacionada ao programa Escola Conectada. A presidente da autarquia disse que outro edital pode ser lançado. "Ele foi suspenso preventivamente pelo pregoeiro do FNDE em função de algumas indicações de que o processo não estava adequado tecnicamente. Não há indício de fraude, de desvio", disse Karine dos Santos, antes de prosseguir. "Estamos trabalhando a possibilidade de elaborar um novo edital para um novo processo administrativo".

Auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou irregularidades no edital. Entre elas, "inconsistências entre a demanda prevista e os quantitativos dos equipamentos licitados" e "indícios de acordo prévio entre empresas participantes".

Incentivar a leitura desde cedo pode ajudar o Brasil a aumentar o número de leitores, de acordo com especialistas entrevistados pela Agência Brasil. A estimativa é de que quase metade dos brasileiros não seja leitor regular. Entre os motivos apontados estão a falta de tempo e a falta de paciência. 

Hoje (7) é o Dia do Leitor, criado em homenagem ao suplemento literário do jornal O Povo, do Ceará, que ficou famoso por divulgar o movimento modernista cearense. O jornal foi fundado em 7 de janeiro de 1928 pelo poeta e jornalista Demócrito Rocha. 

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Desde então, o Brasil melhorou as taxas de analfabetismo, mas ainda hoje enfrenta o desafio de fazer com que as pessoas tenham o hábito de ler. De acordo com a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, 44% dos brasileiros com mais de 5 anos de idade não são leitores, o que significa que não leram nenhum livro nos últimos três meses. 

A pesquisa mostra também que ler está ficando mais difícil para os brasileiros, seja por falta de tempo ou de paciência. O índice dos que afirmam que não têm nenhuma dificuldade para ler diminui a cada edição da pesquisa. Eram 48% dos entrevistados em 2007, passando para 33% em 2015. Entre as dificuldades está a falta de paciência. Em 2007, 11% disseram não ter paciência para ler. Em 2015, esse percentual subiu para 24%.

"Acho que o desafio da próxima década é mostrar a importância da leitura, o prazer da leitura, começar a criar uma nova sociedade leitora. É difícil convencer um adulto que nunca teve o hábito de ler a começar a ler, [o desafio] é atrair as crianças", diz o presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), Marcos da Veiga Pereira. 

Para chegar às crianças, a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, organizada pelo Snel, iniciou, neste ano, o projeto Bienal nas Escolas, que leva autores para escolas públicas. A intenção é que os encontros ocorram também neste ano e em 2021, até a próxima Bienal. "Se quer transformar o Brasil, tem que começar a investir nas crianças", defende Pereira.

Acesso aos livros

A gerente de Cultura do Departamento Nacional do Serviço Social do Comércio (Sesc), Elisabete Veras, também considera fundamental a leitura desde a infância. De acordo com ela, a relação com os livros começa com a proximidade. "O encantamento se dá pela relação, pelo contato com os livros, pela oportunidade de tocar, de vivenciar esse universo da imaginação. Por isso o acesso [aos livros] é tão importante", diz. 

Esse contato se dá, para muitos brasileiros, em escolas e nas bibliotecas. Elisabete defende as bibliotecas como espaços de diálogo, de palestras, de eventos, de exibições de cinema. "O acesso [aos livros] não pode ser pontual, tem que ter continuidade, para criar hábito. Para que se crie hábito, é preciso fazer parte da rotina, estar inserido no contexto [das crianças] e não ser uma eventualidade". 

Uma das metas da Rede Sesc de Bibliotecas para este ano é a criação de uma grande rede de clubes de leitura, valorizando a cultura de cada localidade e aproximando os autores dos leitores, sobretudo do público infantil. A Rede conta hoje com 309 bibliotecas fixas e 57 unidades móveis (BiblioSesc), nas quais estão inscritos 272 mil leitores. Segundo Elisabete, já existem iniciativas locais, agora a intenção é integrar os projetos.

Crianças que leem

Não são apenas os adultos que estão preocupados com a leitura das crianças e jovens. O projeto Pretinhas Leitoras é prova disso. O projeto nasceu em outubro de 2018, no Morro da Providência, no Rio de Janeiro, com as irmãs Helena e Eduarda, de 11 anos, e Elisa, 5 anos. 

Supervisionadas pela mãe, Elen Ferreira, e por Igor Dourado, elas compartilham leituras e pesquisam literatura negra. O que aprendem, as irmãs compartilham com outras crianças e jovens tanto em clubes de leitura, que reúnem também autores e contadores de história, quanto pela internet.

"A literatura é a oportunidade de acessar e compartilhar um pouco daquilo que somos e sabemos. Quando essa interação acontece, criamos uma forma nova de acolher a história que era do outro e passa a ser também nossa de um jeitinho único", dizem as irmãs, por e-mail, à Agência Brasil.

Para a equipe do Pretinhas Leitoras, a internet é uma grande aliada no incentivo à leitura. “Compartilhamos discussões sobre obras literárias por meio do cyberespaço para potencializar o acesso à leitura e sua divulgação pelas redes". 

A internet significa também, para elas, acesso. “Há que se pensar também sobre a importância que a internet assume ao democratizar o acesso à narrativas distintas e secularmente ignoradas no cenário literário brasileiro. Outro ponto é o acesso à ebooks, que estão diminuindo o preço de aquisição de muitos títulos e possibilitando descobertas dos mesmos. Isso é muito importante em um país no qual o mercado literário é elitista e caro, enquanto a massa populacional é pobre".

Incentivo familiar

O Ministério da Educação (MEC) lançou, no mês passado, o programa “Conta pra Mim”, que estimula a leitura de livros infantis no ambiente familiar. A pasta disponibilizou uma cartilha para orientar os pais e responsáveis.

Na tarde desta sexta-feira (3), o presidente da República Jair Messias Bolsonaro (sem partido) criticou a atual formulação dos livros didáticos utilizados pelas escolas públicas do país. Na opinião dele, o material que será distribuído até este ano e que foi elaborado em outros governos “tem muita coisa escrita”. 

“Tem livros que vamos ser obrigados a distribuir esse ano ainda levando-se em conta a sua feitura em anos anteriores. Tem que seguir a lei. Em 2021, todos os livros serão nossos. Feitos por nós. Os pais vão vibrar. Vai estar lá a bandeira do Brasil na capa, vai ter lá o hina nacional. Os livros hoje em dia, como regra, é um amontoado. Muita coisa escrita, tem que suavizar aquilo”, afirmou Bolsonaro. 

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O presidente também voltou a fazer críticas ao educador Paulo Freire, frequentemente atacado por ele e outros membros de seu governo. Na ocasião, Bolsonaro atrelou o baixo desempenho do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) PISA às ideias de Freire. "Falando em suavizar, estou vendo um cabeça branca ali, estudei na cartilha Caminho Suave. Você não esquece. Não esse lixo que, como regra, está aí. Essa ideologia de Paulo Freire. O cara ficou dez anos e a garotada de 15 anos foi fazer a prova do Pisa e mais da metade não sabe fazer uma regra de três simples. Não deu certo”, disse ele. 

Ainda de acordo com Bolsonaro, os governantes de esquerda “plantaram militantes” na educação e acabaram com escolas. “O que a esquerda plantou na educação? Plantou militância. Tanto é que o pessoal vota no PT e no PSOL. A molecada [vota no] PT e PSOL. Chegou ao cúmulo de acabar com uma escola como o Colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro. Acabaram com o Pedro II. Menino de saia, MST lá dentro. E outras coisas mais que não quero falar aqui”, afirmou o presidente, referindo-se à decisão do Colégio Dom Pedro II que autorizou os estudantes a usarem saia ou bermuda, independente do gênero, seguindo uma resolução do próprio Ministério da Educação (MEC).

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No reino das sagas, não há Natal sem livros debaixo da árvore: desde o pós-guerra, a Islândia, um dos menores mercados editoriais do planeta, celebra o "Jolabokaflod" antes das festas de fim de ano.

O "Jolabokaflod", que literalmente significa "rio de livros de Natal" em islandês, é uma tradição que lembra a "super-quinta", que acontece no Reino Unido toda primeira quinta-feira de outubro, mas de uma magnitude incomparável: dois terços das obras são publicadas em novembro e dezembro.

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Nas livrarias ou supermercados, centenas de novas publicações estão à venda, uma tradição vital para a indústria editorial em um país de 360.000 habitantes e onde um romance custa cerca de US$ 55.

Após o jantar em família no dia 24 de dezembro é hora de ler junto à lareira, muitas vezes o mais recente romance policial de Arnaldur Indridason, um best-seller em seu país de origem quase continuamente desde 2000.

"A literatura é muito importante na Islândia e é, acredito, a forma de arte com qual todos se identificam", explica Sigrún Hrólfsdóttir, artista e mãe de família.

Sua filha e seu filho, Dúna e Gudmundur, já escolheram seus livros no "Bokatídindi".

Distribuído em todo o país, este catálogo de 80 páginas apresenta romances, poemas e literatura infanto-juvenil, entre outros.

Quase 70% dos islandeses compram um livro ou mais como um presente de Natal, de acordo com uma pesquisa da associação de editoras islandesas.

Na versão 2019, o catálogo apresenta 842 nova publicações.

- "Para ser islandês você precisa ler" -

A tradição do "Jolabokaflod" tem sua origem no fim da Segunda Guerra Mundial. A Islândia, então pobre, limitou as importações para evitar as dívidas das famílias em 1945. Mas o papel continuou sendo barato e os livros substituíram as bonecas e trens elétricos nas árvores de Natal.

A Islândia acabara de conquistar a emancipação após quase sete séculos de domínio norueguês e depois dinamarquês.

"Existe uma relação entre os debates sobre a importância da literatura durante a luta pela independência e a busca da identidade islandesa: para ser islandês você precisa ler livros", afirma Halldór Gudmundsson, escritor e ex-presidente da Forlagid, maior editora da Islândia.

Embora os livros sejam publicados com mais regularidade durante o ano, o "Jolabokaflod" é um período crucial: em 2018 representou quase 40% do volume de negócios das editoras islandesas, segundo o Instituto de Estatística da Islândia.

Como comparação, as vendas de Natal representam um terço do volume anual no Reino Unido e um 25% na Alemanha, os dois maiores mercados da Europa.

"Se esta tradição morrer, o setor islandês das editoras morre", admite Páll Valsson, diretor de publicações da Bajartur, a segunda maior editora do país, para a qual o "Jolabokaflod" representa 70% de sua receita anual.

Diante do grande volume da essa abundância a dificuldade é escolher.

"Há muitos bons livros perdidos na massa", diz Lilja Sigurdardottir, autora de thrillers, traduzida principalmente para o inglês e o francês.

A Islândia, país de menor população da Europa, é o que mais publica novos livros per capita no mundo, atrás do Reino Unido, segundo a associação internacional de editoras.

Um em cada 10 islandeses publica um livro ao longo da vida.

E os islandeses são grandes leitores. A ilha tem 83 bibliotecas e desde 2011 dedica um dia de setembro a estas instituições.

- Um mercado do livro em dificuldade -

A incrível maré dos livros do "Jolabokaflod" - a maioria deles romances - é compartilhada por quase dois meses nos supermercados do país: nos corredores de biscoitos ou congelados são apresentados centenas de livros.

Uma distribuição que torna os produtos relativamente caros mais acessíveis que no resto do ano.

Para comprar um livro são necessárias 6.990 coroas (52 euros, 55 dólares), mais que o dobro do preço na França ou no Reino Unido.

"É mais difícil comprar muitos livros em geral", explica Brynjólfur Thorsteinsson, 28 anos, vendedor da livraria Mál og menning em Reykjavik, uma das mais antigas da Islândia.

Além disso, o IVA aumentou de 7 para 11% em 2015 e existem custos de impressão e importação. Como na Islândia praticamente não existem florestas, os livros devem ser produzidos no exterior.

E, assim como em outros lugares, editoras e livrarias enfrentam dificuldades, com a queda de quase 50% nas vendas de livros desde 2010.

Para apoiar o setor, o governo decidiu este ano reembolsar 25% dos custos de produção dos livros publicados em islandês.

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