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A polícia anunciou na quinta-feira (21) a prisão do autor de um vídeo mostrando a morte de um jovem negro, um caso que provocou indignação nos Estados Unidos.

William Bryan, de 50 anos, foi detido como parte da investigação da morte de Ahmaud Arbery, informou a polícia do estado da Geórgia, que fará uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira sobre o caso.

Esta é a terceira prisão relacionada ao assassinato, que alimentou as tensões raciais nesse estado, marcado por seu passado segregacionista.

Arbery, de 25, foi morto em 23 de fevereiro em uma rua de Brunswick. Nas semanas seguintes, a polícia local não prendeu ninguém, mas um vídeo do crime, que se tornou viral na Internet, deu um novo impulso ao caso no início de maio.

Na gravação, Arbery é visto correndo pelo meio de uma rua residencial e se aproximando de uma van branca que está estacionada na faixa da direita, com um homem parado atrás.

Quando Arbery tenta contornar o veículo, ele encontra outro homem que está armado com uma espingarda. Uma briga se inicia e, enquanto o corredor e este homem lutam, o jovem negro é baleado. Pouco depois, há um segundo disparo.

O vídeo causou comoção nos Estados Unidos e a mobilização de várias personalidades, como o astro do basquete LeBron James.

O presidente Donald Trump chamou as imagens de "muito perturbadoras". Após sua difusão, a polícia do estado assumiu a investigação para substituir os agentes locais.

Dois dias depois, a polícia prendeu e acusou as duas pessoas que aparecem na gravação do assassinato: Gregory McMichael, de 64 anos, e seu filho Travis, 34.

O pai, ex-policial aposentado, trabalhou muito tempo como investigador dos serviços do promotor local. Em sua declaração aos primeiros investigadores, garantiu que confundira Arbery com um ladrão e que decidira persegui-lo com o filho com armas.

Segundo McMichael pai, quando eles conversaram com Arbery, este começou a atacar "violentamente" seu filho. Durante a briga entre Arbery e Travis McMichael, três tiros são ouvidos.

A família da vítima diz que o jovem saiu para correr e se exercitar e foi vítima de um crime racista, posteriormente ocultado por um sistema policial e judicial cúmplice.

Desde a difusão do vídeo, manifestantes e internautas pediram explicações sobre o que aconteceu. A polícia do estado está investigando o fracasso da primeira investigação.

A atitude desmedida de um Policial Militar gerou revolta nas redes sociais. As imagens de uma abordagem, realizada em Salvador, na Bahia, mostram um jovem negro sendo agredido enquanto recebe insultos racistas por conta do cabelo.

No registro feito sem conhecimento do PM, dois jovens negros aparecem rendidos, em posição de revista. Ele tira o boné de um deles, joga no chão e inicia as agressões. Durante a série de socos e chutes, ele grita "você pra mim é ladrão, com essa desgraça de cabelo"; em seguida, puxa o cabelo do rapaz.

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A assessoria da PM da Bahia informou que o vídeo será analisado pela Corregedoria-Geral e que "não preconiza com a violência e rechaça todo e qualquer tipo de conduta violenta".

Confira

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Nesta quarta-feira (20), manifestantes que participam da marcha do Dia da Consciência Negra no Recife queimaram o livro Casa Grande e Senzala, do sociólogo Gilberto Freyre. Para os presentes, esse livro é o símbolo do racismo e da negação da importância da população negra.

A obra foi lançada em 1933 e, desde então, gera polêmica. Além dos negros, alguns críticos acusam Freyre de não ter retratado fielmente a relação entre dominadores e dominados na época da escravidão.

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Gi Vatroi, motivadora da ação, afirma que Gilberto Freyre foi um dos responsáveis pelos estereótipos do que é ser negro no Brasil e que também fomentou o racismo. "Casa Grande Senzala é uma negação dos nossos espaços", aponta Vatroi.

Confira os registros da manifestação

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Lar dos Inválidos, Campinas, 1973. Em uma cama, no canto do quarto de um pavilhão no térreo, há um homem negro de cabelos e barbas brancas. Ele amou três mulheres, três cidades, publicou quatro livros, fundou companhias teatrais e movimentos sociais, excursionou pela Europa e ainda assim está deitado na cama de um asilo, a menos de um ano do momento em que morrerá ou, em suas palavras, tornar-se-á “cantiga determinadamente” e nunca terá “tempo para morrer”. Francisco Solano Trindade deixou sua trajetória de sucesso como os personagens de seus escritos: à margem do mercado, em luta permanente. Escritor, pintor, ator, dramaturgo e folclorista, Solano- em todas as linguagens- abordou a luta do povo negro pela igualdade, a partir de uma estética acessível à compreensão popular e, nesse sentido, tornou-se um pioneiro na arte brasileira. No Dia da Consciência Negra, o LeiaJá relembra a vida do homem que se imortalizou como o primeiro poeta brasileiro “assumidamente” negro.

Em seus escritos autobiográficos, Solano Trindade descreve suas memórias de garoto. Filho do sapateiro Manuel Abílio Trindade e da quituteira Emerenciana, o poeta nasceu no Recife, no dia 24 de julho de 1908, em cujo centro urbano recebeu suas primeiras aulas de poesia. Morador do Pátio do Terço, um dos lugares de resistência mais emblemáticos para a memória afro-brasileira em Pernambuco, Solano conviveu desde cedo com a Igreja de Nossa Senhora do Terço, o Bloco de Samba Turma do Saberé e o terreiro da famosa ialorixá Maria de Lourdes da Silva, conhecida como Badia, uma das figuras centrais do xangô pernambucano. Do burburinho do cotidiano urbano, o artista tirou suas primeiras lições de poesia. “É doce, é doce/o abacaxi/ é doce, é doce/ e é barato [...] Eram os pregões que ele ouvia no bairro de São José”, lembra Raquel Trindade, a falecida filha do poeta e espécie de herdeira artística, no documentário “Solano Trindade, 100 Anos", dirigido por Alessandro Guedes e Helder Vieira.

Militante desde os anos 1960, Inaldete Andrade frisa que Solano era uma de suas poucas referências negras no período. (Júlio Gomes/LeiaJáImagens)

“Raquel nasceu no Recife, saiu e voltou, mas não soube identificar a casa em que ele nasceu. Também fomos visitar, Badia, que não tinha maiores informações, mas penso que aquele bairro não é o mesmo em que Solano nasceu, em termos de arquitetura, pois ele veio ao mundo em uma casa muito pobre”, comenta a escritora Inaldete Andrade. Ativista do movimento negro em Pernambuco desde 1969, Inaldete encantou-se pela obra de Solano ainda em sua primeira reunião na militância, por intermédio de um colega, João Batista Ferreira. “Ele chegou dizendo que recitaria uma poesia de uma poeta negro pernambucano que conheceu em São Paulo, Solano Trindade. O Ferreira, como o chamávamos, explicou que Solano havia saído do Recife porque não obteve muita aceitação no Estado. Ele nunca escreveu isso, essas eram nossas deduções”, frisa.

As memórias de Inaldete com o movimento remontam a um período de poucas referências negras no mundo da cultura e das artes. “Essa divulgação dos artistas negros é recente. Inicialmente, éramos considerados ‘racistas ao contrário’, a imprensa pernambucana também não nos recebeu bem, mas pouco a pouco fomos encontrando espaços. Solano dava essa contribuição enquanto poeta, porque a gente tinha a necessidade de divulgar um nome nosso onde íamos”, afirma.

Filha de criação de Badia, Maria Lúcia indica que Solano morou na casa de número 152 da Rua Vidal de Negreiros, atualmente uma loja, no Centro do Recife. (Chico Peixoto/LeiaJáImagens)

A reportagem do LeiaJá foi à casa de Badia, oficialmente conhecida como Casa das Tias, na Rua Vidal de Negreiros, Pátio do Terço. Falecida em julho de 1991, a ialorixá deixou o imóvel aos cuidados de sua prima e filha de criação, Maria Lúcia Soares dos Santos. “Não tenho muito o que falar sobre Solano, só sei que eles foram vizinhos e que ele era frequentador daqui, Badia sempre comentava que ele tinha morado nessa casa da frente, mas teve que ir embora. Os dois tinham relação de amizade, mas ela morreu sem revê-lo”, lembra Maria Lúcia. Na casa em que teria morado Solano Trindade, agora funciona uma loja de variedades, sem placas ou quaisquer outras referências ao escritor. Curiosamente, foi o Pátio de São Pedro o local escolhido pela Prefeitura do Recife para receber uma estátua em homenagem a Solano.

No interior de casa, Maria Lúcia, contudo, ainda conserva um boneco gigante de Solano e outro de Badia, entregues pela Prefeitura. “Há três anos eles podem ser vistos desfilando na Noite dos Tambores Silenciosos”, acrescenta.

O ano era 1937 quando cinco rapazes até então desconhecidos fundaram a Frente Negra Pernambucana, co-irmã da Frente Negra Pelotense. Gerson Monteiro de Lima, José Melo de Albuquerque, José Vicente Rodrigues Lima, Miguel Barros Mulato e Solano Trindade, que reunira estatísticas da época, verificando a quase completa ausência de negros nos cursos superiores. “Na década de 1930, o racismo era velado. Os brasileiros nunca admitiram que eram racistas, escravocratas e que ainda são. Depois da abolição, que não foi bem aceita por muita gente, as primeiras frentes negras surgiram para reivindicar inclusão para essa população, que segue sem muitas oportunidades”, explica a professora do departamento de história da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Giselda Brito.

Seduzido pelo ideal de igualdade que permeava sua luta no movimento negro, Solano também aderiu ao comunismo, justamente em uma conjuntura de avanço das teorias fascistas em todo o mundo. “Depois da Revolução Russa, em 1917, o mundo capitalista passou a temer a expansão desse processo. No Brasil, o integralismo ficou conhecido como fascismo brasileiro, embora os membros desse movimento preferissem ser chamados de nacionalistas, devido ao aparecimento dos crimes de guerra de Hitler. Como diria (Eric) Hobsbawm, o século XX é o século do fascismo”, completa Brito. Geralmente homens brancos e de alto poder aquisitivo, os integralistas estavam aglutinados por uma forte orientação anticomunista. “Vestiam um fardamento verde, tinham milícia e um movimento de massa”, descreve a professora.

Aos 29 anos, Solano Trindade participou da fundação da Frente Negra Pernambucana. (Arquivo Nacional/Acervo)

Em nota publicada pelo Diario de Pernambuco no dia 10 de maio de 1944, a respeito da retirada dos clubes e associações de negros do triângulo paulista devido a uma suposta solicitação do Sindicato dos Lojistas da região, Solano reagiu: “Isso é um atentado contra a melhor conquista da civilização brasileira”, acrescentando, segundo o jornal, acreditar que se estava usando “a técnica fascista para dividir os brasileiros”. Na ocasião Solano discursava como presidente do Centro de Cultura Afro-brasileiro, por ele criado.

Trindade já havia morado em Belo Horizonte (MG) e Pelotas (RS), no ano de 1940, e lançado seus dois primeiros livros, Poemas Negros (1936) e Poemas de uma vida simples (1944), quando foi preso pelo Estado Novo, em função de suas crenças comunistas. “Minha mãe procurou por ele em diversas detenções, por dias, e sempre ouvia que ele não estava naquele local. Em um deles, ela insistiu e um militar confirmou a presença dele”, conta Godiva Trindade, filha de Solano. No poema confessional “Rio”, o poeta dá a pista de onde foi encontrado: Rua da Relação, na capital fluminense. “Apreenderam muitos livros dele, mas ele não sofreu maus tratos”, continua Godiva.

Bem relacionado, o pernambucano chegou a ser acobertado pela amiga e atriz Ruth de Souza, primeira dama negra do teatro brasileiro, que o escondeu em sua própria casa. O suplício, segundo Godiva, não se compararia, no entanto, ao trauma familiar sofrido em 1964, durante o governo de Castelo Branco, na ditadura militar. “Ele perdeu um filho e eu meu irmão: Francisco Solano Trindade Filho. À epoca, ele servia ao exército e foi chamado a se apresentar ao exército, ao qual servia, através de uma ligação feita para nossa casa às cinco horas da manhã”, lembra Godiva. Aos 18 anos, Solano Filho se despedia pela última vez de sua família. “O que voltou foi o corpo dele, morto. O exército alegou que ele foi vítima de um acidente”, lamenta.

Corporação Warner-Elektra-Atlantic insistiu pela liberação do poema "Trem Sujo de Leopoldina". (Arquivo Nacional/Acervo)

Abatido, o poeta ainda voltaria a sentir o amargor da censura. Em 1973, seus poemas “Mulher Barriguda” e “Trem sujo da Leopoldina” foram musicados por João Ricardo, um dos membros da banda Secos & Molhados, que contava ainda com o cantor Ney Matogrosso e o músico Gérson Conrad. Ao contrário da primeira, a segunda música teve sua divulgação impedida pela Divisão de Censura e Diversões Públicas (DCDP) e não pôde integrar o disco Secos & Molhados, um dos mais icônicos da música popular brasileira. Em 1979, a corporação Warner-Elektra-Atlantic voltou a requerer a liberação da letra, conforme consta em documento atualmente armazenado pelo Arquivo Nacional. Desta vez, a música foi liberada e então lançada pelos Secos & Molhados em conjunto com seu videoclipe oficial, com exclusividade no programa Fantástico, da Rede Globo.

O professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Muniz Sodré, uma das maiores referências nacionais em sua área, é um entusiasta da obra de Solano. “‘Trem sujo da Leopoldina’ é uma poesia de ritmo, movimento, que você pode cantar e até dançar. Poesia não é significado, é sentido, porque ela desestabiliza e escandaliza a linguagem. Você não vai confiar na poesia para um mensagem de ordem prática, mas o grande poeta é o que faz da linguagem uma festa, onde ele dança e orquestra”, coloca. Pela junção desta característica a seu engajamento político, Solano é associado por Sodré a Vladimir Maiakovski. “Um grande poeta da revolução russa, ao mesmo tempo propagandista dela. A propaganda visa objetivos de convencimento e persuasão, mexer com a consciência, o coração do outro, então as palavras têm que ser mais diretas”, prossegue. Assim, a poesia, na visão de Sodré, não se faz apenas com a subversão das palavras. “Mas pelo encantamento das aliterações, pela movimentação forte das palavras e pelas inflexões de espírito. Solano era isso. Maiakóvski era isso”, conclui.

Sem a sofisticação de Ferreira Gullar ou Manuel Bandeira, Solano ginga com as palavras para conquistar seu leitor. “A poesia dele é ritmo, aliteração, assonância e impacto, para trazer o que era o coração dele. Um propósito de libertação do homem negro. Ele sabia que a abolição não tinha realmente abolido a forma social onde a escravidão estava instalada, então queria libertar o negro”, acrescenta Sodré.

Solano atuando em cena do filme "A hora e a vez de Augusto Matraga" (1965), do diretor Roberto Santos. (A hora e a vez de Augusto Matraga/Reprodução)

Durante sua estadia no Rio de Janeiro, Solano fundou o Teatro Popular Brasileiro, em parceria com a companheira Margarida Trindade e o sociólogo Edison Carneiro. Em um artigo do Diario de Pernambuco de 1952, o escritor é lembrado como figura cativa do Café Vermelhinho, reduto da intelectualidade carioca da época. “Surge Solano Trindade, sempre de talão de cobrança em punho, lutando com unhas e dentes para pagar a sala do serviço nacional do teatro, onde seu ‘Teatro Folclórico" ensaia números de candomble, xango, ‘pontos’ e ‘macumbas’. Esse negrinho humilde e incansável nunca se humilha quando se trata de ‘implorar quase’ para manter seu teatro de pé, pagar as despesas, deixar tudo em ordem. Por isso não se espantem quando o virem de talão em punho, perguntando com aquela sua voz analasada: ‘você pode pagar hoje?”’, descreve o cronista.

Composto por operários e estudantes, o elenco do Teatro Popular, contudo, adotou uma postura bem diferente da resignada atitude atribuída a Solano pelo jornal. Com muito esforço, o projeto circulou pela Europa, divulgando expressões populares como o côco de umbigada, o jongo, o maracatu e as festas de xangô. “Na verdade, o Teatro Popular Brasileiro era uma ideia. Quando meu avô morreu, o nome mudou para Teatro Popular Solano Trindade. Nos anos 1980, Raquel Trindade conseguiu construir, em Embu das Artes (SP), um espaço para 400 pessoas, com palco de mais de 40m², dois andares de plateia, dois banheiros, dois camarins e uma sala de aula especial”, relata o músico e neto de Solano, Vitor Trindade, atual presidente do Teatro Solano Trindade.

O Teatro Solano Trindade é uma das muitas heranças deixadas por Solano ao município de Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo. “O Sakai do Embu, mestre da terracota, falou para o Assis, que era negro, que tinha conhecido o Solano na capital e que ele era uma grande entendedor de cultura afro-brasileira. Dessa forma, o Solano foi convidado a vir ao Embu e se encantou pelo lugar, passando a morar aqui”, conta a artista plástica Tônia do Embu, discípula de Sakai. Para Tônia, a presença de Trindade transformaria para sempre a cidade. “Nossa cultura era muito jesuítica e indígena, não tínhamos conhecimento das danças, cores e comidas negras. Quando o Solano veio para cá, o Embu virou uma cidade festiva, graças aos eventos que ele organizava no Largo da Matriz. Isso atraía muitos visitantes paulistanos”, conta.

No Embu, Solano mergulhou em uma antiga paixão. Aproveitando o bom fluxo de turistas na cidade, passou a exercitar sua pintura, classificada por alguns artistas como naïf, isto é, a arte produzida por autodidatas, com traços originais. “Em outros momentos, dava a impressão de ser expressionista ou ainda abstrato. Aqui no Embu há um nicho de arte popular enorme e o Solano não escapou disso. Suas temáticas sempre traziam cenas de bumba-meu-boi, maracatu e candomblé”, comenta Tônia. Segundo a escultura, as dificuldades financeiras enfrentadas pelos artistas na cidade, àquela época, eram enormes. “A gente dependia dos turistas, porque a cidade era muito pobre e pequena, mas o Solano sempre foi muito cercado de amor, carinho, as pessoas ajudavam. Além disso, com assinatura dele, seus quadros vendiam muito. No Museu Afro-brasileiro, em São Paulo, há um quadro dele exposto”, afirma.

Após a morte de seu pai, Raquel Trindade inaugurou o Teatro Solano Trindade, no Embu das Artes. (Prefeitura de Embu das Artes/divulgação)

Com bisnetos, netos e filhos vivendo na cidade, o escritor segue sendo bastante declamado no município. “O Teatro Solano Trindade tem muitos problemas na relação com a construção física, mas mantemos as atividades, oferecendo aulas de dança, percussão e capoeira”, informa Vitor Trindade. Com o terreno em comodato e sob administração da família Trindade, o teatro aguarda verbas para reforma. “Temos um projeto de R$ 20 mil para conserto do telhado, com um dinheiro que viria da prefeitura. Vamos ver se isso se torna realidade”, finaliza.

“Pesquisar na fonte de origem e devolver ao povo em forma de arte”. A mais célebre frase de Solano Trindade, tomada como lema pelo Teatro Popular Brasileiro, denota a essência de seu trabalho: mergulhar fundo na história dos afro-brasileiros para transmitir-lhes uma mensagem clara e acessível, capaz de propagandear uma causa comum. Por isso, nada de termos rebuscados ou construções complexas. Com seus versos diretos, rimados e ritmados, Solano talvez tenha sido o primeiro rapper da poesia brasileira. “Ele já usava termos como ‘mano’ e ‘salve’, para ser acessível. Não buscava uma linguagem acadêmica, porque o acesso à literatura sempre foi restrito à elite. Além disso, lançar e comprar livros era muito caro”, opina o bisneto de Solano, Zinho Trindade, que gosta de se definir como “artista multimídia”, trabalhando, dentre outras linguagens, com o rap.

Zinho recita o bisavô, Solano, diante de sua estátua, no Pátio de São Pedro, Centro do Recife. (Marília Parente/LeiaJá Imagens)

Zinho lembra que seu pai, Vitor Trindade, gravou um disco inteiro, o “Ossé” (2015), com poemas de Solano musicados. “São textos vivos até hoje, fáceis de musicar, em diversos ritmos. Não sei se isso foi proposital, mas ele era um cara que pensava muito à frente de seu tempo”, completa.

Com apenas 16 anos, a poeta Bione acaba de iniciar sua carreira no rap, através de sua mixtape “Sai da Frente”, apresentada em novembro deste ano. “Comecei a escrever poesia marginal aos 13 anos de idade, porque comecei a reparar em problemas sociais como o racismo, o machismo e a LGBTfobia. Só escrevia porque queria desabafar”, lembra. Em 2018, a jovem representou Pernambuco no Slam das Minas Brasil, um dos principais eventos de poesia do país. “A luta de Solano valeu a pena, é um estímulo para a gente. Se tinha gente resistindo naquela época, posso fazer o mesmo hoje; se ele perdeu um filho na ditadura, muitas mães pretas perdem os seus o tempo inteiro para a polícia militar. Então é importante que a gente esteja aqui para reproduzir o que ele fazia, mas de uma maneira mais atualizada, porque o fascismo também está se atualizando. É importante ser essa semente de Solano”, finaliza.

Dos 40 técnicos da elite do futebol brasileiro, considerando as Séries A e B, apenas três são negros: Roger Machado (Bahia), Marcão (Fluminense) e Hemerson Maria (Botafogo-SP). Para o último, essa escassez está diretamente ligada ao "racismo velado" que ele identifica no futebol brasileiro, independentemente da divisão analisada.

"Nunca sofri ofensas raciais diretas, sempre foi uma coisa velada, mas sempre percebi uma grande resistência. Eu ouvi coisas que meus colegas não ouviam. Diziam, por exemplo, que eu era não técnico para aquele time", disse o treinador que hoje ocupa a 10ª posição na tabela de classificação da Série B do Campeonato Brasileiro. "Não é vitimização. É algo que todos sentem. Enquanto os outros matam um leão por dia, nós temos de matar dois leões e um urso por dia", comparou o catarinense.

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O treinador de 47 anos não tem um episódio claro de discriminação para relatar durante a sua carreira de treinador iniciada aos 23 (isso mesmo, 23 anos) quando percebeu que não seria um atleta de destaque. As ofensas ficaram restritas à infância quando era chamado de "macaco" em um bairro carente da região metropolitana de Florianópolis, em Santa Catarina. Naquela época, o filho mais velho de uma professora e de um almoxarife tinha de ajudar em casa, cuidar dos irmãos, estudar e (claro) arrumar tempo para treinar.

Depois de adulto, sua maior conquista ocorreu na situação mais adversa da carreira. Ele se sagrou campeão da Série B em 2014 dirigindo o Joinville, onde viveu uma espécie de soma de preconceitos. "Eu fui muito bem recebido, mas foi uma batalha. Havia muita desconfiança. A torcida tinha resistência e a cobrança era maior. Além disso, existe uma rivalidade regional com as pessoas de Florianópolis, um preconceito entre capital e interior. Soma-se a isso o fato de eu ter trabalhado em dois rivais, o Figueirense e o Avaí. Eu sou negro, de Florianópolis e trabalhei em dois rivais. Foi uma soma. Mas conquistei o respeito por causa dos resultados", disse Hemerson.

A campanha atual do Botafogo na Série B de Hemerson está sendo regular. O time começou bem e chegou a liderar a competição quando o treinador ainda era Roberto Cavalo. Hemerson assumiu a equipe na 14.ª rodada e o time demorou algumas partidas para se recuperar. A reta final do primeiro turno foi ruim. Por outro lado, o time se recuperou na segunda metade e chegou novamente ao G-4. Os fracassos vieram nos confrontos diretos contra Coritiba, Atlético Goianiense, Bragantino e Sport, quando o time jogou em casa. Foram três derrotas e um empate nesse recorte. Hoje, o time está no bloco intermediário. A missão é somar pontos para terminar na primeira parte da tabela de classificação.

O catarinense conta que os desafios para um treinador negro na Série B são conseguir espaço - ele atua desde 2012 - manter a regularidade e, por último, obter resultados para ter novas oportunidades. Para Hemerson, o problema do racismo é estrutural na sociedade brasileira. Ele afirma que não existem negros como diretores executivos de futebol, supervisores, gerentes e auxiliares técnicos. "Demoro para ser atendido quando vou trocar de carro na concessionária. Não vejo negros no colégio particular da minha filha, Hérika", exemplificou. "A gente precisa continuar essa luta para ocupar o nosso espaço na sociedade".

O deputado federal Coronel Tadeu (PSL) quebrou uma das obras da exposição (Re) Existir no Brasil - Trajetórias negras brasileiras, que estão expostas nos corredores da Câmara dos Deputados em homenagem ao mês da Consciência Negra. A imagem, que é do cartunista Carlos Latuff, mostra um jovem preto no chão, algemado e morto a tiros por um policial. 

Tadeu compartilhou o vídeo do exato momento em que arranca o cartaz da parede e afirma que vai queimar a obra. A justificativa dada por ele é que a imagem é contra a polícia "que está para defender a sociedade". 

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O cartunista se pronunciou através de sua conta no Instagram. Latuff apontou o caso como uma agressão contra a sua obra e isso faz levar a seguinte reflexão: "Se fazem isso contra um cartaz, imagine contra gente de carne, osso e pele negra", pontua.

Confira os compartilhamentos

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O sul-africano que se tornaria o primeiro negro africano no espaço morreu em um acidente de moto, anunciou sua família neste domingo (7). Mandla Maseko, que trabalhava meio período como disc-jockey, morreu aos 30 anos no sábado à noite, segundo uma declaração da família citada pela imprensa local.

Apelidado de "o afronauta", ganhou em 2013 o direito de efetuar um voo de 103 quilômetros no espaço, à bordo da nave espacial americano Lynx Mark, ao se tornar um ganhador do AXE Apollo Space Academy.

Ele derrotou 1 milhão de candidatos de 75 países e foi selecionado junto com outras 22 pessoas para fazer uma viagem de uma hora ao espaço. Apesar de ter feito um árduo estágio de uma semana na Kennedy Space Academy, na Flórida, Maseko deveria ter ido ao espaço em 2015, mas a viagem nunca se concretizou.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) lançam nesta quarta-feira (5) o Atlas da Violência de 2019. O levantamento, com base em dados oficiais do Ministério da Saúde, traz os dados referentes ao ano de 2017. Pernambuco figura de forma negativa no estudo, apresentando índices elevados nos diversos recortes da violência no país.

Em 2017, Pernambuco figurava no grupo com mais elevadas taxas de homicídio, acompanhado de Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Pará e Acre. O estado pernambucano teve um aumento de 21% na taxa de homicídios, consolidando uma trajetória de crescimento na violência no estado desde 2014 e demarcando a triste derrocada do programa Pacto pela Vida, segundo os autores do estudo. Para o Ipea e o FBSP, a morte do governador Eduardo Campos em 2014 dá pistas do caráter voluntarista dos mecanismos de governança, em contraposição à importância da arquitetura institucional e dos arranjos de governança para uma política de Estado. Além da morte do ex-governador, as resistências das corporações policiais em relação ao controle externo de sua atividade seriam o motivo do declínio do programa.

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Um dos destaques negativos do estado é a morte prematura de jovens, idade que vai dos 15 aos 29 anos. Além da tragédia, os homicídios de jovens geram consequências sobre o desenvolvimento econômico e geram custos significativos para o país. Um estudo apresentado no levantamento constata que as mortes violentas de jovens custaram ao Brasil cerca de 1,5% do PIB nacional em 2010.

As três taxas mais elevadas de homicídio de jovem por 100 mil habitantes foram as dos estados do Rio Grande do Norte (152,3), Ceará (140,2) e Pernambuco (133). As menores ficaram com São Paulo (18,5), Santa Catarina (30,2) e Piauí (38,9). Ao todo, 35.783 jovens foram assassinados no Brasil em 2017. Esse número representa uma taxa de 69,9 homicídios para cada 100 mil jovens no país, taxa recorde nos últimos dez anos. Homicídios foram a causa de 51,8% dos óbitos de jovens de 15 a 19 anos; de 49,4% para pessoas de 20 a 24; e de 38,6% das mortes de jovens de 25 a 29 anos.

Entre 2016 e 2017, os estados com os maiores aumentos na taxa de homicídios de jovens foram Ceará (+60%), Acre (+50,5%), Pernambuco (+26,2%), Rio Grande do Norte (+21,3%) e Espírito Santo (+20,2%). O Brasil experimentou um aumento de 6,7% nessa taxa no mesmo período.

"A criminalidade violenta vem sendo fortemente relacionada ao sexo masculino e ao grupo etário dos jovens de 15 a 29 anos", aponta o estudo. Observando especificamente o grupo dos homens jovens, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes chega a 130,4 em 2017. Dos 35.783 jovens assassinados em 2017, 94,4% (33.772) eram do sexo masculino. Considerando apenas o sexo masculino, os três estados com maiores taxas foram Rio Grande do Norte (281,9), Ceará (262,6) e Pernambuco (255,4). Já as menores taxas são observadas em São Paulo (33,3), Santa Catarina (53,6) e Mato Grosso do Sul (72,3).

Entre 2007 e 2017, a evolução das taxas de homicídios de homens jovens no país foi de 38,3%. No período 2016-2017 a mesma taxa cresceu 6,4%. Pernambuco novamente aparece no topo dos maiores aumentos, ficando na terceira posição com 27,4%. “É fundamental que se façam investimentos na juventude, por meio de políticas focalizadas nos territórios mais vulneráveis socioeconomicamente, de modo a garantir condições de desenvolvimento infanto-juvenil, acesso à educação, cultura e esportes, além de mecanismos para facilitar o ingresso do jovem no mercado de trabalho”, orientam os responsáveis pela pesquisa.

Pernambuco também tem presença negativa nos levantamentos das taxas de homicídios de negros. Os cinco estados com maiores taxas são do Nordeste. Em primeiro lugar está o Rio Grande do Norte, com 86 mortos a cada 100 mil habitantes negros, seguido de Ceará (75,6), Pernambuco (73,2), Sergipe (68,8) e Alagoas (67,9). Entre 2007 e 2017, Pernambuco conseguiu uma redução de 0,9% nessa taxa. Em 2017, 75,5% das vítimas de homicídios no país foram indivíduos negros, definidos como a soma de pretos e pardos.

Com relação aos homicídios contra mulheres, Pernambuco figurou na 12ª posição. Sobre a violência contra a população LGBT, o estado registrou 62 denúncias através do Disque 100, canal que recebe, analisa e encaminha denúncias de violações de direitos humanos. Segundo a pesquisa, 19 denúncias foram de lesão corporal, duas de tentativa de homicídio e 12 de homicídios.

 A organização da Mostra Itinerante de Cinemas Negros - Mahomed Bamba (MIMB) divulgou nesta quinta-feira (23), via Facebook, uma nota de repúdio aos cineastas brancos que inscreveram seus trabalhos no festival. De acordo com a produção, 20% dos 230 filmes inscritos, eram de cineastas brancos, que não atendiam ao regulamento do festival.

“Nossa principal premissa é disseminar o cinema construído por pessoas negras através de conexões mundiais de cineastas pretxs (sic). Levando para os bairros populares e periféricos de Salvador um incrível processo de feitura construído sobre óticas mundiais. Mesmo com o passar dos séculos ainda é lastimável o desrespeito frente a trajetória do povo preto. A nossa mostra tem como fundamento regulamentar a submissão de obras criadas por realizadores pretos e pretas. Tivemos 230 filmes inscritos, deste total, quase 20% por cento foram de realizadores brancxs. (sic) O que não está inteligível no nosso regulamento?”, diz a nota.

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A 2º edição do MIMB acontece entre os dias 14 e 18 de agosto de 2019, em bairros da cidade de Salvador, Bahia. Leia nota na íntegra:

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Há 131 anos, em 13 de maio de 1888, a escravidão dos negros foi abolida oficialmente no Brasil, com a assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel. No entanto, mais de um século depois, as estatísticas mostram que a população negra, que corresponde a 53,6% dos brasileiros, ainda é a que mais enfrenta dificuldades para sobreviver no país.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a porcentagem de negros em situação de pobreza e extrema pobreza, vivendo com até R$ 387 por mês, dobrou em cinco anos. Em 2012, 5% da população de pretos e pardos viviam nessas condições. Já em 2017, esse índice saltou para 10%. Enquanto entre brancos, o percentual se manteve inalterado em 1% no período.

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O levantamento do IBGE sobre o desemprego nesse mesmo ano comprovou que dos 13 milhões de brasileiros desempregados, 63,7% eram pretos ou pardos, ou seja, 8,3 milhões. Segundo a mesma pesquisa, o rendimento dos trabalhadores negros em 2017 era de R$ 1.531, enquanto o de trabalhadores brancos era e R$ 2.757.

A violência também afeta mais os negros, conforme aponta o Atlas da Violência, lançado também em 2017 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública). O estudo revela que de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. Além disso, das 726.712 pessoas encarceradas no país nesse ano, mais da metade era composta por jovens de 18 a 29 anos, sendo 64% negros.

Ainda de acordo com o Atlas da Violência, as mulheres negras são as maiores vítimas de  feminicídios. Em 2016, a taxa de assassinatos de mulheres negras era bem maior que a de não negras, de 5,3% e 3,1%, respectivamente. A taxa de mortes violentas entre mulheres negras também aumentou entre 2006 e 2016, chegando a 15,4%. Ao passo que entre as não negras, a alta foi quase a metade (8%).

O escritor Machado de Assis - referência maior da literatura brasileira - foi embranquecido nos livros de história, fazendo com que muita gente não saiba que o fundador da Academia Brasileira de Letras era negro. Para que o erro seja corrigido, uma campanha realizada pela Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, recriou uma foto clássica do escritor e solicita que ela seja usada no lugar da antiga.

A ação intitulada ‘Machado de Assis Real’ diz que a foto oficial do escritor ‘muda a cor da sua pele, distorce seus traços e rejeita sua verdadeira origem’, além de ser ‘uma injustiça que fere a comunidade negra’. No site da campanha, os idealizadores disponibilizaram a imagem recriada, onde os internautas podem fazer o download e colocá-la sobre a imagem usados nos livros.

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Além disso, o site também abriga um abaixo-assinado para que as editoras não utilizem mais a foto do Machado de Assis da pele clara e que a imagem seja substituída pela da campanha.

Em 2011, a Caixa Econômica Federal veiculou uma campanha publicitária em comemoração aos 150 anos da instituição, em que o ator que representava Machado de Assis era branco. Após críticas dos internautas, a propaganda foi tirada do ar e posteriormente, a campanha foi feita por um ator negro.

Após ver um adolescente negro no chão, gemendo e chorando de dor, a jornalista Bruna de Lara diz que foi agredida por um homem na Estação do Largo do Machado, no Rio de Janeiro, quando tentava ajudar o menor. Segundo confirma a Bruna, os seguranças da estação e policiais militares que foram acionados para auxiliar no caso, nada fizeram.

Bruna compartilhou a história em sua conta do twitter e, segundo publicação, as agressões aconteceram por volta das 22h desta última quinta-feira (11). A jovem diz que, ao ver o adolescente chorando de dor, ele afirmou que foi espancado por um vendedor da estação e os guardas do local teriam visto e nada fizeram.

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Em resposta a Bruna, os seguranças do MetrôRio responderam que o menino era usuário de drogas e não devia nem estar naquele local. O que Bruna responde não ser justificativa para que os guardas permitissem a agressão e não socorressem o garoto.

Socorrendo o adolescente, a jovem diz que um homem gritou: "tá com pena? leva pra casa. Tá gostando do bandidinho, é". Depois de ouvir as falas do homem, Bruna diz que respondeu e acabou levando um tapa no rosto e "caindo longe". "Ele era três vezes maior do que eu", diz a jovem.

"Preto e pobre, o adolescente agonizando não era um menino, era um bandido. Merecia apanhar. Socorrendo o 'delinquente', eu não era uma jovem mulher. Era a 'defensora de bandido'. Merecia apanhar também. Se fosse um assalto, os seguranças do MetroRio teriam feito corpo mole? (sic)", indaga Bruna de Lara.

A jovem afirma que ligou para a polícia e, neste momento, o homem agressor pediu desculpas, dizendo que nunca mais faria isso de novo e que havia perdido o controle - fugindo em seguida.

"Vimos uma viatura e corremos. Como os PMs reagiram a uma mulher agredida, encharcada e descalça? Se recusando a ver nossos vídeos, reclamando dos pinguinhos de chuva e metendo o pé, dizendo que procurariam um cara que não queriam nem saber como era. Isso aí: servir e proteger (sic)", acentua Bruna.

Ela reforça que, desde o início - quando o adolescente foi agredido -, não foi feito nada pela equipe da MetrôRio e, em seguida, pela Polícia Militar. "Só desdém de duas corporações que não estão nem aí pra agressão contra um jovem negro ou contra uma mulher" aponta.

Bruna de Lara afirma que fez um Boletim de Ocorrência e exame de corpo de delito. Com a viralização do caso compartilhado pela jovem, a assessoria da MetrôRio respondeu à própria Bruna, dizendo que está apurando os fatos para que as providências possam ser tomadas. Até a publicação dessa matéria, o LeiaJá não conseguiu resposta da assessoria.

Muitos duvidaram que a candidatura da Juntas, do Psol, formada por cinco mulheres, sendo uma delas trans, conseguiria conquistar uma vaga na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) na disputa eleitoral deste ano. Mas o fato é que a vitória deve entrar para a história de Pernambuco já que esta é a primeira vez que haverá um mandato coletivo dentro da assembleia. 

A advogada trans Robeyoncé Lima, nesta semana, deixou um recado por meio das redes sociais. “Tem deputada travesti em Pernambuco sim”, ressaltou. A afirmativa foi em uma publicação no qual aparece em uma foto ao lado de Erica Malunguinho, negra, pernambucana e primeira trans eleita para a Assembleia Legislativa de Pernambuco pelo PSOL.  Robeyoncé ressaltou que haverá resistência. “Nós, juntas com Erika Hilton, formamos o trio de deputadas trans eleitas pelo Brasil dando o recado que o conservadorismo pode avançar, mas a resistência será ainda maior e ela será feminista, negra e travesti”. Somos muitas e estamos Juntas”, salientou. 

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Nessa quarta-feira (17), ao completar aniversário, a advogada falou que não é fácil completar 30 anos em meio ao avanço fascista e transfóbico dos dias atuais. “Mas cada mensagem de amor e carinho me reenergizaram e deram força para seguir”, agradeceu. Ela aproveitou para pedir voto para o candidato à presidente Fernando Haddad (PT). “Se querem me presentear, no dia 28, naquela ‘urna’ da democracia, vote 13 para que o mundo seja melhor para mim e tantas outras como eu. É Haddad e Manu para presidentes”, ressaltou.

Antes da vitória, em entrevista ao LeiaJá, a Juntas chegaram a afirmar que acreditavam em algo novo diante de “uma política velha fadada ao fracasso”. Na ocasião, garantiram que o mandato iria visar a luta pelos direitos das classes minoritárias como o movimento LGBT, negros, sem-teto e outros segmentos menos favorecidos na sociedade. 

Além de Robeyoncé, o grupo é formado pela ambulante Jô Cavalcanti, 36 anos; a produtora audiovisual Carol Vergolino, 39 anos; a estudante de Letras Joelma Carla, 20 anos; e a professora Kátia Cunha, 43 anos. 

Autoridades do Texas prenderam neste domingo uma policial branca que atirou e matou um negro quando entrou por engano no apartamento da vítima, informou o Departamento de Segurança Pública daquele estado.

A oficial Amber Guyger, do Departamento de Polícia de Dallas, foi levada para a penitenciária do condado, depois que na quinta-feira à noite, ao final de seu expediente e ainda vestindo seu uniforme, ela entrou em um apartamento e atirou contra quem achou que era um intruso, explicou a polícia.

Pouco depois do incidente, ligou para a emergência e disse que achava que havia entrado em sua própria casa.

A vítima, um afro-americano identificado como Botham Shem Jean, de 26 anos, era originário da ilha caribenha de Santa Lúcia.

Jean havia se formado em uma universidade cristã particular no estado de Arkansas em 2016 e, desde então, trabalhava na firma de contabilidade PricewaterhouseCoopers, em Dallas.

A agente, de acordo com o Dallas Morning News, saiu do elevador no andar errado do prédio e se dirigiu para o apartamento logo abaixo do seu.

Ela então notou que a porta estava aberta, as luzes apagadas e então, na escuridão, viu uma figura em movimento. A agente abriu fogo pensando se tratar de um intruso, informou o jornal local.

De acordo com a polícia de Dallas, Guyger, de 30 anos, trabalha no departamento há quatro anos e, segundo a imprensa local, esteve envolvida em um tiroteio em maio de 2017.

A chefe da polícia de Dallas, Renee Hall, entregou o caso aos Texas Rangers, divisão do Departamento de Segurança Pública.

Hall, também afro-americana, tornou-se a primeira chefe de polícia feminina da cidade em setembro de 2017.

O Festival de Brasília recebeu este ano inscrições de maior número de filmes dirigidos por negros e conta com nova premiação, específica para contemplar a temática negra no cinema. O Prêmio Zózimo Bulbul foi anunciado durante a apresentação dos selecionados para a edição deste ano, que acontece entre os dias 14 e 23 de setembro na capital federal.

“O prêmio vai destacar um filme dentro da programação, a partir de critérios da presença e força da representação das personagens, da história e de uma série de questões que serão discutidas pelo júri para buscar esse destaque do filme a partir das questões negras, presentes na tela das produções que serão exibidas”, anunciou o diretor artístico do festival, Eduardo Valente, na última quarta-feira (8).

Este ano foram inscritos mais filmes sobre a temática ,e eles aparecem também com um percentual maior entre os filmes selecionados, segundo o diretor. Dos filmes inscritos para esta edição do festival, 68% foram dirigidos por brancos e 11% por negros. Com relação aos filmes selecionados para a mostra competitiva, os percentuais ficam em 61% de brancos, 28% de negros e 9% que não quiseram declarar.

Debate

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A edição anterior  do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi marcada por forte discussão sobre a representação de pessoas negras nas telas de cinema, assim como sua participação nas diferentes etapas da realização de uma obra audiovisual, em especial no roteiro e direção.

O debate aumentou com o longa-metragem Vazante, de Daniela Thomas, criticado pelo papel secundário atribuído aos personagens negros, em uma trama com recorte histórico que aborda o período da escravidão no Brasil.

Valente acredita que a discussão específica sobre o filme de Thomas ganhou dimensão maior por uma série de circunstâncias, mas considera que o debate dessa questão já se desenhava pelo menos desde a edição anterior, de 2016, que contou com uma mesa de discussão sobre a produção das minorias étnicas e raciais.

“A dimensão principal, que nos chamou a atenção positivamente e que acho que teve a ver um pouco com o que aconteceu no ano passado - não quero superdimensionar por entender que aquilo é parte de um processo -, foi o aumento realmente percentual, a força e de qualidade inclusive da produção apresentada por profissionais negros atrás das câmeras”, afirmou Valente.

Prêmios

O diretor artístico relaciona o aumento das produções inscritas por diretores negros este ano ao fato de filmes com essa temática terem sido premiados na edição do ano anterior e considera essencial que esses trabalhos estejam em primeiro plano nos festivais de cinema.

“A gente acha que isso tem uma força simbólica de representação da autoimagem, de possibilidade de quebrar esse quadro histórico de invisibilidade.O festival não pode estar distante dessa dimensão essencial, que é uma demanda do próprio criador negro, interessado em mudar essa capacidade de se perceber capaz ou em igualdade de condições no sentido criativo”, acrescentou.

O diretor Marcos Carvalho acredita que a nova premiação proporciona maior confiança aos profissionais negros e incentiva a inscrição desses filmes nos festivais. “Isso aumenta a crença no realizador negro, de que é possível inscrever e ver seu filme selecionado, porque sempre existe uma desconfiança muito grande de eventuais panelas. É uma iniciativa que combina com o atual contexto, tanto de filmes que estão sendo exibidos em Brasília, o debate que aconteceu no ano passado, e essa efervescência do cinema e da cultura negra de forma geral”.

Ao lado de seu irmão gêmeo Eduardo Carvalho, ele recebeu o prêmio de melhor direção no ano anterior com o curta-metragem Chico (2016-RJ). Os irmãos Carvalho participam novamente desta edição com outro curta, o filme Eu, Minha Mãe e Wallace.

“A gente participou no ano passado e saiu de lá extremamente animado, foi uma experiência muito enriquecedora. A gente estava sem nenhum projeto, e desenvolvemos esse curta com o objetivo de tentar chegar em Brasília novamente, vimos as datas e traçamos esse objetivo com a equipe”, contou Marcos Carvalho à Agência Brasil.

A exibição de Chico na mostra competitiva do ano anterior marcou a estreia dos irmãos Carvalho no Festival de Brasília. Com 25 anos, eles  estão começando a trajetória nos festivais de cinema. “A gente tá começando a entender esse clima agora, vai ser interessante entender melhor as reverberações do que aconteceu no ano passado. Estamos começando a entender esse circuito de festivais”, disse Carvalho.

Momento atual

Para a diretora Glenda Nicácio, as discussões que ocorreram na edição anterior do festival eram urgentes e representam o momento atual dos negros no país, com políticas públicas de acesso a universidades e de regionalização da produção cinematográfica, assim com o barateamento dos equipamentos e acesso às tecnologias digitais.

“São vários fatores que fizeram com que esse público fosse se modificando e mudando de lugar. Quem antes era apenas público, hoje também é produtor, também pensa cinema, tem acesso e pode fazer. Isso é transformador, porque faz com que coisas que aparentemente eram muito naturais comecem a ser questionadas”, afirmou à Agência Brasil.

Ela acredita que esses fatores possibilitam uma diversidade de voz e conteúdo na produção audiovisual brasileira e que o prêmio Zózimo Bulbul demarca esse momento de discussão sobre o papel do negro no cinema brasileiro, além da discussão que permeou a última edição do festival.

“É um posicionamento político do festival e das pessoas que, de certa forma, passam por ele e o cercam. Esses temas não podem ficar como discussões de um filme ou demarcadas por um debate específico. Eles precisam ser cotidianos, incorporados em nossa prática de pensar cinema, questionar, fazer curadoria, assistir e avaliar os filmes, seja você espectador, produtor ou jornalista”, observou.

Café com Canela

Ao lado de  Ary Rosa, Nicácio dirigiu o longa-metragem Café com Canela, escolhido o melhor longa-metragem pelo júri popular na edição de 2017. O filme tem, além da diretora, todo o elenco formado por negros. Eles estão de volta este ano na mostra competitiva, com um novo longa-metragem, Ilha, que já estava sendo filmado durante o festival passado.

A equipe, parte dela presente em Café com Canela, esperou no set de filmagem, no interior da Bahia, o retorno dos diretores que estavam em Brasília participando do festival para concluir as gravações. Para a diretora, a estreia em Brasília, com uma premiação do júri popular, deu mais segurança à equipe e contagiou as filmagens do novo longa.

“Estar em Brasília com Café era uma possibilidade de reconhecimento e, por estar em processo de outro filme, uma possibilidade também de segurança e de generosidade com a equipe. A gravação do Ilha ficou contagiada por esse espírito de muita celebração e certeza de que caminhamos juntos em uma direção e sendo vistos”, afirmou Glenda.

Formados em cinema pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, os diretores fundaram a produtora independente Rosza Filmes, em Cachoeira (BA), em 2011, e estrearam na direção de longa-metragem com Café com Canela. A primeira exibição nacional do filme ocorreu no Festival de Brasília.

“Partindo de uma produtora do interior da Bahia, totalmente fora do eixo principal, participar do festival nos deu um ânimo com certeza. Brasília trouxe esse recorte de com que público a gente dialoga. Esse cinema que nós estamos fazendo não funciona com todo mundo, funciona pra quem, com quem, quem é que se interessa, quem é que é tocado?. Eu acho que essa é a maior coisa que Brasília trouxe nesse processo do Ilha”, afirmou Glenda.

Apan

Viviane Ferreira, presidente da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (Apan), considera que houve muito esforço em discutir os equívocos de Vazante, em detrimento de outras produções como Café com Canela (BA) e Nó do Diabo (PB), de  Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abé e Jhésus Tribuz, que apresentaram contribuições positivas sobre o papel do negro no cinema.

“É nítido que tratar as personagens negras da forma como o Vazante tratou, sem profundidade, já não cabe no tempo histórico que a gente vive. Hoje, vivemos um momento muito especial de estar compartilhando com uma geração que tem produzido de maneira estética e narrativa, com muita qualidade e sem disposição de dar um passo atrás. São coisas que deixam a gente muito feliz, na perspectiva de integrantes do movimento de cinema negro’, disse ela.

A Apan e o Centro Afrocarioca de Cinema foram as entidades que propuseram ao Festival de Brasília a criação do prêmio Zózimo Bulbul. “No curso dos debates, no ao passado, sobre ações afirmativas e representatividade, o Festival de Brasília se mostrou como um palco potente e corajoso para o enfrentamento dos debates raciais no audiovisual”, acrescentou Viviane.

A Apan surgiu em 2016, após uma série de diálogos e debates entre realizadores que frequentavam o Encontro de Cinema Negro, África Brasil e Caribe - criado por Zózimo Bulbul em 2007 no Rio de Janeiro - para atuar frente à desigualdade racial no setor audiovisual brasileiro.

“Zózimo foi um pioneiro nessa história toda, nesse movimento que está acontecendo hoje da juventude negra e dessa necessidade que, não só essa juventude, mas acho que o povo brasileiro está tendo de ver o negro representado na tela, ele por ele mesmo”, considerou Biza Vianna, companheira de Zózimo.

Diretora do Centro Afro Carioca de Cinema, ela lembrou que as principais referências de Zózimo eram os diretores do Cinema Novo, todos brancos, e considera que a militância do cineasta pelo cinema negro deixou como legado um referencial para as novas gerações. “Essa geração tem uma referência que não é a partir do olhar eurocêntrico, é a partir da valorização do seu próprio olhar. Então fico muito feliz com esse prêmio porque é a própria juventude reconhecendo esse protagonismo dele nele mesmo e por eles mesmos’, afirma.

Zózimo Bulbul (1937-2013) é autor de filmes como Alma no Olho (1973) - sua estréia como diretor -  e Abolição (1988), ganhador dos prêmio de melhor roteiro e fotografia do Festival de Brasília daquele ano. O produtor atuou em mais de 30 filmes incluindo Cinco Vezes Favela (1962) e Terra em Transe (1968), dirigiu nove, sendo o último deles Renascimento Africano, feito a convite do governo do Senegal por ocasião dos 50 anos de independência daquele país. O Encontro do Cinema Negro Brasil, África e Caribe, criado por Zózimo, completou 10 anos no ano passado, com mais de 80 produções brasileiras e internacionais de cineastas negros premiados e de jovens revelações.

Candidato à Vice-Presidência da República na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), o general da reserva Hamilton Mourão disse ontem que o Brasil herdou a cultura de privilégios dos ibéricos, a indolência dos indígenas e a malandragem dos africanos. A declaração foi feita em um evento em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, quando Mourão falava sobre as condições de subdesenvolvimento do País e da América Latina.

"E o nosso Brasil? Já citei nosso porte estratégico. Mas tem uma dificuldade para transformar isso em poder. Ainda existe o famoso ‘complexo de vira-lata’ aqui no nosso país, infelizmente", disse Mourão. "Essa herança do privilégio é uma herança ibérica. Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem. Nada contra, mas a malandragem é oriunda do africano. Então, esse é o nosso cadinho cultural."

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Mourão participou de almoço da Câmara de Indústria e Comércio da cidade na primeira agenda de campanha dele como vice na chapa de Bolsonaro. A declaração foi antecipada pelo site da revista Veja e confirmada pelo jornal "O Estado de S. Paulo".

No evento, o general também afirmou ser favorável à democracia e voltou a dizer que "intervenção militar não é varinha mágica", apesar de tê-la defendido no passado. Em setembro passado, Mourão chegou a falar na possibilidade de intervenção militar caso as instituições do País não resolvam a crise política, "retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos". Anteontem, no evento que referendou seu nome para a vice de Bolsonaro, ele admitiu que não foi "feliz na forma como disse isso" e que isso deu "margem para outras interpretações".

O general da reserva negou que seu comentário tenha sido racista. "Quiseram colocar que o Bolsonaro é racista, agora querem colocar em mim. Não sou racista, muito pelo contrário. Tenho orgulho da nossa raça brasileira", afirmou. "O que eu fiz foi nada mais nada menos que mostrar que nós, brasileiros, somos uma amálgama de três raças, a junção do branco europeu com o indígena que habitava as Américas e os negros africanos que foram trazidos para cá", disse.

Ele disse ter criticado também os portugueses: "Eu falei que a herança de privilégios é ibérica, do português que gosta de ter privilégios".

Repercussão

A fala do general foi criticada por presidenciáveis. O candidato do PSOL, Guilherme Boulos, afirmou que Bolsonaro e Mourão "se merecem". "Quando o preconceito se junta com a estupidez o resultado é esse", criticou nas redes sociais. A candidata da Rede, Marina Silva, também avaliou o comentário como preconceituoso. "Extremismo e racismo são uma combinação perigosa. Não podemos tolerar racismo numa corrida presidencial."

Já Bolsonaro se desvencilhou da declaração de seu vice. "Ele que explique para vocês, se é que ele falou. Eu não tenho nada a ver com isso", disse.

Sobre a crítica de Marina, Mourão disse que respeita a concorrente. "Gostaria de sentar e conversar com a Marina, porque aí talvez ela entendesse quem eu sou e não tecesse comentários sem conhecer a pessoa. Eu tenho muito respeito por ela, que teve uma origem difícil e por seu mérito ocupa uma posição de destaque no cenário nacional." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um solicitante de refúgio senegalês de 19 anos foi agredido e insultado com ofensas racistas em Partinico, na província de Palermo, sul da Itália, enquanto trabalhava como garçom em um bar.

Ainda não se sabe as circunstâncias exatas do crime, mas o jovem denunciou à polícia que foi agredido durante o expediente por um grupo de rapazes que gritava "vá embora, negro sujo". A vítima sofreu ferimentos no lábio e nas orelhas.

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"Não reagi porque não levanto as mãos. Poderia me defender, mas os educadores da comunidade me ensinaram que não se levanta as mãos", contou o senegalês, que vive em um abrigo para solicitantes de refúgio e refugiados há dois anos.

Situado na África Ocidental, Senegal tem cerca de 15,4 milhões de habitantes e não está em situação de guerra, embora a proteção internacional também possa ser concedida por motivos de perseguição ou opressão, mesmo em democracias.

Casos recorrentes - A Itália tem convivido com recorrentes casos de agressão contra minorias, desde imigrantes e refugiados até ciganos. Na última quinta (26), um homem de 33 anos originário de Cabo Verde e que trabalha como operário em Vicenza foi atingido por um disparo com arma de ar comprimido enquanto estava em um andaime a sete metros de altura.

Já em Caserta, um solicitante de refúgio foi acertado no rosto, também por uma pistola de ar comprimido. Ambos passam bem. Uma menina cigana de 13 meses, no entanto, não teve a mesma sorte: ela foi atingida por um tiro de fuzil de ar comprimido disparado por um aposentado da varanda de seu apartamento, em Roma.

A criança não corre risco de morrer, mas pode ficar paraplégica.
    O caso fez o presidente da Itália, Sergio Mattarella, vir a público para dizer que o país está virando um "faroeste". O governo italiano é fruto de uma coalizão entre o partido antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) e a ultranacionalista Liga, que evitam condenar esses episódios com ênfase.

O ministro do Interior Matteo Salvini, responsável pelas forças de segurança no país, usa seu perfil no Twitter com frequência para divulgar crimes cometidos por estrangeiros, mas a mesma postura não é adotada quando imigrantes, refugiados ou ciganos são as vítimas. 

Da Ansa

Três meses após o gerente de uma filial chamar a Polícia pela presença de dois homens negros em um local, o Starbucks voltou a ser, nesta sexta-feira (6), palco de uma disputa por discriminação. Dessa vez, o motivo foi que um funcionário aparentemente zombou de um homem gago.

Quando o cliente, chamado Sam, pediu sua bebida em um Starbucks da Filadélfia, em 27 de junho, gaguejou ao dizer seu nome.

O funcionário respondeu: "Ok, S-S-S-sam", e quando o cliente recebeu seu café gelado, leu no copo a inscrição "SSSAM", segundo contou no Facebook Tan Lekwijit, amigo do jovem e estudante de Administração.

Quando Sam enviou um e-mail para a empresa para reclamar, ofereceram a ele um crédito de cinco dólares. Mas Lekwijit disse que o Starbucks "não havia entendido a situação", e recorreu à rede social para "aumentar a conscientização".

"É sobre como as pessoas com distúrbios da fala são tratadas, e não como o nome delas é escrito", escreveu.

"Não escrevo isso porque quero colocar alguém em apuros, mas porque quero aumentar a conscientização entre os funcionários", acrescentou.

E continuou: "Há muitas pessoas com distúrbios da fala que estão em uma posição mais difícil do que o meu amigo, que lutam com a auto-estima e auto-confiança. Ser tratado desta forma, especialmente por funcionários de estabelecimentos, só os assusta". "Peço que os funcionários do Starbucks tenham isso em mente", concluiu.

O Starbucks disse no Twitter na quinta-feira que o funcionário havia sido dispensado de suas funções.

Antes, a empresa havia respondido à postagem de Lekwijit. "Temos tolerância zero para a discriminação e agiremos imediatamente".

Em 29 de maio, o Starbucks fechou mais de 8.000 de suas unidades nos Estados Unidos para capacitar 175 mil funcionários contra a discriminação racial.

O episódio que motivou essa ação foi a prisão de dois negros na Filadélfia em 12 de abril, provocando indignação contra a empresa. O gerente chamou a polícia depois que um desses homens pediu para usar o banheiro, e ambos se sentaram para esperar por um terceiro sem pedir nada no café.

Um vídeo que se tornou viral mostrou os policiais algemando os dois homens, que não resistiram, enquanto um cliente repetia para os policiais: "O que eles fizeram? O que eles fizeram?".

 

  No próximo domingo (13), marcam-se exatos 130 anos da abolição da escravidão no Brasil. Por isso o LeiaJá preparou uma série de reportagens especiais na tentativa de mostrar "O Que a Abolição Não Aboliu?" no Brasil. Na primeira matéria publicada, nossa equipe de reportagem conversou com a professora da UFRPE Denise Botelho e a socióloga Rosa Marques; num debate que levantou a questão: o 13 de maio não é tido como um dia de glória para os negros mas, sim, como um dia de luta. Hoje (11), a segunda parte desse especial traz "os resquícios da escravidão" em forma de mini documentário.

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Para esta gravação, visitamos as comunidades da Vila do Vintém e Alto do Capitão, ambos da Zona Norte do Recife; a comunidade do Chié, localizada no Pina, Zona Sul - gravando também com vendedores ambulantes que trabalham de sol a sol na Agamenon Magalhães, uma das vias mais movimentadas do Recife. Confira agora as dificuldades diárias dos entrevistados que, sem assistência do Estado, sem emprego e sem pespectiva de vida, se arriscam pela sobrevivência.

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LeiaJá Também

-> 130 anos do fim da escravidão: o que a abolição não aboliu? 

 

No dia 13 de maio de 2018 marcam-se exatos 130 anos da Abolição da Escravidão no Brasil. No entanto, essa data não é comemorada pelo povo negro, que resiste nesse dia e o alça como mais um dia de luta contra o racismo institucionalizado no Brasil, contra as opressões, desigualdades e outros percalços colocados no caminho do povo preto desde o período colonial. Para refletir sobre a data, o LeiaJá resolveu elaborar uma sequência de matérias especiais: "O Que a Abolição Não Aboliu?"; "Resquícios da Abolição (minidocumentário)" e "A Luta do Povo Preto Para um Futuro Melhor". Passado, presente e futuro.

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A seguir você lerá a primeira parte deste especial - que culminará num debate ao vivo no Facebook do LeiaJá, na próxima segunda-feira (14) de maio.   

Brasil, segunda-feira, 14 de maio de 1888: o país amanheceu "livre" da escravidão. Na tarde do dia anterior, 13 de maio, a Princesa Isabel sancionou a lei que “pôs fim” aos mais de 300 anos desse que era um processo político e econômico vigente no Brasil - o último país do ocidente que aboliu a escravidão.  Na história, ficou cristalizado que esse processo abolicionista foi uma vitória para o povo preto escravizado por tanto tempo. No entanto, segundo alguns historiadores, pesquisadores e professores negros, a realidade não foi bem assim. Por isso, o dia 13 de maio não é festejado como um dia de glória – “é um dia de luta para que os nossos direitos sejam garantidos e de combate ao racismo que ainda existe no Brasil”, exclama Rosa Marques, Socióloga e coordenadora do Núcleo de Mulheres Negras de Pernambuco.

Pesquisadores relatam que apenas a liberdade do ir e vir dos escravos, na época, foi garantido pelo Estado. Nenhuma política de inclusão social daquela população, que por quase quatro séculos tiveram os seus direitos humanos negados, foi instituída pelo poder público. Os negros ficaram entregues à própria sorte, não tendo moradia, trabalho, acesso à saúde, educação; sem cidadania. Denise Botelho, professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e líder do grupo de estudos e pesquisas em educação, raça, gênero e sexualidade, nos confirma que: “esse processo de pseudo abolição efetivamente não libertou homens e mulheres escravizados porque a lei só previa a interrupção do processo econômico da escravidão, mas não previu uma inserção dos negros na sociedade de classes”.

Isso se tem confirmado também pelo Jornal do Senado, datado em 14 de maio de 1888, que é possível ser encontrado no site oficial do Senado Federal. Nele lê-se que negros como Luiz Gama e José do Patrocínio - dos poucos pretos que conseguiram ter destaques na época - reivindicavam juntamente com Joaquim Nabuco e Ruy Barbosa a necessidade de oferecer oportunidades para integrar os ex-escravos à sociedade de forma digna. O jornal traz a discussão dizendo que era inevitável diante de séculos de domínio sobre as populações negras que não foram contempladas com nenhum tipo de compensação. Mas esse debate não ganhou força na câmara. Enquanto isso, os libertos foram mantidos de forma subalterna e marginalizados - totalmente à margem da sociedade.

Linha do tempo

Antes da Lei Áurea, em 1845, surgiu a lei que previa sanções contra o tráfico negreiro. Em 1871, foi adotada a Lei do Ventre Livre, que dava liberdade aos filhos de escravos nascidos a partir da sua promulgação, mas os manteve na tutela dos seus senhores até os 21 anos. Em 1885 instaurou-se a lei do sexagenário, que garantia liberdade aos que completassem 60 anos, com a obrigação de prestarem serviços a título de indenização ao senhor por três anos. Essas medidas, porém, não trouxeram os resultados esperados, pois a contrapartida geralmente exigida inviabilizava seu cumprimento ou a lei era simplesmente desrespeitada pelos donos dos escravizados.

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Em arquivo federal, consta que o peso para que a abolição acontecesse também se deu porque com a proibição do tráfico negreiro (1845), houve uma redução do interesse econômico pelo negro, que com o tempo passou a apresentar custo maior que a mão de obra livre competitiva - culminando na aceitação dos parlamentares pela abolição total dos ainda escravos. Um pouco antes da proibição desse tráfico, o preço do escravo já subia no mercado com a previsão de que não seriam mais trazidos negros para o Brasil. Essa alta manteve-se até 1880, em especial pela forte demanda das lavouras cafeeira. Quando se assina a Lei Áurea, boa parte da mão de obra escrava já havia sido substituída.

Denise Botelho afirma que após a abolição, o Estado se encarregou de trazer europeus na condição de cidadãos (brasileiros) com direito a trabalho, moradia, manutenção familiar, ficando os negros sem nenhuma proteção. “ Durante muito tempo ficamos num quadro de desigualdade gerada pelo próprio Estado. Foi ele quem criou isso quando não deu respaldo à população afro brasileira firmando um processo de fortalecimento dos europeus que vieram pra cá”, corrobora. Ela aponta ainda que “muito tardiamente nós viemos a ter leis ou ações afirmativas para o povo negro”, mais precisamente no século 21, no início dos governos democráticos.

Só em 2003, com a ascensão do governo Lula, que foi instalada a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). Uma ação tida como importante para a perspectiva de criação da agenda promotora do lugar de situação dos negros e negras do Brasil. Hoje, a SEPPIR, que inicialmente tinha sido criada com status de ministério, está vinculada ao Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, unindo a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a Secretaria de Direitos Humanos, e a Secretaria de Políticas para as Mulheres.

Numa alusão do antigo ao novo, Rosa Marques explana que “quando a gente trata de uma abolição inacabada, estamos falando dos resquícios da escravização. E quais as consequências? Uma população que não consegue entender a estrutura do racismo, que não reconhece a beleza e a diversidade do povo negro”.  Rosa, que é socióloga, traz à discussão o crescimento desordenado das favelas que, segundo ela, é muito por conta dessa escravização do povo negro e de sua liberdade sem pensar o que poderia ser feito para a inclusão digna dos libertos na época. “Já se passaram 130 anos e quase nada mudou”.

(FOTO: Oswaldo Corneti/FotosPúblicas)

“O que aconteceu lá traz se perpetua até hoje. As favelas (muitas delas) sem saneamento, sem água, sem lazer; a nossa juventude sem possibilidades e sendo mortas. Se pensou no término da escravização, mas não se pensou nos direitos que essa população teria que ter”, ratifica Rosa. Ela aponta que a postura do Estado sempre foi de exploração e de ausência com os afro brasileiros.

A abolição foi importante para o Brasil (nação) que vinha sofrendo sanções comerciais por conta da manutenção desse processo de escravidão. Circunstâncias levaram à assinatura da lei, mas não um processo consciente, de reflexão da desumanidade que era a escravidão das pessoas negras. “Se precisava desse marco legal, que é a abolição, mas se precisava ter um projeto para essa população. Nós não temos um projeto para a ascensão real dos afro brasileiros”, finaliza Denise.

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